Assim Dizia o Mestre

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CAPÍTULO 29
Ilustração tribal

"UM HOMEM PREPAROU UM GRANDE BANQUETE E CONVIDOU MUITA GENTE. "


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De todos os setores da vida humana tira o Mestre os seus símbolos materiais para ilustrar o grande simbolizado espiritual, o mistério do reino de Deus – da lavoura, da horticultura, da pomicultura, do ambiente doméstico, culinário; e desta vez entra na zona da vida social do seu país. O reino dos céus é semelhante a um homem rico que preparou um grande banquete para celebrar as núpcias de seu filho. E, na hora do banquete, mandou os seus servos a fim de chamarem os convidados para o festim. Estes, porém, começaram a alegar pretextos vários para não comparecer.

Um dos convidados disse: "Comprei uma quinta, e preciso ir vê-la; rogo-te me tenhas por escusado".

Outro respondeu: "Comprei cinco juntas de bois, e preciso experimentá-los;

rogo-te me tenhas por escusado".

Um terceiro replicou: "Casei-me, e por isso não posso ir". Este nem sequer pediu desculpas.

Os mensageiros relataram tudo isso a seu senhor. Ao que este lhes ordenou: "Ide pelos povoados e aldeias e convidai todos os que encontrardes, cegos, coxos, aleijados, para que se encha a minha casa. " E assim se fez.

Mas nenhum daqueles que haviam sido convidados em primeiro lugar provou o banquete.

Aí está um retrato fiel da humanidade de todos os tempos!

Todos são convidados para a grande solenidade, mas nem todos atendem ao convite.

O banquete é o reino de Deus – o reino de Deus, porém, está dentro do homem. É o "tesouro oculto", é a "pérola preciosa".

Muitos homens acham que têm coisa mais importante a fazer do que encontrar a "parte boa" que Maria encontrara; andam por demais atarefados com a parte de Marta. Conhecem muitos objetos, mas ignoram o seu próprio sujeito.

Realizam tudo – menos a si mesmos. . .

Longo e árduo é o caminho para esse misterioso Além de dentro. . . Sem conta são os percalços que o homem-ego criou no caminho para o homem-Eu. . .

Todos os homens são convidados pelo Cristo interno – e, não raro, pelos arautos do Cristo externo – para tomar parte na festa nupcial de sua alma, no consórcio místico entre sua alma e o divino Esposo. Todos, seja qual for a sua profissão ou condição social – lavradores, criadores de gado, homens e mulheres, solteiros e casados, sábios e ignorantes –, porquanto "a luz ilumina a todo homem que vem a este mundo".

Muitos homens, porém, não querem escutar a voz silenciosa da sua própria alma. Não conhecem o tesouro oculto e a pérola preciosa de seu próprio Eu espiritual; só conhecem a ganga de seu ego físico-mental. A luz do Logos, é verdade, ilumina a todos, mas somente aos que recebem em si essa luz é-lhes dado o poder de se tornarem filhos de Deus. Não basta que a luz divina esteja presente no homem, é necessário que também o homem se torne presente a essa luz.

É tão difícil, no princípio, o homem atender a essa voz silenciosa de dentro, porque os ruídos de fora abafam tudo com as suas brutalidades profanas. O homem obsessionado pela violenta sedução dos objetos materiais – dinheiro, possessões, prazeres, vanglórias, ambições – dificilmente encontra tempo para atender ao discreto murmúrio de sua alma. As quantidades de fora são tão conhecidas, e a qualidade de dentro é tão desconhecida. . .

E é fácil encontrar escusas para não comparecer ao banquete espiritual. Nunca temos tempo para aquilo de que não gostamos – mas para aquilo de que gostamos nunca falta tempo; e, se faltasse, íamos fabricá-lo. O tempo, a bem dizer, não é algo que exista objetivamente; somos nós mesmos que o fazemos, segundo as nossas predileções. O lúcifer da nossa inteligência é duma incrível sagacidade; justifica habilmente todas as suas complacências; prova com facilidade que o preto é branco, que o círculo é quadrado, que o não é idêntico ao sim. Para tudo quanto a vontade quer, encontra a inteligência um sistema científico ou filosófico que justifique as predileções da vontade.

