Jesus Voltando
Versão para cópiaSimão Pedro e Jesus
Pedro sentiu em seus ombros pesarem as responsabilidades, porém, no mesmo instante, lembrou-se de que o Mestre dissera que não os deixaria órfãos, que aqueles que perseverassem até o fim, seriam salvos de todas as tributações e dos caminhos tortuosos.
Pedro, em Jerusalém, estava sem lugar. Já era do seu feitio a inquietação, a rapidez de decisões. Era um homem atirado e desconhecia o medo; não sofria apreensões por ser perseguido pelos detratores da Boa Nova, mas estava impaciente com a espera da ressurreição do seu Mestre, e saiu a andar sozinho. Teve a idéia de ir à Betânia, onde assistira a um dos maiores feitos do Divino Amigo, o de fazer Lázaro retornar à vida, e ainda visitar as duas irmãs do agraciado pelos Céus, Maria e Marta.
Começou a respirar melhor nos caminhos da cidadezinha ao lado do Mar Morto; três quilômetros apenas de caminhada. O seu coração generoso pulsou com mais intensidade, e algo por dentro lhe falava de muitas esperanças. Os seus pés calejados, de encontro com o cascalho e por vezes com as terras já pisadas por milhares de transeuntes, fizeram-no esquecer as preocupações e somente o pensamento livre fez criar o ambiente para que o Apóstolo pudesse se recompor, no alinho de novas tarefas para a difusão do Evangelho nascente.
Betânia!... Betânia! Nome que jamais será esquecido pela humanidade, onde ocorreu o fenômeno, operado por Jesus, de consciência plena antes de praticá-lo, porque o Mestre, antecipadamente, agradecera ao Senhor ter-Lhe concedido levantar Seu amigo sem vida há dias, e que já cheirava mal. Terra de duas mulheres incomparáveis, figuras inesquecíveis na história do cristianismo, pelo amor e dedicação concedidas ao Cristo, que mais tarde formaram com Lázaro, o Lar de Jesus, onde acolhiam os leprosos e velhos sem teto, dedicando-se de corpo e alma a vivência do que receberam de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Pedro entrou em Betânia já renovado nos seus pensamentos; entretanto, um fogo ardia em seu coração: a ressurreição do Mestre, tanto falada pelos profetas antigos e modernos, como pelo próprio Messias. De vez em quando, surgia em sua volumosa cabeça, a dúvida:
- E se não acontecer?... Estaremos eliminados. Como explicar ao povo o que deveria acontecer? Quais os argumentos que poderíamos usar?... Se o Mestre falou em parábolas, somente Ele saberia dizer ao certo. E pensava, pensava...
Pedro aprumou a vista e enxergou ao lado, um pouco distante, o Monte das Oliveiras, e sentiu uma emoção indescritível no peito musculoso: lembranças agradáveis do Divino Senhor; e as lágrimas desceram por suas faces grosseiras e simples, de maneira a sensibilizar até a atmosfera circundante. Era o Amor saindo do coração, onde a sinceridade se fazia presente. Viu dos lados as tamareiras famosas, as oliveiras sedutoras, figueiras e romeiras saudáveis, onde os ventos brincavam nas folhas, com uma musicalidade que fazia lembrar com intensidade o Amigo Incomparável, que Se fizera ausente, pela vontade d'Aquele que O enviou â Terra, para salvar os homens e para dignificar a Vida.
Simão se lembrava de Betsaida, de sua época de criança, de seus pais e companheiros de infância. Vinha â sua mente, farta de idéias renovadoras, o Mar da Galiléia, a pesca com seus irmãos e companheiros de trabalho, os peixes sacrificando as suas vidas por imposição dos homens, para alimentá-los. Sentia ó cheiro das águas em evoluções, de maneira a clarearem as ondas que se debatiam umas contra as outras; via o barco na sua cadência sobre as águas, sem faltarem as redes em suas mãos e nas de André, e, por vezes via o céu manchetado de estrelas, a lhes dizer: é hora de descansar. Pedro repassava, em sua mente, os momentos de Cafarnaum, a multidão de pessoas que iam â sua casa em busca do Mestre de Nazaré; sua sogra que fora curada pelo toque de amor, do levanta e anda do Senhor, tão conhecido de todos que se curaram. Lembrou-se do cego Bar-Timeu, em Jericó, e mesmo sem querer, surgiu em sua mente a figura de Maria Madalena, quando a encontrou dentro da sua residência, em diálogos com Jesus; lembrou-se da sua revolta para com aquela mulher de má vida, e do seu arrependimento, e, no momento, pediu a Deus para abençoá-la.
