Antologia Mediúnica do Natal
Versão para cópiaJesus II
Nascido em S. Bartolomeu de Messines, Portugal, em 1830, e desencarnado em 1896, afirmou-se um dos maiores líricos da língua portuguesa. E tão bem conhecido no Brasil quanto em seu belo país. Nestas poesias palpita, de modo inconfundível, a suavidade e o ritmo da sua lira.
AS LÁGRIMASDesci um dia Ao sorvedouro Da atra agonia Da Humanidade, A procurar, A perscrutar Qual a verdade, Qual o tesouro O mais profundo, Que neste mundo O homem prendesse E o retivesse. E vi, então, No coração Da criatura, Só a ilusão Duma ventura. E vi senhores Que dominavam E se orgulhavam Do seu poder, Sempre a abater Os desgraçados. Os potentados Com seus valores Bem se julgavam Onipotentes, Heróis valentes Cá nesta vida… Depois, porém, Reconheceram E viram bem Nesta existência Toda a impotência Do deus-milhão, Perante a mão Da fria dor, Que lhes domava E lhes dobrava O torpe egoísmo. Busquei os lares, Ricos solares Dos protegidos, Onde o conforto Para a matéria Anda em contraste Com atroz miséria Dos desvalidos. E ainda aí Não pude achar O que eu ali Fui procurar. Eu vi mulheres Nos seus prazeres, Jovens e belas, Alvas estrelas De formosura, Rindo e cantando Dentro da noite Da desventura. Pobres donzelas, Fanadas flores… Luz sem fulgores, Que, miseráveis Párias da vida Deixam o teto Do seu afeto Maior, supremo, Insuperável. Somente encontram Dores que afrontam, Mágoa insanável, Incompreendida! E penetrei Pelos castelos Dourados, belos, Das diversões, Onde se aninha E se amesquinha A multidão Que busca rir, Gozar, sorrir, A ver se esquece O que padece, Julgando crer Que está a ver O paraíso. Mas este riso, Ao som da festa, À meia luz, É o que produz Todo o amargor, A maior dor, Pois eu ali Tristonho vi O que em verdade É a sociedade;’ É a sociedade; Só pensamentos Das impurezas, Só sentimentos Que trazem presas, Aniquiladas, E esmagadas, Ensandecidas As criaturas Outrora puras, Belas outrora, No entanto agora Flores perdidas, Almas impuras, Desiludidas! Nesse recinto Eu vi, então, A traição, A iniquidade, A grosseria, Toda a maldade Da hipocrisia; E tudo, enfim, Tristonho assim, Dissimulado, Falsificado No fingimento Que aparecia No barulhento Rumor de vozes, Notas atrozes, De uma alegria Jamais sentida, Desconhecida Naquele meio. Eu contemplei-o Cheio de horror E vi que as flores, As pedrarias Tão luminosas, Eram sombrias, Eram trevosas, Pois só cobriam Míseros trapos, Pobres farrapos De almas perjuras Ao seu Criador, Fracas criaturas Baldas de amor. E, condoído, Desiludido, Desanimado, Num forte brado Disse ao Senhor: «Onipotente Pai de Bondade, Oh! tem piedade Dos filhos teus Que choram, gemem, Pálidos tremem Ó Senhor Deus! Faze que a luz Do bom Jesus Penetre a alma Na Terra aflita, Dando-lhe a calma Que necessita. Só conheci E encontrei, Só contemplei O mal que vi.» Mas uma voz Do azul do Céu, Pronta e veloz, Me respondeu: «Filho bendito Do meu amor, Sou teu Senhor, E no Infinito Tudo o que fiz, Nada se perde, Assim tornando O ser feliz. Contempla, ainda, A Terra linda E então verás, Donde provém A grande paz, O sumo bem. O grão tesouro, Mais fino ouro Dos filhos meus, Está na luta, Nos prantos seus, Que lhes transforma A alma poluta Num ser radioso, Astro formoso De pura luz!» Eu ajoelhei E contemplei As multidões Atropeladas, Desenganadas as perdições. Vi transformadas Todas as cenas; Em todos seres, Homens, mulheres, Jovens, crianças, Nas grandes penas, Nas esperanças, Por entre a luz, Por entre flores, Brotar a flux No coração De cada ser, Em profusão, Gotas pequenas Como as brilhantes Luzes serenas Das madrugadas Primaveris. Reconheci Que por aí Na escura Terra Onde eu amei, Sorri, chorei, Onde sofri E onde eu vi A dura guerra, A amarga dor, Lágrimas belas, Gotas singelas, Meigas, serenas, Eram açucenas De fino olor Do espaço azul! Depois, eu vi Que os que as vertiam Por este mundo, Vale profundo De mágoa e