Cristianismo e Espiritismo

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CAPÍTULO 9

A Nova Revelação - o Espiritismo e a Ciência

A nova revelação se efetua sob inesperadas formas, ou, antes, sob formas esquecidas, idênticas, contudo, às que revestiram as primeiras manifestações do Cristianismo.

Este havia começado pelo milagre. Foi com a prova material e a sobrevivência que a religião do Cristo se fundou. (Nota xcvi: Ver capitulo V.) O moderno espiritualismo se revela com o concurso do fenômeno. Ora, milagre e fenômeno são duas palavras para exprimir um só e mesmo fato. O sentido diferente que se lhe atribui dá a medida do caminho percorrido pelo espírito humano em dezenove séculos. O milagre é superior à lei natural; o fenômeno submete-se a ela. Não há mais que o efeito de uma causa, a resultante de uma lei. A experiência e a razão têm demonstrado que o milagre é impossível. As leis da Natureza, que são as leis divinas, não poderiam ser violadas, porque são elas que regulam e mantêm a harmonia do Universo.

Deus não pode a si mesmo desmentir.

Os fenômenos de além-túmulo são encontrados na base de todas as grandes doutrinas do passado. Em todos os tempos, constantes relações mantinham unidos o mundo invisível e o visível. Na Índia, na Grécia e no Egito, esse estudo era privilégio de reduzido número de investigadores e iniciados; os resultados obtidos se conservavam cuidadosamente ocultos.

Para tornar esses estudos acessíveis a todos, para fazer conhecer as verdadeiras leis que regem o mundo invisível, para ensinar os homens a ver nesses fenômenos não mais uma ordem de coisas sobrenatural, mas um ignorado aspecto da Natureza e da vida, eram necessários o imenso trabalho dos séculos, todas as descobertas da Ciência, todas as conquistas do espírito humano em tal matéria. Era preciso que o homem conhecesse o seu verdadeiro lugar no Universo, aprendesse a ponderar a fraqueza dos seus sentidos, a impotência destes para explorar, por si e sem auxílio, todos os domínios da Natureza viva.

A Ciência, com as suas invenções, atenuou essa imperfeição dos nossos órgãos. O telescópio descerrou ao nosso olhar os abismos do espaço; o microscópio revelou o infinitamente pequeno. A vida apareceu por toda parte, no mundo dos infusórios como na superfície dos globos gigantescos, que rolam na profundeza dos céus. A Física descobriu a transformação das forças, a radioatividade dos corpos e as leis que mantêm o equilíbrio universal: a Química deu a conhecer as combinações da substância.

O vapor e a eletricidade vieram revolucionar a face do globo, facilitar as relações dos povos e as manifestações do pensamento, a fim de que a ideia irradie e se propague na esfera terrestre, por todos os seus pontos.

O espírito humano pôde mergulhar os olhos nessa grande Bíblia da Natureza, nesse livro divino que ultrapassa, em toda a sua majestade, as bíblias humanas. Aí leu ele, correntemente, as fórmulas e as leis que presidem às evoluções da vida, à marcha do Universo.

Agora vem o estudo do mundo invisível completar essa magnífica ascensão do pensamento e da Ciência. O problema da outra vida ergue-se diante do espírito humano com um poder, uma autoridade, uma insistência, como nada, talvez, de semelhante se produziu jamais na História. Porque nunca se tinha visto, assim, um conjunto de fatos, de fenômenos a princípio considerados impossíveis, que não despertavam, no conceito da maioria dos nossos contemporâneos, senão a antipatia e o sarcasmo, acabar impondo-se à atenção e ao exame dos mais competentes e autorizados.

Em meados do século transato, o homem, iludido por todas as teorias contraditórias, por todos os sistemas deficientes com que pretenderam nutrir-lhe o pensamento, deixava-se embalar pela dúvida; perdia cada vez mais a noção da vida futura. Foi então que o mundo invisível veio ter com ele e o perseguiu até em sua própria casa. Por diversos meios, os mortos manifestaram-se aos vivos. As vozes de além-túmulo falaram. Os mistérios dos santuários orientais, os fenômenos ocultos da Idade Média, depois de longo silêncio, se renovaram e nasceu o Espiritismo.

Foi além-mar, num mundo novo e rico de energia vital, de ardente expansão, menos escravizado que a velha Europa ao espírito de rotina e aos preconceitos do passado - foi na América do Norte que se produziram às primeiras manifestações do moderno Espiritualismo. De lá se espalharam por todo o globo.

Essa escolha era profundamente judiciosa. A livre América era, justamente, o meio propício para a obra de difusão e renovação. Por isso, nela se contam hoje vinte milhões de "neo-espiritualistas".

De um lado, porém, como do outro do Atlântico, foram idênticas as fases de progressão da ideia espírita.

Nos dois continentes, o estudo do magnetismo e dos fluidos havia preparado certos espíritos para a observação do mundo invisível.

A princípio, fatos estranhos se produziram de todos os lados, fatos de que se não atreviam as pessoas a falar senão à meia voz, na intimidade. Depois, pouco a pouco, elevou-se o diapasão. Homens de talento, sábios cujos nomes são outras tantas garantias de honorabilidade e sinceridade, ousaram falar bem alto de tais fatos e afirmá-los. Tratou-se de hipnotismo, de sugestão; vieram depois a telepatia, os casos de levitação e todos os fenômenos do Espiritismo.

Mesas giravam num doido rodopio, objetos se deslocavam sem contacto, ressoavam pancadas nas paredes e nos móveis. Todo um conjunto de manifestações se produzia, vulgares na aparência, mas perfeitamente adaptadas às exigências do meio terrestre, ao estado de espírito positivo e céptico das sociedades modernas.

O fenômeno falava aos sentidos, porque os sentidos são como as brechas por onde o fato penetrará até ao entendimento. As impressões produzidas no organismo despertam a surpresa, provocam a investigação, levam à convicção.

Depois da primeira fase, material e grosseira, as manifestações revestiram novo aspecto. As pancadas vibradas se regularizaram e tornaram um modo de comunicação inteligente e consciente. A possibilidade de relações entre o mundo visível e o invisível surgiu como fato extraordinário, subvertendo as ideias estabelecidas, abalando os ensinos habituais, mas franqueando sobre a vida futura umbrais que o homem hesitava ainda em transpor, deslumbrado como estava com as perspectivas que se lhe antolhavam.

À medida que se ia propagando, via o Espiritismo levantarem-se contra ele numerosas oposições. Como todas as concepções novas, teve que afrontar o desprezo, a calúnia, a perseguição moral. Do mesmo modo que a ideia cristã em seu começo, foi cumulado de animosidade e de injúrias. É sempre assim. Quando novos aspectos da verdade se apresentam aos homens, é sempre a desconfiança e a hostilidade o que provocam.

E isso é fácil de compreender. A Humanidade esgotou as velhas formas do pensamento e da crença; e quando as novas, inesperadas formas da verdade se revelam, parece corresponderem mui pouco ao ideal antigo, que está enfraquecido, mas não morto. Por isso, é necessário um período assaz longo de exame, de reflexão, de incubação, para que a ideia nova abra caminho nos espíritos. Daí as incertezas e sofrimentos da primeira hora.

