Sermão da Montanha: 154

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CAPÍTULO 12
Ilustração tribal

Primeiro - Um indivíduo persegue outro indivíduo, não só porque este seja mau, mas,


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também, pelo fato de ser bom.

Por quê?

Porque o homem justo aparece como elemento hostil a outro homem menos justo. A simples presença de um homem mais santo do que eu é, para mim, uma declaração de guerra, ou, pelo menos, uma permanente ofensa. O homem espiritual, pelo simples fato de existir, diz silenciosamente a outros: "Vós devíeis ser como eu, mas não sois, e isso é culpa vossa. "Nenhum homem espiritual, é claro, diz isto; mas os profanos interpretam deste modo a presença do homem justo, e atribuem a este a ingrata censura. " Ora, ninguém tolera por largo tempo a consciência da sua inferioridade.

Enquanto não aparece outro homem de elevada espiritualidade, pode o homem menos espiritual viver tranquilo na sua inferioridade, porque esta não é nitidamente percebida senão quando polarizada pelo contrário ou por uma espiritualidade superior. Quando o homem pouco espiritual encontra outro ainda menos espiritual, sente-se ele relativamente seguro do seu plano, e tem mesmo a tendência instintiva de fechar os olhos para as virtudes do outro, a fim de poder brilhar mais intensamente ele só, como aquele fariseu no templo em face do publicano. É que o homem profano mede o seu valor pelo relativo desvalor dos outros. Quando então a sua luz é, ou parece ser, mais forte que as luzes dos outros, o homem profano ou de escassa espiritualidade experimenta um senso de segurança e tranquilidade; não tem remorsos da sua pouca espiritualidade nem se julga obrigado a um esforço especial para subir.

Entre cegos, diz o provérbio, quem tem um olho é rei.

Mas ai desse homem complacentemente satisfeito consigo mesmo, se lhe aparecer alguém de maior espiritualidade! Logo começa ele a sentir-se inseguro e inquieto. Em face dessa inquietação, duas atitudes seriam possíveis: a) o vivo desejo de ser tão espiritual como o outro e o esforço correspondente a esse desejo; b) uma atitude de despeito e agressividade.

A primeira atitude é a dos homens humildes e sinceros; a segunda é a dos homens orgulhosos e insinceros consigo mesmos. Os primeiros se tornam discípulos do homem espiritual, os últimos se tornam seus adversários.

É doloroso para um pigmeu ver-se eclipsado por um gigante.

É desagradável para um impuro ter a seu lado um homem puro.

Se o pigmeu não sente em si a capacidade de crescer; se o impuro não dispõe da força de se tornar puro, declarará guerra ao gigante e ao puro.

Essa guerra nem sempre se desenrola no plano físico; muitas vezes se trava no campo moral: o homem menos espiritual descobre no mais espiritual numerosas manchas, e, esquecido da muita luz que ele irradia, só enxerga, o despeitado os pontos escuros que encontra no sol – e acha que não convém tomar banho de sol, porque há tantas e tão grandes manchas no globo solar.


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