Cristianismo e Espiritismo

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IRIAC.

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Imaginaram recentemente os sábios experimentadores ingleses, sob o nome de cross-correspondence, um novo processo de comunicação com o invisível, que seria bem próprio a atestar a identidade dos Espíritos cujas manifestações se produzem mediante a escrita mediúnica. Oliver Lodge o descreveu numa reunião efetuada em 30 de janeiro de 1908, pela Sociedade de Investigações Psíquicas, de Londres. "A cross-correspondence - diz ele - isto é, o recebimento por um médium, de uma parte de comunicação, e de outra parte por outro médium, não podendo cada uma dessas partes ser compreendida sem a adjunção da outra, é boa prova de que uma única Inteligência opera sobre os dois automatistas. "Se, além disso, a mensagem apresenta os característicos de um finado e é recebida a esse título por pessoas que o não conheciam intimamente, pode-se ver nisso a prova da persistência da atividade intelectual do desaparecido. E se do mesmo modo obtemos um trecho de crítica literária, inteiramente conforme ao seu modo de pensar e que não poderia ser imaginado por terceira pessoa, digo que a prova é convincente. Tais as espécies de provas que a Sociedade pode comunicar sobre esse ponto. " Depois de referir-se aos esforços em tal sentido empregados pelos Espíritos de Gurney, Hodgson e Myers em particular, acrescenta o orador: "Achamos que suas respostas a perguntas especiais são formuladas de um modo que caracteriza sua personalidade e revela conhecimentos que eram de sua competência. " "A parede que separa os encarnados dos desencarnados - diz ele ao terminar - ainda se mantém de pé, mas acha-se adelgaçada em muitos lugares. À semelhança dos escavadores de um túnel, ouvimos, em meio do ruído das águas e dos outros rumores, as pancadas de picareta dos nossos camaradas do outro lado. " A isso não se limitaram os ingleses. Fundaram um escritório de comunicações regulares com o outro mundo. Foi o intrépido escritor W Stead que o organizou em Londres, a instâncias de uma amiga desaparecida, Srta. Júlia Ames; e daí a sua denominação: "Escritório de Júlia". Esse Espírito se propõe vir em auxílio, assim, de todos os desencarnados que procuram entrar em relação com os vivos que atrás de si deixaram, como dos encarnados acabrunhados com a perda de um ente caro. Para ser admitido a solicitar uma comunicação, Júlia, que dirige pessoalmente as sessões, não requer senão duas coisas: uma afeição lícita e sincera e um estudo prévio do problema espírita. Não tolera retribuição alguma. O impetrante, uma vez tomado em consideração o pedido, é levado à presença de três médiuns diferentes e todos os resultados são registrados.

Esse escritório já conseguiu, desde a sua fundação, estabelecer numerosas comunicações com o invisível. "Lançou uma ponte de uma a outra margem do túmulo", com alguma razão o disse W Stead.

Durante o primeiro trimestre de sua existência, centenas de pedidos lhe foram endereçados, na maior parte aceitos por Júlia.

Calcula W Stead que pelo menos 75% dos que passaram pela tríplice prova dos médiuns receberam respostas concludentes, em metade dos casos afirmando os impetrantes, de modo absoluto, que obtiveram por um ou outro médium, senão por todos eles, provas estremes de toda contradição. (Nota cxi: Ver a Internacional Review, setembro 1909.) A clientela do escritório Júlia é, sobretudo, arrebanhada entre pessoas cultas e instruídas: doutores, advogados, professores, etc.

Um repórter do Daily News refere que um dia acompanhou um autor bem conhecido, cujo nome causaria admiração por imiscuirse em semelhante assunto. Esse autor desejava obter a manifestação de um amigo falecido. Obtido o consentimento de Júlia, foi, como de costume, posto sucessivamente em relação com três médiuns, assistidos por um estenógrafo, sendo redigido de cada sessão um detalhado termo. Numa das sessões, sua casa foi exatamente descrita com os arredores; numa outra recebeu uma mensagem que julgou provir, com certeza, do amigo falecido.


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Sendo o mundo dos Espíritos, em grande parte, constituído pelas almas que viveram na Terra, e sendo as Inteligências de escol, em um meio como no outro, em diminuto número, facilmente compreenderemos que na sua maior parte as comunicações de além-túmulo sejam destituídas de grandeza e originalidade. Quase todas, entretanto, têm um caráter moral incontestável e denotam louváveis intenções. Quantas pessoas desoladas têm podido, por esse meio, receber dos que amaram e julgavam perdidos palavras de ânimo e conforto!

Quantas almas hesitantes na obscura trilha do dever têm sido animadas, desviadas do suicídio, fortalecidas contra as paixões, mediante exortações vindas do outro mundo!

Acima ainda dessas manifestações, cuja utilidade é tão evidente e cujo efeito moral é tão intenso, é preciso colocar certas comunicações extraordinárias, subscritas por modestos nomes ou termos alegóricos, mas animadas de um sopro vigoroso e que trazem, em sua forma e ensinos, o cunho de Espíritos verdadeiramente superiores. Foi com documentos dessa natureza que se constituiu a doutrina do Espiritismo. Allan Kardec recolheu grande número deles. Mesmo depois, não se estancaram essas fontes do pensamento sobre-humano; elas têm continuado a fluir para a Humanidade.