Veio á sua presença mental, o que Maria tinha anunciado da ressurreição de Jesus, ao clarear do terceiro dia, mas ainda duvidava da anunciante; travava uma conversa consigo mesmo:
- Por que o Mestre não aparecera aos discípulos em primeiro lugar? Por que ela e não eu, seu companheiro de todas as horas? Não posso crer; nem os judeus que o perseguiram poderão encontrar sentido neste anúncio, conhecendo a anunciante, a sua vida e seus afazeres. A dúvida desvia meus sentimentos e altera meu proceder. Sei que Jesus é o Cristo que haveria de vir, que é o Filho de Deus, que é o nosso Guia desde a eternidade. Mas devemos ficar atentos diante de falsas notícias; só depois de muitas comprovações; desde que eu esteja no meio das provas, devo acreditar, porque conheço o meu Mestre.
Entrou Pedro em Betânia, cheio de emoções santificantes, e procurou a casa de Lázaro redivivo e suas irmãs, Maria e Marta. Encontrou-os chorando, e isso eles faziam há dias, pela morte de Jesus, crucificado entre dois ladrões. Quando Simão Pedro deu sinal de chegada no casebre humilde de Lázaro, Maria e Marta, uma onda de alegria invadiu os corações. Abraçaram o pescador, e os quatro choraram de alegria; a emoção dissipou as dúvidas e os sentimentos foram de que Cristo vivia para sempre.
Simão Pedro olhou demoradamente para Lázaro, e notou que surgia em sua alma sensível, uma dinâmica diferente, um ânimo sem precedentes, por causa da história daquele homem, cheio de chagas que cobriam seu corpo todo, e de como o Mestre o fez tomar à vida, e que ali se encontrava são, como as pessoas que nada sofriam; e avivou em sua mente essa nota de alegria: isto foi a mão do Mestre que nele operou o milagre. A minha vida está entregue a Ele, onde Ele estiver! Ressurja dentre os mortos ou não, o Cristo é o nosso guia, é a nossa esperança de viver.
Depois de sorver a água fresca que lhe foi oferecida por Maria, falou com emoção:
- Meus filhos! Que Deus nos abençoe sempre, e que a paz seja nesta casa, em todos os corações que possam me ouvir.
Tivemos notícias recentes por intermédio de Maria de Magdala, de que Jesus ressuscitou. Apareceu a ela e a outras mulheres. Desejo ardentemente que seja verdade, e espero que Ele, o nosso Mestre, ressuscite outras vezes em nosso meio; no entanto, a nossa mente exige comprovações, e a dúvida assume o nosso ser.
Queria e quero acreditar, mas entre mim e essa verdade, parece surgir um véu que não consigo dissipar dos meus olhos.
Respirou profundamente, como parecendo voltar à tristeza antes possuída em seu coração. Quando quis continuar, a família do redivivo não o permitiu. Caíram todos de joelhos no chão batido, piso este que serviu de palco para uma das maiores visitas que ali pisaram, e choraram novamente, porém, desta vez de alegria, ao sentirem nas palavras de Pedro, a verdade, de que realmente Jesus tinha ressurgido dentre os mortos, como tinha prometido antes de subir o Calvário. Abraçaram-se todos, cantando de alegria, e Simão, não entendendo aquele entusiasmo, falou com amargura aos seus amigos:
- Que estais pensando? São apenas notícias o que vos falo, e nada mais. Isso não é motivo para tanto júbilo.
Mas Lázaro, com o coração enriquecido por tantas bênçãos recebidas do Divino Mestre, ponderou com fé:
- Pedro! Não deves duvidar de nada no que se refere ao Senhor. Ele é todo poder; Ele conhece todos os recursos que podem nos levar à felicidade. Se Ele é o Senhor da vida, certamente que deve viver. Não devemos duvidar de nada do que Ele disse para nós.
Eu sirvo de testemunho para os teus olhos, que me viram morto e cheirando mal, com o corpo todo tão tomado de chagas, que somente os cães se aproximavam de mim e me faziam companhia. E, certamente, os abutres me espreitavam. E vê como estou Foram as mãos santas do Senhor Foi o Seu coração, foi a Sua presença divina, que me fez voltar à vida e estar no meio dos meus, te falando como estou. Como não crer na Sua ressurreição, onde Ele desejar? Sei que vive, e o meu coração me segreda que Ele apareceu às mulheres que mencionas.
