Almas em Desfile

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CAPÍTULO 12

TENTAÇÕES

A conferência no tempo espírita versara sobre tentações, compromissos, faltas, culpas. . .


Antônio Gama, distinto corretor, e a esposa, Dona Cornélia, caminhavam de volta a casa, ao lado de Artur Ramos, companheiro de fé. E Antônio comentava:

—O orador não precisava ser assim exigente.

Expôs, por mais de uma hora, como se nós, os da assembleia, fôssemos malfeitores.

—Entretanto – disse Ramos -, cautela nunca é demais. Todos somos capazes de cair. . .

—Ah! mas não temos a prece e o conhecimento? – falou Dona Cornélia. – É impossivel que estejamos assim tão atrasados!. . .

—Não! – tornou Gama – não somos tão ruins! Já subimos um degrauzinho. . .

A chegada ao lar interrompeu a conversação.

Logo, porém, depois de instalados em casa, enquanto Dona Cornélia preparava o chá, o telefone tilintou.

Gama atendeu.

—Quem é? – perguntou.


E a voz veio macia e familiar:

—Pois você estranha, Antônio? Somo nós. . .


E ouvindo referência ao nome de certa firma, conhecida por grandes negócios, e com a qual já operara algumas vezes, Gama ajuntou, satisfeito:

—Dê as ordens.


E falaram do outro lado:

—É um negocião. Basta apenas um recibo assinado por você e receberá oitocentos mil cruzeiros. . .

A voz continuou, explicando que se tratava da venda de vários automóveis para determinada companhia.

Antônio, percebeu que se tratava de operação inconfessável, e pediu um momento.

Emocionado, explicou a Dona Cornélia de que se tratava, e, alarmados, conversaram rapidamente.

Oitocentos mil cruzeiros!

—Afinal – concluiu Dona Cornélia -, é um negócio como os outros.

—Sim – falou o marido -, se eu não aceitar, outros aceitarão.


E piscando os olhos:

—Deve ser o amparo de algum amigo espiritual para que possamos comprar, enfim, o nosso apartamento.


Em seguida, correu ao fone e avisou:

—Aceito.

—Muito bem! – responderam – encontrar-nos-emos amanhã, no mesmo lugar.


Gama perguntou então:

—Explique-me. Onde estarei para o entendimento?


O amigo desconhecido mudou o tom de voz e falou, claramente preocupado:

—Mas ouça! Você não está compreendendo? Diga! É você mesmo quem fala?

—Sim – aclarou Antônio -, sou eu, Antônio Gama, o corretor. . .

—Ah! – concluiu o outro com inflexão de profundo desapontamento – desculpe, cavalheiro, houve erro de ligação. . .

Só então o casal de incipientes na Doutrina reconheceu que ambos haviam fragorosamente caído em perigosa tentação. . .








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