Os fenômenos de escrita direta ou automática são completados e confirmados pelos fatos de incorporação. (Nota cxii: Ver No Invisível, cap. XIX.) Neles, os Espíritos já se não contentam com órgãos de um médium adormecido. Este, por eles mergulhado em sono magnético, abandona o seu invólucro a personalidades invisíveis, que dele se apoderam para conversar com os assistentes. Por esse meio, sugestivas conversações são entabuladas entre os habitantes do espaço e os parentes e amigos que deixaram na Terra.

Nas manifestações da escrita mecânica, já a identidade dos Espíritos se verifica pela forma dos caracteres traçados, pela analogia das assinaturas, pelo estilo e até pelos erros de grafia habituais a esses Espíritos e que reaparecem nas suas comunicações. Nos fenômenos de incorporação, essa identidade ainda se torna mais evidente. Pelas suas atitudes, gestos e dizeres, o Espírito se revela tal qual era na Terra. Os que o conheceram em sua precedente encarnação reconheceram-no integralmente o mesmo; a sua individualidade reaparece em locuções características, em expressões que lhe eram familiares, em mil particularidades psicológicas que escapam à análise e só podem ser apreciadas pelos que estudaram de perto esse fenômeno.

Nada mais emocionante, por exemplo, que ouvir uma mãe, vinda do além-túmulo, exortar e reanimar os filhos que deixou neste mundo. Nada mais curioso que ver Espíritos das mais diversas categorias animar sucessivamente o invólucro de um médium e manifestar-se aos assistentes, pela palavra e pelo gesto.

A cada um deles a fisionomia do sensitivo se transforma, a voz muda, a expressão fisionômica se modifica. Pela linguagem e atitudes a personalidade do Espírito se revela, antes mesmo que dê o nome.

Tivemos, por muito tempo, em um círculo de experimentação a cujos trabalhos presidíamos, dois médiuns de incorporação. Um servia de órgão aos Espíritos protetores do grupo.

Quando um destes o animava, as linhas do seu rosto adquiriam expressão Angélica, a voz se suavizava, tornava-se melodiosa. A linguagem revestia formas de pureza, poesia, elevação muito acima das faculdades pessoais do sensitivo. Sua vista parecia penetrar fundo o coração dos assistentes. Lia-lhes os pensamentos; dirigia, nominalmente a cada um, avisos, advertências relativamente ao seu estado moral e à sua vida privada, o que denotava, logo à primeira vista, conhecimento perfeito do caráter e do estado de consciência de todos. Palestrava sobre coisas íntimas, só deles conhecidas.

Impunha-se a todos pelo seu ar majestoso, do mesmo modo que pela sabedoria e doçura das expressões. A impressão produzida era profunda. Tudo parecia vibrar e iluminar-se, em torno desse Espírito. Ao retirar-se, sentíamos que alguma coisa de grande passara entre nós.

Quase sempre um segundo Espírito, de certa elevação, mas de caráter muito diferente, lhe sucedia no corpo do médium. Esse Espírito tinha a palavra rápida e forte, o gesto enérgico e dominador. Sua ciência era vasta. Aceitara o encargo de dirigir os estudos morais e filosóficos do grupo e sabia resolver os mais difíceis problemas. Nós o tínhamos em grande consideração e nos comprazíamos em lhe obedecer. Para qualquer recém-chegado, porém, era um espetáculo estranho ver sucederem, no frágil invólucro de uma senhora de maneiras tímidas e modestos conhecimentos, dois Espíritos de caráter tão elevado e tão dessemelhantes.

O segundo médium não oferecia, nas manifestações de que era agente, menor interesse. Era uma senhora elegante e instruída, esposa de um oficial superior e que parecia, à primeira vista, reunir as melhores condições para fenômenos de caráter transcendente.

Ora, na prática, era exatamente o contrário que se verificava. Essa senhora servia habitualmente de instrumento a Espíritos pouco adiantados, que haviam ocupado na Terra diversas posições.

Interessante ouvir, por exemplo, uma ex-vendedora de legumes de Amiens exprimir-se em algaravia picarda, pela voz de uma pessoa de maneiras distintas e que nunca estivera na Picardia. A linguagem da médium, correta e escolhida quando desperta, tornava-se confusa, arrastada, semeada de lapsos e de expressões regionais durante o sono magnético, quando o Espírito de Sofia intervinha em nossas sessões. Desde que este se afastava, outros Espíritos o vinham substituir desfilando, por assim dizer, no invólucro da sensitiva e apresentando-nos sucessivamente os tipos mais disparatados: um antigo sacristão de voz untuosa e arrastada, emitida em tom baixo, como se estivesse na igreja; um exprocurador de gesto imperioso e ares escarninhos, palavra ríspida e decisiva, etc.

Outras vezes, eram cenas tocantes, de arrancar lágrimas aos assistentes. Amigos de além-túmulo vinham lembrar recordações da infância, serviços prestados, erros cometidos; expor seu modo de vida no espaço, falar das alegrias ou dos sofrimentos morais colhidos depois da morte, conforme a sua norma de vida na Terra.