dor, Quando voltavam Do seu exílio, Eram saudados Por mensageiros De amor e luz Do bom Jesus, Que os coroavam Com gemas finas, Joias divinas Do escrínio santo, Primor de encanto Do amor de Deus. Fui então vendo, Reconhecendo Que aqui nos Céus, Lágrimas lindas São transformadas, Remodeladas Para formarem Belo diadema E aureolarem Os que as verteram Aí na Terra. E vi, então, Em profusão, Gemas brilhantes, Alvinitentes, Ricas, fulgentes E deslumbrantes, Que nem Ofir Pôde possuir. Sejam benditas, As pequenitas Gotas de pranto, Orvalho santo Do amor divino Que dá ventura, Tranquilidade, Felicidade Ao peregrino. Bendito o Pai, O Nosso Deus Que abranda o ai Dos filhos seus; Que a alegria E a paz envia À Humanidade Tão sofredora, Com a lágrima bela, Luzente estrela Consoladora! |
O CÉUPátria ditosa e linda, e onde o mal Desaparece ao meigo olhar do Amor, Que entre os seres do Além é sempre igual, No mesmo anseio santo e superior! Lá não se vê traição e cada qual Urde ali sua auréola de esplendor, Doce Mansão de Paz, imaterial, Onde impera a bondade do Senhor! Porto de Salvação para quem crê Nessa Praia do Azul, que se antevê, Pelo poder da Fé, na provação; País dos Céus, aonde o pecador, Depois de bem sofrer aí a dor, Vai ali encontrar Consolação. |
MORRERNão mais a dor intensa e desmedida No momento angustioso de morrer, Nem o pranto pungente por se ver Um ser amado em horas da partida!.. A morte é um sono doce; basta crer Na Paz do Céu na Terra apetecida, Para se achar o Amor, a Luz e a Vida, Onde há trégua à tristeza e ao padecer. Venturosa região do espaço Além, Onde brilha a Verdade e onde o Bem É o fanal reluzente que conduz; Mansão de claridade e pulcritude, Onde os bons, que adoraram a Virtude, Gozam do afeto extremo de Jesus. |
O MAU DISCÍPULOEra uma alma Formosa e bela: Fúlgida estrela De puro alvor, Que habitava Qual uma flor O espaço infindo, Imenso e lindo, Nessas regiões Onde há mansões Purificadas, Iluminadas Do Criador. Porém, um dia, Disse Jesus A quem vivia Em meio à luz: «Filho querido, Estremecido, Dos meus afetos! Tu necessitas Buscar a Vida Em meio às vagas Das provações! Dentro das lutas, Tredas disputas Do Bem, do Mal, É que verei Se o que ensinei Ao teu valor, Aproveitaste E assimilaste Em benefício Da lei do amor, Do sacrifício!… Tens a fraqueza Da imperfeição; Aqui, porém, Já te mostrei A lei do amor, Luz do Senhor — O sumo bem. Tu lutarás, Mas vencerás Se bem souberes Te conduzir Nesses caminhos Entre prazeres, Risos e flores, Por entre espinhos, Mágoas e dores… E se aprenderes Saber viver, Sorrir, sofrer, Conquistarás A grande paz, A grande luz Que eu, teu Jesus, Reservarei E hei-de guardar Para a tua alma, Ao regressar. A dor, somente A luta amara Lá nos prepara Para vivermos, Tranquilamente, Nessas moradas Iluminadas Do nosso Pai! Luta e trabalha Singelamente Nessa batalha Que te ofereço, Pra conquistares A luz, o amor Do teu Senhor. Tu viverás Entre os brasões Das ilusões Da Terra impura; Conhecerás Lindas riquezas Iluminando E te ensinando O bom caminho, A boa estrada E com carinho Sempre a mostrar-te A caridade Com toda a luz Que ministrei Ao teu pensar, E ora conduz Teus sentimentos, Teus pensamentos, À perfeição Do coração. Caminha avante, Na deslumbrante Rota do amor! Espalha o olor Que já plantei E fiz brotar, Que cultivei Dentro em teu ser. Sê sempre amigo Dos sofredores. Dos que padecem Sem conhecer Sequer abrigo Onde isolar-se, Onde guardar-se Das fortes dores Que acometem Os sofredores. Sê a Bondade Entre a maldade Dos homens feros, Ambiciosos, Frios, austeros, Pecaminosos. Se assim fizeres E procederes, Sempre cumprindo Os teus deveres, Tornar-te-ás Em verdadeiro Anjo da paz, Em mensageiro Do Deus de amor. Assim darás À Humanidade O testemunho Da caridade Do teu Senhor!» A alma formosa Então desceu Para lutar, A conquistar Maior ventura, Rútila e pura Aqui no Céu. Então, nasceu Num lar ditoso, Régio, faustoso, Dos