Muito se tem ridiculizado as formas que o novo espiritualismo revestia. Mas as potências invisíveis que velam pela humanidade são melhores juízes que nós, dos meios de ação e de atração que convêm adotar, conforme os tempos e os lugares, para conduzir o homem à noção do seu papel e dos seus destinos, sem lhe estorvar o livre-arbítrio. Porque está nisso o essencial: é preciso que a liberdade do homem seja integralmente respeitada.

A vontade superior sabe apropriar às necessidades de uma época e de uma raça as novas formas da revelação eterna. É ela que suscita no seio das sociedades os pensadores, os experimentadores, os sábios que indicarão o caminho a seguir e colocarão os primeiros marcos. Sua obra desenvolve-se lentamente. Fracos e insensíveis, a princípio, os resultados, mas a ideia penetra pouco a pouco nas inteligências. O movimento, embora imperceptível, não deixa, por isso mesmo, de ser às vezes mais seguro e mais profundo.

Em nossa época, a Ciência veio a ser a soberana mestra, a diretora do movimento intelectual. Fatigada das especulações metafísicas e dos dogmas religiosos, a Humanidade reclamava provas palpáveis, sólidas bases em que pudesse repousar as suas convicções. Apegava-se ao estudo experimental, à observação dos fatos como a uma tábua de salvação. Daí, o grande crédito dos homens de ciência no momento que atravessamos. Por isso é que a revelação tomou um caráter científico. Foi por meio de fatos materiais que se atraiu a atenção dos homens, tornados eles próprios materiais.

Os misteriosos fenômenos que se encontram disseminados na história do passado renovaram-se e multiplicaram-se ao redor de nós; sucederam-se em ordem progressiva, que parece indicar um plano preconcebido, decorrente de um pensamento, de uma vontade.

Efetivamente, à proporção que o novo espiritualismo ganhava terreno, transformavam-se os fenômenos. As manifestações grosseiras do princípio se modificavam, revestiam caráter mais elevado. Médiuns recebiam, por meio da escrita, de um modo mecânico ou intuitivo, comunicações, inspirações de estranha fonte. Instrumentos de música tocavam sem contacto. Escutavamse vozes e cantos; melodias penetrantes parecia descerem do céu e perturbaram os mais incrédulos. A escrita direta produzia-se do lado interior de ardósias justapostas e lacradas. Fenômenos de incorporação permitiam aos falecidos tomar posse do organismo de um sensitivo adormecido. Gradualmente, e como que em consequência de um desdobramento calculado, apareciam os médiuns videntes, falantes, curadores.

Finalmente, os habitantes do espaço, revestindo temporários invólucros, vinham misturar-se com os humanos, vivendo um instante da sua vida material e terrestre, deixando-se ver, palpar, fotografar, dando impressões de mãos, de rostos, esvaecendo-se em seguida para retomar o seu estado etéreo.

Assim que, há cerca de meio século, todo um encadeamento de fatos se produziu, desde os mais inferiores e vulgares, até os mais transcendentes, conforme o grau de elevação das inteligências que intervinham. Toda uma ordem de manifestações se desdobrou sob as vistas de observadores atentos.

Por isso, a despeito das dificuldades de experimentação, a despeito dos casos de impostura e das formas de exploração a que esses fenômenos algumas vezes serviram de pretexto, a apreensão e a desconfiança diminuíram pouco a pouco; o número dos verificadores foi crescendo sempre.

De cinquenta anos para cá, em todos os países o fenômeno espírita tem sido objeto de frequentes investigações, empreendidas e dirigidas por comissões científicas. Cépticos sábios, professores célebres, de todas as universidades do mundo, têm submetido esses fatos a um exame profundo e rigoroso. Sua intenção era, a princípio, fazer luz sobre o que acreditavam resultado de fraudes ou alucinações. Todos, porém, incrédulos como eram, após anos de consciencioso estudo e repetidas experimentações, abriram mão das suas prevenções e se inclinaram perante a realidade dos fatos.

Quanto mais se tem examinado e escrutado o problema, tanto mais numerosos è expressivos se têm revelado os casos de identidade, as provas da persistência da personalidade humana no além-túmulo. As manifestações espíritas, verificadas aos milhares em todos os pontos do globo, demonstraram que um mundo invisível se agita em torno de nós, ao nosso alcance, um mundo em que vivem em estado fluídico todos os que nos precederam na Terra, que aqui lutaram e sofreram, e constituem, para além da morte, uma segunda humanidade.

O novo espiritualismo apresenta-se hoje com um cortejo de provas, um conjunto de testemunhos tão imponente, que já não é possível à dúvida para os investigadores de boa fé. Era o que, nestes termos, externava o professor Challis, da Universidade de Cambridge: "Os atestados têm sido tão abundantes e completos, os testemunhos têm vindo de tantas fontes independentes entre si e de um número tão considerável de assistentes, que é forçoso, ou admitir as manifestações tais como no-las representam, ou renunciar à possibilidade de certificar um fato, qualquer que seja, mediante um depoimento humano. " (xcvii) Por isso o movimento de propagação se acentuou cada vez mais.

Na hora atual, assistimos a uma verdadeira expansão da ideia espírita. A crença no mundo invisível se espalhou por toda a superfície da Terra. Em toda parte o Espiritismo possui as suas sociedades de experimentação, os seus vulgarizadores, os seus jornais.


* * *

Insistamos num ponto essencial. O erro ou o cepticismo do homem, relativamente à existência do mundo invisível, era devido a uma causa única: a incapacidade da sua organização para lhe fornecer uma ideia completa das formas e possibilidades da vida.

Perdemos de vista que os nossos sentidos, posto que se tenham desenvolvido e apurado, desde a origem da Humanidade, ainda não percebem senão as mais rudimentares formas da matéria; seus estados sutis lhes escapam absolutamente. Daí a opinião, geralmente divulgada, de que a vida não era possível senão sob formas e com organismos semelhantes aos que nos afetam a vista.

Daí a ideia falsa de que a vida não era, por toda parte, mais que uma imitação, uma reprodução do que vemos ao redor de nós.

No dia em que, com o auxílio de poderosos instrumentos de óptica, o infinitamente grande e o infinitamente pequeno se patentearam, foi realmente necessário reconhecer que os nossos sentidos, reduzidos a si mesmos, não abrangiam senão um círculo muito restrito do domínio das coisas, um limitadíssimo campo da Natureza; que, em definitivo, quase nada sabíamos da vida universal.

Em época muito mais recente, ainda não conhecíamos da matéria senão os seus três modos mais elementares: os sólidos, os líquidos e os gases. Nada sabíamos das inúmeras transformações de que é suscetível.

Foi somente há uns trinta anos que o quarto estado da matéria, o estado radiante, se tornou conhecido dos sábios. W Crookes, o acadêmico inglês, foi o primeiro que verificou a sua existência e as suas experiências espíritas, continuadas por espaço de três anos, não foram estranhas a essa descoberta. Ele conseguiu demonstrar que a matéria, tornada invisível, reduzida a quantidades infinitesimais, adquire energias e potencialidades incalculáveis, e que essas energias aumentam sem cessar, à medida que a matéria se rarefaz.