Simão ficou envergonhado com tanta fé, e passou a sentir também o que Lázaro falava com tanta ênfase.
Betânia já recebia os últimos raios de sol. As edificações eram quase todas de pedra. As casas, simples, como a simplicidade dos seus moradores. As crianças reuniam-se no pátio da casa de Lázaro, por saberem que ganhavam frutas com mel, e elas cantavam para agradecer as dádivas dos moradores, fato esse que tocou o coração do pescador na mais profunda sensibilidade, lembrando-se fortemente de Jesus, quando disse em sua presença:
"Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Por tanto, aquele que se fizer humilde, como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus". E prossegue a Sua fala de sabedoria e de amor: “E quem receber uma criança tal como esta, em meu nome, a mim me recebe.” Mateus
Pedro, não suportando mais a emoção por tantos sinais - mesmo invisíveis - da presença do seu Mestre, sem perceber direito o seu gesto de humildade, ajoelhou-se, chorando, na presença dos três irmãos, falando comovido, sem nenhum constrangimento:
- Mestre incomparável Perdoai minhas faltas. Perdoai meus pensamentos, que devem ainda estar povoando minha cabeça, pelo tanto que pensei de Jerusalém a Betânia. Vós bem sabeis que ainda duvido, isso é uma fraqueza do meu coração. Ajudai-me a vencê-la, mesmo que seja preciso o sacrifício da minha própria vida.
Foi bom, foi ótimo eu ter vindo aqui, esta casa abençoada onde pisastes, fazendo Lázaro voltar â vida, onde ensinastes a Marta a escolher a melhor parte, onde presenciei o gesto de amor de Maria, perfumando os 5ossos pés com nardo puro. Nós estamos querendo Senhor, escolher a melhor parte na 5ossa seara. Ajudai-nos nos caminhos por onde deveremos seguir, levando a Boa Nova do Reino, com a palavra e com a vida.
Sinto que somente os sacrifícios mais árduos podem soltar o amor do coração. Devo me entregar ao sacrifício, sem esperar a recompensa, porque esta já recebi pela Vossa presença divina e humana, de Fé e de obras, de Caridade e de Amor. Fazei de mim o que pretendeis que eu seja, desde quando eu possa ser útil...
Nós somos o rebanho e perdemos, pela visibilidade, o Pastor; no entanto. Senhor, sabemos que a fé transporta montanhas como dissestes, e aquele que permanecer nas leis até o fim, será salvo. Ajudai-nos, Senhor, a crer na 5ossa bondade , como a nos certificar de que nunca morreremos, porque o Senhor é a vida para todos nós.
Estou em casa desta família que amais com toda a ternura de Vosso coração incomparável. Abençoai-os Senhor, e trazei as diretrizes para o menor de todos os 5ossos servos, que estarei Convosco, obedecendo às Vossas ordens com todas as minhas forças...
O ambiente era de pleno contentamento. A oração de Simão Pedro Bar Jonas transformou sua natureza íntima de dúvida, em certeza das promessas da ressurreição, e passou a acreditar no anúncio de Maria Madalena, irradiando no coração uma esperança maior de que Jesus, a qualquer momento, poderia aparecer a ele, Pedro, Seu servo menor.
Marta lhe trouxe água para lavar os pés cansados, e pôs a mesa para uma breve refeição, costume da região, de ninguém entrar em um lar em visita, sem participar do alimento da casa.
Ela estendeu uma toalha de linho na mesa, cuja alvura convidava a pensamentos puros. A mesa se compunha de variados comestíveis: o pão de trigo com leite e sucos de frutas, mel e tâmaras e outros apetitosos pratos, de sorte a nada ficar devendo aos anseios da fome.
Pedro, o mareante da Galiléia, travou uma conversação com a família de Lázaro, como se nada tivesse acontecido em Jerusalém, comentando o poder de Jesus e repetindo muitos dos Seus preceitos, que eles desconheciam. Os ventos sopravam brandamente, e um perfume suave aromatizou a atmosfera do lar, como que dizendo, pela fragrância conhecida por Pedro, que Jesus estava presente.
