Filosofia cósmica do evangelho
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"UMA SÓ COISA É NECESSÁRIA. . . "
"Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas – uma só coisa é necessária: Maria escolheu a parte boa, que não lhe será tirada. " Vai nestas palavras brevíssimas de Jesus toda a filosofia espiritual do Cristianismo. Há quase dois mil anos que a humanidade ocidental tenta compreender o Cristo e seu Evangelho; mas essa tentativa é sem esperança de resultado positivo enquanto não mudarmos radicalmente de perspectiva. E essa mudança não se refere a tais ou quais aspectos periféricos, mas requer uma nova atitude central em face da própria realidade metafísica, eterna, absoluta. Não adianta remendarmos um pouco a "roupa velha" da nossa teologia tradicional, cosendo-lhe algum "remendo novo", não: é necessário e indispensável jogarmos fora, corajosamente, essa "roupa velha" e revestirmonos de uma vestimenta inteiramente nova, que não necessite de remendos.
Não deitemos o "vinho novo" do verdadeiro espírito do Cristo nos "odres velhos" do nosso cristianismo tradicional, mas tenhamos a jubilosa audácia de crearmos recipientes novos e limpos para o vinho generoso e forte do Evangelho do Cristo.
Enquanto não passarmos do nosso obsoleto e multissecular horizontalismo físico-mental para o novo e inédito verticalismo espiritual, não compreenderemos o Cristo e seu Evangelho.
Segundo a nossa tradicional filosofia empírica ocidental, o que é real, solidamente real, talvez unicamente real, é este mundo material que os nossos sentidos percebem e cujas leis a nossa mente concebe e calcula. Se, além disto, admitimos alguma outra realidade, não-material, essa outra realidade não passa de algo longínquo, vago, precariamente real, quase pseudo-real, algo em que cremos, em momentos de boa vontade e emoção espiritual, mas de que nada sabemos propriamente, por experiência imediata. Cremos nesse mundo espiritual, mais por convenção do que por convicção; cremos, porque ouvimos dizer ou lemos a respeito desse tal mundo invisível; cremos, quase por fraqueza ou para fazer um favor a Deus. . . Das realidades do mundo material e suas leis temos noção direta e concreta, diária – ao passo que do mundo espiritual nos vêm apenas uns como que ecos longínquos, uns reflexos indiretos e incertos, que não estão em condições de exercer impacto decisivo sobre a nossa vida humana, ou até suplantar a intensidade das nossas experiências físico-mentais.
A nossa fé não representa 1% da força brutal do nosso "perceber", e por isto é inevitável que a concha da balança da nossa vida terrestre penda invariavelmente para o lado dos sentidos e do intelecto, e não para o lado do espírito ou da razão. O mundo espiritual da nossa fé é, para nós, uma espécie de bela teoria que respeitamos, mas não uma realidade palpável que possamos jubilosamente praticar e entusiasticamente amar. É um esplêndido "fogo pintado", mas não uma chama real; entretanto, com o mais esplêndido fogo pintado numa tela não posso atear fogo em coisa alguma, ao passo que com a menor das chamas reais posso atear incêndios imensos.
Ora, de que modo poderíamos conseguir que o mundo espiritual, que é a alma do Evangelho, se tornasse para nós pelo menos tão real e eficiente como o mundo material? Que exercesse um impacto veemente e decisivo sobre a nossa vida humana? Que chegasse ao ponto de nos tornar suave e leve o que hoje nos é amargo e pesado? Se tal coisa conseguíssemos, é fora de dúvida que a nossa vida se transformaria completamente; viveríamos agora mesmo o reino de Deus no meio deste "vale de lágrimas"; poderíamos exclamar com um que passou por essa gloriosa experiência: "Eu transbordo de júbilo no meio de todas as minhas tribulações". . .
De que modo poderíamos conseguir essa conquista máxima da nossa vida?