Assistíamos a animadas conversações entre Espíritos, comovedoras dissertações sobre os mistérios da vida e da morte, sobre todos os grandes problemas do Universo, e, de cada vez, sentimo-nos emocionados e fortalecidos. Essa íntima comunhão com o mundo invisível descerrava infinitas perspectivas ao nosso pensamento; influía em todos os nossos atos, esclarecia-nos com uma luz intensa a trilha da existência ainda tão obscura e tortuosa para a multidão dos que a percorrem. Dia virá em que a Humanidade conhecerá o valor desses ensinos e deles participará. Nesse dia, ter-se-á renovado a face do mundo.

Depois de haver passado em revista os principais fenômenos que servem de base ao moderno Espiritualismo, ficaria incompleto o nosso resumo se não disséssemos algumas palavras acerca das objeções apresentadas e das teorias adversas, com que se tem procurado explicá-los.

Há, em primeiro lugar, a negação absoluta. O Espiritismo - têm dito - não é mais que conjunto de fraudes e de embustes. Todos os fatos extraordinários em que se baseia são simulados.

É verdade que alguns impostores têm procurado imitar esses fenômenos; mas os artífices têm sido facilmente descobertos e os espíritas foram os primeiros a indicá-los. Em quase todos os casos mencionados acima: levitação, aparições, materialização de Espíritos, os médiuns foram ligados, amarrados à própria cadeira; frequentemente, os experimentadores lhes seguravam os pés e as mãos. Às vezes, foram mesmo colocados em casinholas fechadas, especialmente preparadas para esse fim, e cuja chave ficava em poder dos operadores, enfileirados ao redor do médium. Foi em tais condições que numerosos casos de materialização de fantasmas se produziram.

Em suma, as imposturas foram quase sempre desmascaradas e muitos fenômenos jamais foram imitados, pela simples razão de que escapam a toda imitação.

Os fenômenos espíritas têm sido observados, verificados, inspecionados por sábios cépticos, que passaram por todos os graus da incredulidade e cuja convicção não se formou senão pouco a pouco, sob a pressão dos fatos.

Esses sábios eram homens de laboratório, físicos e químicos experimentados, médicos e magistrados. Possuíam todos os requisitos necessários, toda a competência para desmascarar as mais hábeis fraudes, para frustrar as mais bem urdidas tramas.

Seus nomes pertencem ao número dos que são para toda a Humanidade objeto de respeito e veneração. Ao lado desses homens ilustres, todos os que se têm entregado a um estudo paciente, consciencioso e perseverante desses fenômenos, vêm afirmar a sua realidade; ao passo que a crítica e a negação emanam de pessoas cujo pronunciamento, baseado em insuficientes noções, só pode ser superficial.

Aconteceu a alguns deles o que muitas vezes acontece aos observadores inconstantes. Não obtiveram mais que medíocres resultados, às vezes mesmo negativos, e se tornaram mais cépticos que dantes. Não quiseram tomar em consideração uma coisa essencial: que o fenômeno espírita é regido por leis, submetido a condições que importa conhecer e observar. (Nota cxiii: Ver No Invisível, caps. IX e X.) Sua paciência cansou muito depressa. As provas que exigem não se obtêm em poucos dias. W Crookes, Russell Wallace, Zõllner, Aksakof, Dale Owen, Robert Hare, Myers, Lombroso, Oliver Lodge e outros muitos sábios estudaram a questão longos anos. Não se contentaram com assistir a algumas sessões mais ou menos bem dirigidas e em que bons médiuns funcionassem. Deram-se, eles próprios, ao trabalho de investigar os fatos, de os acumular e analisar; penetraram até ao fundo das coisas. Por isso, foi a sua perseverança coroada de êxito e o seu método de investigação pode ser oferecido como exemplo a todo pesquisador severo.

Entre as teorias lançadas à circulação para explicar os fenômenos espíritas, a da alucinação ocupa sempre o maior lugar.

Perdeu, entretanto, toda a razão de ser, à vista das fotografias de Espíritos obtidas por Aksakof, Crookes, Volpi, Ochorowicz, W Stead e tantos outros. Não se fotografam alucinações.

Os invisíveis não somente impressionaram as placas fotográficas, como também instrumentos de precisão, como os aparelhos Marey; (Nota cxiv: Ver Annales des Sciences Psychiques, agosto, setembro e novembro 1907 e fevereiro 1909.) levantam objetos materiais e os decompõem e recompõem; deixam impressões na parafina derretida. Estão aí outras tantas provas contra a teoria da alucinação, quer individual, quer coletiva.

Certos críticos acusam os fenômenos espíritas de vulgaridade, grosseria, trivialidade; consideram-nos ridículos. Essas apreciações provam incompetência. As manifestações não podem ser diferentes do que teriam sido, provindas do mesmo Espírito, quando na Terra.

A morte não nos muda e nós somos, na outra vida, exclusivamente o que nós fizemos aqui na Terra. Daí a inferioridade de tantos seres desencarnados.

