O Livro dos espíritos

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Capítulo III

Da criação

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos mundos
• Item 37 •
37: O Universo foi criado, ou existe de toda a eternidade, como Deus?
“É fora de dúvida que ele não pode ter-se feito a si mesmo. Se existisse, como Deus, de toda a eternidade, não seria obra de Deus.” Diz-nos a razão não ser possível que o Universo se tenha feito a si mesmo e que, não podendo também ser obra do acaso, há de ser obra de Deus.

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos mundos
• Item 38 •
38: Como criou Deus o Universo?
“Para me servir de uma expressão corrente, direi: pela sua Vontade. Nada caracteriza melhor essa vontade onipotente do que estas belas palavras de Gênesis (1:
3) – ‘Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita’.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos mundos
• Item 39 •
39: Poderemos conhecer o modo de formação dos mundos?
“Tudo o que a esse respeito se pode dizer e podeis compreender é que os mundos se formam pela condensação da matéria disseminada no Espaço.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos mundos
• Item 40 •
40: Serão os cometas, como agora se pensa, um começo de condensação da matéria, mundos em via de formação?
“Isso está certo; absurdo, porém, é acreditar-se na influência deles. Refiro-me à influência que vulgarmente lhes atribuem, porquanto todos os corpos celestes influem de algum modo em certos fenômenos físicos.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos mundos
• Item 41 •
41: Pode um mundo completamente formado desaparecer e disseminar-se de novo no Espaço a matéria que o compõe?
“Sim, Deus renova os mundos, como renova os seres vivos.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos mundos
• Item 42 •
42: Poder-se-á conhecer o tempo que dura a formação dos mundos: da Terra, por exemplo?
“Nada te posso dizer a respeito, porque só o Criador o sabe e bem louco será quem pretenda sabê-lo, ou conhecer que número de séculos dura essa formação.” Formação dos seres vivos

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos seres vivos
• Item 43 •
43: Quando começou a Terra a ser povoada?
“No começo tudo era caos; os elementos estavam em confusão. Pouco a pouco cada coisa tomou o seu lugar. Apareceram então os seres vivos apropriados ao estado do globo.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos seres vivos
• Item 44 •
44: Donde vieram para a Terra os seres vivos?
“A Terra lhes continha os germes, que aguardavam momento favorável para se desenvolverem. Os princípios orgânicos se congregaram, desde que cessou a atuação da força que os mantinha afastados, e formaram os germes de todos os seres vivos. Estes germes permaneceram em estado latente de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até o momento propício ao surto de cada espécie. Os seres de cada uma destas se reuniram, então, e se multiplicaram.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos seres vivos
• Item 45 •
45: Onde estavam os elementos orgânicos, antes da formação da Terra?
“Achavam-se, por assim dizer, em estado de fluido no Espaço, no meio dos Espíritos, ou em outros planetas, à espera da criação da Terra para começarem existência nova em novo globo.” A Química nos mostra as moléculas dos corpos inorgânicos unindo-se para formarem cristais de uma regularidade constante, conforme cada espécie, desde que se encontrem nas condições precisas. A menor perturbação nestas condições basta para impedir a reunião dos elementos, ou, pelo menos, para obstar à disposição regular que constitui o cristal. Por que não se daria o mesmo com os elementos orgânicos? Durante anos se conservam germes de plantas e de animais, que não se desenvolvem senão a uma certa temperatura e em meio apropriado. Têm-se visto grãos de trigo germinarem depois de séculos. Há, pois, nesses germes um princípio latente de vitalidade, que apenas espera uma circunstância favorável para se desenvolver. O que diariamente ocorre debaixo das nossas vistas, por que não pode ter ocorrido desde a origem do globo terráqueo? A formação dos seres vivos, saindo eles do caos pela força mesma da Natureza, diminui de alguma coisa a grandeza de Deus? Longe disso: corresponde melhor à ideia que fazemos do seu poder a se exercer sobre a infinidade dos mundos por meio de leis eternas. Esta teoria não resolve, é verdade, a questão da origem dos elementos vitais; mas Deus tem seus mistérios e pôs limites às nossas investigações.

