Assim Dizia o Mestre
Versão para cópia
"QUEM TEM FÉ EM MIM, AINDA QUE TENHA MORRIDO, VIVERÁ PARA SEMPRE. "
Essas palavras, que Jesus disse a Marta, ao pé do túmulo da Lázaro, são de uma importância única nos anais da humanidade e na vida de cada homem em particular. Afirma um homem que "morrer" ou "estar morto" não é algo definitivo, mas um estado provisório, uma transição ou metamorfose para outros estados. E isso não é, nos lábios desse homem estranho, uma figura poética ou uma frase oratória – é a mais pura realidade, que ele mesmo comprovou com sua vida, morte e ressurreição.
Aqui na Terra só conhecemos duas coisas cientificamente certas:
1) a vida presente;
2) a morte futura. Além desses dois há, todavia, um terceiro fato certo e comprovado, embora nem todos o conheçam de experiência imediata: a sobrevivência do indivíduo humano após a morte física. O fato da sobrevivência do homem à sua morte material é uma realidade tão antiga como a própria humanidade, afirmada tanto pelos livros sacros como também pela experiência multimilenar da história da humanidade em geral.
O que, todavia, não se pode demonstrar cientificamente é a imortalidade, uma vida eterna após-morte; pois a sobrevivência não é a imortalidade.
Sabemos que os vivos morrem e que os mortos sobrevivem – mas não sabemos cientificamente se os sobreviventes vivem eternamente, uma vez que no mundo da sobrevivência também impera a morte, como os próprios sobreviventes confessam. Os sobreviventes também são mortais.
Podem os mortos sobreviver séculos, e talvez milênios, em seus corpos astrais, etéricos, causais, mentais, ou que outro nome tenham; e essa sobrevivência temporária foi provada experimentalmente em milhares de casos. Mas nunca nenhuma experiência de laboratório, de física, de química, de matemática, nem o aparecimento espontâneo de uma entidade em corpo imaterial provou a imortalidade. Esta, por sua própria natureza, não pode ser objeto de provas científicas, mas é assunto exclusivo de uma experiência espiritual, íntima, dentro do próprio sujeito. Quem não viveu e vive a sua imortalidade seja antes seja depois da morte física, esse não tem certeza da vida eterna, embora conheça a sobrevivência. A certeza da vida eterna não é presente de berço nem de esquife, não é dada pela vida nem pela morte – mas é uma conquista suprema da vivência. Dela não sabem nem os vivos nem os mortos – mas tão-somente os viventes, os sempre viventes, que existem, embora poucos, tanto entre os vivos como entre os sobreviventes, mas não se identificam nem com estes nem com aqueles.
A todos nós que aqui estamos, escritor e leitores, já nos "aconteceu" o nascer, e dentro em breve nos "acontecerá" o morrer, seguido pelo sobreviver – mas nem o nascer, nem o morrer nem o sobreviver conferem o sempre-viver, a imortalidade. A imortalidade potencial, é verdade, existe em cada um de nós, é um presente de berço, oferecido a todo ser humano – porém a imortalidade atual não existe automaticamente, mas deve ser conquistada livremente; não é algo que nos "acontece" de fora, mas é algo que deve ser "produzido" de dentro. É esse o "novo nascimento pelo espírito", é essa a "entrada no reino dos céus".
Somente os viventes, os sempre-viventes, é que sabem o que é Deus, porque sabem o que são eles mesmos.
Jesus, o Cristo, o maior dos sempre-viventes que a história conhece, faz depender da "fé" essa misteriosa realização da vida eterna. "Quem tem fé em mim viverá para sempre. " Esse "ter fé" deve ser algo imensamente poderoso, uma vez que crea vida eterna, para além de todas as vidas, mortes e sobrevivências temporárias. "Ter fé", na linguagem de Jesus, não é crer, é ter experiência vital de Deus; é conhecer e compreender a Deus por meio de uma atitude de intuição ou vivência íntima, divina. Quem teve essa vivência sabe o que ela é; quem não a teve não sabe o que é, porque nenhuma definição externa pode dar ideia exata da experiência interna. Aqui é "ser para saber". "A vida eterna – diz o Mestre – é esta: que os homens te conheçam, o Pai, como o único Deus verdadeiro, e o Cristo, teu Enviado. " Viver eternamente, ser imortal, é, pois, uma permanente atitude de conhecimento intuitivo, espiritual, uma visão direta da Suprema Realidade.
Sendo que Deus é imortal por sua íntima essência, o homem só terá imortalidade individual se se unir intimamente à Imortalidade Universal de Deus. "Unir" quer dizer tornar uno, ter a consciência vital de que o nosso íntimo ser coincide com o Ser da Divindade – "Eu e o Pai somos um" – embora o nosso externo existir seja diferente de Deus – "mas o Pai é maior do que eu".
Isso é "ter fé no Cristo" – saber que "já não sou eu que vivo, mas o Cristo vive em mim".