Sermão da Montanha: 154
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"COM A MESMA MEDIDA COM QUE MEDIRDES SER-VOS-Á MEDIDO"
Assim disse o Mestre.
Com estas palavras enuncia Jesus a grande lei do indestrutível equilíbrio do Universo. Nenhuma creatura, por mais poderosa, pode desequilibrar o equilíbrio cósmico da justiça. Ninguém pode frustrar um só dos planos de Deus.
Na ordem ontológica ou objetiva das coisas, Deus será sempre 100% vitorioso.
Ninguém o pode derrotar, nem mesmo Satanás. Todas as rebeldias das creaturas, subjetivamente inimigas de Deus, contribuirão objetivamente para evidenciar a soberania única e a infinita majestade de Deus.
Entretanto, dentro dessa indestrutível ordem objetiva e desse equilíbrio estável do Universo pode haver altos e baixos, luzes e sombras, bem e mal. Toda creatura consciente e livre pode, da sua parte, opor-se a Deus e tentar prevalecer contra o Grande Todo. É o mistério da liberdade da creatura consciente.
É, porém, absurdo admitir que algum finito possa derrotar o Infinito, que a parte possa prevalecer contra o Todo, que algum efeito existencial possa frustrar algum dos planos da Causa Essencial.
Nenhum plano de Deus pode ser frustrado pelo homem, nem por Satanás. A creatura não tem a escolha entre cumprir ou não cumprir os planos de Deus; só tem à escolha dois modos de os cumprir; ou gozosamente ou dolorosamente, mas em qualquer hipótese a creatura cumprirá os planos do Creador, seja gozando, seja sofrendo. O infalível cumprimento pertence a Deus, o cumprimento gozoso ou doloroso pertence ao homem.
Ora, quando o homem se opõe aos planos de Deus, faltando à Verdade, à Justiça, ao Amor, então entra ele na zona da culpa (ou pecado), cujo reverso se chama pena (sofrimento). Pela culpa tenta o homem afastar-se de Deus;
pela pena é ele levado a aproximar-se de Deus. Pela culpa tenta o homem desequilibrar o equilíbrio do Universo – pela pena reequilibra ele esse desequilíbrio subjetivo. Dizemos "subjetivo", porque um desequilíbrio objetivo é absolutamente impossivel; se possivel fosse, deixaria Deus de ser soberano e onipotente e deixaria o Universo de ser um "cosmos", para se converter num "caos".
A culpa é algo negativo, como negativa é também a pena, o sofrimento.
O negativo da culpa provoca infalivelmente o negativo da pena. Negativo produz negativo – é esta, por assim dizer, a "homeopatia cósmica" do Universo.
Por outro lado, positivo produz positivo.
O mal provindo do sujeito (culpa) produz o mal provindo do objeto (pena).
O bem, nascido do sujeito (amor) produz o bem nascido do objeto (gozo).
Se eu assumo atitude negativa, má, em face de outros componentes do Universo, odiando – o Universo assumirá atitude negativa contra mim, fazendome sofrer.
Se eu assumir atitude positiva, boa, em face de qualquer componente do Universo amando – o Universo assumirá atitude positiva a meu favor, fazendome gozar.
Só assim é possivel manter o equilíbrio estável do Universo.
Toda a sabedoria do homem está, portanto, em nunca assumir atitude negativa, mas sempre atitude positiva em face do Universo e qualquer dos seus componentes. É supinamente absurdo alguém pensar que, arremetendo com a cabeça contra o Himalaia, possa derrubar essa gigantesca montanha, embora consiga talvez deslocar uma ou outra pedrinha insignificante, a qual, mesmo assim, continuará a fazer parte integrante do Himalaia. Toda a sabedoria consiste em que o homem, espontaneamente, harmonize a sua atitude subjetiva com a eterna e indestrutível Realidade objetiva do Universo;
que sintonize o seu pequeno querer e agir com o grande Querer e Agir de Deus.
Crear qualquer negativo de culpa equivale a provocar um negativo de pena ou sofrimento.
Crear um positivo de amor equivale a provocar um positivo de gozo.
Pecado gera sofrimento.
Amor gera felicidade. "Com a mesma medida com que medirdes medir-se-vos-á".
Quem nos mede com a mesma medida é a inexorável retitude da Constituição Cósmica, a qual, todavia, se manifesta, geralmente, através de seus agentes concretos, a natureza ou os homens. A natureza e os homens são os representantes da eterna 5erdade e Justiça. Quem se opõe a essa Verdade ou Justiça terá que sofrer – quem harmoniza com essa Verdade e Justiça há de gozar.
Verdade é que essa consequência, negativa ou positiva, nem sempre aparece imediatamente; mas o seu aparecimento é infalível, mesmo que tarde: decênios, séculos ou milênios, porque em hipótese alguma pode a ordem do Universo, subjetivamente negada pela culpa ou afirmada pelo amor, deixar de agir no mesmo sentido, negativo ou positivo, produzindo sofrimento ou gozo.
Ser mau equivale a ser infeliz. Ser bom equivale a ser feliz.