venturosos, Onde a alegria Reinava, e ria Constantemente, Proporcionando À rica gente Que o habitava Os belos gozos, Lindos, formosos, Mas irreais, Desses palácios Materiais. Ainda criança, Era adorado, Felicitado Nessa abastança; Naquele lar, Rico alcaçar Dos abastados. Ele então era A primavera Dos áureos sonhos Dos pais amados! Assim cresceu, Belo esplendeu, Na mocidade. Ganhou saber Nobilitante, À luz brilhante Dessa ciência Que, na existência, Por planetária, Faz com que a alma Se torne egoísta E refratária À lei de Deus. Tornou-se esquivo, Cruel e altivo À Humanidade, Não praticando Mas renegando. A caridade. O que aprendera No Infinito E prometera Ao bom Jesus, Tudo esquecera Em detrimento Do sentimento Que então trouxera, Cheio de luz. Refugiou-se Na vã Ciência, Despreocupou-se Com a consciência. Na Academia Dos homens sábios, Ele esplendeu No vão saber; O infeliz ser Viveu dos lábios, Seu coração Jamais viveu! Foi uma flor, Mas sem olor; Fulgiu, brilhou, Mas renegou A lei do amor. E da existência Da própria alma Por fim descreu, A relegar, Como um ateu, Filho do Mal, A imensa luz Espiritual. Foi refratário Ao próprio afeto Dos pais que o amavam E idolatravam Com mór ternura, Dele esperando Sua ventura. Os próprios filhos, Suaves brilhos Da nossa vida, Nossa esperança Encantadora, Os desprezou, Somente amando Sua ciência Enganadora. Só procurou Brilhar, fulgir; Nunca buscou, Assim, cumprir Sua missão. Sempre espalhou, Em profusão, Suas ideias Tristonhas, feias, Do ateísmo Desventurado. Nunca estancou Uma só lágrima; Nunca pensou Uma ferida, Que brota nalma Desiludida; Não consolou O que sofria. De quem fugia Sem compaixão! Enfim, viveu Só na Ciência, Nessa existência Que passa breve!… O ingrato teve Mil ocasiões De praticar Boas ações E espalhar O amor e a luz Que o bom Jesus Lhe concedera: Mas, infeliz, Jamais o quis. Porém um dia, A Parca fria, A morte amara, Cruel, avara E dolorosa, O arrebatara Nessa escabrosa Escura via, E o conduziu Para o Infinito, Onde, num grito, Ele acordou Do seu letargo, Do sono amargo Em que viveu. Ao descerrar O negro véu Do esquecimento, Sentiu seus olhos Enevoados, Tristes abrolhos No pensamento! Olhou o abismo Do pessimismo Em que vivera, Por onde sempre Se comprazera. Sentiu-se, então, Abandonado, Amargurado Na aflição! Somente, assim, Dentro da dor, Lembrou de Deus, Do seu amor, A implorar Da luz dos Céus Consolação! Das profundezas Do coração, Íntima voz Disse-lhe então: «Ó mau discípulo, Em quem eu pus Todo o esplendor Da minha luz, Do meu amor! Tu te perdeste Por teu querer, Pelo viver Que demandaste. Jamais soubeste Te conduzir, E assim cumprir O teu dever. Por isso, agora, Minhalma chora Ao ver que és Mísero ser. Tu renegaste E desprezaste A inspiração Do Deus de Amor! Tua missão Que era amar E assim curar A alheia dor, Em luz perdida, Foi convertida Em fero braço Esmagador. O grande amor — Fraternidade, Que então devias, Entre alegrias, Oferecer À Humanidade, O abafaste Como se fosse Assaz mesquinho, Quando só ele É o caminho Que nos conduz À salvação, À perfeição, À região Da pura luz! Sempre esqueceste Os teus deveres. Dos próprios seres Que te adoravam, Que mais te amavam, Foste inimigo, E até negaste A existência Da própria alma, A consciência! Constantemente, Continuamente Foste um ingrato E eu te julgara Um lutador Intimorato!