Pedro percebeu algo diferente na atmosfera; sentiu um perfume embriagador, mas pensou que poderia ser das duas moças. No entanto, dir-se-ia que seu coração
esperava outra coisa: um visitante dos Céus, que certamente ouvira seus lamentos, e que por misericórdia deveria aparecer em forma d'Aquele que era a Vida. E todos, na mesma expectativa de uma visão, ouviram uma voz suave e encantadora, que Pedro, se fosse o caso, daria a vida para ouvir de novo:
- A paz seja convosco!...
Olharam para todos os lados e nada viram. Aguçaram os ouvidos e tornaram a escutar:
- A paz vos dou, não como o mundo a dá, mas como vem do meu Pai e do vosso Pai que está nos Céus. Eis que estou convosco em todas as tribulações; eis que estou convosco nos sacrifícios; eis que estou convosco no preparo educativo, para que possais pregar a Boa Nova do Reino de Deus, a todas as criaturas que os Céus lhes enviarem.
Pedro reconheceu a voz do Mestre, e não resistiu à emoção, chorando minutos a fio. E, de joelhos, pediu ao Senhor que continuasse a dizer o que tinha a falar, e que ele precisasse ouvir, para as suas próprias diretrizes.
Houve pequenos estalos na atmosfera da sala, e Jesus apareceu na cabeceira da mesa, premiando a família que Ele tanto amava.
A luz era intensa, como se fosse um sol a penetrar no recinto singelo. Todos fecharam os olhos, por não suportá-la, mas o Mestre foi Se apagando, na Sua prerrogativa de ser humilde, e somente uma branda claridade encantadora circundava Seu divino corpo. Os Seus dentes pareciam estrelas faiscantes, e a Sua palavra era portadora de uma harmonia que o mundo desconhecia. O silêncio dava outro entendimento de silêncio. Era, pois, um clima de eternidade e de emoções espirituais, onde a Alegria se eternizava com o Amor, a Justiça com a Misericórdia, e o Trabalho com a Paz.
O Mestre, com uma serenidade indescritível, falou com singeleza:
- Simão Pedro!... Tenho sentido os teus pensamentos, desde os últimos acontecimentos de Jerusalém. Segui os teus passos até aqui, reconheci os teus conflitos, e tive pena de ti. Contudo, na verdade te digo, que o discípulo não deve ter a pretensão de julgar seu mestre, como o mestre não deve abandonar seu discípulo. Nunca menti para aqueles que me seguem, e não houve motivo para desconfianças, quanto a minha ressurreição no terceiro dia.
A Confiança é uma força que cria condições para o Amor, e quem ama se liberta de todas as impurezas da vida envolvida na ignorância. Maria de Magdala teve a prioridade da minha presença, depois do Calvário, porque ela escolheu a melhor parte do meu reino: a de abrir seu coração sensível ao Amor, aquele Amor que eu vos ensinei a todos. Ela sentiu a Fé que eu irradiava, e passou a viver essa Fé; ela confiou nas minhas palavras e entregou todo o seu ser ao exercício da caridade, sem reclamar, sem exigir, desconhecendo blasfêmias. Se tu, Cefas, pretender ver em Maria somente o passado, nele ficarás preso, e quem olhar para trás perderá a energia de prosseguir para frente. Não queiras contestar a obra de Deus, da qual tu e ela fazem parte na condição de irmãos. Todos somos filhos de Deus com os mesmos direitos e deveres.
Não devo falar mais nada sobre esses assuntos, no que tange à tua educação espiritual. Já me conheces há bastante tempo, e se continuas a me negar, perderás a oportunidade de servir comigo na eternidade afora. Conheço as tuas qualidades como homem decidido, mas ainda desconfio da tua segurança, nas mais profundas afirmações que asseguram a esperança nas criaturas: a de que ninguém morre, e que a vida continua em todas as direções da criação de Deus.
Sei o que pensaste logo que ouviste a minha voz, antes de me veres. Duvidaste de que era eu mesmo, mesmo sentindo a minha presença. Vigia, Pedro, o teu raciocínio, que ele está prejudicando a tua intuição.
E ainda te digo que serás pedra, onde edificarei a minha igreja. Podes limpar esta dúvida que espreita teus sentimentos, no exercício do Bem, e daquele Amor sem interrupção, que não especula e que não serve de objeto de feiras. Faze-te qual a criança, para que possas libertar-te das sombras das incompreensões e das negações de ti mesmo.