Deixando de ser "Martas" e passando a ser "Marias"; deixando de andarmos solícitos e perturbados com as "muitas coisas" do plano horizontal e sentandonos calmamente aos pés do Mestre, abismados na profunda verticalidade da "única coisa necessária", intensamente real, unicamente real, essa que não é do tempo e do espaço, ilusórios e transitórios, mas da eternidade, e que, por isto mesmo, "não nos será tirada". . .
Cruzar essa fronteira invisível, transpor esse abismo imenso, passar por essa crise redentora, saber por experiência pessoal e íntima o que é essa parte escolhida por Maria e infinitamente mais real e grandiosa que todas as muitas coisas de Marta – isto é redenção cristã, isto é iniciação espiritual, isto é entrada no reino dos céus, isto é renascimento pelo espírito, isto é procurar o reino de Deus e sua justiça, isto é, a vida eterna. . .
Não ter tempo ou interesse para esta única coisa necessária, esbanjar todo o tempo e todo o interesse nas muitas coisas desnecessárias – isto é suprema insipiência, isto é, horrorosa cegueira e obtusidade espiritual, isto é ser filho das trevas e dormir o sono da morte. . .
Tudo que temos ou julgamos ter nos será tirado amanhã – só o que somos é o que seremos para sempre, se é que o somos de Verdade, hoje mesmo.
Tudo que eu chamo meu está apenas ao redor de mim, fora de mim, longe de mim, alheio a meu verdadeiro ser; nada disto sou eu, tudo isto é apenas meu, são os pseudo-meus. Somente o meu Eu é que é realmente meu, inalienavelmente meu, eternamente meu, gloriosamente meu.
As quantidades que Marta tem são fictícias, temporárias – a qualidade que Maria é, é real, eterna.
Marta tem muitas coisas – e por isto anda inquieta e perturbada.
Maria é alguém – e por isto se queda aos pés do Mestre, calma, serena, feliz.
Quando o homem deixa de ter muitas coisas e começa a ser alguém, então vem sobre ele a grande paz, que o mundo não pode dar nem tirar.
Não adianta ter – é necessário ser. . .
O ser inclui o ter – mas o ter não inclui o ser.
O ser é qualidade, é causa, é verticalidade, é fonte – o ter é apenas quantidade, efeito, horizontalidade, canal.
Quem de fato é alguém por sua experiência com Deus pode serenamente perder tudo o que tem, porque sabe que não perde nada; descobriu a divina matemática de que o mais, que é ser, inclui o menos, que é ter; e, como ele possui o mais, o grande MAIS, o TODO, a Deus, não precisa preocupar-se com os pequenos menos, contidos, todos eles, nesse grande MAIS. Pode espontaneamente abrir mão de tudo quanto tem, tornar-se indigente de todas as quantidades horizontais ao redor dele, porque sabe que é milionário daquilo que é, da sublime e profunda verticalidade da qualidade dentro dele. Esse homem descobriu o reino de Deus dentro de si, e já não precisa de dar caça frenética aos pseudo-reinos do mundo fora dele, porque sabe que esses reinos estão todos radicados em Deus, no Deus dentro dele, e que, se os quisesse possuir, os teria todos em grande abundância. Esse homem aprendeu a suprema sapiência de possuir todos os efeitos na causa, e deixou de querer possuir os efeitos sem a causa. Da excelsa atalaia central da sua visão cósmica, esse homem abrange, calma e serenamente, todas as periferias dos mundos que gravitam em torna dele. Possuindo a "única coisa necessária", abrange todas as outras coisas, e possui-as sem inquietude nem perturbação, mas com a serenidade dinâmica e a paz creadora com que o homem espiritual penetra todas as materialidades.
Que aproveita ao homem ter algo, mesmo que seja o mundo inteiro, se não é alguém, se sofre prejuízo naquilo que ele é, sua alma? Poderá acaso o ter resgatar o ser? Poderá o menos crear o mais? Poderão as muitas quantidades produzir a única qualidade?