…» Calou-se a voz E o pranto atroz Jorrou, então, Do coração Do miserável, Ser execrável Que não soubera E nem quisera Compreender O seu dever. Entre lamentos E dissabores, Padecimentos, Frios horrores, Ele chorou E lamentou, Por muitos anos, Seus desenganos Na senda triste, Fatal, amara, Que assim trilhara Na perdição. Envergonhado, Espezinhado Na sua queda, Correu sozinho O mundo inteiro, Qual caminheiro A quem negassem Um só carinho. Perambulou Qual Aasvero, Sofreu, clamou, Supliciado; E, muitas vezes, O seu olhar, Amargurado, Triste pousou Sobre o lugar Onde pecou. A pobre mão Sempre estendeu Pedindo o pão, Pedindo luz, A lamentar A sua cruz! Jamais alguém Quis escutá-lo; O mesmo bem Que ele fizera, Assim lhe era Retribuído… E o pobre Espírito Desiludido, Desanimado, Desamparado, Só encontrava Consolação Nas lágrimas tristes Que derramava Em profusão. Até que um dia Em que sofria, Mais padecia A dor feroz, Cruel e atroz, A alma triste E solitária, Exp’rimentada, Extenuada No atro sofrer, Cheia de unção Por entre prantos, Formosos, santos, Disse ao Senhor Numa oração: «Ó Mestre Amado, Sei que hei pecado E transgredido As tuas leis, Tendo comigo A tua luz, Ó bom Jesus! E mesmo assim, Eu me perdi Por meu querer, Pois não cumpri O meu dever!.. Fui a grilheta Da impiedade, Pobre calceta Da iniquidade. Mas tu que és bom, Tão justo e santo, Sabes do pranto Das minhas dores, No meu viver Sem luz, sem flores, E hás-de acolher Minha oração Cheia de fé!… Dá-me o acúleo Da expiação, Para que seja Exterminado O meu orgulho. Oh! dá-me agora A nova aurora De uma existência De provação. Quero sofrer Dura pobreza, Sempre viver Na singeleza. O meu desejo É só voltar À Terra impura Onde eu pequei, Para ofertar À criatura O grande amor Que lhe neguei. Não quero ter Nem um só dia Dessa alegria Que desfrutei, Mas só trazer No coração Todo o amargor Da privação. Não quero ver O dealbar De uma esperança; O próprio lar, Onde se encontra Maior ventura, Não quero ter; Nunca, jamais, Hei conhecer O que é sorrir! Quero existir Desconhecido, Incompreendido Em minha dor; Então serei Ramo perdido, Árido e seco Pelo vergel Enflorescido. Conhecerei A dor cruel Que nos retalha O coração. Nessa batalha Que empreenderei, Quero ganhar E conquistar A luz, o pão, O agasalho, Com meu trabalho. Eu só almejo Compreensão Para mostrar O teu perdão, Claro e sublime Para o meu crime, Ó bom Jesus, Ó Mestre Amado! — Eu lutarei E chorarei Nas rijas dores Mais inclementes, Nos turbilhões Incandescentes Das amarguras, Cruéis e duras Das aflições. Agora eu vejo Que na existência A grã ciência Só é grandiosa, Só é formosa, Quando aliada Da caridade, O puro amor. Quero com ardor Bem conquistar A perfeição! Serei, portanto, Neste planeta, Como a violeta Sob a folhagem… Viver somente Pela voragem Das desventuras. Quero sofrer Com humildade, E sempre ter Em mim bondade, Feliz dulçor Da caridade!…» E o Mestre Amado, Compadecido Do pobre Espírito Dilacerado, Enfim, perdido, Deu-lhe o perdão, A permissão Para voltar À antiga arena — Luta terrena, Oferecendo-lhe Ocasião Para tornar-se Mais venturoso E sempre digno Do seu perdão. Seja bendito, Pelo infinito Desenrolar E perpassar De toda a idade, O bom Jesus, Que, com sua luz E terno amor, Escuta a prece De quem padece, Fazendo assim Desabrochar O dealbar Das alvoradas Iluminadas De muitas vidas, Belas, queridas, Para lutarmos E nos tornarmos Dignos do Amor Inigualável, Incomparável, Do Criador! |
NA ESTRADA DE DAMASCO
Num certo dia A Ambição, De parceria Com o Orgulho, Chamou o homem Jactancioso, Rude e cioso Do seu poder E vão saber, E assim lhe disse: «Homem, tu és Senhor potente, Grande e valente Aqui no mundo; E se quiseres Tornar-te um rei Da imensa grei Da Criação, É só viveres A procurar Mais dominar Os elementos A transudar Nos sentimentos. Maior coragem Para ganhares Sempre vantagem No teu viver, E conquistares Sempre o poder Dos triunfantes. Aos semelhantes Em vez de amá-los Tais como irmãos, Faze-os vassalos No teu reinado, Glorificado De grão-senhor!» E o pecador, Ser imperfeito Se achasse embora, A seu agrado, Bem satisfeito, Foi sem demora Então chamado Por um juiz De retidão, Que é a Consciência, Nesta existência De provação, Que então lhe diz: «Mas, e o bom Deus Que está nos Céus, Que tudo vê, Sabendo assim Quanto a tua alma Dele descrê? Ele é o teu Pai, O Criador, O Deus de amor. E o bom Jesus, Nosso Senhor, Mestre da luz, O Filho amado Que à Terra veio, A este mundo Ingrato e feio A redimir, E assim banir