Mais recentemente, investigações de numerosos sábios vieram confirmar essas descobertas. Pouco a pouco a Ciência abordou o domínio do invisível, do intangível, do imponderável. Forçoso foi reconhecer que o estado radiante não é o último que a matéria possa revestir; além desse, ela se apresentou sob aspectos cada vez mais sutis e quintessenciados, rarefazendo-se quase ao infinito, sem deixar de ser a forma possível, a forma necessária da vida.

O que a Ciência começa apenas a entrever, os espíritas sabiamno há muito pela revelação dos Espíritos. Eles tinham vindo assim a saber que o mundo visível não é mais que ínfima porção do Universo; que fora do que incide sob os nossos sentidos, a matéria, a força e a vida se apresentam sob formas variadas, sob inúmeros aspectos; que nós estamos rodeados, envolvidos de radiações invisíveis para nós, em razão da grosseria dos nossos órgãos.

As experiências científicas vêm hoje demonstrar todas essas noções. A comprovação desses modos de energia, a existência dessas formas sutis da matéria fornecem, ao mesmo tempo, a explicação racional dos fenômenos espíritas. É aí que os invisíveis haurem as forças de que se servem em suas manifestações físicas; é com elementos da matéria imponderável que são formados os seus invólucros, os seus organismos.

Os investigadores de boa fé não tardaram a reconhecê-lo.

Depois da descoberta da matéria radiante, a Ciência avançou passo a passo nesse vasto império do desconhecido. Todos os dias vemna confirmar, mediante novas experiências, o que o espírito humano, mais clarividente que os nossos sentidos, há muito pressentira.

A Ciência havia começado por fotografar os raios invisíveis do espectro solar, os raios ultravioleta e infravermelho, que não nos impressionam a retina. Obteve, depois, a reprodução, na placa sensível, de grande número de mundos estelares, de estrelas longínquas, de astros perdidos nas profundezas do espaço, a uma distância tal que as suas irradiações luminosas escapam, não só à nossa vista, mas, às vezes, mesmo ao telescópio.

Sabe-se que as sensações de luz, como as de som, calor, etc., são produzidas por determinada quantidade de vibrações do éter.

A retina, órgão da vista, percebe, em certos limites, as ondas luminosas. (Nota xcviii: A retina, que é o mais perfeito dos nossos órgãos, percebe as ondulações etéreas desde 400 trilhões por segundo até 790 trilhões, isto é, tudo o que constitui a gama das cores, do vermelho, numa das extremidades do espectro solar, ao violeta, na outra extremidade. Fora daí, a sensação é nula. O professor Stokes conseguiu, entretanto, tornar visíveis os raios ultravioletas, fazendo-os atravessar um papel embebido em solução de sulfato de quinina, que reduz o número das vibrações. Do mesmo modo, o professor Tyndall tornou visíveis, por meio do calor, os raios infravermelhos, inapreciáveis à vista no estado normal. Partindo desses dados, podemos cientificamente admitir uma seqüência ininterrupta de vibrações invisíveis, e daí deduzir que, se os nossos órgãos fossem suscetíveis de receber a sua impressão, poderíamos distinguir uma variedade inimaginável de cores ignoradas e também inúmeras formas, substâncias, organismos, que presentemente não se nos revelam, em conseqüência da imperfeição dos nossos sentidos.) Além desses limites, escapa-lhe grande número de vibrações. Ora, essas vibrações, inapreciáveis para nós, podem ser percebidas pela placa fotográfica, que é mais sensível que a vista humana, o que permite dizer que a objetiva fotográfica é como um olhar projetado ao invisível.

Temos disso ainda urna prova na aplicação dos raios 10, dos raios obscuros de Roentgen, à fotografia. Esses raios, posto que invisíveis, têm o poder de atravessar certos corpos opacos, tais como o tecido, a carne, a madeira, e permitem reproduzir objetos ocultos a todos os olhos, como o conteúdo de uma bolsa, de unia carta, etc. Penetram nas profundezas do organismo humano, e as mínimas particularidades da nossa anatomia não são mais segredo para eles.

A utilização dos raios 10 tende a generalizar-se cada vez mais e nos mostra que considerável partido a Ciência do futuro poderá tirar das formas sutis da matéria, quando as souber acumular e dirigir.

A descoberta da matéria luminosa e de suas aplicações é de um alcance incalculável. Não somente prova que além dos nossos sentidos se desdobram, gradualmente, formas da matéria unicamente perceptíveis mediante aparelhos que as registram, mas, também, que essas formas e radiações, à medida que aumentam de sutileza, adquirem mais força e maior penetração. Habituamo-nos, assim, a estudar a Natureza sob os seus recônditos aspectos, que são os do seu maior poder.

Nessas manifestações ainda mal definidas da energia encontramos a explicação científica de inúmeros fenômenos como as aparições, a passagem dos Espíritos através dos corpos sólidos, etc. A aplicação dos raios Roentgen à fotografia nos faz compreender o fenômeno da vista dupla dos médiuns e o da fotografia espírita. Efetivamente, se placas podem ser influenciadas por invisíveis raios, por irradiações da matéria imponderável, que penetram os corpos, com mais forte razão os fluidos quintessenciados, de que se compõe o invólucro invisível dos Espíritos, podem, em certas condições, impressionar a retina dos médiuns, aparelho delicado e complexo como não o é a placa de vidro. Assim é que, a cada dia, mais se fortifica o Espiritismo pelo acréscimo de argumentos tirados das descobertas da Ciência e que terminarão por abalar os mais obstinados cépticos.

A fotografia das irradiações do pensamento vem descerrar novo campo aos investigadores.

Numerosos experimentadores (Nota xcix: Ver, entre outras, a obra do Dr. Baraduc, A alma humana, seus movimentos, suas luzes.) conseguiram fixar na placa sensível as radiações do pensamento e as vibrações da vontade.

Suas experiências demonstraram que existe em cada ser humano um centro de radiações invisíveis, um foco de luzes que escapam à vista, mas podem impressionar as placas fotográficas.

Quer apoiando os dedos na face que tem a gelatina, quer aplicando no alto do cérebro e na obscuridade, a face vítrea da placa, nesta se obtêm ondas, vibrações que variam de aspecto e intensidade sob a influência das disposições mentais do operador.

Uniformes, regulares no estado normal, essas ondas se formam em turbilhões, em espirais, sob o influxo da cólera; estendem-se em lençóis, em largos eflúvios no êxtase, e se elevam em colunas majestosas durante a prece, como vapores de incenso.

Conseguiu-se, mesmo, reproduzir nas placas o duplo fluídico do homem, centro de tais radiações. O coronel de Rochas e o Doutor Barlemont obtiveram, na oficina fotográfica de Nadar, a fotografia simultânea do corpo de um médium e do seu duplo, momentaneamente separados. (Nota c: Ver Revista Espírita, novembro de 1894, com o fac-símile e as obras do coronel de Rochas, Exteriorização da sensibilidade e Exteriorização da motricidade. Análogos resultados se encontram no caso do médium Herrod, e no caso afirmado pelo juiz Carter (Aksakof, Animismo e Espiritismo, págs. 78 e
79) assim como nos testemunhos do Sr. Glendinning (Borderland de julho 1896). Ver também G. Delanne, As aparições materializadas dos 5ivos e dos Mortos, e H. Durville, O fantasma dos 5ivos.) Como prelúdio de tantas outras provas objetivas, que adiante assinalaremos, a fotografia vem, portanto, revelar a existência desse corpo fluídico que duplica e mantém o nosso corpo físico, desse invólucro sutil que é a forma radiante do Espírito, dele inseparável durante a vida, como depois da morte.

