Antologia Mediúnica do Natal

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Capítulo XIX

Natal simbólico

Harmonias cariciosas atravessavam a paisagem, quando o lúcido mensageiro continuou:

— Cada Espírito é um mundo onde o Cristo deve nascer…

Fora loucura esperar a reforma do mundo, sem o homem reformado. Jamais conheceremos povos cristãos, sem edificarmos a alma cristã…


Eis por que o Natal do Senhor se reveste de profunda importância para cada um de nós em particular.

Temos conosco oceanos de bênçãos divinas, maravilhosos continentes de possibilidades, florestas de sentimentos por educar, desertos de ignorância por corrigir, inumeráveis tribos de pensamentos que nos povoam a infinita extensão do mundo interior. De quando em quando, tempestades renovadoras varrem-nos o íntimo, furacões implacáveis atingem nossos ídolos mentirosos.


Quantas vezes, o interesse egoístico foi o nosso perverso inspirador?

Examinando a movimentação de nossas ideias próprias, verificamos que todo princípio nobre serviu de precursor ao conhecimento inicial do Cristo.


Verificou-se a vinda de Jesus numa época de recenseamento.

Alcançamos a transformação essencial justamente em fase de contas espirituais com a nossa própria consciência, seja pela dor ou pela madureza de raciocínio.


Não havia lugar para o Senhor.

Nunca possuímos espaço mental para a inspiração divina, absorvidos de ansiedades do coração ou limitados pela ignorância.


A única estalagem ao Hóspede Sublime foi a Manjedoura.

Não oferecemos ao pensamento evangélico senão algumas palhas misérrimas de nossa boa vontade, no lugar mais escuro de nossa mente.


Surge o Infante Celestial dentro da noite.

Quase sempre, não sentimos a Bondade do Senhor senão no ápice das sombras de nossas inquietações e falências.


A estrela prodigiosa rompe as trevas no grande silêncio.

Quando o gérmen do Cristo desponta em nossas almas, a estrela da divina esperança desafia nossas trevas interiores, obscurecendo o passado, clareando o presente e indicando o porvir.


Animais em bando são as primeiras visitas ao Enviado Celeste.

Na soledade de nossa transformação moral, em face da alvorada nova, os sentimentos animalizados de nosso ser são os primeiros a defrontar o ideal do Mestre.


Chegam pastores que se envolvem na intensa luz dos anjos que velam o berço divino.

Nossos pensamentos mais simples e mais puros aproximam-se da ideia nova, contagiando-se da claridade sublime, oriunda dos gênios superiores que nos presidem aos destinos e que se acercam de nós, afugentando a incompreensão e o temor.


Cantam milícias celestiais.

No instante de nossa renovação em Cristo, velhos companheiros nossos, já redimidos, exultam de contentamento na esfera superior, dando glória a Deus e bendizendo os Espíritos de boa vontade.


Divulgam os pastores a notícia maravilhosa. Nossos pensamentos, felicitados pelo impulso criador de Jesus, comunicam-se entre si, organizando-se para a vida nova.


Surge a visita inesperada dos magos.

Sentindo-nos a modificação, o mundo observa-nos de modo especial.


Os servos fiéis, como Simeão, expressam grande júbilo, mas revelam apreensões justas, declarando que o Menino surgira para a queda e elevação de muitos em Israel.

Acalentamos o pensamento renovador, no recesso dalma, para a destruição de nossos ídolos de barro e desenvolvimento dos germens de espiritualidade superior.


Ferido na vaidade e na ambição, Herodes determina a morte do Pequenino Emissário.

A ignorância que nos governa, desde muitos milênios, trabalha contra a ideia redentora, movimentando todas as possibilidades ao seu alcance.


Conserva-se Jesus na casa simples de Nazaré.

Nunca poderemos fornecer testemunho à Humanidade, antes de faze-lo junto aos nossos, elevando o espírito do grupo a que Deus nos conduziu.


Trabalha o Pequeno Embaixador numa carpintaria.

Em toda realização superior, não poderemos desdenhar o esforço próprio.


Mais tarde, o Celeste Menino surpreende os velhos doutores.

O pensamento cristão entra em choque, desde cedo, com todas as nossas antigas convenções relativas à riqueza e à pobreza, ao prazer e ao sofrimento, à obediência e à mordomia, à filosofia e à instrução, à fé e à ciência.

Trava-se, então, dentro de nosso mundo individual, a grande batalha.


A essa altura, o mensageiro fez longa pausa.

Flores de luz choviam de mais alto, como alegrias do Natal, banhando-nos a fronte. Os demais companheiros e eu aguardávamos, ansiosos, a continuação da mensagem sublime; entretanto, o missionário generoso sorriu paternalmente e rematou:

— Aqui termino minhas humildes lembranças do Natal simbólico. Segundo observais, o Evangelho de Nosso Senhor não é livro para os museus, mas roteiro palpitante da vida.


(.Humberto de Campos)


Essa é a 19ª lição do livro “Antologia Mediúnica do Natal”, editado pela FEB em 1966.



Irmão X
Francisco Cândido Xavier


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