Por outro lado, essas manifestações grosseiras e triviais têm sua utilidade, porque é o que melhor nos revela a identidade do Espírito. Elas têm convencido inúmeros experimentadores da realidade da sobrevivência; pouco a pouco os levaram a observar, a estudar fenômenos de ordem mais elevada. Porque, como vimos, os fatos se encadeiam e ligam em ordem gradual, em virtude de um plano que parece indicar a ação de um poder, de uma vontade superior, que procura arrancar a Humanidade à sua indiferença e impeli-la para o estudo e a investigação dos seus destinos. Os fenômenos físicos, mesas falantes, casas mal-assombradas, eram necessários para atrair a atenção dos homens, mas nisso é necessário apenas ver meios preliminares, um encaminhamento para mais elevados domínios do conhecimento.

Por muito tempo foi o Espiritismo considerado coisa ridícula: por muito tempo foram os espíritas achincalhados, escarnecidos, acusados de loucura. Mas, em todos os que se fizeram portadores de uma ideia, de uma força, de uma verdade nova, não aconteceu a mesma coisa? Louco! disseram de Galileu; loucos Giordano Bruno, Galvani, Watt, Palissy, Salomão de Caus!

A senda do progresso é, muitas vezes, ingrata aos inovadores.

Tem sido regada por muitas lágrimas e por muito sangue. Aqueles, cujos nomes acabamos de citar, tiveram de abrir caminho através da conspiração dos interesses. Eram desprezados por uns, detestados e perseguidos por outros. Lutaram e sofreram; comparativamente com eles, os que são hoje apenas ridiculizados devem considerar sumamente benigna a sua sorte.

Foi inspirando-se nesses grandes exemplos que os espíritas aprenderam a suportar com paciência os sofrimentos. Uma coisa os tem consolado de todos os sarcasmos: é a certeza de que também são portadores de um benefício, de uma força, de uma luz à Humanidade.

Em cada século a Humanidade retifica suas apreciações. O que parecia grande torna-se pequeno, o que se figurava pequeno se agiganta. Hoje mesmo, já se começa a compreender que o Espiritismo é um dos mais consideráveis acontecimentos dos modernos tempos, uma das mais notáveis formas da evolução do pensamento, o germe de uma das maiores revoluções morais que o mundo terá, porventura, conhecido.

Quaisquer que sejam os motejos de que é objeto, é preciso reconhecer que ao Espiritismo é que a nova ciência psíquica deve o nascimento, porque sem ele, sem o impulso que lhe deu, todas as descobertas que se vinculam a essa ciência não teriam surgido.

No que concerne ao estudo das manifestações dos Espíritos, sentem-se os espíritas em muito boa companhia. Os nomes ilustres de Russell Wallace, de Crookes, Robert Hare, Mapes, Zõllner, Aksakof, Butlerof, Wagner, Flammarion, Myers, Lombroso, têm sido repetidamente citados. Vêem-se também sábios como os professores Barrett, Hyslop, Morselli, Bottazzi, William James, da Universidade de Harvard, Lodge, reitor da Universidade de Birmingham, o professor Richet, o coronel de Rochas, etc., que não consideram indignos deles tais estudos. Que pensar, depois disso, das acusações de ridículo e loucura? Que provam elas senão esta coisa contestadora: que o império da rotina subsiste em certos meios? O homem se inclina, muitíssimas vezes, a julgar os fatos no limite do acanhado horizonte dos seus preconceitos e dos seus conhecimentos. É preciso elevar mais alto, projetar mais longe o olhar e medir a sua fraqueza em face do Universo. Assim se aprenderá a ser modesto, a nada rejeitar nem condenar sem prévio exame.

Tem-se procurado explicar todos os fenômenos do Espiritismo pela sugestão e pela dupla personalidade. Nas experiências, dizem, o médium se sugestiona a si mesmo, ou, ainda, padece a influência dos assistentes.

A sugestão mental, que outra coisa não é senão a transmissão do pensamento, não obstante as dificuldades que apresenta, pode compreender-se e estabelecer-se entre dois cérebros organizados, por exemplo entre o magnetizador e o sensitivo. Pode-se, porém, acreditar que a sugestão opere sobre mesas? Pode-se admitir que objetos inanimados sejam aptos a receber e reproduzir as impressões dos assistentes?

Com essa teoria não se poderiam explicar os casos de identidade, as revelações de fatos, de datas, ignorados do médium e dos circunstantes, as quais se produzem muitíssimas vezes nas experiências, tanto como as manifestações contrárias à vontade de todos os espectadores. Algumas vezes, particularidades absolutamente ignoradas de toda criatura na Terra têm sido reveladas por médiuns e depois averiguadas e reconhecidas exatas.


Disso há exemplos notáveis na obra de Aksakof, Animismo e Espiritismo e na de Russell Wallace, O Moderno Espiritualismo, assim como casos de mediunidade verificados em crianças de tenra idade, os quais, do mesmo modo que os precedentes, não poderiam ser explicados pela sugestão. (Nota cxv: Ver, na nota complementar nº 13, o caso do professor Hare.) Segundo os Srs. Pierre Janet e Ferre (Nota cxvi: E Janet, O automatismo psicológico.)