Essa transformação da nossa falsa política do ter na verdadeira filosofia do ser é que no Evangelho se chama "metánoia", que quer dizer "trans-mentalização" (metá-trans; nous-mente), geralmente traduzido por "conversão". Quando o homem começa a compreender a suprema sabedoria de que as coisas do mundo material não são primariamente-reais, senão apenas derivadamentereais, alo-reais, e não auto-reais, e que só o mundo espiritual é que é real em si mesmo – então passa ele pela grande "metánoia", converte-se, transmentalizase, muda de mentalidade, realiza em si a misteriosa alquimia espiritual, transmudando elementos vis em elemento nobre, deixa de ser Marta e se torna Maria, para que depois possa ser Maria-Marta, um ser humano capaz de tratar das muitas coisas do mundo material sem inquietude nem perturbação e sem abandonar o seu lugar aos pés do Mestre. "PAI NOSSO, QUE ESTÁS NOS CÉUS" As primeiras palavras que os Evangelhos nos referem como tendo brotado dos lábios de Jesus giram em torno desse conceito central da sua mensagem aos homens, Pai: "Não sabíeis que eu devo ocupar-me das coisas que são de meu Pai?" E o derradeiro suspiro que irrompeu dos lábios moribundos do crucificado também se refere a essa mesma ideia de Pai: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. " Sobre esses dois pólos extremos, o "Pai" do menino de 12 anos, e o "Pai" do homem de 33 anos, gira toda a filosofia do Nazareno, porque o seu mundo interior se desenrolava nessas regiões invisíveis, para ele infinitamente mais reais e mais belas que todas as realidades e belezas visíveis da terra. "Meu reino não é deste mundo. . . Eu nasci para dar testemunho à verdade. " Aquilo que Jesus designa com a palavra "Pai" é a "verdade", a suprema e única "realidade" – o resto não passa de sombras e aparências.
O universo inteiro é, para Jesus, a "casa de meu Pai": "Há muitas moradas em casa de meu Pai. " A humanidade, quando em harmonia com a vontade do Pai é o "reino de Deus", ou o "reino dos céus", que ele vinha proclamar na terra e estabelecer nas almas dos homens. E esse "reino de Deus", diz ele, não vem de fora, com observâncias meramente externas, legais e rituais, mas está dentro do homem, porquanto, como diz o quarto Evangelho, a luz do divino Lógos "ilumina a todo homem que vem a este mundo".
À primeira vista, não parece o Evangelho de Jesus ser uma filosofia, quando se toma este vocábulo em sentido meramente intelectualista; entretanto, a suprema filosofia não é intelectualista, porém racional, espiritual, intuitiva, e, neste sentido, o Evangelho é a mais alta filosofia. A filosofia espiritual não é abstrata, como a outra, porque já ultrapassou a "sagacidade da serpente" e entrou na zona da "simplicidade da pomba". A luta pela verdade obriga o homem a servir-se de termos abstratos – a posse tranquila da verdade faz com que ele use de palavras concretas, singelas, quase ingênuas, como as crianças. É a simplicidade da sapiência, e não já a simplicidade da ignorância, nem a complexidade da inteligência. O ignorante é simples por vacuidade, o inteligente é complexo por semi-ciência, e o sapiente é simples por plenitude, pela posse serena e feliz da verdade definitiva.
Toda verdade espiritual é expressa em termos simbólicos, porque a humanidade, no seu presente estágio evolutivo, não possui senão termos para exprimir coisas concretas (objetos dos sentidos) ou leis concretas derivadas daquelas (objetos do intelecto). Para designar realidades espirituais, servimonos de termos da zona físico-mental; quer dizer que usamos símbolos físicomentais para exprimir um simbolizado espiritual. Naturalmente, o homem que não tem experiência alguma do mundo espiritual nada percebe do simbolizado, limitando-se ao símbolo – assim como um cego de nascença que ouvisse a palavra "luz", "vermelho", "azul", "verde", não teria a experiência correspondente a esses vocábulos meramente externos e arbitrários. Para que alguém possa saber do simbolizado ao ouvir ou ler o símbolo, requer-se certa experiência espiritual já pré-existente. Uma sementinha no fundo da terra não poderia reagir ao chamariz da luz solar, se ela mesma não tivesse dentro de si uma espécie de "experiência solar", se o seu íntimo quê não fosse "solar"; mas, como todas as coisas são lucigênitas (filhas da luz), podem elas reagir ao impacto da luz que lhes foi causa.
