Assim Dizia o Mestre

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CAPÍTULO 34
Ilustração tribal

"SAIU DE MIM UMA FORÇA. "


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Uma mulher que, havia longos anos, sofria dum fluxo de sangue incurável, toca de leve numa das borlas do manto do Nazareno, e sente o corpo penetrado de força e saúde, como se entrara em contato com uma bateria elétrica.

Jesus pára, olha em derredor e insiste em saber quem foi que o tocou. Os discípulos, estranhando esse gesto, fazem ver ao mestre que todo o povo ao redor dele o está empurrando. Ele, porém, insiste no fato de ter sido tocado por alguém, não de um modo geral e fortuito, mas com uma intenção particular, que dele "saiu uma força".

Finalmente, a mulher, toda trêmula, confessa o seu "delito", e o Nazareno, tranquilo e benévolo, a despede de perfeita saúde.

A hemorroíssa não tocara diretamente no corpo de Jesus, senão apenas numa das borlas do seu manto – e esse ligeiro contato a libertara da sua moléstia.

Não o contato puramente material e objetivo, mas sim um determinado contato subjetivo, a que Jesus chama "fé". "Vai-te em paz, que a tua fé te curou. " O fator específico da cura não fora, pois, o contato como tal, mas um contato determinado pela fé.

Para que resulte efeito, requer-se um doador de forças e um receptor idôneo dessas forças. Para que o receptor possa receber o dom da cura deve ele tornar-se receptivo; do grau dessa receptividade depende o grau do efeito curativo.

Quando a corrente elétrica toca em certos objetos, como vidro, porcelana ou borracha, nada acontece; não sai nenhuma força da corrente nem entra força alguma nesses materiais, porque elas não possuem condutibilidade elétrica.

Mas quando a corrente elétrica toca num metal, em água ou outras substâncias dotadas de condutibilidade, a força entra nessas substâncias.

A receptividade deve consistir numa espécie de afinidade de elementos, ou de complementaridade entre o doador e o receptor.

No mundo espiritual, essa afinidade receptiva se chama "fé".

O efeito depende, pois, de dois fatores:
1) da presença de um doador;
2) da presença de um receptor idôneo.

Mas, sendo Deus espírito e, como tal, onipresente, não falta jamais um doador de forças. O problema se reduz à idoneidade ou não idoneidade do receptor.

Crer, ter fé, é criar idoneidade em face do mundo divino. E é difícil ao homem profano a criação dessa idoneidade receptiva, porque a inteligência do ego personal aceita somente causas que ela possa provar analiticamente, e a causa divina não é objeto de provas científicas.

Pela fé, o homem ultrapassa as fronteiras do intelecto analítico e ingressa na zona duma visão espiritual.

A inteligência exige o aguçamento da ciência – a razão espiritual é uma expansão ou um aprofundamento da consciência.

A inteligência produz ciência – a razão responde com o eco da consciência à voz de Deus.


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Entretanto, além do divino doador e do humano receptor de forças, há um terceiro fator a considerar – e é precisamente esse o mais misterioso e incompreensível. Não basta, em geral, a simples e universal presença da força divina para que o receptor humano a possa captar. Em alguns casos, é verdade, o homem capta diretamente de Deus essa força; mas nem sempre.

Geralmente, acha-se essa força divina individualizada em um ser humano que dessa força divina possua altíssimo grau – e então os outros homens, de receptividade inferior, recebem a força divina através desse intermediário.

No caso presente, serviu o Cristo – o divino Verbo feito carne humana – como intermediário entre Deus e a hemorroíssa; era ele uma espécie de canal ou catalisador que veiculou a plenitude de Deus para dentro da vacuidade humana.

Posso expor ao Sol uma acha de lenha seca, mas ela não será incendiada. Se, porém, aproximar da lenha seca uma chama de fogo, dar-se-á a ignição do combustível. Por quê? Porque a chama é fogo solar em forma individualizada, e funciona aqui como uma espécie de mediadora entre a lenha e o Sol. Da mesma forma, se expuser à luz solar uma lente e fizer sobre ela incidir o calor do Sol, o fogo solar, antes difuso e fraco, se condensa num só ponto, e este ponto focal transmitirá ao combustível a força solar condensada e intensificada.

O Cristo atua como a luz e o calor solar através da lente condensadora da nossa fé. O que a luz universal da Divindade como tal não realiza no homem, realiza-o a luz individualizada no Verbo que se fez carne.

Em última análise, tudo depende do maior ou menor grau de idoneidade do recipiente humano, porquanto "o recebido está no recipiente segundo a capacidade do recipiente".




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