Almas em Desfile

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CAPÍTULO 25

A DOR DE CABEÇA

Sérgio Murilo chegou a casa, depois do baile carnavalesco.

Excitado.

Tomou o pijama e caminhou para o banheiro.

Chovia. . .

A garoa fria entrava pelo basculante aberto.

Trancou-se.

Queria água quente e ascendeu o gás.

Enquanto esperava mais calor, tomou o lança-perfume e passou a sonhar, sonhar. . .

Sim, era casada. . .

Confessara que tinha o esposo e dois filhinhos, mas beijara-o loucamente, freneticamente.

Levara-a de carro até à residência e, no dia seguinte, terça-feira gorda, seria o encontro real.

Zélia! E a jovem senhora fantasiada encheu-lhe a imaginação. . .

—Amanhã, amanhã. . . – dizia baixinho, aspirando o éter.

Nisso, lembrou Sônia, a outra.

Sim, era casada igualmente.

Recordava-se!

Quando lhe dissera que não podia continuar, ela havia ficado em desespero.

E ingerira formicida em alta dose.

Quem poderia acreditar?

Todos diziam que Sônia tinha outros.

Outros e o marido. . . Leandro, o corredor.

Revia, agora, Leandro em pensamento. . .

O infeliz marido de Sônia enlouquecera, após a morte dela, e sofrera um colapso quando em tratamento, no hospício.

Leandro. . . e sorriu, a sós. . .

A mãezinha de Sérgio, senhora espírita, que não lhe conhecia as aventuras, dissera-lhe, certa vez: "Meu filho, não sei o que se passa, mas soube que você está sendo seguido por um homem desencarnado, em atitudes vingadoras. . . soube disso, em sessão, através do nosso benfeitor espiritual, quando perguntei por sua dor de cabeça. . . nada mais soube senão que se chama Leandro. . . Penso tratar-se de algum inimigo de outras existências!. . . "

—Pobre mãe! – pensava Sérgio – "outras existências", boa saída! Certamente o médium conhecia-lhe o caso e enganava a pobre velha.

Isso fora no ano passado.

Leandro estava morto, coberto de terra.

A realidade era só isso.

E a realidade, agora, não era Sônia, mas Zélia. . .

—"Amanhã", repetia enlevado.

Mas voltava a imagem de Leandro. . .

Por que pensar em Leandro, quando seria Zélia?

Buscava Zélia, tentava reter a figura de Zélia, esperava Zélia, mas o reflexo de Leandro crescia sempre. . .

Parecia tê-lo perto, segurando-lhe a bisnaga ao pé do nariz. . . Coisa estranha!. . .

Enorme lassidão passou a invadir-lhe o corpo.

Lembrou-se do gás, mas não se pode mexer.

Sim, via agora Leandro. . .

Leandro estava à frente dele e gargalhava.

Leandro, louco. . .

Estava morto ou vivo?

—Amanhã nem Sônia, nem Zélia. . . Você estará comigo! Comigo!. . . - gritava-lhe a sombra. . . . . . . . . . . . .

Na manhã seguinte, falava-se em suicídio na vizinhança.

E, ao choro de uma velhinha, grande rabecão removeu um cadáver para o necrotério.








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