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Capítulo IX

Prêmio Nobel da Paz

Em todo o Brasil, e mesmo em vários outros países, há uma campanha para que se outorgue a Francisco Cândido Xavier, o nosso Chico Xavier, autor de quase duas centenas de livros mediúnicos, o Prêmio Nobel da Paz.

O movimento, que conta com o apoio e a simpatia da maioria dos brasileiros, ganhou os vários meios de comunicação e, em toda a parte, ouvimos palavras de carinho e reconhecimento a quem transformou a própria existência em serviço aos que sofrem.

No intuito de satisfazer a muitos que gostariam de ouvir-lhe falar sobre a indicação de seu nome ao Prêmio Nobel, formulamos algumas questões, que acreditamos sejam de interesse geral, que reproduzimos abaixo com as respectivas respostas do nosso estimado companheiro.



— Com muita surpresa, porquanto nunca pensei numa indicação dessas.



— Ao que estou informado, a ideia foi apresentada por Augusto César Vannucci, nosso distinto escritor uberabense, residente no Rio, em um dos números de “Manchete”, no mês de janeiro findo, daquela Capital. À ideia generosa de Vannucci, amigo a quem muito prezamos, outros amigos se associaram e o assunto adquiriu extensão.



— Num caso de generosidade espontânea qual o de Augusto César Vannucci, e conquanto me reconheça sem qualquer merecimento para a concessão proposta, recusar-me à apresentação dele seria de minha parte uma descortesia das mais grossas, mesmo porque, mesmo em se tratando de Vannucci, que considero amigo particular, desde muito tempo, creio que ele terá tido o propósito de homenagear a Doutrina Espírita ligada ao Evangelho de Jesus, e não a mim.



— Respeito profundamente a política; no entanto, em minha condição pessoal, não vejo qualquer conexão política no assunto.



— Isso não me surpreenderia, de modo algum. O movimento a que você se refere não partiu de mim, nem mesmo através das mais remotas intenções. Sendo essa campanha ideada e lançada por amigos, permaneço no respeito que devo a todos eles. Quanto a esse ou aquele resultado, em qualquer circunstância, ficarei, de mim para comigo, na convicção de que receber da Divina Providência o reconforto de ter amigos na terra em que nasci é para mim muito mais importante que conquistar distinções em outra parte do mundo, muito embora considere essas distinções sumamente respeitáveis.


— Nunca recusei quaisquer gentilezas, pois a Doutrina Espírita me ensina a ser agradecido.

As diversas cidadanias conferidas a este seu servidor, igualmente surgiram de companheiros estimáveis, em cidades diversas, que aceitei sempre para restituir a eles semelhantes troféus, o que fiz no momento de recebe-los, entendendo que essas demonstrações pertencem a eles, dignos representantes do ideal espírita, junto às comunidades que integram. Não me cabia desprezar uma honra que distingue os nossos companheiros e que me competia acolher para entregar-lhes de retorno, o que, em sã consciência, nunca deixei de fazer.


— Oitenta e duas cidades brasileiras homenagearam a Doutrina Espírita-cristã, em nosso nome, mas até hoje somente em quatorze cidades pude comparecer para entregar esses títulos aos companheiros espíritas que residem nelas, restando ainda sessenta e oito. Forneço o número exato, unicamente com a intenção de rogar desculpas aos amigos que me esperam, junto aos quais ainda não me foi possível comparecer até agora, em vista de tratamento de saúde em que me encontro e das tarefas encadeadas que me prendem ao dever em nossa própria cidade.



— De modo algum. Para falar a verdade, tenho sido sempre alguém com tamanha luta para compreender a mim mesmo, que nunca me passou pela cabeça a ideia de estar trabalhando pela compreensão entre os homens. O Evangelho de Jesus, na Doutrina Espírita, representa uma luz a me mostrar a imensidade do esforço que tenho a fazer para melhorar-me. Se a pergunta me compele a examinar a palavra “benfeitor”, devo esclarecer que se existem pessoas que se beneficiaram, com essa ou aquela atividade, de que tenho compartilhado, semelhantes benefícios terão nascido dos Benfeitores Espirituais que nos amparam e que habitualmente se servem de minhas modestas faculdades mediúnicas e não de mim próprio.



— Nunca esperando a indicação de meu pobre nome para uma honraria tão alta, eu mesmo, que reconheço não merecer honra algum, não estou em condições de saber quais seriam esses parâmetros.



— Há várias décadas, encontrei tanta alegria e tantas bênçãos de paz nos serviços de médium, entre os Benfeitores Espirituais e os Amigos do Plano Físico, ou melhor, entre os Bons Espíritos e os Homens, nossos irmãos e irmãs da Humanidade, que, a meu ver, conquanto respeito profundamente as homenagens e honrarias propriamente da Terra, nenhuma premiação especial do mundo seria para mim maior que esta: — a de prosseguir cumprindo os meus deveres mediúnicos, tanto quanto isso se me faça possível.

