Libertação
Versão para cópiaValiosa experiência
Atento à sugestão do médico amigo, no dia imediato pela manhã dispôs-se Gabriel a conduzir a esposa ao exame de afamado professor em ciências psíquicas, no intuito de conseguir-lhe cooperação benfazeja.
Pude reparar, então, que a liberdade dos homens, no terreno da consulta, é quase irrestrita, porquanto, de nosso lado, Gúbio demonstrou profundo desagrado, asseverando-me, discreto, que tudo faria por impedir a providência que somente seria profícua e aconselhável, a seu parecer, através de autoridade diferente no assunto.
O professor indicado era, segundo a opinião do nosso desvelado orientador, admirável expoente de fenômenos, portador de dons medianímicos notáveis, mas não oferecia proveito substancial aos que se acercassem dele, por guardar a mente muito presa aos interesses vulgares da experiência terrestre.
— Fazer psiquismo, — falou-me o Instrutor, em voz quase imperceptível, — é atividade comum, tão comum quanto qualquer outra. O essencial é desenvolver trabalho santificante. Visitar medianeiros de reconhecida competência no trato entre os dois mundos, senhores de faculdades magníficas no setor informativo, é o mesmo que entrar em contato com os donos de soberba fortuna. Se o detentor de tão grandes bens não se acha interessado em gastar os recursos de que dispõe, a favor da felicidade dos semelhantes, o conhecimento e o dinheiro apenas lhe agravarão os compromissos no egoísmo praticado, na distração inoperante ou na perda lamentável de tempo.
Apesar da oportuna observação, notamos que o esposo da obsidiada não oferecia receptividade mental que nos favorecesse a modificação desejável.
Todo o nosso esforço sutil para colocá-lo noutro caminho redundou em fracasso. Gabriel não sabia cultivar a meditação.
Embora visivelmente preocupado, comentou o orientador:
— De qualquer modo, aqui nos achamos para ajudar e servir. Acompanharemos o casal nessa nova aventura.
Em breve tempo, entraríamos em contato com o psiquista lembrado.
Com muito interesse, como quem sabia, de antemão, os sucessos que se desdobrariam, Saldanha acompanhou as mínimas providências, sem desagarrar-se da jovem senhora.
Alguns minutos antes das onze do dia, encontrávamo-nos todos em vasto salão de espera, aguardando a chamada.
Mais três grupos de pessoas ali se congregavam em ansiosa espera.
Demorava-se o professor em gabinete isolado, atendendo a enfermo mental que se revelava, de longe, pelas frases desconexas que proferia em alta voz.
Reparei que os presentes se faziam seguidos de grande número de desencarnados. Para definir corretamente, a casa inteira mais se assemelhava a larga colmeia de trabalhadores sem corpo físico.
Entidades de reduzida expressão evolutiva iam e vinham, prestando pouca atenção à nossa presença.
Em vista da férrea disposição de Saldanha, no sentido de manter Margarida sob severa custódia pessoal, o nosso Instrutor, alegando interesse na sondagem do ambiente, afastou-se um tanto, em nossa companhia, detendo-se no exame acurado dos consulentes.
Acercamo-nos de acolhedora poltrona, em que um cavalheiro de idade madura, dando mostras de evidente moléstia nervosa, permanecia ladeado por dois rapazes. Suor frio lhe banhava a fronte e extrema palidez, com traços de terror, lhe exteriorizava a lipotimia. Revelava-se torturado por visões pavorosas no campo íntimo, somente acessíveis a ele mesmo. Registrei-lhe as perturbações cerebrais e vi, sob forte assombro, as várias formas ovóides, escuras e diferençadas entre si, aderindo-lhe à organização perispirítica. Achava-me interessado em que o nosso Instrutor se pronunciasse. Gúbio observava-o meticulosamente, decerto nos preparando valiosos ensinamentos. Transcorridos alguns instantes, falou-nos em voz sumida:
— Vejamos a que calamidades fisiológicas podem os distúrbios da mente conduzir um homem. Temos sob nosso olhar um investigador da polícia em graves perturbações. Não soube deter o bastão da responsabilidade. Dele abusou para humilhar e ferir. Durante alguns anos, conseguiu manter o remorso a distância; todavia, cada pensamento de indignação das vítimas passou a circular-lhe na atmosfera psíquica, esperando ensejo de fazer-se sentir. Com a maneira cruel de proceder atraiu, não só a ira de muita gente, mas também a convivência constante de entidades de péssimo comportamento que mais lhe arruinaram o teor de vida mental. Chegado o tempo de meditar sobre os caminhos percorridos, na intimidade dos primeiros sintomas de senectude corporal, o remorso abriu-lhe grande brecha na fortaleza em que se entrincheirava. As forças acumuladas dos pensamentos destrutivos que provocou para si mesmo, através da conduta irrefletida a que se entregou levianamente, libertadas de súbito pela aflição e pelo medo, quebraram-lhe a fantasiosa resistência orgânica, quais tempestades que se sucedem furiosas, esbarrondando a represa frágil com que se acredita conter o impulso crescente das águas. Sobrevindo a crise, energias desequilibradas da mente em desvario vergastaram-lhe os delicados órgãos do corpo físico. Os mais vulneráveis sofreram consequências terríveis. Não apenas o sistema nervoso padece tortura incrível: o fígado traumatizado inclina-se para a cirrose fatal.