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos seres vivos
• Item 46 •
46: Ainda há seres que nasçam espontaneamente?
“Sim, mas o germe primitivo já existia em estado latente. Sois todos os dias testemunhas desse fenômeno. Os tecidos do corpo humano e do dos animais não encerram os germes de uma multidão de vermes que só esperam, para desabrochar, a fermentação pútrida que lhes é necessária à existência? É um mundo minúsculo que dormita e se cria.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos seres vivos
• Item 47 •
47: A espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre?
“Sim, e veio a seu tempo. Foi o que deu lugar a que se dissesse que o homem se formou do limo da terra.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos seres vivos
• Item 48 •
48: Poderemos conhecer a época do aparecimento do homem e dos outros seres vivos na Terra?
“Não; todos os vossos cálculos são quiméricos.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Formação dos seres vivos
• Item 49 •
49: Se o germe da espécie humana se encontrava entre os elementos orgânicos do globo, por que não se formam espontaneamente homens, como na origem dos tempos?
“O princípio das coisas está nos segredos de Deus. Entretanto, pode dizer-se que os homens, uma vez espalhados pela Terra, absorveram em si mesmos os elementos necessários à sua própria formação, para os transmitir segundo as leis da reprodução. O mesmo se deu com as diferentes espécies de seres vivos.” Povoamento da Terra. Adão

Parte Primeira • Das causas primárias • Povoamento da Terra. Adão
• Item 50 •
50: A espécie humana começou por um único homem?
“Não; aquele a quem chamais Adão não foi o primeiro, nem o único a povoar a Terra.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Povoamento da Terra. Adão
• Item 51 •
51: Poderemos saber em que época viveu Adão?
“Mais ou menos na que lhe assinais: cerca de 4.000 anos antes do Cristo.” O homem, cuja tradição se conservou sob o nome de Adão, foi dos que sobreviveram, em certa região, a alguns dos grandes cataclismos que revolveram em diversas épocas a superfície do globo, e se constituiu tronco de uma das raças que atualmente o povoam. As Leis da Natureza se opõem a que os progressos da Humanidade, comprovados muito tempo antes do Cristo, se tenham realizado em alguns séculos, como houvera sucedido se o homem não existisse na Terra senão a partir da época indicada para a existência de Adão. Muitos, com mais razão, consideram Adão um mito ou uma alegoria que personifica as primeiras idades do mundo. Diversidade das raças humanas

Parte Primeira • Das causas primárias • Diversidade das raças humanas
• Item 52 •
52: Donde provêm as diferenças físicas e morais que distinguem as raças humanas na Terra?
“Do clima, da vida e dos costumes. Dá-se aí o que se dá com dois filhos de uma mesma mãe que, educados longe um do outro e de modos diferentes, em nada se assemelharão, quanto ao moral.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Diversidade das raças humanas
• Item 53 •
53: O homem surgiu em muitos pontos do globo?
“Sim e em épocas várias, o que também constitui uma das causas da diversidade das raças. Depois, dispersando-se os homens por climas diversos e aliando-se os de uma aos de outras raças, novos tipos se formaram.” a) Estas diferenças constituem espécies distintas? “Certamente que não; todos são da mesma família. Porventura as múltiplas variedades de um mesmo fruto são motivo para que elas deixem de formar uma só espécie?”

Parte Primeira • Das causas primárias • Diversidade das raças humanas
• Item 54 •
54: Pelo fato de não proceder de um só indivíduo a espécie humana, devem os homens deixar de considerar-se irmãos?
“Todos os homens são irmãos em Deus, porque são animados pelo espírito e tendem para o mesmo fim. Estais sempre inclinados a tomar as palavras na sua significação literal.” Pluralidade dos mundos

Parte Primeira • Das causas primárias • Pluralidade dos mundos
• Item 55 •
55: São habitados todos os globos que se movem no Espaço?
“Sim e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Entretanto, há homens que se têm por espíritos muito fortes e que imaginam pertencer a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que só para eles criou Deus o Universo.” Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da Providência. Acreditar que só os haja no Planeta que habitamos fora duvidar da sabedoria de Deus, que não fez coisa alguma inútil. Certo, a esses mundos há de ele ter dado uma destinação mais séria do que a de nos recrearem a vista. Aliás, nada há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir à suposição de que ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes.