– e aí está uma explicação de que frequentemente se servem os adversários do Espiritismo - deve-se comparar um médium escrevente a um sensitivo hipnotizado, ao qual se sugere uma personalidade durante o sono, e que, ao despertar, tem perdido a lembrança dessa sugestão. O sensitivo escreve inconscientemente uma carta, uma narrativa referente a essa pessoa imaginária. Aí está, dizem, a origem de todas as comunicações espíritas.

Todos os que possuem alguma experiência do Espiritismo sabem que essa explicação é inadmissível. Os médiuns, escrevendo de um modo automático, não são previamente mergulhados em sono hipnótico. É no estado de vigília, na plenitude de suas faculdades e do seu "eu" consciente que os médiuns escrevem, sob o impulso dos Espíritos. Nas experiências do Senhor Janet, há sempre um hipnotizador em ligação magnética com o sensitivo.

Não é isso o que se dá nas sessões espíritas; nem o evocador, nem os assistentes atuam sobre o médium; este ignora absolutamente o caráter do Espírito que vai intervir. Muitas vezes mesmo, as perguntas são dirigidas aos Espíritos por incrédulos, mais dispostos a combater a manifestação do que a facilitá-la.

O fenômeno da comunicação gráfica não consiste unicamente no caráter automático do escrito, mas, sobretudo, nas provas inteligentes, nas identidades que testifica. Ora, as experiências do Senhor Janet nada de semelhante fornecem, absolutamente. As comunicações sugeridas aos sensitivos hipnotizados são sempre de acabrunhadora banalidade, ao passo que as mensagens dos Espíritos contêm, muitas vezes, indicações, revelações que se relacionam com a vida presente e passada de seres que na Terra conhecemos, que foram nossos amigos ou parentes, particularidades ignoradas do médium e que revestem cunho de certeza que os distingue, absolutamente, das experiências de hipnotismo.

Não se conseguiria, mediante a sugestão, fazer escreverem analfabetos, obter, por meio de um velador, poesias como as que recolheram o Senhor Jaubert, presidente do Tribunal de Carcassone e que obtiveram prêmios nos jogos florais de Tolosa. Nem por esse meio se poderia, igualmente, provocar a aparição de mãos, de formas humanas, nem ainda a escrita em ardósias trazidas por observadores que não as largaram um momento.

É preciso recordar que a doutrina dos Espíritos foi constituída mediante numerosas comunicações, obtidas por médiuns escreventes, aos quais eram absolutamente estranhos tais ensinos.

Quase todos haviam sido embalados em sua infância pelos ensinos das igrejas, pelas ideias de inferno e paraíso. Suas convicções religiosas, as noções que sobre a vida futura possuíam, estavam em flagrante oposição com as opiniões expostas pelos Espíritos. Neles não havia ideia alguma preconcebida da reencarnação, nem das vidas sucessivas da alma, nem da verdadeira situação do Espírito depois da morte, coisas essas expostas nas comunicações obtidas.

Há nisso uma objeção irrefutável à teoria da sugestão; a realidade objetiva das comunicações ressalta com tanto mais vigor, quanto os médiuns não se achavam de modo algum preparados, pela sua educação e por suas opiniões pessoais, para as concepções transmitidas pelos Espíritos.

É evidente que, no meio da enorme quantidade de fatos espíritas atualmente registrados, muitos há medíocres e pouco concludentes, outros que podem ser explicados pela sugestão ou pela exteriorização do sensitivo. Em certos grupos espíritas, são as pessoas levadas a tudo aceitar como procedente dos Espíritos e não põem convenientemente de parte os fenômenos duvidosos. Por muito ampla, porém, que seja a parte atribuída a estes, resta um imponente conjunto de manifestações inexplicáveis pela sugestão, pelo inconsciente, pela alucinação e por outras análogas teorias.

Os críticos procedem sempre de modo uniforme a respeito do Espiritismo. Não se ocupam senão de um gênero especial de fenômenos e afastam propositadamente da discussão tudo o que não podem compreender nem refutar. Desde que acreditam haver encontrado a explicação de alguns fatos insulados, apressam-se a concluir pelo absurdo do conjunto. Ora, quase sempre a sua explicação é inexata e deixam na penumbra as provas mais flagrantes da existência dos Espíritos e da sua intervenção nas coisas humanas.

Outra teoria, muitas vezes invocada pelos contraditores da ideia espírita, é a do inconsciente, ou do ego inconsciente. A ela se reportam numerosos sistemas, obscuros e complicados.

Segundo essa teoria, dois seres co-existiriam em nós: um consciente, que se conhece e se possui; outro inconsciente, que a si próprio se ignora, como é por nós ignorado e que, todavia, possui faculdades superiores às nossas, pois que lhe são atribuídos todos os fenômenos do magnetismo e do Espiritismo; e não somente haveria um segundo "nós mesmos", mas um terceiro, um quarto e mais até, porque certos teóricos admitem no homem a existência de grande número de personalidades, de consciências diferentes. Esse sistema é conhecido sob o nome de policonsciência.

