Nos domínios da mediunidade
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De retorno ao lar de Áulus, ocorreu-me auscultar-lhe a opinião com respeito a diversos problemas, sempre vivos ao redor de quantos se dedicam ao estudo de questões mediúnicas, na atualidade terrestre.
Em companhia do orientador, havíamos tocado de relance, mas seguramente, palpitante material, que nos facultara excelente curso educativo.
Examináramos, de perto, entre encarnados e desencarnados, a assimilação de correntes mentais, a psicofonia, a possessão, o desdobramento, a clarividência, a clariaudiência, as forças curativas, a telepatia, a psicometria e a materialização, além de alguns dos temas de importância central da mediunidade, como sejam o poder da prece a fixação mental, a emersão do subconsciente, a licantropia, a obsessão, a fascinação, a lei de causa e efeito, o desdobramento no leito de morte e as energias viciadas, tudo isso sem necessidade de recurso a complicações terminológicas.
Não obstante nosso respeito à ciência humana, indagávamos intimamente por que motivo tanto embaraço verbalístico em sucessos comuns a todos, quando a simplificação seria bem mais interessante. Os metapsiquistas chamavam “criptestesia” à sensibilidade oculta, críptica, e batizaram o conhecimento de fatos sem o concurso dos sentidos carnais com a palavra “metagnomia”… Dividiam os médiuns (sujets, na terminologia de alguns investigadores) em duas categorias, os de “faculdades psicológicas inabituais” e os de “faculdades mecânico-físico-químicas”… E por aí afora…
Por que não aplainar tais dificuldades de expressão? Afinal — refletia eu —, a mediunidade, na essência, consulta o interesse da Humanidade inteira…
Acalentava tais pensamentos, quando Áulus, observando-me, por certo, a crítica meditada, considerou:
— A mediunidade, indubitavelmente, é patrimônio comum a todos, entretanto, cada homem e cada grupo de homens no mundo registram-lhe a evidência a seu modo. De nossa parte, é possível abordá-la com a simplicidade evangélica, baseados nos ensinamentos claros do Mestre, que esteve em contato incessante com as potências invisíveis ao homem vulgar, curando obsidiados, levantando enfermos, conversando com os grandes instrutores materializados no Tabor, (Mt
O Assistente fez ligeira pausa e prosseguiu:
— Não importa que os aspectos da verdade recebam vários nomes, conforme a índole dos estudiosos. Vale a sinceridade com que nos devotamos ao bem. O laborioso esforço da Ciência é tão sagrado quanto o heroísmo da fé. A inteligência, com a balança e com a retorta, também vive para servir ao Senhor. Esmerilhando os fenômenos mediúnicos e catalogando-os, chegará ao registro das vibrações psíquicas, garantindo a dignidade da Religião na Era Nova…
Não desejava, porém, situar a conversação nos domínios científicos. Nosso aprendizado atingia o marco final. Aquela era a última noite em que podíamos desfrutar a sábia companhia do orientador e propunha-me ouvi-lo quanto à mediunidade em si.
Por essa razão, provoquei o diálogo que passarei a desdobrar.
— É justo que a Ciência não examine o campo mediúnico por nosso prisma — aleguei. — A lógica e a experimentação positiva caminham por estradas muito diferentes daquelas que conhecemos no itinerário da intuição. No entanto, nas próprias correntes do Espiritualismo, vemos a mediunidade atormentada pelas mais diversas interpretações…
— Que pretende você dizer, André? — falou o instrutor, com brandura.
