Antologia Mediúnica do Natal

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Capítulo LXVII

Oração ante a manjedoura


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Senhor, quando iniciaste o Divino Apostolado, na Manjedoura singela, preocupava-se o Império Romano por um mundo só, em que se garantisse a paz pela centralização administrativa. Augusto, o glorioso imperador, ostentava a coroa do supremo poder humano, cercado de legisladores e filósofos que pugnavam pela unidade política da Terra…

No entanto, Senhor, sabias que, além da superfície brilhante das palavras, formavam-se legiões consagradas ao aniquilamento e à morte.

Enquanto se erguiam as vozes do Senado, proclamando o direito, a concórdia e a dignidade humana, a Espanha pagava dolorosos tributos de sangue à pacificação; a Germânia experimentava a miséria; a Grécia conhecia incêndios e devastações da conquista; a Panônia chorava os lares destruídos; a Arábia tremia sob o terror; a Armênia pranteava os seus filhos; a África dobrava-se sob atrozes humilhações.

Em Roma, os poetas teciam madrigais à beleza e os literatos homenageavam a justiça, mas, nas margens do Danúbio e do Reno, soluçavam crianças e mães desamparadas.

Sabemos, hoje, que a atmosfera de júbilo, reinante no mundo de então, representava fruto de tua presença santificante, e reconhecemos que os homens se embriagavam de alegria por fora, continuando, porém, por dentro, os mesmos enigmas de luz e treva, ignorância e conhecimento, impulsividade e razão. Sabias, por tua vez, que eles glorificavam o respeito à dignidade pessoal e matavam-se, uns aos outros, nos circos, sob o aplauso quente da multidão; reverenciavam os deuses nos templos de pedra e partiam, em seguida, integrando expedições dedicadas à rapinagem; declaravam-se livres perante a lei e escravizavam-se, cada vez mais, ao império do egoísmo e da morte.

Não consideras, Senhor, que o quadro atual continua quase o mesmo?

Desde a Renascença, ouvimos lições de concórdia mundial, ensinamentos alusivos à liberdade, cânticos religiosos exaltando a fraternidade, discursos filosóficos definindo conceitos de solidariedade humana, argumentos científicos em favor da renovação social para um mundo só, onde a existência seja digna de ser vivida, mais elevada, mais feliz.

Todavia, enquanto os peritos diplomáticos se reúnem, solenes, mobilizando rotativas e microfones, o espírito de hegemonia domina os povoa e o ódio calcina os corações.

Entoam-se hosanas à paz nos templos calmos e prepara-se a guerra nas fábricas febris. A discórdia doméstica e coletiva nunca foi tão complexa, agora que a Sociologia é mais pródiga em conceituação de harmonia.

Os homens, não contentes com o poder de matar pelo canhão e pela metralhadora, pelo gás e pela fome, descobriram a desintegração atômica, a fim de que não somente os irmãos na espécie sejam exterminados, mas também os animais e as árvores, os ninhos e os vermes, os elementos vitalizantes do ar, da água e do solo… E invocam-te a presença, antes da batalha, abençoam armas em teu nome, declaram-se teus protegidos, acionando maquinarias de arrasamento.

Relacionando, porém, estas verdades não desconhecemos que o teu amor infinito prossegue vigilante e que, se nenhum serviço do bem permanece despercebido diante de tua misericórdia, nenhuma interferência do mal se perpetua sem a corrigenda de tua justiça! Acompanhas teu rebanho com a mesma esperança do primeiro dia, e, quando as ovelhas tresmalhadas se precipitam no despenhadeiro, ainda é a tua bondade que intervém, carinhosa, salvando-as da queda fatal. Teu devotamento cresce com as nossas transgressões, e se permites que a ventania do sofrimento nos fustigue o rosto, que os golpes da guerra nos abalem as entranhas do ser, é que, Artista Divino, concedes poder ao martelo da dor, a fim de que, vibrando sobre nós, desfaça a crosta de endurecimento que nos deforma a vida, entregando-nos a temporário infortúnio estabelecido por nós mesmos, como se fôramos pedras valiosas, confiadas ao zelo de um lapidário prudente e benigno!…

É por este motivo, Mestre, que, inclinados sobre a recordação de teu Natal, agradecemos a luta benfeitora que nos deste, a experiência que nos permitiste, as bênçãos que renovas sobre a nossa fronte todos os dias!

Pastor benevolente e sábio, revela-nos o aprisco do bem!

margens; identificas de longe a presença da tempestade;

tens o verbo que desperta o estímulo sadio;

ensinas onde se localizam os raios do farol que conduz e as chamas do incêndio que destrói;

curas nossas chagas sem panaceias de fantasia;

repreendes amando;

esclareces sem ferir;

não desprezas as ovelhas quebrantadas, nem abandonas as que ouviram o convite sedutor dos lobos escondidos na sombra!…

Sê abençoado, Senhor, nos séculos dos séculos, pela eternidade de teu amor, pela grandeza de teu trabalho, pela serenidade de tua sublime esperança.

E permite que nós, prosternados em espírito, ante a lembrança de tua manjedoura desprotegida, possamos regressar às bases simples e humildes da vida, continuando nosso trabalho redentor, após repetir com o velho Simeão, encanecido nas inquietantes experiências do mundo: — “Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois já os nossos olhos viram a salvação”. (Lc 2:29)


(.Humberto de Campos)


Irmão X
Francisco Cândido Xavier


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