E peço licença para dizer que penso desse modo porque os amigos da vida comunitária poderão, por bondade, homenagear o trabalho dos Bons Espíritos, em mim, que me reconheço claramente sem méritos para isso; e os Bons Espíritos, embora conhecendo, os meus defeitos e imperfeições de criatura humana que sou, há mais de meio século, têm me aceitado em serviço deles, com tolerância e benemerência.



— Considero que a presença de Jesus, na Terra, se reveste de tamanho brilho, que a nós outros, os cristãos das várias interpretações do Evangelho, compete a obrigação de espalhar-lhe a divina luz, entre as criaturas, seja qual for o lugar onde estivermos, compreendendo ainda, de minha parte, que deve ser para nós uma grande alegria a possibilidade de apagar-nos, a fim de que a luz do Senhor possa resplender, em favor de todos, sem nos esquecermos de que Ele é chamado por todos os povos de Príncipe da Paz.



— Creio que em todas as correntes religiosas do mundo existem homens e senhoras admiráveis pela grandeza espiritual e pela abnegação com que se consagram ao bem dos semelhantes, e todas essas personalidades são dignas do nosso maior apreço. Entretanto, imagino que se a uma formiga fossem concedidos os precisos recursos para indicar quem seria o seu maior benfeitor, e aquele a quem se deveria conferir o maior prêmio do mundo, a formiga, certamente, votaria no Sol que lhe garante a vida. Eu, na condição de inseto humano, se fosse convidado a me pronunciar sobre o mais alto vulto da Humanidade, digno de receber o Prêmio Nobel da Paz, votaria em Jesus-Cristo, entregando-se os benefícios de semelhante premiação aos nossos irmãos internados, nas instituições de assistência social, das quais Jesus é sempre a inspiração, a força, a bênção e o alicerce de origem.



— Tenho aprendido com os Benfeitores Espirituais que a paz é a doação que podemos oferecer aos outros sem tê-la para nós mesmos. Isto é, será sempre importante renunciar, de boa vontade, às vantagens que nos favoreceriam, em favor daqueles que nos cercam. Em razão disso, seríamos todos nós, artífices da paz, começando a garanti-la por dentro de nossas próprias casas e dos grupos sociais a que pertençamos.


— A meu ver, infelizmente para nós, ainda não conseguimos, nos múltiplos segmentos da coletividade, desprender-nos das ideias possessivas, esquecendo interesses pessoais, para que os outros, tanto quanto nós, amem a Deus a seu modo e aspirem a encontrar a felicidade no mesmo ritmo de esperança com que a procuramos. Em suma, ainda nos achamos distantes da Regra Áurea, que nos ensina “a desejar para os outros aquilo que para nós desejamos”. (Mt 22:39) ()



— Esperemos que o amor se propague no mundo com mais força que a violência e a violência desaparecerá, à maneira da treva quando a luz se lhe sobrepõe. Consideremos, porém, que essa obra, naturalmente, não prescindirá da autoridade humana, mas na essência e na prática exige a cooperação de nós todos.



— Admitimos que, enquanto existirem criaturas espiritualmente armadas, nos próprios sentimentos, umas contra as outras, existirão armas e enquanto existirem armas no mundo, a guerra pode surgir. Entretanto, observamos que a ordem na vida cósmica é de tal modo absoluta, que o homem é capaz de exterminar as suas próprias possibilidades de existência para recomeçar essa mesma existência, provavelmente, em condições mais difíceis, em outros moldes e recursos de vida, mas não acreditamos que o homem consiga estabelecer o caos onde Deus criou a harmonia e a segurança.



— Sobre o assunto, o nosso benfeitor espiritual Emmanuel nos disse, certa vez: “O banho não resolve o problema da higiene, no mundo; entretanto, embora não possamos dispensar as lições e providências dos higienistas, cada criatura humana precisa de banho, de modo a não cair na imundície”.

Acreditamos que as administrações na Terra, gradativamente, estão resolvendo o problema da penúria, mas até que o problema seja solucionado, admito seja nossa obrigação auxiliar-nos, uns aos outros, para que as provações da carência sejam atenuadas.

Em toda organização social, muitos devem garantir a superestrutura, outros muitos são chamados à sustentação da estrutura, no entanto, pelo menos alguns, se não houverem muitos, precisam cooperar na construção ou na reconstrução da infra-estrutura em apoio à segurança do edifício.

Para muita gente um prato de sopa é uma bênção, até que o necessitado possa dispensá-lo.