Conforme demonstrou o Sr. Charles Richet no seu livro O homem e a inteligência, o sonambulismo provocado, o que se denomina a dupla personalidade representa, simplesmente, os diversos estados de uma única e mesma personalidade. Assim também o inconsciente não é mais que uma forma da memória, o despertar em nós de lembranças, de faculdades, de capacidades adormecidas. (cxvii) Os teoristas do inconsciente pretendem, por esse meio, combater o maravilhoso e inventam um sistema ainda mais fantástico e complicado do que tudo o que colimam. Não só a sua teoria é ininteligível, mas não explica absolutamente os fenômenos espíritas, porque não se pode compreender como o inconsciente produziria formas de finados, comunicações inteligentes por meio de sons ou de pancadas e todos os fatos outros atestados por experimentadores de todos os países.

Também se pretendeu atribuir as mensagens ditadas em sessão a uma espécie de consciência coletiva, que se desprendesse do conjunto dos assistentes. Concepção ilógica, se assim fosse. Um fato o vai demonstrar.

No dia 25 de outubro de 1908, foi realizada uma sessão, de manhã, em Paris, no escritório do Sr. H. Rousseau, 16 Boulevard Beaumarchais. Durante a sequente refeição, no domicílio da família, em Vincennes, um batimento de pancadas chamou a atenção. Alguém desejava ser atendida e a médium, uma filha da família, foi solicitada por esse invisível a retificar certos erros de particularidades cometidos, de manhã, em Paris. Seria preciso, pois, admitir que esse hipotético ser, esse subconsciente, emanação de todo um grupo, persistisse depois da partida do maior número e pudesse vir, noutro meio, impressionar o médium para fazer corrigir, com inteligência e precisão, as indicações errôneas, registradas de manhã.

Quase sempre se confunde o subconsciente, quer com o duplo fluídico, que não é um ser mas um organismo, quer com o Espírito familiar, preposto à guarda de toda alma encarnada neste mundo.

Pode-se perguntar em virtude de que acordo universal esses inconscientes ocultos no homem, que se ignoram entre si e a si próprios se ignoram, são unânimes, no curso das manifestações ocultas, em se dizerem Espíritos de mortos.

Pelo menos, é o que temos podido verificar nas inúmeras experiências em que temos tomado parte durante mais de trinta anos, em tão diversos pontos, na França e no estrangeiro. Em parte alguma se apresentaram os seres invisíveis como inconscientes, ou "egos" superiores dos médiuns e de outras pessoas presentes, mas sempre como personalidades diferentes, na plenitude de sua consciência, como individualidades livres, tendo vivido na Terra, conhecidos dos assistentes, na maioria dos casos com todos os caracteres do ser humano, suas qualidades e defeitos, suas fraquezas e virtudes, e dando frequentes provas de identidade. (Nota cxviii: Ver nota complementar nº 12 e No Invisível, "Identidade dos Espíritos", cap. XXI.) O que há de mais notável nisso, convenhamos, é a argúcia, a fecundidade de certos pensadores, sua habilidade em arquitetar teorias fantasistas, no intuito de se esquivarem a realidades que lhes desagradam e os incomodam.

Indubitavelmente, não previram todas as consequências dos seus sistemas; fecharam os olhos aos resultados que deles se podem deduzir. Não ponderando que essas doutrinas funestas aniquilam a consciência e a personalidade, dividindo-as, são conduzidos, fatal e logicamente, à negação da liberdade, da responsabilidade e, por conseguinte, à destruição de toda a lei moral.

Com essa hipótese, efetivamente, o homem seria uma dualidade, ou uma pluralidade mal equilibrada, em que cada consciência agiria à vontade, sem preocupação das outras. São tais noções que, penetrando nas almas, tornando-se para elas uma convicção, um argumento, as impelem a todos os excessos.

Resumamos: Tudo, na Natureza e no homem, é simples, claro, harmônico. O espírito de sistema é que complica e obscurece tudo.

Do exame atento, do estudo constante e aprofundado do ser humano, resulta uma coisa: a existência em nós de três elementos: o corpo físico, o corpo fluídico ou perispírito e, finalmente, a alma ou espírito. O que se chama o inconsciente, a segunda pessoa, o eu superior, a policonsciência, etc., é simplesmente o espírito que, em certas condições de desprendimento e de clarividência, sente em si mesmo produzir-se uma como manifestação de potências ocultas, um conjunto de elementos que estavam momentaneamente escondidos sob o véu da carne.

Não, certamente; o homem não possui muitas consciências. A unidade psíquica do ser é a condição essencial da sua liberdade e da sua responsabilidade. Nele, porém, há muitos estados de consciência. À proporção que o Espírito se desprende da matéria e se emancipa do seu invólucro carnal, suas faculdades, suas percepções se ampliam, despertam as recordações, dilata-se a irradiação da personalidade. É o que, algumas vezes, se produz no estado de "transe", de sono magnético. Nesse estado, o véu espesso da matéria se levanta e as capacidades latentes reaparecem. Daí certas manifestações de uma mesma Inteligência, que têm podido fazer crer numa dupla personalidade, numa pluralidade de consciências.

Isso não basta, entretanto, para explicar os fenômenos espíritas: na maioria dos casos, a intervenção de Inteligências estranhas, de vontades livres e autônomas, impõe-se como a única explicação racional.

Não citaremos, senão incidentemente, a teoria que atribui aos demônios essas manifestações. É argumento bem cediço, porque dele se tem feito uso em todos os tempos e contra quase todas as inovações. "Deve-se julgar a árvore pelos frutos" - diz a Escritura.