Tu és o semeador, a palavra é a semente, o teu próximo, a lavoura. Cultiva o terreno com gentileza e humildade, e não favoreças a uns mais que a outros. Faze qual o sol, dividindo-se em raios, com a mesma porção de paz e de saúde para todas as criaturas de Deus. Não esqueças a chuva e aprenda com ela a se dividir ao infinito, para ajudares com eficiência. Observar os ventos que viajam sem pouso, semeando vida por onde quer que seja. Não te prendas em idéias pessoais, nem ajuntes tesouros para a tua própria satisfação.
Não ames somente aquele que te ama; que fazes de especial com essa atitude? Eu vim a este mundo como ovelha divina no meio de lobos vorazes, mas sabia disso desde o princípio; contudo, espero e tenho a certeza disso, que eles mudarão de idéias; o tempo é o melhor agente de Deus, nos corações humanos.
Deixei na Terra muitos discípulos, além dos doze homens da minha confiança, que serão contados aos milhares e deverão se multiplicar mais, dependendo daqueles que estão mais perto de mim, e da vida que estes deverão levar. O exemplo, Pedro, no bem comum, é a presença de Deus no coração. E todos aqueles que desejarem manifestar gratidão para comigo, que o façam amando ao seu próximo, porque amar a Deus sobre todas as coisas é um dever primeiro, de uma gratidão maior pela vida.
O Mestre silenciou-se. Ninguém perguntava. A quietude expressa no ambiente despertava outros sentimentos nas quatro personagens, dentro daquele lar feliz. Um perfume recendia por todo o ambiente, de forma sutil e inexplicável. Invadia a todos uma onda de alegria e uma vontade irresistível de ser melhor. A capacidade de vida crescia, o ar era diferente, enriquecido pela presença de Jesus redivivo. Ninguém tinha vontade de Falar nada. Falar o quê, ante a sabedoria do Anjo de Deus, que tudo sabia, que tudo conhecia, antes mesmo de surgir o conhecimento na Terra? As portas já se encontravam fechadas, não se sabe como e por quem... A casa de Lázaro e suas irmãs foi tomada por uma legião de Anjos do Senhor, assistindo Aquele que é a Luz do mundo da humanidade.
Depois de alguns minutos, Jesus voltou a dizer:
- Simão Pedro Bar-Jonas! Que a paz de Deus seja contigo, e que a mesma paz esteja nesta casa. Compreendo as dificuldades que deves encontrar no mundo e junto aos teus companheiros, para me servir, servindo a Deus. No entanto, as dificuldades maiores já passaram; o drama do Calvário e as perseguições aos profetas até os nossos dias não foram nada, se comparados às agressões espirituais de falanges e mais falanges de espíritos das sombras, quando descobriram a minha descida à Terra, para ajudar os homens. Séculos e séculos de lutas se travaram, mas o Bem venceu o Mal, e sempre o Amor vence o Ódio.
Não vim à Terra por mim, foi pela vontade do Pai que está nos Céus. Desejo que compreendas meus esforços no que tange ao meu amor pela humanidade, e peço que faças o mesmo. Mas ama sem mostrar que estás amando: sê bom, no nível da verdadeira bondade, sem desejares que os outros saibam desta tua virtude; deixa a honestidade invadir teu coração, sem o gazofilácio da vaidade anunciar. Se porventura alguns dos teus companheiros desejarem tomar outro rumo, que não seja o teu comigo; ora por eles e espera, que somente o Bem fica de pé, e somente o Amor vive para sempre.
Pedro, peço que me entendas, porque me entendendo, estás entendendo Quem me enviou. Nunca ficarás a sós, se o teu coração pulsar com o meu, no ritmo de Deus. Alia a tua razão aos sentimentos, e te esforça para que a área do coração seja maior, vivendo mais no céu do que na Terra.
O amor é uma qualificação divina, é o resumo de todas as ciências e de todas as virtudes, que podes conhecer na Terra e no plano da vida maior. Confia em mim, porque já confiei em ti. Espero que nunca mais duvides da bondade do Criador. O teu mandato é longo; a tua missão, espinhosa; a tua pátria é o mundo inteiro e a tua raça, a humanidade. O teu céu, a consciência; o teu Deus, que está dentro de ti, te falará nos momentos oportunos pelo teu Mestre, que mora no teu coração.