— Lembro-me daqueles irmãos que acoimam os médiuns de insanos e loucos, aconselhando a segregação dos estudantes da verdade em templos de iniciação, a deliberada distância dos sofredores e dos ignorantes que contamos no mundo por legiões inumeráveis…
— Ah! sim, o santuário de iniciação religiosa, qualquer que ele seja, é para nós venerável como posto avançado de distribuição da luz espiritual; entretanto, os que fogem dentro dele à lei da cooperação, isolam-se na torre de marfim do orgulho que lhes é próprio fixando-se em discussões brilhantes e estéreis. Tais companheiros assemelham-se a viajantes agrupados em perigosa ilha de repouso, enquanto os nautas corajosos do bem suam e sofrem na descoberta de rotas seguras para o continente da fraternidade e da paz. Descansam sob o arvoredo, confortados pela caça abundante e pela água refrescante, pesquisando a grandeza do céu ou filosofando sem proveito, mas sempre chega um dia em que a maré brava lhes invade o provisório domicílio, arrebatando-os ao mar alto, para que recomecem a experiência que lhes é necessária.
— Muitos estudiosos da nossa Esfera de realização no mundo asseveram que será lícito cultivar tão somente o convívio com os gênios superiores da Espiritualidade, relegando as manifestações mediúnicas vulgares à fossa da obsessão e da enfermidade, que, na opinião deles, devem ser entregues a si mesmas, sem qualquer atenção de nossa parte.
— Isso é comodismo sob o rótulo de cultura. Não podemos negar que a obsessão seja moléstia da mente, contudo, poderá a Medicina curar alguém à força de usar o esquecimento do dever que lhe cabe? Os gênios realmente superiores da Espiritualidade jamais abandonam os sofredores e os pequeninos. À maneira do Sol que clareia o palácio e a furna, com o mesmo silencioso devotamento auxiliam a todos, em nome da Providência.
— Há companheiros no Espiritualismo que não suportam qualquer manifestação primitivista no terreno mediúnico. Se o médium não lhes corresponde à exigência, revelando-se em acanhado círculo de compreensão ou competência, afastam-se dele, agastadiços, categorizando por fraude ou mistificação valiosas expressões da fenomenologia.
Áulus sorriu e comentou:
— Serão esses, provavelmente, os campeões do menor esforço. Ignoram que o sábio não dispensou a alfabetização no começo da existência e, decerto, amaldiçoam a criancinha que não saiba ler. Semelhantes amigos, André, olvidaram o socorro que receberam da escola primária e, solicitando facilidades, à maneira do morfinômano que reclama entorpecentes, viciam-se em atitudes deploráveis à frente da vida, de vez que tudo exigem para si, desrespeitando a obrigação de ajudar aos que ainda se encontram na retaguarda.
— Há quem diga que o Espiritismo age erradamente, abrigando os desequilibrados e os enfermos, porque, com isso, oferece a impressão de uma Doutrina que, à força de ombrear com a loucura para socorrê-la, vai convertendo seus templos de oração em vastos refúgios de alienados mentais.
— Simples disparate dos que desertam do serviço ao próximo. A Medicina não sofre qualquer diminuição por prestar auxílio aos enfermos. Honrada pelos hospitais em que atua, engrandece-se à medida que se agiganta na obra assistencial aos doentes. O Espiritismo não pode responsabilizar-se pelos desequilíbrios que lhe pedem amparo, tanto quanto não podemos imputar ao médico a autoria dos males que lhe requisitam a intervenção. Aliás, temos nele o benfeitor da mediunidade torturada e da mente doentia, propiciando-lhes o bálsamo e o esclarecimento indispensáveis ao reajuste. É muito fácil inventar teorias que nos exonerem do dever de servir, e muito difícil aplicar os princípios, superiores que esposamos, utilizando-nos, para isso, de nossa cabeça e de nossas próprias mãos. Se a recuperação do mundo e de nós mesmos estivesse circunscrita a lindas palavras, o Cristo, que nos constitui o padrão de todos os dias, não precisaria ter vindo ao encontro dos necessitados da Terra. Bastaria enviasse proclamações angélicas à Humanidade, sem padecer-lhe, de perto, a incompreensão e os problemas. Felizmente, porém, os espiritualistas conscientes e sensatos estão aprendendo que o nosso escopo é reviver o Evangelho em suas bases simples e puras e que o Senhor não nos concede o tesouro da fé apenas para que possamos crer e falar, mas também para que estejamos habilitados a estender o bem, começando de nós mesmos.
