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Capítulo XXXIII

Ocorrência como tantas


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No vasto escritório, uma senhora de humilde apresentação, suplicava, em lágrimas, ao administrador da ordem pública, em pequena cidade do interior:

— Doutor, peço a sua piedade para meu filho… Solte meu menino, por amor a Deus! Ele não merece cadeia… Sei que o senhor pode amparar-nos…

Ante o cidadão silencioso, continuava a mulher:

— A bicicleta dele é um instrumento de serviço… Ele saiu, de manhã, para a fábrica em que trabalha na limpeza. Sonolento ainda, esbarrou no carro parado que pertence ao comerciante que não só lhe exigiu o encarceramento, como também nos ameaça com um pedido de alta indenização por um leve desgaste na pintura do veículo… Um simples arranhão… Nada temos de nós senão o barraco em que moramos sobre terreno que não é nosso… Doutor, compadeça-se de nós e mande libertar meu filho!…

O interpelado, por fim, respondeu com secura:

— Não me venha com petitórios, vivo cansado de jovens loucos! Fui informado de que seu filho é imprudente, rapaz de índole perversa. A cadeia é o lugar dele e teremos inquérito para fixar a indenização que ele ou a senhora pagarão de qualquer jeito…

Não havia terminado a frase quando o telefone tilintou, barulhento.

Um moço de serviço aproximou-se e comunicou ao chefe:

— Chamada para o senhor.

O homem tomou o aparelho, identificou-se e uma voz aflita falou do outro lado:

— Doutor, o seu filho de dezessete anos, guiando com excesso de velocidade, aqui na Capital, atropelou uma senhora que acaba de entrar no Pronto-Socorro, em estado grave, com poucas esperanças de vida. O rapaz está detido, chora muito e pede a sua presença…

O administrador agradeceu, prometendo viajar com urgência.

Em seguida, muito pálido, designou a visitante a um antigo assessor e recomendou:

— Mande soltar o filho desta mulher hoje mesmo e que ninguém me fale em qualquer indenização.

Ante o olhar da pobre mãe agradecida, deixou o escritório, mostrando o semblante agoniado e tomando um carro às pressas.

Para o frio e exigente administrador chegara igualmente o instante de pedir.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

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