Triunfo da Vida Sobre a Morte, O

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CAPÍTULO 27
Ilustração tribal

# RUMO AO CALVÁRIO


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Depois disto foi Jesus entregue aos soldados romanos, que lhe carregaram nas costas uma cruz feita de dois troncos. Segundo a tradição antiga, devia a cruz ter cerca de três metros de comprimento.

O topo da colina do Calvário dista da cidade menos de um quilômetro; por causa da forma arredondada, lembrando uma caveira, o povo lhe dera o nome de calvarium, isto é, caveira.

O caminho era escabroso e acidentado, razão porque, segundo a tradição, Jesus caiu três vezes sob a cruz. Depois da última queda, o oficial que comandava a execução obrigou um homem chamado Simão, natural de Cirene, na África, a carregar a cruz até ao topo da colina. Diz também a tradição que, durante o trajeto, apareceu uma mulher, provavelmente discípula de Jesus, que lhe estendeu uma toalha para enxugar o sangue do rosto; Jesus restituiu-lha com o rosto sangrento nela impresso. A tradição deu a essa mulher o apelido de Verônica, derivado das palavras veron eikon, verdadeira imagem.

Mais adiante, encontrou-se Jesus com um grupo de mulheres que o lamentavam em altas vozes, e ele lhes disse: "Não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós e sobre vossos filhos; porque, se tal coisa acontece ao lenho verde, que será do lenho seco?" O lenho verde era ele, o homem sem pecado, que sofria voluntariamente; que dizer dos pecadores quando sofrem compulsoriamente? O sofrimento-crédito, como o de Jesus, é um sofrimento glorioso, não um sofrimento em pagamento de débitos, nem próprios nem alheios, mas um sofrimento de crédito e cristificação ulterior, um sofrimento de auto-realização, para ele entrar em sua glória. É este o lenho verde de que Jesus falava às sofredoras do lenho seco, que sofriam por débitos.

Chegado ao topo do Gólgota, foi Jesus pregado na cruz estendida no chão, e depois fixada na terra. Juntamente foram crucificados dois malfeitores, cujos nomes ignoramos; mas a tradição cristã deu a um deles o nome de Dimas.

Segundo a opinião geral, estava Jesus preso com três cravos, dois dos quais passavam pelas palmas das mãos, como os nossos pintores costumam representar o crucificado. Sabemos, porém, que os antigos romanos nunca faziam passar os cravos pelas palmas das mãos, mas sim pelos pulsos da vítima, porque as mãos não dão resistência para suportar o peso do corpo;

somente os pulsos dão resistência por causa dos dois ossos que lá se encontram. Quando os estigmatizados, como Francisco de Assis, Tereza Neumann, o padre Pio e outros, receberam os estigmas sangrentos nas palmas das mãos, é devido à intensidade da sua emoção humana, que se materializou em fenômeno físico.

Em princípio do século passado, vivia na Alemanha uma grande vidente da paixão de Jesus, mas que não era estigmatizada, Anna Catarina Emmerich, que via como presentes todos os episódios da paixão e morte de Jesus, e, deitada na cama, falava com voz audível. O conhecido poeta e escritor Clemente Brentano, sentado à cabeceira da cama da vidente, tomava nota por escrito o que ela dizia. Quando a vidente relatou a crucificação, viu e falou como os cravos atravessavam os pulsos de Jesus; Brentano, supondo um equívoco, perguntou se não atravessavam as palmas das mãos, ao que ela repetiu que ela via Jesus crucificado pelos pulsos. Também o célebre "santo sudário", a mortalha que envolveu o corpo de Jesus, e que se acha ainda na Catedral de Turim, prova que as duas chagas estavam nos pulsos e não nas mãos de Jesus.

Sobre a cruz mandou Pilatos pregar uma tabuleta que indicava em hebraico, grego e latim, a causa da crucifixão: Jesus Nazareno Rei dos Judeus, porque devia constar a razão da morte dele. Os chefes da Sinagoga foram ter com o Governador e pediram que modificasse a legenda, porque Jesus não era realmente o rei dos Judeus. Pilatos, porém, cada vez mais irritado com as cavilações da Sinagoga, retrucou bruscamente: "O que escrevi escrito está" e não modificou a legenda.

Podemos dizer que a legenda estava escrita em nome da religião (hebraica), da filosofia (grega) e da política (latim) da época, proclamando a realeza de Jesus, embora em outro sentido, porque o seu reino não era deste mundo. O Governador romano teimou em manter essa legenda importante.

Alguns discípulos, e sobretudo discípulas, de Jesus estavam presente à crucifixão. Dos doze apóstolos apenas um estava no Calvário, o "discípulo amado" João, que, desde a última ceia sabia de tudo, e não se sentia frustrado.

Também Maria, a mãe de Jesus, já estava debaixo da cruz ao lado de João;

estava em pé, diz o Evangelho, e não desmaiada, como fantasiaram alguns artistas.

Vendo Jesus sua mãe abandonada, entregou-a a João a Maria como filho.

Os que defendem a ideia de que os chamados "irmãos de Jesus" fossem filhos de Maria não podem explicar como nenhum deles tenha estado presente à morte de Jesus nem se tenha interessado pela (suposta) mãe abandonada, obrigando o Mestre a entregá-la a um de seus discípulos.

Parece que nenhum dos três discípulos de Jesus que moravam em Betânia, e dos quais o Mestre era grande amigo, acompanhou os últimos momentos do Nazareno, que fora ressuscitado da morte uma semana antes. Provavelmente, esse trio de Betânia já possuía a cosmo-vidência dos iniciados e conheciam os planos que presidiam a esses acontecimentos.







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