Parte Primeira • Das causas primárias • Pluralidade dos mundos
• Item 56 •
56: É a mesma a constituição física dos diferentes globos?
“Não; de modo algum se assemelham.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Pluralidade dos mundos
• Item 57 •
57: Não sendo uma só para todos a constituição física dos mundos, seguir-se-á tenham organizações diferentes os seres que os habitam?
“Sem dúvida, do mesmo modo que no vosso os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar.”

Parte Primeira • Das causas primárias • Considerações e concordâncias bíblicas concernentes à Criação
• Item 58 •
58: Os mundos mais afastados do Sol estarão privados de luz e calor, por motivo de esse astro se lhes mostrar apenas com a aparência de uma estrela?
“Pensais então que não há outras fontes de luz e calor além do Sol e em nenhuma conta tendes a eletricidade que, em certos mundos, desempenha um papel que desconheceis e bem mais importante do que o que lhe cabe desempenhar na Terra? Demais, não dissemos que todos os seres são feitos da mesma matéria que vós outros e com órgãos de conformação idêntica à dos vossos.” As condições de existência dos seres que habitam os diferentes mundos hão de ser adequadas ao meio em que lhes cumpre viver. Se jamais houvéramos visto peixes, não compreenderíamos pudesse haver seres que vivessem dentro da água. Assim acontece com relação aos outros mundos, que sem dúvida contêm elementos que desconhecemos. Não vemos na Terra as longas noites polares iluminadas pela eletricidade das auroras boreais? Que há de impossível em ser a eletricidade, nalguns mundos, mais abundante do que na Terra e desempenhar neles uma função de ordem geral, cujos efeitos não podemos compreender? Bem pode suceder, portanto, que esses mundos tragam em si mesmos as fontes de calor e de luz necessárias a seus habitantes. Considerações e concordâncias bíblicas concernentes à Criação

