Capítulo XV

Posse


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Compreende-se que a ignorância induza o homem à incredulidade e à violência, porquanto obsessão e loucura podem assaltar a todos aqueles que abdicam do raciocínio e do estudo. Entende-se, também, que a ilusão incline a criatura para a vaidade e para o vício, de vez que paixão e egoísmo cegam facilmente a quem se compraz no desequilíbrio ou se habitua à ociosidade.

Entretanto, como explicar a gana dos que ajuntam posses e posses, sem qualquer proveito para si mesmo ou para os outros, quando sabem pela experiência dos próprios antepassados que esbarrarão com novo câmbio, nas fronteiras da morte?

Para que tanta carga se apenas conseguirão transportar os valores que carreiam consigo?

Além disso, além dessa megalomania no terreno das posses materiais, temos outras espécies de avareza. Aqui e ali, surpreendemos sovinas de honras e vantagens, ciosos de estima e ganho, que almejariam carregar, para além do túmulo, títulos e pertences, quando se encontram absolutamente certos de que nada mais levarão para lá da morte senão a si mesmos.

Indiscutivelmente, é preciso amar a tarefa que a vida nos atribui para que ela seja executada com segurança, no entanto, é forçoso que a nossa dedicação não se transforme em apego excessivo, como se fôssemos árvores dispostas a devorar os próprios frutos; por outro lado, é justo que o nosso desprendimento não se faça irresponsabilidade, qual se trabalhássemos longo tempo numa obra prima de estatuária, a fim de entregá-la, voluntariamente, a injúria de malfeitores.

Saibamos conquistar com equilíbrio e honestidade os bens da vida que o Senhor nos empresta, fazendo-os prosperar em serviço e progresso, educação e beneficência, na felicidade geral. Possuir, sim, mas não sermos possuídos, porque os possuídos, quase sempre, estão possessos.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

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