O teu pecado? Ele te amou E te ensinou Que ao teu irmão Tu deves dar, Nunca negar A tua mão; E espalhar Somente amor, A relegar Toda a maldade, Para que um dia Te fosse dado Reconhecer. Com alegria, O solo amado Do eldorado Dos belos sonhos, Lindos, risonhos, Do teu viver. Assim, procura Melhor ventura Em só buscar, Acompanhar, Seguir Jesus Em sua dor, Em seu amor, Em sua cruz!» Mas, o tal homem Tão orgulhoso, Que já se achava Bem poderoso, Achou estranho Esse conselho: Rigor tamanho Não poderia; Isso seria Obedecer E se humilhar; E ele havia Aqui nascido Só para ser Obedecido, Tendo o poder Pra dominar. Assim, buscou E perguntou Aos companheiros; Eles, então, Lhe responderam No mais profundo Do coração: — «Esse conselho É muito velho! Deus é irrisão. E o tal Jesus, Com sua cruz E seu calvário, Somente foi Um visionário. Enquanto ele Só te oferece Amargas dores, Desolações, Tristes agruras, Cruéis espinhos, Nós concedemos Ao teu valor De grão-senhor Sublimes flores, Lindos brasões, Grandes venturas Nesses caminhos. Quem mais souber Gozar e rir, Mais saberá O que é existir. A vida aqui Só é formosa Para quem goza; E pois, assim, Vale o gozar Constantemente, Pois vindo a Parca Bem de repente, Há-de levar Esse teu sonho De amar, sofrer, Ao caos medonho Do mais não-ser; Porque a morte Tão renegada, Essa é apenas O frio nada. O louco amor Do teu Jesus, Exprime a dor E não a luz.» E assim, quando O homem fraco E miserando Mais se exaltou E se jatou, Onipotente, Chegou a Dor Humildemente, A lapidária, A eterna obreira, A mensageira Da perfeição, Nessa oficina Grande e divina Da Criação; Fê-lo abatido E desolado, Até enojado Do corpo seu: Apodreceu O seu tesouro. E o homem-rei Reconheceu Que o paraíso Dos sãos prazeres Vive nas luzes Só da virtude, No cumprimento Dos seus deveres, Na humildade, Na caridade, Na mansuetude, Na submissão Do coração Ao sofrimento, Quando aprouver Ao Deus de Amor Oferecer Rude amargor Ao nosso ser. Depois, então, De mui sofrer E padecer Na expiação, Reconheceu A nulidade, A fatuidade Da vil matéria! Na atroz miséria Dessa agonia, Só procurou Buscar se via Os seus mentores Enganadores, Altivos filhos Da veleidade Só encontrou O juiz reto, O Magistrado Incorrutível Da consciência, E que, num brado Indescritível, Em consequência, Lhe fez com ardor Ao coração Ermo de afeto, Ermo de amor, A mais tremenda Acusação! É o que acontece Em toda a idade, Com a maioria Da Humanidade; Pois sempre esquece Os seus deveres E se submerge Nos vãos prazeres. Para a alegria Fatal converge O seu viver, Para o enganoso, Efêmero gozo Do material, A esquecer Tudo o que seja Espiritual. Feliz de quem Aí procura Maior ventura No sumo bem; Porque verá, Contemplará Todo o esplendor, A eterna luz, Do eterno amor Do bom Jesus. |
PARNASO DE ALÉM-TÚMULO
Além do túmulo o Espírito inda canta Seus ideais de paz, de amor e luz, No ditoso país onde Jesus Impera com bondade sacrossanta. Nessas mansões, a lira se levanta Glorificando o Amor que em Deus transluz, Para o Bem exalçar, que nos conduz À divina alegria, pura e santa. Dessa Castália eterna da Harmonia Transborda a luz excelsa da Poesia, Que a Terra toda inunda de esplendor. Hinos das esperanças espargidos Sobre os homens, tornando-os mais unidos, Na ascensão para o Belo e para o Amor. |
ANGÚSTIA MATERNA
«Ó Lua branca, suave e triste, - A Mãe pedia, fitando o céu - Dize-me, Lua, se acaso viste Nos firmamentos o filho meu. A Morte ingrata, fria e impiedosa, Deixou vazio meu doce lar, Deixou minhalma triste e chorosa, Roubou-me o sonho - deu-me o penar Se tu soubesses, Lua serena, Como era grácil, que encantador Meu anjo belo como a açucena, Cheio de vida, cheio de amor!… » Disse-lhe a Lua — «Eu sei do encanto Dum filho amado que a gente tem; E das ausências conheço o pranto, Oh! se o conheço, conheço-o bem!…» - «Então, responde-me sem demora, Continuava, sempre a chorar: Em qual estrela cheia de aurora. Foi o meu anjo se agasalhar?