Ora, se ponderarmos todo o bem moral que já realizou no mundo o Espiritismo, se considerarmos quantos cépticos, indiferentes, sensuais, têm sido por ele encaminhados para uma concepção mais alta e salutar da vida, da justiça e do dever, quantos ateus reconduzidos ao pensamento de Deus, teremos de concluir que o demônio, se autor dos fenômenos de além-túmulo, trabalha contra si, em detrimento dos próprios interesses. O que noutro lugar (Nota cxix: Ver Depois da Morte, cap. XXXVII.) dissemos do inferno e dos demônios nos dispensa de insistir neste ponto. Satanás não passa de um mito. Não há ser votado eternamente ao mal.

Se na maior parte as críticas formuladas contra o Espiritismo são injustas e errôneas, força é reconhecer que, entre elas, algumas há fundado. Muitos abusos se opõem à marcha e o desenvolvimento do moderno espiritualismo. Esses abusos não devem ser atribuídos à ideia, em si mesma, senão à má aplicação que dela é feita em certos meios. Não se dá isso com todas as coisas humanas? Não há ideia alguma, por mais santa e respeitável, que não tenha ocasionado abusos: é a inevitável consequência da inferioridade do nosso mundo. No que respeita ao Espiritismo, cumpre assinalar, antes de tudo, a mediunidade venal, que induz muitos sensitivos à simulação dos fenômenos e, em segundo lugar, as nocivas práticas adotadas em alguns grupos baldos de saber, de preparo e direção. Muitas pessoas fazem do Espiritismo frívola diversão e, por meio do que se denomina "dança das mesas", atraem Espíritos inferiores e levianos; estes não têm escrúpulo em mistificá-las e travar com elas relações que podem conduzir até à obsessão.

Outras se aplicam, sem fiscalização, à escrita mediúnica e obtêm copiosas comunicações, subscritas por nomes célebres e que não passam de medíocres, sem estilo nem originalidade.

Há, assim, um Espiritismo de baixa esfera, domínio exclusivo dos Espíritos inferiores, não raro viciado de fraude, mentira e embuste, e contra o qual nunca seria demais nos precatarmos.

São essas práticas que têm feito acreditar na intervenção de demônios, quando não se trata senão de Espíritos vulgares e atrasados. Basta adquirir alguma experiência dessas coisas para distinguir a natureza dos seres invisíveis e eximir-se às ciladas dos Espíritos inferiores.

Esses abusos têm sido assinalados muitas vezes, e mesmo exagerados à vontade. Deles têm lançado mão para combater o moderno espiritualismo. Grave erro, porém, seria não ver na prática do Espiritismo senão esses inconvenientes e, a pretexto de os evitar, querer privar a Humanidade das vantagens reais, consideráveis, que pode auferir de um estudo sério, de uma prudente e refletida prática da mediunidade.

Quanto aos perigos que apresenta o Espiritismo, facilmente podem ser conjurados, abstendo-se as pessoas, nas sessões, de todo pensamento frívolo, de todo objetivo interesseiro, procedendo às evocações com piedoso e elevado sentimento. "Os semelhantes se atraem", diz o provérbio. Nada mais verdadeiro no domínio dos estudos ocultos. As perguntas banais e frívolos gracejos, usuais em certos meios, atraem os Espíritos mistificadores. As disposições sérias, ao contrário, os pensamentos graves e recolhidos, agradam às Inteligências superiores.

É perigoso trabalhar sozinho, sem inspeção, sem proteção eficaz; é perigoso entregar-se insuladamente às evocações espíritas.

Para evitar as más influências e manifestações grosseiras, deve-se procurar o concurso de pequeno número de pessoas esclarecidas, votadas ao bem, sob a direção de um crente experimentado. Nessas condições, pedi a Deus, com coração sincero, permita a um Espírito elevado prestar-vos seu amparo, afastar os nômades da sombra, facilitar o acesso em vosso grupo aos que amais e cuja ausência vos aflige; pedi às Inteligências superiores vos ministrem seus ensinos e vos guiem os passos nesse fecundo campo da comunhão espiritual. Se os vossos sentimentos forem desinteressados, se não procurardes nesse estudo senão um meio de purificação, eles serão felizes em acudir ao vosso chamado e o Espiritismo se tornará fonte de esclarecimento e de inspirações elevadas.


* * *

De nossa explanação resulta que atingimos uma hora decisiva na história da Ciência.

A ciência experimental franqueou o limite que separa dois mundos, o visível e o invisível. Ela se encontra em presença de um infinito vivo. Era o que dizia o professor Charles Richet, da Academia de Medicina de Paris, em seu relatório sobre as sessões espíritas de Milão: "É um mundo novo que se nos descerra. " De meio século para cá, lentamente, mas com segurança, encaminha-se a Ciência, de descoberta em descoberta, para o conhecimento da vida fluídica, invisível, de perfeita conformidade com o ensino do moderno espiritualismo. Dessa concordância vai resultar a mais firme certeza, que jamais o homem possuiu, da sobrevivência da alma e da sua indestrutibilidade.