Sentindo-nos as interrogações silenciosas do olhar, quanto à solução possível naquele enigma doloroso, o orientador acentuou:
— Este amigo, no fundo, está perseguido por si mesmo, atormentado pelo que fez e pelo que tem sido. Só a extrema modificação mental para o bem poderá conservá-lo no vaso físico; uma fé renovadora, com esforço de reforma persistente e digna da vida moral mais nobre, conferir-lhe-á diretrizes superiores, dotando-o de forças imprescindíveis à auto-restauração. Permanece dominado pelos quadros malignos que improvisou em gabinetes isolados e escuros, pelo simples gosto de espancar infelizes, a pretexto de salvaguardar a harmonia social. A memória é um disco vivo e milagroso. Fotografa as imagens de nossas ações e recolhe o som de quanto falamos e ouvimos… Por intermédio dela, somos condenados ou absolvidos, dentro de nós mesmos.
O assunto era sedutor, mas, talvez para não acordar demasiada atenção em Saldanha e em outros Espíritos menos educados que nos contemplavam curiosamente, Gúbio passou a reparar conosco outro caso.
Abeiramo-nos de um divã, em que respeitável senhora se sentava ao lado de jovem clorótica, parecendo-me avó e neta. Dois Espíritos de aspecto sinistro rodeavam a menina, qual se devesse estar custodiada por guardas tirânicos.
A matrona aflitivamente aguardava o instante da consulta. A jovem, que proferia disparates, não falava por si. Fios tênues de energia magnética ligavam-lhe o cérebro à cabeça do irmão infeliz que se lhe mantinha à esquerda. Achava-se absolutamente controlada pelos pensamentos dele, à maneira de magnetizado e magnetizador. A doente ria sem propósito e conversava a esmo, reportando-se a projetos de vingança, com todas as características de idiotia e inconsciência.
Gúbio examinou-a com a atenção habitual e informou:
— Encontramos aqui doloroso drama do passado. A vida não pode ser considerada na conta estreita de uma existência carnal. Abrange a eternidade. É infinita nos séculos infinitos. Esta menina comprometeu-se gravemente no pretérito. Desposou um homem e desviou-lhe o irmão para vicioso caminho. O primeiro suicidou-se e o segundo asilou-se no fundo vale da loucura. Ei-los, presentemente, ao lado dela para deplorável vindita. Na atualidade, a avozinha preparou-lhe um casamento nobre, receando deixá-la no mundo entregue a si própria; entretanto, em vésperas de concretização do plano benéfico, ambas as vítimas de outro tempo, mentalmente cristalizadas no propósito de desforra, buscam impedir-lhe a união esponsalícia. O ex-marido ultrajado, em fase primária de evolução, ainda não conseguiu esquecer-lhe a falta e ocupa-lhe os centros da fala e do equilíbrio. Enche-lhe a mente de ideias dele, subjuga-a e requisita-lhe a presença na Esfera em que se encontra. Permanece a pobrezinha saturada de fluidos que lhe não pertencem. Certamente já peregrinou por diversos consultórios de psiquiatria, sem resultado, e vem até aqui procurando socorro.
— Encontrará remédio adequado? — Interrogou Elói, sob forte impressão.