Parte Primeira • Das causas primárias • Considerações e concordâncias bíblicas concernentes à Criação
• Item 59 •
59: Considerações e concordâncias bíblicas concernentes à Criação
Os povos hão formado ideias muito divergentes acerca da Criação, de acordo com as luzes que possuíam. Apoiada na Ciência, a razão reconheceu a inverossimilhança de algumas dessas teorias. A que os Espíritos apresentam confirma a opinião de há muito partilhada pelos homens mais esclarecidos. A objeção que se lhe pode fazer é a de estar em contradição com o texto dos livros sagrados. Mas um exame sério mostrará que essa contradição é mais aparente do que real e que decorre da interpretação dada ao que muitas vezes só tinha sentido alegórico. A questão de ter sido Adão, como primeiro homem, a origem exclusiva da Humanidade, não é a única a cujo respeito as crenças religiosas tiveram que se modificar. O movimento da Terra pareceu, em determinada época, tão em oposição às letras sagradas, que não houve gênero de perseguições a que essa teoria não tivesse servido de pretexto, e, no entanto, a Terra gira, malgrado os anátemas, não podendo ninguém hoje contestá-lo, sem agravo à sua própria razão. Diz também a Bíblia que o mundo foi criado em seis dias e põe a época da sua criação há quatro mil anos, mais ou menos, antes da Era Cristã. Anteriormente, a Terra não existia; foi tirada do nada: o texto é formal. Eis, porém, que a Ciência positiva, a inexorável Ciência, prova o contrário. A história da formação do globo terráqueo está escrita em caracteres irrecusáveis no mundo fóssil, achando-se provado que os seis dias da criação indicam outros tantos períodos, cada um de, talvez, muitas centenas de milhares de anos. Isto não é um sistema, uma doutrina, uma opinião isolada; é um fato tão certo como o do movimento da Terra e que a Teologia não pode negar-se a admitir, o que demonstra evidentemente o erro em que se está sujeito a cair tomando ao pé da letra expressões de uma linguagem frequentemente figurada. Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro? Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la. Escavando os arquivos da Terra, a Ciência descobriu em que ordem os seres vivos lhe apareceram na superfície, ordem que está de acordo com o que diz em Gênesis, havendo apenas a notar-se a diferença de que essa obra, em vez de executada milagrosamente por Deus em algumas horas, se realizou, sempre pela sua vontade, mas conforme a lei das forças da Natureza, em alguns milhões de anos. Ficou sendo Deus, por isso, menor e menos poderoso? Perdeu em sublimidade a sua obra, por não ter o prestígio da instantaneidade? Indubitavelmente, não. Fora mister fazer-se da Divindade bem mesquinha ideia, para se não reconhecer a sua onipotência nas leis eternas que ela estabeleceu para regerem os mundos. A Ciência, longe de apoucar a obra divina, no-la mostra sob aspecto mais grandioso e mais acorde com as noções que temos do poder e da majestade de Deus, pela razão mesma de ela se haver efetuado sem derrogação das Leis da Natureza. De acordo, neste ponto, com Moisés, a Ciência coloca o homem em último lugar na ordem da criação dos seres vivos. Moisés, porém, indica, como o do dilúvio universal, o ano 16547 da formação do mundo, ao passo que a Geologia nos aponta o grande cataclismo como anterior ao aparecimento do homem, atendendo a que, até hoje, não se encontrou, nas camadas primitivas, traço algum de sua presença, nem da dos animais de igual categoria, do ponto de vista físico. Contudo, nada prova que isso seja impossível. Muitas descobertas já fizeram surgir dúvidas a tal respeito. Pode dar-se que, de um momento para outro, se adquira a certeza material da anterioridade da raça humana e então se reconhecerá que, a esse propósito, como a tantos outros, o texto bíblico encerra uma figura. A questão está em saber se o cataclismo geológico é o mesmo a que assistiu Noé. Ora, o tempo necessário à formação das camadas fósseis não permite confundi-los e, desde que se achem vestígios da existência do homem antes da grande catástrofe, provado ficará, ou que Adão não foi o primeiro homem, ou que a sua criação se perde na noite dos tempos. Contra a evidência não há raciocínios possíveis; forçoso será aceitar-se esse fato, como se aceitaram o do movimento da Terra e os seis períodos da Criação. A existência do homem antes do dilúvio geológico ainda é, com efeito, hipotética. Eis aqui, porém, alguma coisa que o é menos. Admitindo-se que o homem tenha aparecido pela primeira vez na Terra 4.000 anos antes do Cristo e que, 1.650 anos mais tarde, toda a raça humana foi destruída, com exceção de uma só família, resulta que o povoamento da Terra data apenas de Noé, ou seja: de 2.350 anos antes da nossa era. Ora, quando os hebreus emigraram para o Egito, por volta de 1700 a.C., encontraram esse país muito povoado e já bastante adiantado em civilização. A História prova que, nessa época, as Índias e outros países também estavam florescentes, sem mesmo se ter em conta a cronologia de certos povos, que remonta a uma época muito mais afastada. Teria sido preciso, nesse caso, que de 2300 a 1700 a.C., isto é, num espaço de 600 anos, não somente a posteridade de um único homem houvesse podido povoar todos os imensos países então conhecidos, suposto que os outros não o fossem, mas também que, nesse curto lapso de tempo, a espécie humana houvesse podido elevar-se da ignorância absoluta do estado primitivo ao mais alto grau de desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas as leis antropológicas. A diversidade das raças corrobora, igualmente, esta opinião. O clima e os costumes produzem, é certo, modificações no caráter físico; sabe-se, porém, até onde pode ir a influência dessas causas. Entretanto, o exame fisiológico demonstra haver, entre certas raças, diferenças constitucionais mais profundas do que as que o clima é capaz de determinar. O cruzamento das raças dá origem aos tipos intermediários. Ele tende a apagar os caracteres extremos, mas não os cria; apenas produz variedades. Ora, para que tenha havido cruzamento de raças, preciso era que houvesse raças distintas. Como, porém, se explicará a existência delas, atribuindo-se-lhes uma origem comum e, sobretudo, tão pouco afastada? Como se há de admitir que, em poucos séculos, alguns descendentes de Noé se tenham transformado ao ponto de produzirem a raça etíope, por exemplo? Tão pouco admissível é semelhante metamorfose, quanto à hipótese de uma origem comum para o lobo e o cordeiro, para o elefante e o pulgão, para o pássaro e o peixe. Ainda uma vez: nada pode prevalecer contra a evidência dos fatos. Tudo, ao invés, se explica, admitindo-se: que a existência do homem é anterior à época em que vulgarmente se pretende que ela começou; que diversas são as origens; que Adão, vivendo há 6.000 anos, tenha povoado uma região ainda desabitada; que o dilúvio de Noé foi uma catástrofe parcial, confundida com o cataclismo geológico; e atentando-se, finalmente, na forma alegórica, peculiar ao estilo oriental, forma com que deparamos nos livros sagrados de todos os povos. Isto faz ver quanto é prudente não lançar levianamente a pecha de falsas as doutrinas que podem, cedo ou tarde, como tantas outras, desmentir os que as combatem. As ideias religiosas, longe de perderem alguma coisa, se engrandecem, caminhando de par com a Ciência. Esse o meio único de não apresentarem lado vulnerável ao ceticismo.