Atualmente, essa questão, acompanhada de perto durante anos, resolvida por grande número de sábios que a têm estudado, ainda o não foi pela ciência oficial, que hesita ainda: mas seu veredicto não pode tardar. Acima das questões de interesse, das rivalidades, superior aos sofismas, às sutilezas, às contradições, o problema se apresenta imperativo ao tribunal do pensamento. Em presença dos fatos espíritas, da sua persistência, da sua incessante renovação e prodigiosa variedade, é forçoso pronunciar-se e dizer se a morte é o nada, ou se há, de fato, um destino para o homem.

Este um debate verdadeiramente grave e solene. Todas as negações e todas as esperanças estão em causa. Todas as escolas têm interesse na solução do problema, em saber se há, como o estabelecemos, uma prova objetiva da sobrevivência do ser, escoimada de todo caráter místico.

As escolas materialistas de um lado, as igrejas do outro, se inquietam e se agitam, porque nisso descobrem um motivo de decadência e enfraquecimento para elas, ao passo que seria, realmente, essa comprovação da sobrevivência, um meio de aproximação e conciliação. Daí, também, todas as objurgatórias, todos os protestos que se levantam. Quaisquer que sejam, porém, a indecisão da Ciência, a oposição das escolas, a obstinação com que são combatidas a nova ideia e as descobertas que a originaram, as potências invisíveis que operam no mundo não empregarão menos tenacidade e energia em as defender e propagar, porque, mais alto que o interesse das escolas, que as teorias e sistemas, há uma coisa que deve triunfar e impor-se: é a verdade.

Há muito recalcado em suas profundezas, quer pelo materialismo que lhe negava a existência, quer pela Igreja que, a pretexto de feitiçaria, lhe condenava as manifestações, o mundo invisível se retraíra. Agora, entra novamente em ação. As manifestações ocultas se produzem sob todas as formas, desde as mais banais às mais transcendentes, conforme o grau de elevação das Inteligências que intervêm. Elas se desdobram de conformidade com um plano majestoso, cujo intuito claramente se revela e outro não é senão mostrar ao homem que ele não é apenas matéria perecível, mas que tem dentro de si uma essência que sobrevive ao corpo e pode entrar em comunicação com outros seres humanos, depois da morte, uma individualidade chamada a desenvolver-se livremente através do infinito do tempo e da imensidade dos espaços.

O invisível faz, pouco a pouco, irrupção no mundo visível e, a despeito dos sarcasmos, hostilidades e resistências, é evidente que a sua ação se vai estender e multiplicar, cada vez mais, até que o homem chegue, finalmente, a melhor conhecer-se, a discernir a lei da vida e dos seus destinos.

Há, pois, na observação desses fatos o germe de uma revolução que abrangerá progressivamente todo o domínio dos conhecimentos humanos.

Antes de tudo, no ponto de vista científico, esses fatos nos descerram todo um mundo de forças, de influências, de formas de vida em que estávamos mergulhados sem lhe suspeitar a existência; um mundo cuja grandeza, tesouros e energias em depósito desafiam todo o cálculo e previsão. Eles ensinam também a ver no homem a sede de faculdades, de capacidades ocultas, cuja utilização e desenvolvimento podem conduzir-nos a alturas grandiosas.

A vida aparece-nos agora sob um duplo aspecto: simultaneamente corporal e fluídica. A existência do homem é alternativamente terrestre e extraterrestre e se efetua ora na carne, sobre a Terra, ora na atmosfera ou no espaço, sempre sob a forma humana, mas imponderável e impalpável. Esses dois modos de vida se revezam e se sucedem num ritmo harmônico, como o dia sucede à noite, a vigília ao sono, ao Verão o Inverno.

No ponto de vista moral e filosófico, as consequências do fenômeno espírita não são menos importantes.

Há mais de cinquenta anos têm sido os fatos comprovados; quando, desses fatos quiseram remontar às causas que os produzem, quando, do conjunto dos fenômenos quiseram deduzir a lei que os rege, foi reconhecida a evidência de uma ordem de coisas que implica forçosamente uma nova concepção da vida e do Universo. Não somente foram obrigados a reconhecer a existência de seres invisíveis, que são os espíritos dos mortos, mas também que esses seres se acham ligados pelos vínculos de estreita solidariedade e evolvem para um objetivo comum, para estados sempre e cada vez mais elevados.

Com essa concepção, todas as ideias de lei e todas as noções de progresso, justiça e dever iluminam-se de uma nova claridade.

Aumenta o sentimento das responsabilidades morais. Aí se entrevê o esperado remédio, o remédio possível para os males, os desfalecimentos e as misérias que afligem e debilitam a Humanidade.

Porque, coisa notável, essa revelação chega na hora precisa em que todas as doutrinas desmoronam ao peso do tempo, à hora em que se esboroam os sistemas religiosos, em que o homem parecia reduzido a procurar o rumo no meio das trevas. Chega na hora em que a sociedade se vê trabalhada por imensas forças destruidoras, em que, da profundeza das massas se eleva ao céu um grito de sofrimento e desespero. É nessa hora que nos chegam as mensagens de paz, amor e esperança, que as potências do espaço, os Espíritos de luz, vêm trazer à pobre Humanidade conturbada.




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