As placas fotográficas não são unicamente impressionadas pelas vibrações fluídicas do ser humano; igualmente o são por formas pertencentes ao mundo invisível, seres que existem, vivem e se movem em torno de nós, presidindo a todo um conjunto de manifestações que vamos passar em revista e que se não podem explicar de outro modo, que não pela sua presença e ação.

Tais seres, pela morte libertados das necessidades e misérias da natureza humana, continuam a agir, graças a esse corpo fluídico imperecível, formado de elementos muitíssimo sutis da matéria, dos quais acabamos de falar e que até agora escapavam aos nossos sentidos, em seu estado normal.

A questão do corpo fluídico, ou perispírito, posto que já por nós tratada em outras páginasci necessita de novas explicações, porque nos faz melhor compreender a vida no espaço e o modo de ação dos Espíritos sobre a matéria.

É sabido que as moléculas do nosso corpo físico estão submetidas a constantes mutações. Todos os dias o nosso invólucro carnal elimina e assimila um certo número de elementos. O corpo, desde as partes moles do cérebro até as mais duras parcelas da carcaça óssea, renova-se integralmente dentro de certo número de anos. Em meio dessas correntes incessantes, subsiste em nós uma forma fluídica original, compressível e expansível, que se mantém e perpetua. É nela, no desenho invisível que apresenta, que se vêm incorporar, fixar, as moléculas da matéria grosseira. O perispírito é como o molde, o esboço fluídico do ser humano. É por isso que, quando com a morte se efetua a separação, o corpo material tomba imediatamente e se desorganiza e decompõe.


O perispírito é o invólucro permanente do Espírito, ao passo que o corpo físico não passa de invólucro temporário, veste emprestada, que tomamos para realizar a peregrinação terrestre. O perispírito existia antes do nascimento e sobrevive á morte. Ele constitui, em sua íntima ligação com o Espírito, o elemento essencial e persistente da nossa individualidade, através das múltiplas existências que nos é dado percorrer. (Nota cii: Segundo o Sr. Gabriel Delanne, que se aplicou a um estudo consciencioso e aprofundado do corpo fluídico, o perispírito é um verdadeiro organismo fluídico, um modelo em que se concreta a matéria e se organiza o corpo físico. É ele que dirige automaticamente todos os atos que concorrem para a manutenção da vida. Sob o influxo da força vital, dispõe as moléculas materiais de conformidade com um desenho, um plano determinado, que representa todos os grandes aparelhos do organismo: respiração, circulação, sistema nervoso, etc., que são as linhas de força. É esse modelo, esse "invisível desenho ideal pressentido por Claude Bernard", que mantém a estabilidade do ser no meio da renovação integral da matéria organizada; sem ele, a ação vital poderia tomar todas as formas, o que não se verifica. É igualmente de acordo com esse plano fluídico perispiritual que é regulada a evolução embriogênica do ser, até à organização completa. Ver G. Delanne, A evolução anímica e As aparições materializadas dos vivos e dos mortos.)

É pela existência desse corpo fluídico, pelo seu desprendimento durante o sono, quer natural, quer provocado, que se explicam às aparições dos fantasmas dos vivos e, por extensão, as dos Espíritos dos mortos.

Havia-se já podido verificar, em muitos casos, que o duplo fluídico de pessoas vivas se afastava, em certas condições, do corpo material para aparecer e manifestar-se à distância. Esses fenômenos são conhecidos sob a denominação de fatos telepáticos. (Nota ciii: Ver nota complementar n° 13.) Desde então, tornava-se evidente que, se durante a vida a forma fluídica pode agir fora e sem o concurso do corpo, já não podia a morte ser o termo da sua atividade.


No estudo especial dos fenômenos de exteriorização da sensibilidade e da motricidade, o coronel de Rochas e, com ele, os professores Richet e Sabatier, o Doutor Dariex, os Srs. de Grammont e de Watterville, haviam abordado o domínio das provas experimentais, donde resultou a certeza da ação do duplo fluídico, à distância. Os sábios ingleses, por sua vez, averiguaram, em numerosos casos, que formas fluídicas de Espíritos desencarnados se tornavam visíveis por via de condensação, ou, antes, de materialização, como o vapor d"água espalhado, em estado invisível, na atmosfera pode, mediante sucessivas transformações, tornar-se visível e tangível, no estado de congelamento.

O perispírito é para nós invisível no seu estado ordinário; sua essência sutil produz um número de vibrações que ultrapassa o nosso campo de percepção visual. Nos casos de materialização, o Espírito é obrigado a absorver dos médiuns, ou de outras pessoas presentes, fluidos mais grosseiros, que assimila aos seus, a fim de adaptar o número de vibrações do seu invólucro à nossa capacidade visual. A operação é delicada, inçada de dificuldades. Entretanto, os casos de aparição de Espíritos são numerosos e se apoiam em respeitáveis testemunhos.

O mais célebre é o do Espírito Katie King que, durante três anos, se manifestou em casa de W. Crookes, o acadêmico inglês, com o concurso da médium Florence Cook. O próprio W. Crookes descreveu essas experiências em uma obra muito vulgarizada. (Nota civ: Investigações sobre os fenômenos do espiritualismo, Leymarie, editor".) Katie King e Florence Cook foram vistas lado a lado. Eram de estatura e fisionomia diferentes e distinguia-se entre si por muitas particularidades.

O testemunho de W. Crookes é confirmado pelos Drs. Gully e Sexton, príncipe de Sayn-Wittgensteim, de Hárrison, B. Cóleman, Sergeant Cox, Varley, engenheiros eletricistas, Senhores Florence Maryat, etc., que assistiram, em diferentes lugares, às aparições de Katie.

Em vão procuraram, muitas vezes, insinuar que o Senhor Crookes se havia retratado de suas afirmações. Em 7 de fevereiro de 1909, W Stead, diretor da Review of Reviews, escrevia ao New York American: "Estive com o Senhor Ch. W Crookes no Ghost Club, onde fora jantar, e ele me autoriza a declarar o seguinte: Depois das experiências que, em matéria de espiritualismo, há trinta anos comecei, não vejo motivo algum para modificar minha precedente opinião. " Outro caso célebre é o do Espírito Abdullah, relatado por Aksakof, conselheiro de Estado russo, em sua obra Animismo e Espiritismo. O Espírito era de tipo oriental e a sua forma tinha mais de 1,80m. de altura, ao passo que o médium Eglinton era de pequena estatura e de tipo anglo-saxônio muito acentuado.