— Não me parece muito bem encaminhada elucidou o nosso dirigente, sem presunção. Exige renovação interior e, ao que acredito, não obterá nesta casa senão ligeiro paliativo. Em casos de obsessão como este, em que a paciente ainda pode reagir com segurança, faz-se indispensável o curso pessoal de resistência. Não adianta retirar a sucata que perturba um ímã, quando o próprio ímã continua atraindo a sucata.
Efetivamente, seríamos singularmente favorecidos por ensinamentos novos se persistíssemos no estudo em foco; todavia, Saldanha, de longe, nos endereçava olhar indagador e era preciso seguir adiante.
Buscamos o recanto mais escuro do salão, onde dois homens, em idade madura, se mantinham em silêncio. De imediato, reconhecemos que um deles guardava indiscutível desequilíbrio orgânico. Muito pálido e abatido, demonstrava sinais de profunda inquietação.
Junto deles se encontrava uma entidade desencarnada, de humilde aspecto. Tomei-a por parte integrante da vasta coleção de Espíritos perturbados que ali funcionava; entretanto, com agradável surpresa para mim, dirigiu-se a Gúbio, exclamando de maneira discreta:
— Já lhes identifiquei, pelo tom vibratório, a posição de amigos do bem.
Indicando o enfermo, acentuou:
— Venho aqui na defesa deste amigo. Segundo estarão informados, dispomos no recinto de vigoroso operador mediúnico, sem iluminação interior de maior vulto. Assalariou ele algumas dezenas de Espíritos desencarnados, de educação incipiente, que lhe absorvem as emanações e trabalham cegamente sob suas ordens, tanto para o bem quanto para o mal.
Sorrindo, acrescentou:
— Nesta casa, o enfermo não é amparado pelo socorrista de que se vem valer e, sim, pela assistência espiritual edificante de que possa desfrutar.
E porque eu indagasse, com respeito ao doente, explicou, gentil:
— Este companheiro é austero administrador de serviços públicos. Na condição de mordomo e disciplinador, incapaz de usar o algodão da ternura em feridas alheias, adquiriu ódios gratuitos e silenciosas perseguições que lhe vergastam a mente, sem cessar, desde muitos anos, com perigosos reflexos no sistema circulatório, zona menos resistente do seu cosmos físico. Lutando, desassombrado, por reajustar a concepção de funcionários relapsos, mas sem armas de amor na própria defensiva, apresenta consideráveis prejuízos nas veias coronárias. Semelhantes ataques de forças imponderáveis visaram-lhe igualmente o fígado e o baço, que se revelam em lamentáveis condições. Acontece, porém, que a grande corrente de perseguidores, despertados por sua ação enérgica e educativa, conseguiu insinuar nos médicos, que o assistem, a necessidade de uma intervenção na vesícula biliar, preparando-se-lhe, com isso, um choque operatório, que lhe imporá a morte inesperada do corpo. O plano foi admiravelmente bem delineado. Entretanto, pelo bem que existe no fundo da severidade com que o nosso companheiro tem agido, buscaremos socorrê-lo através do médium que deliberou visitar. Recebi instruções, no sentido de obstar a operação cirúrgica e confio na vitória de minha tarefa.
Francamente, eu gostaria de levar a efeito um exame no paciente, para verificar até que ponto havia sofrido os golpes mentais em serviço, mas o olhar de Gúbio se fizera imperativo.
Cabia-nos a execução de deveres importantes e precisávamos retornar ao Saldanha. O problema de Margarida era complexo e competia-nos enfrentar-lhe a solução, de ânimo firme.
O obsessor da infortunada senhora, sentindo-nos o concurso espontâneo, acolheu-nos sem desconfiança.
Assumindo ares de pessoa superinteligente, comunicou ao nosso Instrutor que resolvera solicitar a neutralidade dos servos espirituais do professor operante. Com fina sagacidade asseverou que era necessário evitar a piedade do médium e confundir-lhe as observações, através de todos os recursos possíveis.
Em seguida à elucidação que me surpreendeu, rogou a presença de um dos colaboradores mais influentes e apareceu diante de nós a esquisita figura de um anão de semblante enigmático e expressivo.
Expedito, Saldanha pediu-lhe cooperação sem rebuços, esclarecendo que o operador da casa não deveria penetrar o problema de Margarida, na intimidade. Prometia-lhe, em troca do favor, não só a ele, mas também a outros auxiliares no assunto excelente remuneração em colônia não distante. E descreveu-lhe, com largas promessas, quanto lhe poderia proporcionar em regalo e prazeres no cortiço de entidades perturbadas e ignorantes, onde conhecêramos Gregório.