…» - «Mas não o avistas — responde-lhe ela — Naquela estrela que tremeluz? Abre teus olhos… É bem aquela Que anda cantando no céu de luz.» E a Mãe aflita, martirizada, Fitou a estrela que lhe sorriu, Sentiu-lhe os raios, extasiada, E dos seus cantos, feliz, ouviu: - «Ilha pacífica, da esperança, Sou eu no mar do éter infindo; Do sofrimento mato a lembrança E abro o futuro, ditoso e lindo. Do Senhor tenho doce trabalho, Missão que é toda só de alegrias: Flores reparto cheias de orvalho, Flores que afastam as agonias.» - «Quase te odeio, luz de alvorada, Ó linda estrela que adorna o céu, Gritou-lhe a pobre desconsolada, Porque tu guardas o filho meu.» - «Se tu me odeias, se me detestas, Contudo eu te amo e pergunto: quem Não tem saudades das minhas festas? O teu anjinho teve-as também. Em mim a noite não tem guarida, Aqui terminam os dissabores; Aqui em tudo floresce a vida, Vida risonha, cheia de flores!…» A mãe saudosa, banhada em pranto, Notou de logo seu filho lindo, Todo vestido dum brilho santo, Num belo raio de luz, sorrindo… Disse-lhe o filho - «Tive deveras Muita saudade, mãezinha amada, Senti a falta das primaveras, Senti a falta desta alvorada!… Não resisti… Tanta era a saudade! Voltei do exílio, fugi da dor, Aqui é tudo felicidade, Paz e ventura, carícia e amor! Ó mãe, perdoa, se mais não pude Ficar contigo na escuridão, A Terra amarga, tristonha e rude, Envenenava meu coração. Aqui, na estrela, também há fontes, Jardins e luzes e fantasias, Sóis rebrilhando nos horizontes, Sonhos, castelos e melodias. Daqui te vejo, daqui eu velo Pelo sossego dos dias teus; Faço-te um ninho ditoso e belo, Muito pertinho do amor de Deus!…» Aí os olhos da desditosa Nada mais viram do Eterno Lar. Viu-se mais calma, menos saudosa, E, estranhamente, pôs-se a chorar… |
Minha mãezinha, alguém me disse, Que tu te foste, triste sem mim; Já não me embala tua meiguice, E não podias partir assim. Eu acredito que tenhas ido Pedir a Deus, que possui a luz, Que de mim faça, do teu querido, Um dos seus anjos, outro Jesus. Mas tanto tempo faz que partiste, Que me fugiste sem me levar, Que sofro e choro, saudoso e triste, Sem esperanças de te encontrar. Há quantos dias que te procuro, Que te procuro chamando em vão!… Tudo é silêncio tristonho e escuro, Tudo é saudade no coração. Outros meninos alegres vejo, Numa alegria terna e louçã, Que exclamam rindo dentro dum beijo: «Como eu te adoro, minha mamã!» Sinto um anseio sublime e santo, De nos meus braços, mãe, te beijar; E abraço o espaço, beijo o meu pranto, Somente a mágoa vem-me afagar. Inquiro o vento: — «Quando verei Minha mãezinha boa e querida?» E o vento triste diz-me: — «Não sei!… Só noutra vida, só noutra vida!…» Pergunto à fonte, pergunto à ave, Quando regressas dos Céus supremos, E me respondem em voz suave: «Nós não sabemos! nós não sabemos!…» Pergunto à flor que engalana a aurora, Quando é que voltas desse país, E ela retruca, consoladora: «Depois da morte serás feliz.» E digo ao sino na tarde calma: «Onde está ela, meu doce bem?» Ele responde, grave, à minhalma: «Além na luz! Na luz do Além!…» O mar e a noite me crucificam, Multiplicando meus pobres ais, Cheios de angústias, ambos replicam: «Tua mãezinha não volta mais.» Somente a nuvem, quando eu imploro, Diz-me que vens e diz que te vê; E me conforta, do céu, se eu choro: «Eu vou chamá-la para você.» Sempre te espero, mas, ai! não voltas, Nem para dar-me consolação; Ó mãe querida, que mágoas soltas Andam cortando meu coração. Tanta saudade, e, no entretanto, Vejo-te linda nos sonhos meus; Ajoelhada, banhada em pranto. E de mãos postas aos pés de Deus. Sempre a meus olhos, estás bonita Qual uma rosa, como um jasmim! Porém conheço que estás aflita, Com o pensamento junto de mim. Então, entrego-me ao meu desejo, Tremo de anseio, calo, sorrio, Sentindo o anélito do teu beijo… Mas abro os olhos no ar vazio! Vai-se-me o sonho… Quanta amargura, Que sinto esparsa pelo caminho! Que mágoa eterna! que desventura, Para quem segue triste e sozinho. Volta depressa! guardo-te flores, Porque só vivo pensando em ti: Celebraremos nossos amores, Junto da fonte que canta e ri. Já não suporto tantos cansaços!… Se não voltares, pede a Jesus Que te conceda pôr-me em teus braços, Foge comigo para outra luz!… |