Um sábio americano, Robert Dale Owen, antigo embaixador dos Estados Unidos em Nápoles, consagrou seis anos às experiências de materialização. Declarou ter visto centenas de formas de Espíritos. Em sessão promovida pela Sociedade de Investigações Psíquicas dos Estados Unidos, à qual assistia o Reverendo Savage, célebre pregador, trinta Espíritos materializados apareceram à vista dos assistentes, que neles reconheceram parentes e amigos falecidos. Essas manifestações são frequentes na América. (Nota cv: Ver O Psiquismo experimental, por A. Erny, página 184. - Ver também minha obra No Invisível, cap. XX.) O professor Lombroso, de Turim, conhecido em todo o mundo por seus trabalhos de Fisiologia criminalista, fala também de várias aparições que se produziram em sua presença, com a médium Eusápia Paladino. Nestes termos o refere, em seu livro póstumo Richerche sui fenomeni ipnotici e spiritici, a primeira aparição de seu genitor: "Em Gênova (1902), estava a médium em estado de semiinconsciência e eu não esperava obter fenômeno de importância.

Antes da sessão, havia-lhe pedido que deslocasse, em plena luz, um pesado tinteiro de vidro. Em tom de voz muito comum, respondeume ela: - Porque te ocupas com essas ninharias? Eu sou capaz de coisa bem diferente: sou capaz de te fazer ver tua mãe. Nisso é que deverias pensar!". "Impressionado com semelhante promessa, ao fim de meia hora de sessão assaltou-me o mais intenso desejo de vê-la realizado e ao meu pensamento a mesa respondeu com três pancadas. De repente (estávamos em meia-obscuridade, com a luz vermelha), vi sair do gabinete uma forma pequenina, como era a de minha mãe. (Convém notar que a estatura de Eusápia é superior, pelo menos dez centímetros, à de minha mãe.) O fantasma estava envolto num véu; fez o giro completo em torno da mesa até chegar ao pé de mim, murmurando palavras que muitos ouviram, mas que minha semi-surdez impediu-me de perceber. Ao tempo em que, tomado de comoção, lhe suplicava mas repetisse, diz-me ela: Cesare, mio fio!

– o que, devo confessar, não era hábito seu. Ela era, com efeito, veneziana e tinha o hábito regional de me dizer: mio fio! Pouco depois, a meu pedido, afastou um momento o véu e me deu um beijo. " À páginas 93 da mencionada obra lê-se que a mãe do autor lhe reapareceu umas vinte vezes ainda, no curso das sessões de Eusápia.

A objeção favorita dos incrédulos, relativamente a esse gênero de fenômenos, é que eles se produzem na escuridade, tão propícia a fraudes.

Há nessa objeção uma parte de verdade e, por nossa vez, não tem vacilado em denunciar escandalosas fraudes; mas é preciso notar que a escuridade é indispensável às aparições luminosas, que são as mais comuns. A luz exerce ação dissolvente sobre os fluidos, e inúmeras manifestações não podem ter bom êxito senão com a sua exclusão. Há, entretanto, casos em que certos Espíritos puderam aparecer à luz fosfórea. Outros se desmaterializam à plena luz. Sob as irradiações de três bicos de gás, viram Katie King fundir-se pouco a pouco, dissolver-se e desaparecer. (Nota cvi: Revue Scientifique et Morale du Spiritisme, dezembro 1909 e janeiro 1910.) A esses testemunhos temos o dever de acrescentar o nosso, relatando um fato de nosso conhecimento pessoal.

Durante dez anos praticamos essa ordem de estudos, com o concurso de um médico de Tours, o Dr. A., e de um capitão arquivista do 94º Corpo. Por intermédio de um deles, mergulhado em sono magnético, os invisíveis nos prometiam, havia muito tempo, uma materialização, quando, uma tarde, achando-nos os três reunidos no consultório do amigo, portas cuidadosamente fechadas e penetrando ainda suficiente claridade pela ampla janela, de modo que nos permitia ver distintamente os menores objetos, ouvimos três pancadas em dado ponto da parede. Era o sinal convencionado.

Tendo-se os olhos voltados para esse lado, vimos surgir do meio da parede, sem qualquer solução de continuidade, uma forma humana, de estatura média. Aparecia de perfil, mostrando a princípio os ombros e a cabeça. Gradualmente, foi-se apresentando todo o corpo. A parte superior desenhava-se perfeitamente; os contornos eram nítidos e precisos. A parte inferior era mais vaporosa e formava apenas uma confusa massa. A aparição não caminhava, deslizava. Depois de atravessar lentamente a sala, a dois passos de nós, foi entranhar-se e desaparecer na parede oposta, num ponto que não apresentava abertura alguma. Pudemos contemplá-la durante cerca de três minutos e as nossas impressões, confrontadas logo após, acusavam perfeita identidade.

As materializações e aparições de Espíritos encontram, como vimos, obstáculos que, forçosamente, lhes limitam o número. O contrário se dá com certos fenômenos de ordem física e de variadíssima natureza, os quais se propagam e multiplicam, cada vez mais, em torno de nós.

Vamos examinar sucintamente esses fatos em sua escala progressiva, no ponto de vista do interesse que oferecem e da certeza que deles resulta, relativamente à vida livre do Espírito.

Em primeira linha vem o fenômeno hoje tão comum, das casas mal-assombradas. São habitações frequentadas por Espíritos de ordem inferior, nas quais se entregam eles a ruidosas manifestações. Pancadas, sons de toda a ordem, desde os mais fracos até os mais retumbantes, fazem vibrar os soalhos, móveis, paredes e o próprio ar. A louça é mudada e quebrada; pedras são atiradas de fora para dentro dos aposentos.

Os jornais trazem, frequentemente, narrativas de fenômenos desse gênero. Mal cessam num ponto, reproduzem-se noutros, quer na França, quer no estrangeiro, despertando a atenção pública. Em certos lugares, como em Valence-en-Brie, em Yzeures (Indre-eLoire), em Ath (Brabant), em Agen, em Turim, etc., duraram meses inteiros, sem que os mais hábeis policiais tivessem conseguido descobrir uma causa humana para tais manifestações.

É o seguinte, sobre o assunto, o testemunho de Lombroso, que escrevia na Leitura: "Os casos de casas mal-assombradas, em que durante anos se reproduzem aparições ou ruídos, em concordância com a narração de mortes trágicas, observados sem a presença dos médiuns, militam a favor da ação dos falecidos. Trata-se muitas vezes de casas desabitadas, onde não raro se observam tais fenômenos durante várias gerações e mesmo até durante séculos. (Nota cvii: J. Maxwell Phenomènes Psychiques. pág. 260.) "O Dr. Maxwell, Procurador Geral da Corte de Apelação de Bordéus, encontrou acórdãos de diversos tribunais superiores, no século dezoito, anulando arrendamentos por motivo de serem malassombrados os lugares".

Esses fatos se explicam pela ação malfazeja de seres invisíveis que desabafam, post mortem, ódios nascidos, no mundo, de más relações anteriores, de prejuízos causados por certas famílias ou indivíduos, que por esse motivo se tornam vítimas da perniciosa influência desses desencarnados. Assim, no plano geral de evolução, a própria liberdade do mal, o exercício das paixões inferiores atraindo, com a produção desses fenômenos, a atenção pública para um mundo ignorado, concorrem para a instrução e o progresso de todos.