O próprio Jesus compadeceu-se da multidão que o seguia e para que os ouvintes dele conseguissem a devida força para lhe guardarem os ensinamentos não quis despedi-los em jejum.



— Caro amigo, do que posso saber, até hoje, creio que a melhor forma de servirmos a Jesus será viver, na prática, o ensinamento que Ele próprio nos deu: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.” (Jo 13:34)



O médium Francisco Xavier recebeu a reportagem de MANCHETE e comentou com desenvolvimento a indicação de seu nome para o Nobel da Paz. Nesta entrevista exclusiva, Chico confessa com humildade que o troféu, em si, é uma honraria da qual não se julga merecedor. E aproveita a oportunidade para tecer comentários sobre outros temas.



— Esta indicação partiu da generosidade de amigos. Não me considero merecedor de um troféu desta natureza. Respeito o trabalho dos amigos, e fico reconhecido. Mas sou consciente de minha desvalia.


— Não posso prever nada. Creio que muitos brasileiros, tanto da religião, como da política, da ciência ou da literatura, por exemplo, estão perfeitamente habilitados a trazer este prêmio para nosso país.



— Ambos estão maravilhosamente habilitados. O papa é um grande apóstolo da paz. No caso de Walesa, não tenho opinião formada, pois me falta experiência de vida sindical.



— Nesta época de inflação, convém lembrar que temos também muitos recursos. Apesar das queixas, noto que nunca se viajou tanto no Brasil, que nunca se vestiu tão bem e que há muitos salários elevados. Temos tido festas e carnavais maravilhosos. Não há pois que clamar tanto contra a penúria. Na condição de brasileiro, desejo realmente que a inflação baixe. Mas isso é assunto para nossos administradores. Vamos pedir a Deus que eles encontrem orientação para que nossas despesas não ultrapassem nossas receitas.


— Repito: é uma situação muito singular que, pessoalmente, noto nas classes brasileiras: uma inflação muito alta — indicando uma conjuntura difícil —, e, ao mesmo tempo, um conforto generalizado. Não quero absolutamente criticar nossos governantes, que acredito tudo fazerem para melhorar nossa situação. Sinto que, com a bênção de Deus, temos a paz que todos os brasileiros desejam preservar. Se um dia tivéssemos a infelicidade de perder esta paz poderíamos então avaliar melhor o quanto somos felizes agora, no contexto de um mundo agitado como o de hoje.



O Comitê Nobel de Oslo atribuiu o Prêmio Nobel da Paz de 1981 ao Alto Comissariado das Nações Unidas Para os Refugiados (ACNUR), no dia 14/10/81. Sobre essa decisão do Comitê, o Unificação foi ouvir as opiniões de Chico Xavier e da Dra. Marlene Rossi Severino Nobre, integrante da Comissão Nacional Pró-Indicação de Francisco Cândido Xavier ao Nobel da Paz.




CHICO XAVIER. — Nós estamos muito felizes em saber que um prêmio dessa ordem coube a uma Organização que já atendeu a mais de 18 milhões de refugiados em todo o mundo. A Organização detentora do prêmio é mais do que merecedora dessa homenagem do mundo, através do Prêmio Nobel da Paz. Nós todos deveríamos instituir recursos para uma organização como essa, onde mais de 18 milhões de criaturas encontraram apoio, amparo e bênçãos. Nós estamos muito contentes e, sem falsa modéstia, nós nos regozijamos com os resultados dessa comissão que foi tão feliz nessa escolha, porque, graças a Deus, estamos muito bem.

Para fazer um pouco de alegria nos corações, vamos dizer que não tivemos, na Doutrina Espírita, o Prêmio da Paz mas estamos com a PAZ DO PRÊMIO.




DRA. MARLENE — Essa entidade está há muitos anos indicada para o Prêmio; a Madre Teresa foi distinguida na terceira indicação. O Chico Xavier tem ainda muitas chances. Se Deus quiser, ainda o teremos escolhido, porque sabemos perfeitamente que ele tem todas as virtudes para conquistar o Nobel da Paz.



DRA. MARLENE — Se não for automaticamente, nós faremos uma nova inscrição até fevereiro de 1982. A Comissão continuará trabalhando. Acredito que, o que conseguimos da união da família espírita em torno da ideia em todo o Brasil; o que conseguimos com as edições, em quatro línguas, do Resumo dos 183 livros do Chico representou muito para o Movimento Espírita. Em termos de divulgação da Doutrina, não só no Brasil como também no Exterior, já foi um prêmio para nós, porque os livros estão sendo colocados em todas as bibliotecas do mundo.


Francisco Cândido Xavier
Emmanuel


Francisco Cândido Xavier

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Mateus 22:39

E o segundo semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

mt 22:39
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João 13:34

Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros: como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.

jo 13:34
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