Cartas de Uma Morta

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Capítulo XIII

No Plano dos desencarnados


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Ainda há pouco tempo, meu filho, manifestaste o desejo de que eu te descrevesse o local onde agora me acho no Plano espiritual. É bastante difícil uma descrição literal, com respeito ao meu novo ambiente, mas vou tentar faze-lo, apesar das deficiências naturais que se me apresentam.

A Terra é o centro, isto é, a sede de grande número de Esferas espirituais que a rodeiam de maneira concêntrica. Não posso precisar o número dessas Esferas, porque elas se alongam até um limite que a minha compreensão, por enquanto, não pode alcançar.

Quanto mais evoluído o ser, mais elevada será a sua habitação, até alcançar o ponto em que essas Esferas se interpenetram com as de outros mundos mais perfeitos, seguindo os Espíritos nessa escala ascendente do progresso, sob todos os seus aspectos. Somente agora consegui passar à segunda Esfera, depois de penosos labores em favor do burilamento de minha personalidade. Procurarei resumir o mais possível para oferecer-te uma ideia do meu habitat.



Aqui, filho, sinto-me surpreendida, porque vejo uma espécie de continuação do planeta que deixamos. Imagina a Terra, cheia de suas belezas naturais, porém, moralmente mais aperfeiçoada e terás a imagem dessa segunda Esfera que me serve de habitação.

Temos casas, pássaros, animais, reuniões, institutos como os das famílias terrenas, onde se agrupam os Espíritos através das mais santas afinidades.

A arte aqui é mais linda e mais perfeita e, como o culto a Deus, faz parte integrante de todas as coisas de nossa nova vida, há muita alegria entre nós. Eu, por exemplo, sinto-me rodeada de companheiros muito bondosos, com quem me entrego às tarefas que me são afetas.



O local onde nos encontramos é como se fora grande distrito terreno, sob a orientação de um chefe. Ainda outro dia, desejavas saber as coisas mais pormenorizadamente e eu busco satisfazer-te a curiosidade.

Nosso governador chama-se Áulus, se é que posso transmitir-te o nome em linguagem equivalente ao dicionário terreno. É um elevado Espírito, cujo progresso e superioridade estamos distantes de alcançar. Foi um dos mártires anônimos do cristianismo nascente e, desde épocas remotas, semelhante entidade vem acendrando a sua evolução que segue em altos voos para o regaço do amor de Deus. Chamamo-lo Príncipe, se é que podemos dizer-te tudo, de modo que possas compreender.

E, quanto a nós, que o obedecemos alegremente, integrados no conhecimento da hierarquia que aqui é alguma coisa bem mais sagrada que a que se conhece na Terra, não estamos inativos. Toda a atividade do distrito espiritual sob a administração de Áulus se compõe de núcleos destinados a socorros e auxílios a quantos se debatem entre as incertezas e as lágrimas da Terra.



Nossa especialidade é examinar as preces dos seres terrenos, acudindo às casas de oração ou a qualquer lugar onde há um Espírito que pede e que sofre. As rogativas de cada um, então, são anotadas e examinadas por nós, procurando estabelecer a natureza da prece, os seus méritos e deméritos, sua elevação ou inferioridade para podermos determinar os socorros necessários. Até as orações das crianças são tomadas em consideração: qualquer pedido, qualquer súplica, tem a sua anotação particular. Há orações sublimes que se elevam da Terra até o nosso distrito, tão puras elas são, todavia, que atravessam as nossas regiões como jatos de luz, buscando Esferas mais altas e mais elevadas que a nossa. Existem, igualmente, as imprecações mais negras e mais dolorosas. Todas, contudo, merecem o nosso particular carinho e acurada atenção.

Há muitos Espíritos elevados sob as ordens imediatas de Áulus, e que vêm até nós transmitindo as ordens necessárias. Chamamo-los anjos, para te dar a expressão do respeito e da veneração que esses elevados seres nos merecem, e sempre um desses anjos chefia as nossas expedições para atender os que erram e padecem, nos torvelinhos da luta material.



Da Esfera em que me encontro percebo perfeitamente que existe uma escada de luz atravessando os abismos ligando as Esferas umas às outras. A região imediatamente vizinha da Terra abriga muitos sofredores e muitos desesperados. Aí, frequentemente, descemos para buscar irmãos nossos que suplicam e choram, implorando o socorro e o auxílio de Deus.

Nessa região há organizações perfeitas e inúmeras de muitos Espíritos do mal, que, reunindo-se uns aos outros, formam congregações nefastas e terríveis. Nosso combate é contínuo para por os encarnados a salvo de suas traições e sevícias.

Temos igualmente horas de repouso, onde formamos projetos santificados e belos, acerca dos nossos bem amados que aí estão para nós como mortos, sepultados nos túmulos da carne. Muitas almas amantes, que poderiam ter ascendido a Planos mais superiores e formosos, aqui prosseguem ajudando aos que pelejam, estacionando voluntariamente nessas Esferas inferiores, nas quais me encontro, para esperarem um noivo, um pai, um irmão, uma mãe, muitos queridos do coração.



Ainda aí observarás que se existem os abismos tenebrosos como as regiões infernais de certos Planos na erraticidade, ou como os purgatórios da Terra, há também o recurso da bondade divina, que constantemente concede a cada qual um anjo tutelar, um estímulo sagrado em favor de seu aperfeiçoamento e redenção.

Há entidades, aqui, que só cuidam da confecção dos trajes de seus companheiros, há música e instrumentos mais perfeitos e mais adaptáveis à harmonia que os conhecidos na Terra. Temos festas e assembleias seletas, meios de comunicação, visões à distância, através de processos que os homens estão ainda muito longe de entender. Todos os nossos trabalhos e atividades são regulados por leis de vibrações daí desconhecidas. A nossa matéria é mais delicada, o mundo vegetal muito mais soberbo e mais rico, minerais também os há, mais complexos e mais formosos nas suas estranhas colorações. Mas já é tarde e precisamos nos separar. Pretendo revelar ainda muita coisa de nossas ocupações e do nosso modo de vida, tendo obtido a permissão superior para isso. Por hoje é só. Fiquem todos na paz de Jesus, nosso Divino Salvador.




Maria João de Deus
Francisco Cândido Xavier

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