Mau grado à repugnância da Ciência em geral, para ocupar-se de tais fatos, cada dia vemos crescer o número dos investigadores conscienciosos que, afastando-se das trilhas seguidas, se entregam à paciente observação do mundo invisível. Não há mês, semana, que não se registre um novo fato no domínio experimental.

Os fenômenos de ordem física, a levitação de corpos pesados e o seu transporte à distância, sem contacto, provocam mui especialmente a observação de alguns sábios.

Falamos em outro lugar (Nota cviii: Depois da Morte e No Invisível.) das experiências realizadas em 1892, em Nápoles e Milão, sob a direção de homens de ciência de várias nações. Processos verbais, por eles redigidos, reconhecem a intervenção de forças e vontades desconhecidas, na produção desses fenômenos.

Análogas experiências foram depois efetuadas em Roma, em Varsóvia, em casa do Doutor Ochorowicz, na ilha de Roubaud, em casa do Senhor Richet, professor da Academia de Medicina de Paris, em Bordéus, em Agnelas, perto de Voiron (Isère), em casa do coronel de Rochas. Citemos ainda as do professor Botázzi, diretor do Instituto de Fisiologia na Universidade de Nápoles, em maio de 1907, com a assistência do professor Cardarélli, senador, de Galeótti, Passíni, Scarpa, de Amícis, etc.

Essas experiências foram dirigidas com método rigorosamente científico. Como, evidentemente, os sentidos podem enganar, empregaram-se aparelhos registradores que permitiram estabelecer, não somente a realidade, a objetividade do fenômeno, mas ainda a grafia da força física em ação.

As cautelas adotadas pelo grupo de sábios acima indicados, sendo médium Eusápia Paladino, foram as seguintes: Na extremidade da sala, por trás de uma cortina, foi previamente colocada uma mesa com duas prateleiras pesando 21 quilos, e ocupando todo o espaço do gabinete à distância de 20 centímetros da cortina, mais ou menos.

Sobre essa mesa foram dispostos: 1- Um cilindro coberto de papel enfumaçado, movediço, em torno de um eixo ao qual fora fixada uma espécie de caneta cuja ponta atingia a superfície do cilindro. Imprimindo movimento de rotação ao cilindro, aí a caneta registrava uma linha horizontal; 2- Uma balança de pesar cartas; 3- Um metrônomo elétrico de Zimmermann (o contacto é estabelecido por uma ponta de platina que, a cada oscilação dupla da haste, mergulha em pequeno tubo de mercúrio), posto em comunicação com um aparelho-avisador Desprez, situado num compartimento ao lado; 4- Um teclado telegráfico, ligado a um outro avisador Desprez. 5- Uma pera de cauchu, ligada, por comprido tubo também de cauchu, através da parede, a um manômetro de mercúrio de François Frank, situado no compartimento contíguo.

Nessas condições, todos os aparelhos descritos foram impressionados, à distância, estando as mãos de Eusápia seguras por dois experimentadores e formando círculo em torno dela todos os assistentes.

Por toda parte foi verificado o deslocamento de móveis, sons de instrumentos, sem contacto, levitação de corpos humanos, levantamento de cadeiras com as pessoas que as ocupavam. O professor Lombroso fala de um guarda-louça "que avançava como um paquiderme".

Todas essas manifestações se poderiam explicar, indiferentemente, por causas exclusivamente materiais, pela ação de forças inconscientes. A força psíquica, exteriorizada pela criatura humana, bastaria, por exemplo, para explicar o movimento de mesas e outros objetos à distância e, por extensão, todos os fenômenos que não acusam a ação de uma inteligência estranha à dos assistentes.

Mas o que complica o fenômeno e torna insuficiente essa explicação é que, na maior parte das sessões de que falamos, de par com o movimento de objetos e levitação de pessoas, produzem-se tateamentos, aparição de mãos luminosas e de formas humanas, que não são dos experimentadores.

Os Annales des Sciences Psychiques de 1° de fevereiro 1903 relatam os seguintes fatos observados pelo Doutor Venzano: "Numa sessão em Milão, quando Eusápia se achava no máximo grau do transe, vimos, eu e as pessoas que me ficavam próximas, aparecer do lado direito uma forma de mulher, sumamente cara, que me disse uma palavra confusa: tesouro - ao que me pareceu.


Ao centro achava-se Eusápia adormecida, ao pé de mim, e por cima a cortina se intumesceu diversas vezes; ao mesmo tempo, à esquerda, a mesa movia-se no gabinete e um pequeno objeto era de lá transportado para a mesa do centro. " "Em Gênova, o Doutor Imoda observou que, enquanto o fantasma tirava da mão do Sr. Becker uma pena e lha restituía, outro fantasma se inclinava sobre Imoda. Outra feita - diz o narrador - ao mesmo tempo em que eu era acariciado por um fantasma, a princesa Ruspoli sentia que uma mão lhe tocava a cabeça e Imoda sentia, a seu turno, que outra mão lhe apertava a sua, com força. Ora, como explicar que a força física de um médium operasse ao mesmo tempo em três direções e com três diferentes objetivos? É possível concentrar a atenção assaz fortemente para obter fenômenos plásticos em três diversas direções?" Algumas vezes árias têm sido executadas em pianos fechados; vozes e cantos se fazem ouvir e, como em Roma, nas experiências do Dr. Sant"Ângelo, penetrantes melodias, que nada têm de terrestres, mergulham os assistentes num enlevo que quase toca ao êxtase.

Todos esses fenômenos têm sido obtidos com a presença de médiuns célebres, entre outros, Jessé Stephard e Eusápia Paladino.

Agora, algumas explicações sobre a natureza e o verdadeiro papel da mediunidade, nos parecem indispensáveis.


* * *

Nossos sentidos, dissemo-lo acima, não nos permitem conhecer mais que restrito setor do Universo. Entretanto, o círculo dos nossos conhecimentos pouco a pouco se ampliou e crescerá ainda, à proporção que se aperfeiçoarem os nossos sentidos.

Bastar-nos-ia possuir mais um sentido, uma nova faculdade psíquica, para ver descerrarem-se ante nós alguns domínios ignorados da vida, para ver ostentarem-se ao nosso alcance as maravilhas do mundo invisível.

Ora, esses novos sentidos, essas faculdades que no futuro serão propriedade de todos, já o são de certas pessoas, em diferentes graus. São essas pessoas que designamos sob o nome de médiuns.

É preciso, além disso, notar que em todos os tempos existiram indivíduos dotados de faculdades especiais, que lhes permitiam comunicar com o invisível. A História, os livros sagrados de todos os povos, deles fazem menção quase a cada página. Os videntes da Gália, os oráculos e pitonisas da Grécia, as sibilas do mundo pagão, os grandes e pequenos profetas da Judeia, outra coisa não eram senão os médiuns de nossos dias. As potências superiores sempre se utilizaram desses intermediários para fazer ouvir seus ensinos, suas exortações à Humanidade. Só os nomes mudam; os fatos permanecem os mesmos, com a única diferença de que esses fatos se produzem em maior número, sob mais variadas formas, quando chega para a Humanidade a hora de começar um ciclo, uma nova ascensão para essas culminâncias do pensamento, que são o objetivo da sua trajetória.