A palavra "pai" é material em seu símbolo, porém, no caso de Jesus espiritual em seu simbolizado; o contenedor físico-mental é objeto dos sentidos e do intelecto, mas o conteúdo espiritual é objeto da alma ou do espírito.
Há quem, baseado nesse termo individual e concreto, forje argumento para provar que Jesus considerava Deus como um indivíduo concreto, como um pai humano, ainda que em grau superior. Entretanto, esse pensamento não é deduzível da palavra "pai", porque, para além desse símbolo individual, está o simbolizado universal.
O que a palavra "pai" significa invariavelmente nos lábios do Nazareno é a eterna Realidade oni-consciente, oni-potente e oni-amante.
No plano do mundo fenomênico, humano, o pai é causador (parcial) do filho, embora também ele, por sua vez, tenha sido causado por outro causador paterno. Todo pai humano, antes de ser causador, é causado, antes de causar ativamente, é causado passivamente, antes de ser causa é efeito. Neste sentido Deus não é pai, porque ele é a causa não-causada, o produtor nãoproduzido, o pai sem filiação; nele só existe causalidade ativa, e não passiva.
Todo pai humano possui consciência individual – Deus, porém, é a consciência universal.
Todo pai humano é pessoa, um ser personal; "persona", porém, quer dizer "máscara" (derivado de "per" e "sonare" – soar ou falar através); a personalidade não é o indivíduo, senão apenas a sua máscara, aparência, invólucro – Deus, porém, é a realidade em si mesma, e não apenas uma máscara ou aparência de realidade.
Quando Jesus afirma "Eu e o Pai somos um", "o Pai está em mim, e eu estou no Pai"; quando diz a seus discípulos "o Pai está em vós, e vós estais no Pai";
quando o apóstolo Paulo afirma que o homem é templo de Deus e que o espírito de Deus habita nele – evidentemente não consideram a Deus como um determinado indivíduo, nem mesmo um super-indivíduo, que resida em outro indivíduo; referem-se a uma Realidade universal, oni-presente, oni-consciente, que está em todos os seres e na qual todos os seres estão, uma realidade "na qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser", segundo a expressão de Paulo de Tarso.
Quando Jesus fala do "Pai", acrescenta quase sempre "que está nos céus". A mais bela das orações que possuímos, a única cujo teor ele ensinou a seus discípulos, começa com estas palavras, tão conhecidas – e tão desconhecidas: "Pai nosso, que estás nos céus". A tradução usual "no céu" revela, desde o início, a falsa concepção do tradutor, dotado apenas de consciência telúrica, mas alheio à consciência cósmica. "No céu" sugere determinado lugar geográfico ou astronômico; Deus habita com seus anjos e santos num certo lugar chamado "céu" – é o que as teologias correntes entendem e ensinam a respeito dessa passagem. Sendo Deus, segundo eles, um determinado indivíduo, uma pessoa, claro está que o lugar onde habita esse Deus-indivíduo, esse Deus-pessoa, esse Deus antropomorfo, feito à imagem e semelhança do homem, esse lugar não pode deixar de estar circunscrito pelas categorias de tempo e espaço. De maneira que a falsa concepção de Deus exige a concepção errônea do céu. Abyssus abyssum invocat, um abismo chama outro abismo.
Entretanto, no texto grego do primeiro século, como também no texto latino dos tempos primitivos, e ainda da Vulgata de hoje, não lemos "céu", mas "céus" (en ouranois, in caelis, ambos no plural).
Que quer o autor inspirado dizer com esse substantivo no plural: nos céus?
Será que Deus está em muitos céus individuais? Não, esse plural indica a universalidade, o ilimitado, o infinito, o absoluto. De modo análogo, no princípio do Gênesis lemos que os Elohim crearam todas as coisas; literalmente, "os deuses", porque Elohim é o plural de El, termo usado para Deus. O Gênesis não professa politeísmo com essa expressão "os Elohim crearam", mas designa a universalidade de Deus, incompatível com uma individualidade.