Da volta do Espírito, extinta a vida corpórea, à vida espiritual

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • A alma após a morte, sua individualidade. Vida eterna
• Item 149 •
149: Que sucede à alma no instante da morte?
“Volta a ser Espírito, isto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara momentaneamente.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • A alma após a morte, sua individualidade. Vida eterna
• Item 150 •
150: A alma, após a morte, conserva a sua individualidade?
“Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?” a) Como comprova a alma a sua individualidade, uma vez que não tem mais corpo material? “Continua a ter um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta, e que guarda a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.” b) A alma nada leva consigo deste mundo? “Nada, a não ser a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor, lembrança cheia de doçura ou de amargor, conforme o uso que ela fez da vida. Quanto mais pura for, melhor compreenderá a futilidade do que deixa na Terra.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • A alma após a morte, sua individualidade. Vida eterna
• Item 151 •
151: Que pensar da opinião dos que dizem que após a morte a alma retorna ao todo universal?
“O conjunto dos Espíritos não forma um todo? não constitui um mundo completo? Quando estás numa assembleia, és parte integrante dela; mas, não obstante, conservas sempre a tua individualidade.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • A alma após a morte, sua individualidade. Vida eterna
• Item 152 •
152: Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte?
“Não tendes essa prova nas comunicações que recebeis? Se não fôsseis cegos, veríeis; se não fôsseis surdos, ouviríeis; pois que muito amiúde uma voz vos fala, reveladora da existência de um ser que está fora de vós.” Os que pensam que, pela morte, a alma reingressa no todo universal estão em erro, se supõem que, semelhante à gota de água que cai no oceano, ela perde ali a sua individualidade. Estão certos, se por todo universal entendem o conjunto dos seres incorpóreos, conjunto de que cada alma ou Espírito é um elemento. Se as almas se confundissem num amálgama só teriam as qualidades do conjunto, nada as distinguiria umas das outras. Careceriam de inteligência e de qualidades pessoais quando, ao contrário, em todas as comunicações, denotam ter consciência do seu eu e vontade própria. A diversidade infinita que apresentam, sob todos os aspectos, é a consequência mesma de constituírem individualidades diversas. Se, após a morte, só houvesse o que se chama o grande Todo, a absorver todas as individualidades, esse Todo seria uniforme e, então, as comunicações que se recebessem do mundo invisível seriam idênticas. Desde que, porém, lá se nos deparam seres bons e maus, sábios e ignorantes, felizes e desgraçados; que lá os há de todos os caracteres: alegres e tristes, levianos e ponderados etc., patente se faz que eles são seres distintos. A individualidade ainda mais evidente se torna, quando esses seres provam a sua identidade por indicações incontestáveis, particularidades individuais verificáveis, referentes às suas vidas terrestres. Também não pode ser posta em dúvida, quando se fazem visíveis nas aparições. A individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como artigo de fé. O Espiritismo a torna manifesta e, de certo modo, material.

