Sermão da Montanha: 154
Versão para cópia
"NÃO JULGUEIS – E NÃO SEREIS JULGADOS! – NÃO CONDENEIS – E NÃO SEREIS CONDENADOS!"
Com estas duas frases lapidares enuncia o divino Mestre a lei universal e infalível de causa e efeito, ou, como diz a filosofia oriental, a lei do "karma". Se os homens compreendessem praticamente essa lei, não haveria malfeitores sobre a face da terra, porque o homem compreenderia que fazer mal a seus semelhantes é fazer mal a si mesmo, e, como ninguém quer ser objeto de um mal, ninguém seria autor do mal; cada um compreenderia que ser mau é fazer mal a si mesmo.
O Universo é um "kosmos", isto é, um sistema de ordem e harmonia, regido por uma lei que não admite exceção, ou no dizer de Einstein, o universo é a própria Lei Universal. Dentro desse sistema cósmico, a toda ação corresponde uma reação equivalente. Pode essa reação tardar, mas ela vem com absoluta infalibilidade.
Objetivamente, ninguém pode perturbar o equilíbrio do Universo, embora, subjetivamente, os seres conscientes e livres possam provocar perturbação. A ação do perturbador provoca infalivelmente a reação do perturbado, e esses dois fatores, ação e reação, atuando como causa e efeito, mantêm o equilíbriodo Todo. A ação do perturbador chama-se culpa ou pecado, a reação do perturbado chama-se pena ou sofrimento. Ser autor duma culpa é ser mau ser objeto duma pena é sofrer um mal. Por isto, é matematicamente impossivel que alguém seja mau sem fazer mal a si mesmo. Se tal coisa fosse possivel, o malfeitor teria prevalecido contra o Universo e ab-rogado a Constituição Cósmica; teria, por assim dizer, derrubado o Himalaia com a cabeça.
Compreender praticamente essa lei inexorável é ser sábio, e ser sábio é deixar de ser mau ou pecador. Se todos os homens fossem sábios ou sapientes, não haveria maus sobre a face da terra. Mas os homens são maus porque são insipientes, ignorantes. "Disse o insipiente no seu coração: Não há Deus!" Todas as vezes que os livros sacros se referem ao pecador, usam o termo "insipiente", isto é, "não sapiente", ou ignorante.
O grande ignorante é o pecador.
O grande sábio é o santo.
Quem conhece experiêncialmente a ordem cósmica não comete a loucura de querer destruí-la com seus atos maus, porque sabe que isso é tão impossivel como querer derrubar o Himalaia com a cabeça ou apagar o sol com um sopro.
O verdadeiro homem santo é um sapiente. E sua sapiente santidade consiste em manter perfeita harmonia com a lei do Universo. A própria palavra "santo" quer dizer "universal" ou "total" [1] . O homem santo é o homem univérsico, integral, cósmico, aquele que não procura uma vantagem parcial contrária à ordem total.