Convém acrescentar que os Espíritos elevados não são os únicos a se manifestar; Espíritos de todas as categorias gostam de entrar em relação com os homens, desde que encontrem para isso os meios. Daí, a necessidade de distinguir, nas comunicações, o que procede de cima e o que vem de baixo; o que emana dos Espíritos de luz e o que provém dos atrasados. Há Espíritos de todos os caracteres e de todas as elevações; há mesmo, ao redor de nós, muito maior número de inferiores que de adiantados. São aqueles que produzem os fenômenos físicos, as manifestações estrondosas, tudo que é de índole vulgar, manifestações todavia úteis, como demonstramos, pois que nos facultam o conhecimento de todo um mundo ignorado ou esquecido.

Nesses fenômenos os médiuns desempenham um papel passivo, à semelhança do das pilhas, na eletricidade. São produtores, acumuladores de fluidos e é neles que os Espíritos haurem as forças necessárias para atuar sobre a matéria. Encontra-se essa categoria de médiuns um pouco por toda parte, até nos meios pouco esclarecidos. Seu concurso é puramente material; suas aptidões são antes um predicado físico que indício de elevação. Muito diferente é a parte dos médiuns nos fenômenos intelectuais, de todos os mais interessantes e nos quais melhor se revela a personalidade das inteligências invisíveis. É por eles que nos vêm os ensinos, as revelações que fazem do Espiritismo não somente um campo de explorações científicas, mas ainda, conforme a expressão de Russel Wallace, "um verbo, uma palavra".

Passemos em revista alguns desses fenômenos: O da escrita direta deve, em primeiro lugar, atrair nossa atenção.

Em certas circunstâncias, vê-se aparecerem folhas de papel cobertas de escrita de origem não humana. (Nota cix: Ver No Invisível, cap. XVIII.) Nós mesmos assistimos à produção de muitos fatos dessa natureza. Um dia entre outros, em Orange, no correr de uma sessão de Espiritismo, vimos descer pelo espaço, por cima de nossa cabeça, um pedaço de papel que parecia sair do teto e que veio, lentamente, cair no chapéu colocado em cima da mesa, ao pé de nós. Duas linhas com uma letra fina, dois versos estavam nele escritos. Exprimiam um aviso, uma predição que nos dizia respeito e que mais tarde se realizou.

A maior parte das vezes esse fenômeno se produz em ardósias duplas, fechadas, seladas, carimbadas, no interior das quais se coloca um fragmento de lápis. A comunicação é redigida em presença dos assistentes, às vezes em língua estrangeira, desconhecida do médium e das pessoas presentes, e responde a perguntas por estas formuladas.

O Doutor Gibier estudou esse gênero de manifestações durante trinta e três sessões, com o concurso do médium Slade. (Nota cx: Ver Espiritismo ou Faquirismo ocidental, pelo Dr. Gibier.) Censuraram este último por experimentar fora das vistas dos assistentes, colocando as ardósias debaixo da mesa. Citaremos, portanto, de preferência o caso do médium Eglinton, relatado na obra do professor Stainton Moses, da Universidade de Oxford, intitulada Psycography. Aí o fenômeno se produzia em plena luz, à vista de todos.

Nessa obra ele fala de uma sessão a que assistia o Senhor Gladstone. O grande estadista inglês escreve uma pergunta na ardósia e volta-a imediatamente, adaptando-a a uma outra; um pedaço de lápis é colocado no intervalo. Amarram-se as duas ardósias, sobre as quais o médium coloca a extremidade dos dedos para estabelecer a comunicação fluídica. Pouco depois, ouve-se o ranger do lápis. O olhar penetrante do Senhor Gladstone não se desviava do médium. Nessas condições de rigorosa verificação, foram obtidas respostas em várias línguas, algumas das quais ignoradas do médium, respostas em perfeita concordância com as perguntas formuladas.

A Revue Spirite de abril 1907 relata as experiências de escrita direta efetuadas pelo Doutor Roman Uricz, chefe de clínica do hospital de Bialy-Kamien, na Galícia. Assim se exprime ele: "Muito tempo me ocupei de Espiritismo. Tenho agora um médium com quem durante três meses realizei experiências, duas vezes por semana, e obtive fenômenos verdadeiramente interessantes. "Esse médium é uma camponesa absolutamente ignorante.

Frequentou a escola de sua aldeia dois anos apenas, lê com dificuldade e escreve mal. Está empregada como criada de uma Sra.

R., em Bialy-Kamien. As sessões, efetuadas em minha casa, assistem, além de mim e do médium, essa Sra. R. e um amigo, o Doutor W. Obtivemos a escrita direta. O que é notável e, que o saiba, inteiramente novo, é o modo pelo qual a obtivemos. Tenho visto muitas vezes a escrita produzida entre duas ardósias ou no papel, com um lápis, num quarto em condições de escuridade; mas as precauções que tomamos foram de tal ordem que excluem absolutamente qualquer possibilidade de fraude, não só da parte do médium, como de qualquer outra pessoa. Quis ver sem resquício de dúvida, como se produzia a escrita. Fiz, por conseguinte, construir, com o consentimento da Inteligência diretora, o seguinte aparelho: "Uma caixinha de madeira, A B C D, munida, em lugar da tábua dianteira B D, de um saco em forma de funil S, feito de um tecido de seda escura, flexível mas encorpado, de 50 centímetros de comprimento. "Na extremidade desse saco foi adaptado um pequeno tubo H, com um lápis, M N, introduzido de tal sorte que a parte posterior do lápis e, mesmo o lápis quase todo, fica dentro da caixa, ficando a ponta aguçada N saliente do tubo H e apoiada numa folha de papel P. O interior da caixa é inteiramente escuro e o saco em nada impede os movimentos do lápis. Com essa disposição logramos obter, à plena luz, com extrema rapidez e absoluta segurança, comunicações escritas por um processo visível aos olhos de todos.

O médium coloca as mãos no tampo superior C D e, ao fim de alguns minutos, começa a escrita, enquanto a parte inferior do saco se intumesce, como se mão oculta se houvesse introduzido no interior. "É em tais condições e por esse único meio que atualmente nos comunicamos com a Inteligência invisível. Quanto ao conteúdo das mensagens, às vezes muito longas, é consideravelmente superior à inteligência do médium e excede não raro a capacidade dos outros assistentes, pois que frequentemente recebemos comunicações em alemão e em francês - o médium não fala senão o dialeto eslavo; - e um dia recebemos uma mensagem de cinco páginas, em inglês, língua que nenhum de nós conhece. As mensagens são, às vezes, muito engenhosas e sugestivas. Assim, uma noite, perguntei se os Espíritos eram imateriais. - "Sim, em certo sentido", foi-me respondido. - "Então - repliquei –, estais fora do tempo e do espaço. " - "Não... " - "Como?" - "Um ponto geométrico é também imaterial, pois que não tem dimensões, e entretanto está no espaço.

O que acabo de dizer não constitui mais que uma comparação, porque nós outros, Espíritos, temos dimensões, mas não como vós. " Uma camponesa ignorante, de catorze anos, seria capaz de dar semelhantes respostas? "Outro dia, recebemos uma prova de identidade indubitável.