O homem profano se impressiona muito mais com o que tem do que com o que é, os seus teres – campos, animais, mulheres – lhe são visíveis; o seu ser lhe é invisível.


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Decepcionado com os homens do ter, convida o senhor os homens do não ter, os pobres, os sofredores, os desprezados dos homens e os deserdados da fortuna. E eis que estes atendem ao convite! Não estão presos aos pseudovalores externos, e têm o caminho aberto para compreender o valor interno.

Verdade é que o simples fato objetivo da pobreza ou doença não é suficiente para a compreensão espiritual; mas não deixa, muitas vezes, de preparar o caminho. O sofrimento cria no homem uma espécie de desconfiança nos elementos físicos e mentais, uma vez que o sofrimento brota desses elementos; e na razão direta em que decresce a confiança nos objetos de fora e cresce a confiança na realidade de dentro. O sofrimento promove um processo de libertação e desprendimento paulatino. O adorador da matéria morta e cultor da carne viva encontra o seu céu nessas posses e nesses gozos, ao passo que o homem destituído desses derivativos vai em busca de uma felicidade para além desse mundo visível e tangível.


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A cobiça das coisas materiais continua a ser o impedimento número um em nosso caminho de auto-realização. Nenhum outro percalço mereceu tanta atenção do divino Mestre como este. Sempre de novo previne ele seus discípulos contra o perigo da escravização pelos objetos materiais: "Ninguém pode servir a dois senhores, a Deus e às riquezas".

Em tempos antigos, o único modo de alguém se libertar dessa escravidão era desertar de vez do mundo, abandonar todas as suas posses. E, em muitos casos, ainda hoje em dia é este o caminho que almas heroicas escolhem.

Há, todavia, outra modalidade de libertação. Consiste em que o homem, embora continue legalmente como proprietário de seus bens, os faça reverter em benefício e usufruto de seus semelhantes. Destarte, deixa ele de ser o dono e proprietário, passando a ser simples administrador duma parte do patrimônio de Deus em prol da humanidade.

O capitalismo extremo defende o direito da posse individual com usufruto individual. O comunismo, por sua vez, apregoa a posse social com usufruto social. Nesta forma extrema, nem o capitalismo nem o comunismo são aceitáveis. Cada um dos dois tem uma verdade e um erro. A verdade do capitalismo é o direito à posse individual – mas o seu grande erro é o usufruto individual. O comunismo proclama a grande verdade do usufruto social, e comete o erro de proibir a posse individual. Se evitarmos os dois erros, o do capitalismo e o do comunismo, e ficarmos com as duas verdades, que cada um deles contém, teremos uma forma de socialismo cristão, baseado na ideia da posse individual com usufruto social. O grande mal não está, realmente, no direito à posse individual; o mal está em que o possuidor individual queira gozar, ele só, ou ele com seu pequeno grupo, todos os seus bens, sem se importar com os sofrimentos do resto da humanidade.

Enquanto o homem não se convencer de que ele é apenas administrador do patrimônio de Deus em prol da humanidade, não haverá solução para o doloroso problema social. Mas essa convicção nasce de uma grande compreensão da verdade sobre si mesmo.

Quando o homem ultrapassa o seu pequeno ego e descobre o seu grande EU, perde a noção estreita do que é dele.

A morte do falso eu e sua ressurreição no grande nós produz necessariamente a morte do pequeno meu e o ressurgimento do grande nosso.

Quando o eu desemboca no nós, o arroio do meu deságua no oceano do nosso.

É este o "comunismo cristão" do amor espontâneo., bem diferente do comunismo político da lei compulsória. . .




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