O serviçal manifestou indisfarçado contentamento e assegurou que o médium não perceberia patavina.
Com justificada curiosidade, acompanhei o desenrolar dos acontecimentos.
Logo à entrada do gabinete, percebi que a oficina não inspirava segura confiança.
O professor pôs-se imediatamente a combinar o preço do trabalho de que se encarregaria, exigindo adiantadamente de Gabriel significativo pagamento. O intercâmbio ali, entre as duas Esferas, se resumia a negócio tão comum quanto outro qualquer.
Sem detença, reconheci que o médium, se podia controlar, de algum modo, os Espíritos que se alimentavam de seu esforço, era também facilmente controlado por eles.
O recinto jazia repleto de entidades em fase primária de evolução.
Saldanha, excessivamente atarefado, anunciou-nos que presidiria, de perto, aos trâmites da ação mediúnica, notificando-nos, prazeroso, que lhe fora hipotecada plena ajuda das entidades ali dominantes.
Em razão disso, podíamos analisar os fatos, em companhia de Gúbio, recolhendo preciosa lição.
Depois de visivelmente satisfeito no acordo financeiro estabelecido, colocou-se o vidente em profunda concentração e notei o fluxo de energias a emanarem dele, através de todos os poros, mas muito particularmente da boca, das narinas, dos ouvidos e do peito. Aquela força, semelhante a vapor fino e sutil, como que povoava o ambiente acanhado e reparei que as individualidades de ordem primária ou retardadas, que coadjuvavam o médium em suas incursões em nosso Plano, sorviam-na a longos haustos, sustentando-se dela, quanto se nutre o homem comum de proteína, carboidratos e vitaminas.
Examinando a paisagem, Gúbio esclareceu-nos em voz imperceptível aos demais:
— Esta força não é patrimônio de privilegiados. É propriedade vulgar de todas as criaturas, mas entendem-na e utilizam-na somente aqueles que a exercitam através de acuradas meditações. É o “spiritus subtilissimus” de Newton, o “fluido magnético” de Mesmer e a “emanação ódica” de Reichenbach. No fundo, é a energia plástica da mente que a acumula em si mesma, tomando-a ao fluido universal em que todas as correntes da vida se banham e se refazem, nos mais diversos reinos da natureza, dentro do Universo. Cada ser vivo é um transformador dessa força, segundo o potencial receptivo e irradiante que lhe diz respeito. Nasce o homem e renasce, centenas de vezes, para aprender a usá-la, desenvolvê-la, enriquecê-la, sublimá-la, engrandecê-la e divinizá-la. Entretanto, na maioria das vezes, a criatura foge à luta que interpreta por sofrimento e aflição, quando é inestimável recurso de autoaprimoramento, adiando a própria santificação, caminho único de nossa aproximação do Criador.
Vendo a cena que se desenrolava, ponderei:
— É forçoso convir, porém, que este vidente é vigoroso na instrumentalidade. Permanece em perfeito contato com os Espíritos que o assistem e que encontram nele sólido sustentáculo.
— Sim, — confirmou o orientador, sereno, — mas não vemos aqui qualquer sinal de sublimação na ordem moral. O professor de relações com a nossa Esfera, inabordável, por enquanto, ao homem comum, sintoniza-se com as emissões vibratórias das entidades que o acompanham em posição primitivista, pode ouvir-lhes os pareceres e registrar-lhes as considerações. Entretanto, isto não basta. Desfazer-se alguém do veículo de carne não é iniciar-se na divindade. Há bilhões de Espíritos em evolução que rodeiam os homens encarnados, em todos os círculos de luta, muito inferiores, em alguns casos, a eles mesmos e que, facilmente, se convertem em instrumentos passivos dos seus desejos e paixões. Daí, o imperativo de muita capacidade de sublimação para quantos se consagram ao intercâmbio entre os dois mundos, porque, se a virtude é transmissível, os males são epidêmicos.
Nesse ínterim, reparamos que o médium, desligado do corpo físico, se punha a ouvir, atencioso, justamente a argumentação do assalariado mais inteligente, cuja cooperação Saldanha requisitara.
— Volte, meu amigo, — asseverava, jactancioso, ao médium desdobrado, — e diga ao esposo de nossa irmã doente que o caso orgânico é simples. Bastar-lhe-á o socorro médico.