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • A alma após a morte, sua individualidade. Vida eterna
• Item 153 •
153: Em que sentido se deve entender a vida eterna?
“A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retoma a vida eterna.” a) Não seria mais exato chamar vida eterna a dos Espíritos puros, dos que, tendo atingido a perfeição, não estão sujeitos a sofrer mais prova alguma? “Essa é antes a felicidade eterna, mas isto constitui uma questão de palavras. Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais.” Separação da alma e do corpo

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Separação da alma e do corpo
• Item 154 •
154: É dolorosa a separação da alma e do corpo?
“Não; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio.” Na morte natural, a que sobrevém pelo esgotamento dos órgãos, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de óleo.

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Separação da alma e do corpo
• Item 155 •
155: Como se opera a separação da alma e do corpo?
“Rotos os laços que a retinham, ela se desprende.” a) A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte? “Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.” Durante a vida, o Espírito se acha preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é a destruição do corpo somente, não a desse outro invólucro, que do corpo se separa quando cessa neste a vida orgânica. A observação demonstra que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que, ao contrário, se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é o da libertação, com apenas algumas horas de diferença. Em outros, naqueles sobretudo cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É, com efeito, racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de modo que, chegando a morte, ele é quase instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos que se têm podido observar por ocasião da morte. Essas observações ainda provam que a afinidade, persistente entre a alma e o corpo, em certos indivíduos, é, às vezes, muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte. Verifica-se com alguns suicidas.

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Separação da alma e do corpo
• Item 156 •
156: A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica?
“Na agonia, a alma, algumas vezes, já tem deixado o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo; entretanto, ainda lhe resta um sopro de vida orgânica. O corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe, enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Separação da alma e do corpo
• Item 157 •
157: No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai de novo entrar?
“Muitas vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Emprega então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Separação da alma e do corpo
• Item 158 •
158: O exemplo da lagarta que, primeiro, anda de rastos pela terra, depois se encerra na sua crisálida em estado de morte aparente, para enfim renascer com uma existência brilhante, pode dar-nos ideia da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, da nossa nova existência?
“Uma ideia acanhada. A imagem é boa; todavia, cumpre não seja tomada ao pé da letra, como frequentemente vos sucede.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Separação da alma e do corpo
• Item 159 •
159: Que sensação experimenta a alma no momento em que reconhece estar no mundo dos Espíritos?
“Depende. Se praticaste o mal, impelido pelo desejo de o praticar, no primeiro momento te sentirás envergonhado de o haveres praticado. Com a alma do justo as coisas se passam de modo bem diferente. Ela se sente como que aliviada de grande peso, pois que não teme nenhum olhar perscrutador.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Separação da alma e do corpo
• Item 160 •
160: O Espírito se encontra imediatamente com os que conheceu na Terra e que morreram antes dele?
“Sim, conforme a afeição que lhes votava e a que eles lhe consagravam. Muitas vezes aqueles seus conhecidos o vêm receber à entrada do mundo dos Espíritos e o ajudam a desligar-se das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e perdeu de vista durante a sua vida terrena. Vê os que estão na erraticidade, como vê os encarnados e os vai visitar.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Separação da alma e do corpo
• Item 161 •
161: Em caso de morte violenta e acidental, quando os órgãos ainda não se enfraqueceram em consequência da idade ou das moléstias, a separação da alma e a cessação da vida ocorrem simultaneamente?
“Geralmente assim é; mas, em todos os casos, muito breve é o instante que medeia entre uma e outra.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Separação da alma e do corpo
• Item 162 •
162: Após a decapitação, por exemplo, conserva o homem por alguns instantes a consciência de si mesmo?
“Não raro a conserva durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha extinguido completamente. Mas, também, quase sempre a apreensão da morte lhe faz perder aquela consciência antes do momento do suplício.” Trata-se aqui da consciência que o supliciado pode ter de si mesmo, como homem e por intermédio dos órgãos, e não como Espírito. Se não perdeu essa consciência antes do suplício, pode conservá-la por alguns breves instantes. Ela, porém, cessa necessariamente com a vida orgânica do cérebro, o que não quer dizer que o perispírito esteja inteiramente separado do corpo. Ao contrário: em todos os casos de morte violenta, quando a morte não resulta da extinção gradual das forças vitais, mais tenazes os laços que prendem o corpo ao perispírito e, portanto, mais lento o desprendimento completo. Perturbação espiritual