Durante a sessão o lápis escreveu, em caracteres inteiramente novos para nós: "Agradeço-lhe a injeção que me fez, quando estava em meu leito de morte. O senhor me aliviou. - Carolina C... " Perguntei a quem eram dirigidas essas palavras. "Ao senhor", respondeu a Inteligência. - "Quando se deu esse fato e quem sois?", perguntei. O lápis escreveu: "No dia 18 de setembro 1900, no hospital de Lemberg. " Nesse ano era eu ainda estudante e trabalhava nesse estabelecimento como auxiliar de clínica. Era tudo de que me recordava a tal respeito. "Dias depois da sessão, tive ensejo de ir a Lemberg. Dirigi-me ao hospital e encontrei, no registro de 1900, o nome em questão.

Era de uma mulher de 56 anos, doente de câncer do estômago e que lá morrera. Fui então ao escritório dos assentamentos da Polícia e perguntei se havia em Lemberg alguém com o nome de C.

Informaram-me que havia uma professora com esse nome. Fui nesse mesmo dia procurá-la e como me dissesse ela haver perdido a mãe em 1900, mostrei-lhe a comunicação recebida por escrita direta. Com grande espanto, reconheceu a senhora, imediatamente, a letra e a assinatura de sua falecida mãe, exibindo cartas por esta escritas, que provavam, sem dúvida possível, a identidade da comunicante. Deu-me de bom grado uma dessas cartas. Entretanto, não me lembro de ter dado injeção de morfina em Carolina C. " Muito mais comum que o precedente, é o fenômeno da escrita mediúnica. O sensitivo, sob um impulso oculto, traça no papel comunicações, mensagens em cuja redação o seu pensamento e vontade apenas tiveram parte mínima. Essa faculdade apresenta aspectos muito variados. Puramente mecânica em certos médiuns, que ignoram, no momento em que escrevem, a natureza e sentido das comunicações obtidas - a ponto de poderem alguns falar enquanto escrevem, desviar a atenção e trabalhar na escuridade - no maior número é ela semimecânica; neste caso o braço e o cérebro são igualmente influenciados; as palavras surgem ao pensamento do médium no próprio momento em que as traça o lápis. Às vezes, é puramente intuitiva e, por conseguinte, de natureza menos convincente e mais difícil de verificar.

As comunicações obtidas por esses diferentes processos apresentam grande variedade de estilo e são de valor muito desigual. Na maior parte, não contêm senão banalidades, mas há também algumas notáveis pela beleza da forma e elevação do pensamento.

Damos, a seguir, alguns exemplos, obtidos por diferentes médiuns.


* * *

A Prece Médium, Sra. F. "É chegado o momento de poder a inteligência, suficientemente desenvolvida no homem, compreender a ação, significação e alcance da prece. Certo de ser compreendido, posso, pois, dizer: Não mais incredulidade, nem fanatismo! antes a completa segurança da força que Deus concede a todos os seres, quando a Ele se eleva o pensamento. "Na prece, na lembrança volvida a esse Pai, fonte inexaurível de bondade e caridade, longe de vós essas palavras aprendidas, que os lábios pronunciam num hábito adquirido, mas deixam frio o coração em seus impulsos. Reanimados e atraídos para Ele pelo conhecimento da verdade, pela fé profunda e a verdadeira luz, enviai ao Eterno os vossos corações num pensamento de amor, de respeito, de confiança e abandono; em um transporte, enfim, de todo o ser, esse veemente impulso interior, único, a que se pode chamar prece! "Desde a aurora, a alma que se eleva, pela prece, ao infinito, experimenta uma como primavera de pensamento que, nas circunstâncias diversas da existência, a conduz ao fim preciso, que lhe é designado. "A prece conserva a infância, essa inocência em que sentis ainda a pureza, reflexo do repouso que a alma fruiu no espaço. Para o adolescente é o freio repressor da impetuosidade, que nele brota como vigoroso fluxo; seiva geratriz, se é seguida, perda certa em caso de desfalecimento, mas resgate, se a alma pode e sabe retemperar-se na prece. "Depois, na idade em que, na plenitude de sua força e faculdade, o homem sente em si a energia que, muitas vezes, o deve conduzir às grandes coisas, a concentração em que se firma o pensamento, esse grito da consciência que lhe dirige os atos não é ainda a prece? "E do fraco, poderoso amparo, não é a prece o consolo, a luz que o auxilia a dirigir-se, como o prisma do farol que indica ao náufrago a praia salvadora? "No perigo, mediante estas duas palavras proferidas com fé "meu Deus!" - envia o homem toda uma prece ao Criador. Esse brado, essa deprecação ao Todo-Poderoso não exprime, como recordação, o instinto do socorro que ele espera receber? "O marinheiro exposto aos perigos, à mingua de todo socorro em meio dos elementos desencadeados, formula em sua fé profunda um voto: é prece cuja sinceridade sobe radiosa Àquele que o pode salvar! "E quando ruge na Terra a tempestade, grandes e pequenos tremem ao considerar a própria impotência e, a essa voz poderosa que repercute nas profundezas da terra, oram e confiantes dizem estas palavras: Deus! preserva-nos de todo perigo! - Abandono completo, na prece, Àquele que, por sua vontade, tudo pode. "Quando chega a idade em que nos desaparece a força, em que os anos fazem sentir todo o seu peso, em que a alma ensombrada pelos sofrimentos, pela fraqueza que a invade, se sente incapaz de reagir; quando, finalmente, o ser se vê acabrunhado pela inação, a prece, caudal refrigerante, lhe vem acalmar e fortalecer as derradeiras horas que deve permanecer na Terra. "Em qualquer idade, quando vos assediam as provas, quando sofre o corpo e, sobretudo, o coração amargurado já não deixa repousar feliz o pensamento no que consola e atrai, à prece, unicamente à prece, reclamam a alma, o pensamento, o coração, a calma que já não possuem. "Quando o encarnado, na plenitude de suas energias, inspirado pelo desejo do belo e do grande, refere suas aspirações a tudo que o rodeia, pratica o bem, torna-se útil, auxilia os desgraçados e, celeste prece, força do pensamento, em seus atos é amparado pelo fluido poderoso que do Além se lhe associa, constante e invisível cadeia do encarnado com os desencarnados e, para mim, prece! "Direi, pois, a todos que a bondade inspira, aos que, neste século em que o pensamento inquieto investiga sem firmeza, sentem a necessidade de uma fé profunda e regeneradora: - Ensinai a prece à criança, desde o berço! Todo ser, mesmo no extravio das paixões, conserva a lembrança da impressão recebida no limiar da vida e torna a encontrar como consolação, no crepúsculo da existência percorrida, o encanto ainda presente dos anos abençoados em que a criança, iniciando-se na vida, respira sem temor, vive sem inquietação, proferindo nos braços de sua mãe este nome tão grande e tão doce - "Deus!" que ela lhe ensina a murmurar. "Haurindo força e convicção nessa piedosa lembrança, ele repetirá com toda a confiança, no último adeus à Terra, a prece aprendida no primeiro sorriso. "




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