O LEPROSODizia o pobre leproso: Senhor! Não tenho mais vida, Sou uma pútrida ferida Sobre o mundo desditoso! Mas o anjo da esperança Responde-lhe com brandura: Meu filho, espera a ventura Com fé, com perseverança. Se teu corpo é lama e pus Em meio dos sofrimentos. Tua alma é réstia de luz Dos eternos firmamentos. |
BONDADEVê-se a miséria desditosa Perambulando numa praça, Sob o seu manto de desgraça Clama o infortúnio abrasador. Eis que a Fortuna se lhe esconde; E passa o gozo, muito ao largo; E ela chora, ao gosto amargo, O seu destino, a sua dor. Mas eis que alguém a reconforta: É a Bondade. Abre-lhe a porta; E a fada, à luz dessa manhã, Diz-lhe, a sorrir: — Tens frio e fome? Pouco te importe qual meu nome, Chega-te a mim: sou tua irmã. |
ORAÇÃOA Ti, Senhor, Meu coração Imerso em dor Aflito vem, Pedindo a luz, Pedindo o bem E a salvação. Pedir a quem, Senão a Ti, Cuja bondade Me sorri E me conduz À imensidade Da perfeição? És a piedade Divina e pura Que à criatura Dá luz e pão. Sou eu, somente, O impenitente Na expiação. Em Ti, portanto, Confio e espero, De Ti eu quero Me aproximar! Consolo santo, Para o meu pranto Venho implorar. Bem sei, Senhor, Se sofro e choro. Se me demoro No padecer, É porque andei Longe do Amor, No meu viver. O Amor é a lei, Que me ensinaste E que deixaste Aos irmãos teus! Pra que eu pudesse, Ditosamente, Buscar os Céus. Assim, contente, Cheio de unção, Elevo a prece Do coração, A Ti, Senhor, Rogando amor, Paz e perdão! |
A FORTUNAAnda a Fortuna por uma praça, Fala à Ventura com riso irmão, E mais adiante topa a Desgraça, E altiva e rude lhe esconde a mão. Vaidosa e bela, dá preferência Ao torpe egoísmo acomodatício, E entre as virtudes, na existência, Escolhe sempre flores do vício. E assim prossegue na desmarcada Carreira louca do vão prazer, Como perdida, e já sepultada, No esquecimento do próprio ser. Depois, cansada e já comovida, Quando só pede luz e amor, Acorre a Morte por dar-lhe a Vida, E vem a Vida por dar-lhe a Dor. |
ORAÇÃO [II]Vós que sois a mãe bondosa De todos os desvalidos Deste vale de gemidos Mãe piedosa!… Sublime estrela que brilha No céu da paz, da bonança, Do céu de toda a esperança — Maravilha! Maria! — consolação Dos pobres, dos desgraçados, Dos corações desolados Na aflição, Compadecei-vos, Senhora, De tão grandes sofrimentos, Deste mundo de tormentos, Que apavora. Livrai-nos do abismo tredo Dos males, dos amargores, Protegei os pecadores No degredo. Estendei o vosso manto De bondade e de ternura, Sobre tanta desventura, Tanto pranto! Concedei-nos vosso amor, A vossa misericórdia, Dai paz a toda discórdia Trégua à dor!… Vós que sois Mãe carinhosa Dos fracos, dos oprimidos Deste vale de gemidos, Mãe bondosa! Oração: Pai de Amor e Caridade, Que sois a terna clemência E de todas as criaturas Carinhosa Providência! Que os homens todos vos amem, Que vos possam compreender, Pois tendo ouvidos não ouvem, E vendo não querem ver. (Mt |
ALÉMAlém da sepultura, a nova aurora Luminosa e divina se levanta; Lá palpita a beleza onde a alma canta, À luz do amor que vibra e revigora. Ó corações que a lágrima devora, Prisioneiros da dor que fere e espanta, Tende na vossa fé a bíblia santa, E em vossa luta o bem de cada hora. Além da morte, a vida tumultua, O trabalho divino continua… Vida e morte — exultai ao bendizê-las! Esperai nos tormentos mais profundos, Que a este mundo sucedem-se outros mundos, E às estrelas sucedem-se as estrelas! |