Pedro! Apascenta minhas ovelhas...
O Mestre tirou os grandes olhos da figura de Pedro, que se tornara uma criança diante d'Ele, e envolveu de um só relance, os três personagens daquela família, dizendo com mansuetude:
- Lázaro! Tu voltaste à vida, quando já dormias na indiferença da própria vida. Tu voltaste à Terra, quando já te despedias dela pelo processo natural das leis de Deus. Tu estás entre os teus, por misericórdia de Deus, mas não penses que terás vida permanente na carne. Tornarás a adoecer e a morrer, para que se cumpra a lei do Senhor de todos os mundos.
Foste chamado à vida, não para gozos pessoais na Terra. Entrega-te às solicitações das necessidades humanas; procura ajudar aos que sofrem, mesmo que seja apenas com a tua presença, que podes levar-lhes a esperança; não te esqueças dos inválidos escorraçados da sociedade, e ora pelos obstinados no mal, para que eles se convertam ao bem comum.
Reúne, com tuas irmãs, corações generosos, e faze do teu lar o lar coletivo, onde todos encontrem a paz, encontrem Deus. E busca companheiros com o mesmo ideal, de servir por amor e de ser bom por dever, que os Céus nunca se esquecerão dos teus atos. A caridade na Terra formará tesouros nos Céus, e os celeiros de virtudes na consciência acumularão a paz no coração.
E olhando firmemente para Marta e Maria, disse com bondade:
- Podeis firmar o vosso amor de mãe àqueles que baterem nestas portas, pedindo a migalha da alegria. Não deveis vos esquecer do incentivo ao trabalho, e de encaminhá-los para tal dever de cada criatura, porque somente a Boa Nova de que eu sou portador, e que vem das mãos de Deus, tem o poder de nos encaminhar para a felicidade. A vida na Terra é breve, e breve é o mau uso que podeis fazer dela. Compreendo os obstáculos que podereis encontrar em toda a senda da Verdade, porém, são eles mesmos que irão mostrar-vos os caminhos mais acertados para a luz; quem não se esforça, não descobre a vida.
Eu deixei para todos, os exemplos de como viver bem, para viver na paz de Deus.
Voltando a Pedro, disse com sabedoria, no discernimento que lhe era próprio:
- Simão, pega a tua rede e vai para o mar da vida, pescar homens; a tua profissão é a mesma, somente muda de qualificação. A tua vida não te pertence, porque permanecerás em mim e eu em ti, para que Deus possa manifestar-Se com mais proveito, em tua existência.
Ora quantas vezes alimentares teu corpo; sirva-te da súplica bem sentida, para a alma, do mesmo modo que precisas das vestes do corpo.
Jamais deves te esquecer de pedir a Deus para que se faça a vontade d'Ele e não a tua; aprenda o que for de melhor com os outros; esqueça a ostentação; incentiva o certo e silencia o errado, e, quando preciso, combate-o, sem que a tua palavra estrague o momento de ajudar.
Não te esqueças, em momento algum, das tuas conversações, de dizer que a morte morreu, e que somente existe a vida; não deixes de dar exemplos de Amor, em todas as tuas expressões de caridade.
E novamente te digo: esquece, Pedro, raça, cor e pátria. Essas divisões são dadas por quem desconhece o verdadeiro Amor. Ama como eu te amei e serve como eu te servi. E trabalha em favor de todos, que algum dia o teu júbilo será maior no reino espiritual, e juntar-te-ás comigo, para a glória de Deus.
Levanta-te e vai para Jerusalém, que os teus companheiros te esperam com notícias melhores, e a tua ausência preocupa aqueles que te amam pelo coração.
E virando-Se para os familiares, disse com carinho:
- Lázaro, Marta e Maria, o vosso lar, o vosso céu, a vossa lavoura espiritual é Betânia!...
E foi Se desfazendo entre as luzes que O cercavam, deixando na mente de todos aquela candura de vida, inerente ao Seu ser. O perfume recendeu mais, de modo a embriagar a todos com uma eterna felicidade, e todos se ajoelharam em gratidão aos Céus cantando um hino de esperança em favor do mundo e da humanidade faminta de luz e de Cristo.
Pedro despediu-se, chorando de alegria, e tomou o rumo de Jerusalém, pelo caminho que viera.
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Lucas 24:34
Os quais diziam: Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão.
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