Da mesma forma, Deus está nos céus quer dizer que ele está no infinito, no absoluto, no universo inteiro, graças à sua imanência que tudo permeia e vivifica. Nestas belas palavras "Pai nosso que estás nos céus" temos a afirmação de que Deus é a íntima essência do universo, a alma eterna de todos os seres, a luz, a vida, a consciência de todas as creaturas. Deus é a única Realidade infinita e autônoma em todas as facticidades finitas e heterônomas. Ele é a causa não-causada, o produtor não-produzido, o pai sem filiação, o alfa e o ômega, o princípio e o fim de tudo, o Amen do Apocalipse e o Aum da filosofia védica.
Entretanto, apesar da sua absoluta e total imanência em todas as coisas do universo, Deus não deixa de ser transcendente a cada indivíduo como também à soma total de todos os indivíduos, uma vez que nenhum finito, singular ou coletivo, iguala ao Infinito. O Infinito não é a soma total dos finitos, mas a radical negação de todos eles.
Essa dupla experiência, da imanência e da transcendência de Deus, é essencialmente necessária para que haja Cristianismo ou religiosidade perfeita.
Perante a longínqua e terrífica transcendência de Deus enche-se a alma de reverência, de assombro, de sagrada estupefação; a transcendência de Deus é a sua majestade e sacralidade, o seu grande mistério e a sua profunda escuridão. O primeiro elemento de toda a grandeza e beleza é o seu caráter ignoto e enigmático. No momento que uma coisa ou pessoa é integralmente conhecida e devassada deixa ela de empolgar-nos com o seu fascínio e a sua sedutora reticência, e torna-se profana, insípida, trivial. O Deus transcendente não é, propriamente, objeto de amor, mas sim de admiração.
A sua imanência, porém, faz dele um objeto de amor. Essa experiência da imanência de Deus enche a alma de suave afetividade e doce intimidade associada ao senso de transcendência; o senso da imanência aliado ao de transcendência completa a experiência profunda e vasta do "Pai que estás nos céus".
O senso da distância, divorciado do da proximidade, reduziria a religião a uma grandiosa região polar, vastíssimos e solitários campos de neve e gelo fantasticamente iluminados pela luz fria do luar. . .
Por outro lado, o senso da proximidade sem distância reduziria a religião a uma espécie de amizade ou camaradagem trivial e insípida, incapaz de grandes lances de entusiasmo e arrojados planos de heroísmo. Onde falta a escuridão pressaga do mistério, criado pela longinquidade, lá falta o encanto, o fascínio do incógnito, a força, a audácia necessária para a última e suprema beleza.
A longínqua transcendência faz o homem dizer: Eu te adoro!
A propínqua imanência faz o homem murmurar: Eu te amo!
Ai do homem que tanto se aterra em face do Deus terrificamente transcendente que não o possa amar como suavemente imanente!
Ai do homem que tanto se familiariza com o Deus imanente que deixe de sentir o assombro em face do Deus transcendente!
Bem-aventurado o homem que se delicia suavemente à luz cariciosa do Deus propinquamente imanente a afagar-lhe a alma, como a claridade solar beija as pétalas duma flor – e ao mesmo tempo se extasia ante a majestade do Deus longinquamente transcendente, que o enche de assombro qual globo solar a arrojar gigantescos sistemas planetários pelas vias inexploradas do universo!
Toda religiosidade sadia e bela é feita de um misto de transcendente distância e imanente proximidade; toda religiosidade é um eterno Verbo que se faz carne e habita em nós. . .
E esses dois elementos, de amor e de assombro, estão contidos nas palavras "Pai nosso, que estás nos céus".
O próprio Cristo Jesus é a divina transcendência feita humana imanência, um misterioso consórcio da profunda vertical com a vasta horizontal – ele é essencialmente o homem cósmico por excelência. . .