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Perturbação espiritual
• Item 163 •
163: A alma tem consciência de si mesma imediatamente depois de deixar o corpo?
“Imediatamente não é bem o termo. A alma passa algum tempo em estado de perturbação.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Perturbação espiritual
• Item 164 •
164: A perturbação que se segue à separação da alma e do corpo é do mesmo grau e da mesma duração para todos os Espíritos?
“Não; depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado, se reconhece quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo, enquanto o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria.”

Parte Segunda • Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos • Perturbação espiritual
• Item 165 •
165: O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da perturbação?
“Influência muito grande, por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua situação; mas a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem.” Por ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de profundo sono e procura orientar-se sobre a sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe voltam à medida que se apaga a influência da matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de névoa que lhe obscurece os pensamentos. Muito variável é o tempo que dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de algumas horas, como também de muitos meses e até de muitos anos. Aqueles que, desde quando ainda viviam na Terra, se identificaram com o estado futuro que os aguardava, são os em quem menos longa ela é, porque esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram. Aquela perturbação apresenta circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. Nos casos de morte violenta, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos etc., o Espírito fica surpreendido, espantado e não acredita estar morto. Obstinadamente sustenta que não o está. No entanto, vê o seu próprio corpo, reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele. Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe por que elas não o ouvem. Semelhante ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito se reconhece como tal e compreende que não pertence mais ao número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, porque pensa, vê, ouve, tem a sensação de não estar morto. Mais lhe aumenta a ilusão o fato de se ver com um corpo semelhante, na forma, ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar. Julga-o sólido e compacto como o primeiro e, quando se lhe chama a atenção para esse ponto, admira-se de não poder palpá-lo. Esse fenômeno é análogo ao que ocorre com alguns sonâmbulos inexperientes, que não creem dormir. É que têm o sono por sinônimo de suspensão das faculdades. Ora, como pensam livremente e veem, julgam que não dormem. Certos Espíritos revelam essa particularidade, se bem que a morte não lhes tenha sobrevindo inopinadamente. Todavia, sempre mais generalizada se apresenta essa particularidade entre os que, mesmo doentes, não pensavam em morrer. Observa-se então o singular espetáculo de um Espírito assistir ao seu próprio enterramento como se fora o de um estranho, falando desse ato como de coisa que lhe não diz respeito, até o momento em que compreende a verdade. A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem, que se conserva calmo, semelhante em tudo a quem acompanha as fases de um tranquilo despertar. Para aquele cuja consciência ainda não está pura, a perturbação é cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam à proporção que ele da sua situação se compenetra. Nos casos de morte coletiva, tem sido observado que todos os que perecem ao mesmo tempo nem sempre tornam a ver-se logo. Presas da perturbação que se segue à morte, cada um vai para seu lado, ou só se preocupa com os que lhe interessam.

Da lei do trabalho

Parte Terceira • Das leis morais • Necessidade do trabalho
• Item 674 •
674: A necessidade do trabalho é Lei da Natureza?
“O trabalho é Lei da Natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos.”

Parte Terceira • Das leis morais • Necessidade do trabalho
• Item 675 •
675: Por trabalho só se devem entender as ocupações materiais?
“Não; o Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.”

Parte Terceira • Das leis morais • Necessidade do trabalho
• Item 676 •
676: Por que o trabalho se impõe ao homem?
“Por ser uma consequência da sua natureza corpórea. É expiação e, ao mesmo tempo, meio de aperfeiçoamento da sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade. Em compensação, ao extremamente fraco de corpo outorgou Deus a inteligência, mas é sempre um trabalho.”