SONETO [VI]Como outrora, entre ovelhas desgarradas, O coração tocado de agonias, O Mestre chora como Jeremias. Vendo o mundo nas lutas condenadas. Sempre a miséria e a dor nos vossos dias! Sempre a treva nas míseras estradas… Preces infindas e desesperadas, Do caminho de lágrimas sombrias… Dois milênios contando o grande ensino Do Amor, o luminoso bem divino, Sobre as desolações do mundo velho… Mas, em todos os tempos é a vaidade No egoísmo da triste Humanidade, Demorando as vitórias do Evangelho. |
A PRECEO Senhor da Verdade e da Clemência Concedeu-nos a fonte cristalina Da prece, água do amor, pura e divina, Que suaviza os rigores da existência. Toda oração é a doce quintessência Da esperança ditosa e peregrina, Filha da crença que nos ilumina Os mais tristes refolhos da consciência. Feliz o coração que espera e ora, Sabendo contemplar a eterna aurora Do Além, pela oração profunda e imensa. Enquanto o mundo anseia, estranho e aflito, A prece alcança as bênçãos do Infinito, Nos caminhos translúcidos da Crença. |
FRATERNIDADEFraternidade é árvore bendita, Cujas flores e ramos de esperança Buscam a luz eterna que se agita, Rumo ao país ditoso da bonança. É a fonte cristalina em que descansa A alma humana fraca, errante e aflita; É a luminosa bem-aventurança Da mensagem de Deus, pura e infinita!… Vós que chorais ao coro das procelas, Vinde, irmãos! Desdobrai as vossas velas!… Não vos sufoque o horror da tempestade. Fraternidade é o derradeiro porto, A terra da união e do conforto, Que habitaremos na 1mortalidade. |
LEMBRAI A CHAMAVós que buscais além da sepultura A resposta de luz da Eternidade, Nunca olvideis a Excelsa Claridade, Que reside convosco em noite escura. Somos todos a Grande Humanidade, Em direção à Fonte Eterna e Pura, Somos em toda parte a criatura Buscando os dons supremos da Verdade. Tendes convosco a Chama Adormecida… Rogamos acendais a Luz da Vida, Já que buscais mais crença junto a nós! Se quiserdes brilhar nos Outros Planos, Ó torturados corações humanos, Deixai que o Cristo nasça dentro em vós. |
ETERNA MENSAGEMAinda e sempre o Evangelho do Senhor É a mensagem eterna da Verdade, Senda de paz e de felicidade, Na luz das luzes do Consolador. Nos caminhos da lágrima e da dor, Ante os desfiladeiros da impiedade, Não sabe o coração da Humanidade Beber dessa água límpida do Amor. Mas os túmulos falam pela estrada, Em toda parte fulge uma alvorada Que ao roteiro dos Céus nos reconduz; O Evangelho, na luz do Espiritismo, É a escada de Jacob vencendo o abismo, Trazendo ao mundo o verbo de Jesus. |
NO TEMPLO DA EDUCAÇÃODistribuía o Mestre os dons divinos Da luz do seu Espírito sem jaça, E exclama, enquanto a turba observa e passa: — «Deixai virem a mim os pequeninos!…» É que na alma sincera dos meninos Há uma luz de ternura, amor e graça, De que o Senhor da Paz quer que se faça O sol da nova estrada dos destinos. Vós, que tendes a fé que ama e consola, Fazei do vosso lar a grande escola De justiça, de amor e de humildade! As conquistas morais são toda a glória Que a alma busca na vida transitória, Pelos caminhos da imortalidade. |
NA NOITE DE NATAL— «Minha mãe, porque Jesus, Cheio de amor e grandeza, Preferiu nascer no mundo Nos caminhos da pobreza? Porque não veio até nós, Entre flores e alegrias, Num berço todo enfeitado De sedas e pedrarias?» — «Acredito meu filhinho, Que o Mestre da Caridade Mostrou, em tudo e por tudo, A luminosa humildade!… Às vezes, penso também. Nos trabalhos deste mundo, Que a Manjedoura revela Ensino bem mais profundo!» E a pobre mãe de olhos fixos Na luz do céu que sorria, Concluiu com sentimento, Em terna melancolia: — «Por certo, Jesus ficou Nas palhas, sem proteção, Por não lhe abrirmos na Terra As portas do coração.» |
Esta mensagem psicografada em 19/5/1942, foi publicada originalmente em 1972 pela LAKE e é a 2ª do livro “”
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Mateus 13:14
E neles se cumpre a profecia d?Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis.
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