— Não é uma obsidiada vulgar? — Inquiriu o médium, algo hesitante.
— Não, não, isto não! Esclareça o problema. O enigma é de medicina comum. Sistema nervoso em frangalhos. Esta senhora é candidata aos choques da casa de saúde. Nada mais.
— Não seria lícito algo tentar em favor dela?! — Tornou o psiquista, sensibilizado.
O interpelado riu-se numa tranquilidade de pasmar e rematou:
— Ora, ora, você deve saber que, individualmente, cada criatura tem o seu próprio destino. Se nosso concurso fosse eficiente, não teria gosto para tergiversações. Não há tempo a perder.
A essa altura, Saldanha endereçava-lhe um sorriso de satisfação, aprovando o alvitre e fazendo-nos sentir como é possível enganar a muitos, quando o homem apenas confia na estreiteza da sua própria observação.
Perante o quadro que nos era dado apreciar, ousei dirigir-me discretamente a Gúbio, indagando:
— Não nos achamos diante de autêntica manifestação espiritista?
— Sim, — confirmou em tom grave, — à frente de legítimo fenômeno dentro do qual uma individualidade encarnada recebe os pareceres de outra, ausente do envoltório carnal. Entretanto, André, os companheiros de ideal cristão, corporificados na Crosta da Terra, vão compreendendo agora que o fenômeno em si é tão rebelde quanto o rio encachoeirado que rola a esmo, sem comportas, sem disciplina. Jamais endossaremos um Espiritismo dogmático e intolerante. É imprescindível, porém, que o clima da prece, da renúncia edificante, do espírito de serviço e fé renovadora, através de padrões morais nobilitantes, constitua a nota fundamental de nossas atividades no psiquismo transformador, a fim de que nos encontremos, realmente, num serviço de elevação para o Supremo Pai. Temos aqui um médium de possibilidades ricas e extensas, que, pelo simples comércio vulgar a que reduziu a movimentação de suas faculdades, não acorda impressões construtivas naqueles que o buscam. Pode ser um cooperador valioso em certas circunstâncias, mas não é o trabalhador ideal, suscetível de provocar o interesse dos grandes benfeitores da Vida Superior. Estes não se animariam a comprometer grandes instruções por intermédio de servidores, bem intencionados embora, que não vacilam em vender as essências divinas em troca de recursos amoedados da luta comum. O caminho da oração e do sacrifício é, portanto, indispensável ainda a quantos se propõem dignificar a vida. A prece sentida aumenta o potencial radiante da mente, dilatando-lhe as energias e enobrecendo-as, enquanto a renúncia e a bondade educam a todos os que se lhes acercam da fonte, enraizada no Sumo Bem. Não basta, dessa maneira, exteriorizar a força mental de que todos somos dotados e mobilizá-la. É indispensável, acima de tudo, imprimir-lhe direção divina. É por esta razão que pugnamos pelo Espiritismo com Jesus, única fórmula de não nos perdermos em ruinosa aventura.
Compreendi os preciosos argumentos do Instrutor, pronunciados à meia voz, e, extremamente impressionado, guardei respeitoso silêncio.
O vidente retomou a gaiola física, finalizando a operação simplesmente técnico-mecânica de contato com a nossa Esfera, sem qualquer resultado no capítulo de elevação espiritual que lhe melhorasse o ambiente. Abriu os olhos, reajustou-se na cadeira e informou a Gabriel que o problema seria solucionado com a colaboração da psiquiatria. Comentou a situação precária dos nervos da doente e chegou a indicar um especialista de seu conhecimento para que novo método de cura fosse tentado.
O casal agradeceu, comovidamente, e, enquanto se articulavam as despedidas, o professor recomendou à enferma resistência e cautela, ante os estados mentais depressivos.
A jovem senhora recebeu as observações com o desencanto e a dor de quem se sente alvejado pelo sarcasmo, e partiu.
Saldanha, à nossa vista, abraçou os cooperadores, que tão bem haviam desempenhado a deplorável tarefa, combinou ocasião de encontro amistoso, a fim de comemorarem o que se lhes figurava significativo triunfo e, em seguida, notificou-nos em voz firme:
— Vamos, amigos! Quem começa a vingança deve marchar seguro até ao fim.
Endereçou-lhe Gúbio triste sorriso, com que disfarçava a aflição extrema, e acompanhou-o, humildemente.
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