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• Item 677 •
677: Por que provê a Natureza, por si mesma, a todas as necessidades dos animais?
“Tudo na Natureza trabalha. Como tu, trabalham os animais, mas o trabalho deles, de acordo com a inteligência de que dispõem, se limita a cuidarem da própria conservação. Daí vem que, do trabalho não lhes resulta progresso, ao passo que o do homem visa duplo fim: a conservação do corpo e o desenvolvimento da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva acima de si mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais se cifra no cuidarem da própria conservação, refiro-me ao objetivo com que trabalham. Entretanto, provendo às suas necessidades materiais, eles se constituem, inconscientemente, executores dos desígnios do Criador e, assim, o trabalho que executam também concorre para a realização do objetivo final da Natureza, se bem quase nunca lhe descubrais o resultado imediato.”

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• Item 678 •
678: Nos mundos mais aperfeiçoados, os homens se acham submetidos à mesma necessidade de trabalhar?
“A natureza do trabalho está em relação com a natureza das necessidades. Quanto menos materiais são estas, menos material é o trabalho. Não deduzais daí, porém, que o homem se conserve inativo e inútil. A ociosidade seria um suplício, em vez de ser um benefício.”

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• Item 679 •
679: Achar-se-á isento da lei do trabalho o homem que possua bens suficientes para lhe assegurarem a existência?
“Do trabalho material, talvez; não, porém, da obrigação de tornar-se útil, conforme os meios de que disponha, nem de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que também é trabalho. Aquele a quem Deus facultou a posse de bens suficientes a lhe garantirem a existência não está, é certo, constrangido a alimentar- -se com o suor do seu rosto, mas tanto maior lhe é a obrigação de ser útil aos seus semelhantes, quanto mais ocasiões de praticar o bem lhe proporciona o adiantamento que lhe foi feito.”

Parte Terceira • Das leis morais • Necessidade do trabalho
• Item 680 •
680: Não há homens que se encontram impossibilitados de trabalhar no que quer que seja e cuja existência é, portanto, inútil?
“Deus é justo e, pois, só condena aquele que voluntariamente tornou inútil a sua existência, porquanto esse vive a expensas do trabalho dos outros. Ele quer que cada um seja útil, de acordo com as suas faculdades.” (643)

Parte Terceira • Das leis morais • Necessidade do trabalho
• Item 681 •
681: A Lei da Natureza impõe aos filhos a obrigação de trabalharem para seus pais?
“Certamente, do mesmo modo que os pais têm que trabalhar para seus filhos. Foi por isso que Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural. Foi para que, por essa afeição recíproca, os membros de uma família se sentissem impelidos a ajudarem-se mutuamente, o que, aliás, com muita frequência se esquece na vossa sociedade atual.” (205) Limite do trabalho. Repouso

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• Item 682 •
682: Sendo uma necessidade para todo aquele que trabalha, o repouso não é também uma Lei da Natureza?
“Sem dúvida. O repouso serve para a reparação das forças do corpo e também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, a fim de que se eleve acima da matéria.”

Parte Terceira • Das leis morais • Limite do trabalho. Repouso
• Item 683 •
683: Qual o limite do trabalho?
“O das forças. Em suma, a esse respeito Deus deixa inteiramente livre o homem.”

Parte Terceira • Das leis morais • Limite do trabalho. Repouso
• Item 684 •
684: Que se deve pensar dos que abusam de sua autoridade, impondo a seus inferiores excessivo trabalho?
“Isso é uma das piores ações. Todo aquele que tem o poder de mandar é responsável pelo excesso de trabalho que imponha a seus inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a Lei de Deus.” (273)

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• Item 685 •
685: Tem o homem o direito de repousar na velhice?
“Sim, que a nada é obrigado, senão de acordo com as suas forças.” a) Então, que há de fazer o velho que precisa trabalhar para viver e não pode? “O forte deve trabalhar para o fraco. Não tendo este família, a sociedade deve fazer as vezes desta. É a lei de caridade.” Não basta se diga ao homem que lhe corre o dever de trabalhar. É preciso que aquele que tem de prover à sua existência por meio do trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece. Quando se generaliza, a suspensão do trabalho assume as proporções de um flagelo, qual a miséria. A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre a produção e o consumo. Esse equilíbrio, porém, dado seja possível estabelecer-se, sofrerá sempre intermitências, durante as quais não deixa o trabalhador de ter que viver. Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos.

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