— Há igualmente quem afirme que em todos os processos da obsessão funciona, implacável, a lei de causa e efeito, e que, por isso, não vale interferir em favor da mediunidade atormentada…
— Mera argumentação do egoísmo bem nutrido. Isso seria o mesmo que abandonar os doentes, sob o pretexto de que são devedores perante a Lei. Todos lutamos por ressarcir compromissos do pretérito, compreendendo que não há dor sem justificação; e se sabemos que só o amor puro e o serviço incessante são capazes de garantir-nos a redenção, uns à frente dos outros, como desprezar o companheiro que sofre, em nome de princípios a cujo funcionamento estamos submetidos por nossa vez? Hoje, é o vizinho que amarga as consequências de certas ações efetuadas a distância, amanhã seremos nós a colher os resultados de gestos que nos desabonavam o passado e que agora nos afligem o presente. Se falece a cooperação entre as vítimas do espinheiro, decerto será muito mais longa e difícil para cada um a tarefa salvadora.
— Não faltam igualmente os que supõem não devamos atender a qualquer problema de mediunidade complexa, porque, dizem eles, cada criatura deve procurar a verdade por si. Admitem que as religiões não passam de muletas e que a ninguém assiste a faculdade de socorrer-se de instrutores em assuntos da própria orientação.
Áulus esboçou um gesto de bom humor e redarguiu:
— Isso seria suprimir a escola e vilipendiar o amor imanente na Criação Inteira. A religião digna, qualquer que seja o templo em que se expresse, é um santuário de educação da alma, em seu gradativo desenvolvimento para a imortalidade. Imaginemos um país imenso, em que milhões de crianças fossem relegadas ao abandono pelos pais e mestres, sob a alegação de que lhes cabe o dever de procurar a virtude e a sabedoria por si, furtando-se-lhes toda espécie de apoio moral e cultural… Imaginemos um campo enorme superlotado de enfermos, aos quais eminentes médicos recomendassem procurar a saúde por si mesmos, confiando-se à própria sorte… Onde estaria a lógica de semelhantes medidas? A interdependência mora na base de todos os fenômenos da vida. O forte é tutor do fraco. O sábio responsabilizar-se-á pelo ignorante. A criancinha na Terra não prescinde do concurso dos pais.
O instrutor fez ligeiro intervalo e prosseguiu:
— É preciso considerar que nem todos possuem idêntica idade espiritual e que a Humanidade Terrestre, em sua feição de conjunto, ainda se encontra tão longe da angelitude quanto a agressiva animalidade ainda está distante da razão perfeitamente humana. É muito cedo para que o homem se arrogue o direito de apelar para a Verdade Total… Por agora, é imprescindível trabalhe intensivamente, com devoção ardente e profunda ao bem, para atingir mais amplo discernimento das realidades fragmentárias ou provisórias que o cercam na vida física e, considerada a questão nesse aspecto, estejamos convictos de que a ausência de escolas do espírito ou a supressão dos instrutores constituiriam a multiplicação dos hospícios e o rebaixamento do nível moral, porque sem o apelo à dignificação da individualidade, em processo de crescimento mental e de sublimação no tempo, não poderíamos contar senão com a estagnação nas linhas inferiores da experiência.
Havíamos, contudo, atingido o fim da viagem.
O lar-santuário em que o Assistente residia levantava-se, agora, ao nosso olhar.
— Trabalhemos com bom ânimo — disse-nos ainda o orientador —; o tempo conjugado com o serviço no bem é o alicerce de nossa vitória.
No dia imediato, Áulus deveria partir no rumo de elevada missão a distância. Por isso, prometeu-nos o abraço de adeus para a manhã seguinte.
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Mateus 17:1
SEIS dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte.
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Marcos 16:1
E, PASSADO o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo.
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III Joao 1:1
O PRESBÍTERO ao amado Gaio, a quem em verdade eu amo.
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O PRESBÍTERO ao amado Gaio, a quem em verdade eu amo.
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