Assim Dizia o Mestre
Versão para cópia
"ESTÁ A SABEDORIA JUSTIFICADA EM SUAS OBRAS. "
João Batista era considerado por alguns dos seus contemporâneos, diz Jesus, como "possesso do demônio", pelo fato de não levar vida social como os outros nem se alimentar como eles; era um homem "anormal".
Jesus, o Nazareno, era chamado por alguns "comilão e bebedor de vinho", porque levava vida "normal", comia e bebia como os outros e aceitava convite para festas e banquetes.
Esses descontentes de parte a parte, diz Jesus, são como crianças a brincar em praça pública; uns querem brincar de enterro, cantando lamentações;
outros querem brincar de casamento, cantando canções alegres – e os dois grupos não se entendem; uns acusam os outros de tristonhos, e são por estes acoimados de galhofeiros.
É impossivel contentar a todos.
O Nazareno, porém, não está disposto a se guiar por opiniões alheias. Possui dentro de si mesmo a sapiência do reino dos céus, e não necessita orientar-se pela insipiência dos que ignoram essa norma interna. Os seus inimigos se guiam por caprichos pueris, ele se guia pela sabedoria de adulto. "Está a sabedoria justificada em suas obras" (a Vulgata diz "Filhos", em vez de "obras", mas esta última leitura merece mais crédito, embora também existam alguns códices gregos com leitura da Vulgata latina).
Enuncia aqui o divino Mestre o critério fundamental de todo homem espiritualmente adulto: não necessita de opiniões alheias nem de orientação por meio de terceiros o homem que despertou em si a luz do reino de Deus.
Inicialmente, é verdade, todo homem é alocrático, governado por outros;
necessita de tutores e condutores, doutrinas, credos, dogmas, ritos, como criança incapaz de andar sozinha. E essas escoras e muletas externas são justificadas durante esse período evolutivo. Ai do homem que se emancipar das disciplinas externas antes de alcançar a conveniente disciplina interna!
Quem não é internamente livre não deve reclamar liberdades externas; e sem a experiência divina ninguém atinge verdadeira libertação interior: esse despertar do Cristo interno, essa alvorada do reinado de Deus no homem, esse acordar da voz de dentro, da luz interna, esse renascimento pelo espírito é que inicia o glorioso período do homem autocrático, governado pelo Eu divino (não pelo ego humano!).
Milhares de homens procuram libertar-se do jugo da alocracia, da disciplina de guias externos e de credos, sem terem atingido as alturas de uma sólida autocracia espiritual – e caem no torvelinho caótico da egocracia mental e emocional, de um orgulhoso luciferismo que eles intitulam "liberdade" ou "liberalismo".
A verdadeira liberdade é uma servidão absoluta e incondicional ao supremo tribunal da consciência, que é a voz divina no homem. Fora dessa "tirania" da consciência não há liberdade. Quem não é servo de Deus é escravo dos homens e de todas as coisas que o circundam. Livre é somente aquele que presta obediência absoluta e incondicional à vontade de Deus.
Essa obediência, porém, é impossivel sem uma profunda humildade, porque só a verdade nos pode libertar, e humildade não é outra coisa senão a verdade do homem sobre si mesmo. Enquanto o homem se identifica com o seu ego físico-mental-emocional, não é livre, e por isso pode cair vítima de orgulho e vanglória; mas, quando descobre o seu Eu divino, o espírito de Deus que nele habita, ultrapassa todas as possibilidades de orgulho e vanglória, porque a verdade o libertou de todas as escravidões ilegítimas e o fez servo da única escravidão legítima, que é o império da Verdade.
"Está a sabedoria justificada em sua obras". . .
Com o ingresso nessa zona da sabedoria que é a voz da verdade, entra o homem numa zona de segurança, clareza, tranquilidade e imperturbável felicidade interior. . .
Liberdade, verdade, felicidade – três palavras que significam a mesma realidade suprema: o reino de Deus dentro do homem.