Assim Dizia o Mestre

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CAPÍTULO 35
Ilustração tribal

"NÃO LANCEIS AS VOSSAS PÉROLAS AOS PORCOS!


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É experiência e doutrina de todos os mestres espirituais da humanidade que as grandes revelações ou inspirações que Deus faz a certos homens devam ser conservadas em segredo, para que não desmereçam. São como essências preciosas, que, quando em recipiente aberto, se volatilizam rapidamente. "Não deis as coisas sacras aos cães, nem lanceis as vossas pérolas aos porcos!". . .

Na origem de toda vida nova, entre os homens, colocou a natureza o instinto do pudor. O animal nada sabe de pudor; pratica os atos sexuais na mais ampla publicidade. Também a criança, antes do despertar do intelecto, ignora o que seja pudor; desnuda-se com toda a sem-cerimônia diante de outros. Só o homem adulto e normal tem consciência do pudor e procura cercar de segredo e reverência a origem da vida e os órgãos relacionados com esse ato. O senso do pudor é uma sentinela que a natureza colocou à entrada do santuário da vida.

A vida corporal é algo sagrado, divino.

A vida espiritual é mais sagrada e divina ainda, e por isso deve estar envolta também em mistério, sobretudo a sua origem, ainda frágil e delicada. O encontro da alma humana com Deus é uma espécie de núpcias, como testificam todos os livros sacros da humanidade; a alma "concebe" uma prole pela virtude do Altíssimo, fecundada pelo Verbo de Deus. E essas núpcias divino-humanas devem ficar envoltas em mistério e cercadas de pudor. Aqui, a publicidade ou prostituição seria muito mais deletéria ainda do que no plano da profanação dos corpos. Tão grande é a sacralidade da vida espiritual que até a menor profanação equivale a um sacrilégio.

Por isso previne Jesus os seus discípulos para que não deem as coisas sacras aos cães, nem lancem as suas pérolas aos porcos, "para que estes não lhes metam as patas e, voltando-se contra vós, vos dilacerem".

Quando o homem espiritual revela, indiscriminadamente, aos profanos e imaturos as pérolas da sua experiência com Deus, que acontece? Os profanos não compreendem tão profundo mistério, porque não possuem ainda órgão de percepção desenvolvida, e, pior do que isto não raros compreendem às avessas as coisas sagradas, e, em vez de as acatar, delas escarnecem e as têm em conta de ilusão e de anormalidade. Para o profano, o iniciado é um doente, um louco, um anormal.

Quando lançamos um punhado de pérolas preciosas a um porco, este, cuidando receber uma espiga de milho ou de batata, avança sôfrego e metelhes as patas para as comer; mas logo depois, verificando o engano, se enfurece e, revoltado com o ludíbrio, investe contra quem lhe deu apenas pérolas indigestas, em vez de umas batatas suculentas.

Que valor tem para o profano uma hora de meditação espiritual, ou uns momentos de fervoroso colóquio com Deus? Que valor dá ele ao conhecimento de si mesmo, ao estudo do livros sacros ou à intuição mística da Suprema Realidade? Essas pérolas são para ele coisas insípidas, fastidiosas, indigesta " – se ao menos fosse um punhado de notas de banco, uma noitada de orgias sexuais ou a eleição para um rendoso cargo público!. . . Essas coisas, sim, têm valor para ele, porque satisfazem a fome do seu ego humano, ao passo que aquelas outras que se referem aos anseios do Eu divino são, para o profano, insípidas e absurdas. É que cada um pensa e age consoante a medida do seu conhecimento ou da sua ignorância. . .

Por isso, o mestre espiritual sensato não revela indistintamente aos outros o que Deus lhe revelou. Mede cuidadosamente a capacidade de cada um. . . Sabe quais são os avançados, e quais os atrasados, os esotéricos e os exotéricos.

Fala, muitas vezes, em parábolas e alegorias, para que cada um interprete os símbolos materiais segundo a sua capacidade evolutiva e perceba do simbolizado espiritual precisamente aquilo que corresponde ao estado atual da sua evolução. "Àqueles dentre vós que ainda são infantes em Cristo – escreve São Paulo aos coríntios – dei-lhes leite para beber; mas aos que são adultos em Cristo dei-lhes comida sólida. " "O mestre versado nas coisas do reino de Deus – diz Jesus – tira do tesouro do seu coração coisas velhas e coisas novas. " Muitos sabem assimilar as "coisas velhas" da tradição secular, sabem andar com segurança nos caminhos batidos do passado, por onde milhares e milhões transitam – poucos sabem aproveitarse das "coisas novas" da evolução espiritual, poucos sabem orientar-se nas veredas ignotas e estreitas da experiência mística, por onde pouquíssimos passam, em solidão e silêncio. . .

A verdade é alimento para uns – e veneno para outros. . .

Por isso, o mestre do reino de Deus deve saber doar judiciosamente as verdades que transmite a seus discípulos, para que as "coisas sacras" e as "pérolas" cheguem às almas daqueles que são idôneos de as receber e assimilar.



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