Primícias do Reino

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CAPÍTULO 1

AS BOAS-NOVAS

O mergulho de Jesus nos fluidos grosseiros do orbe terráqueo é a história da redenção da própria Humanidade, que sai das furnas do "eu" para os altos píncaros da liberdade.

Vivendo os reinados de Augusto e Tibério, cujas vidas assinalaram com vigor inusitado a História, o Seu berço e o Seu túmulo marcaram, indelevelmente, os tempos e constituíram sinal divisório da Civilização, acontecimento predominante nos fastos da vida humana.

Aceitando como berço o reduto humílimo de uma estrebaria, no momento significativo de um censo, elaborou, desde o primeiro momento, a profunda lição da humildade para inaugurar um reinado diferente entre as criaturas, no justo momento em que a supremacia da força entronizava o gládio e a púrpura atapetava o solo, alcatifando o piso por onde passavam os triunfadores.

E não se afastou, jamais, da diretriz inicial assumida: a de servo de todos.

Acompanhando a marcha tresloucada do espírito humano, que se encontra atado aos sucessivos ciclos dos renascimentos inferiores, na roda das paixões escravizantes, fez que pioneiros e embaixadores da Sua Morada O precedessem a cantar as glórias superiores da vida e do belo, para propiciar os sonhos de elevação e as ânsias sublimantes. . .

Antes d’Ele: Hamurabi amplia os limites do seu país, em guerras cruéis e inscreve em esteias de pedras um código, que é o primeiro de que a humanidade tem notícia. . .

Krishna renova a doutrina dos 5edas, doutrina cujas origens se perdem no ignoto dos séculos, e prega a imortalidade dos Espíritos e as vidas sucessivas. . .

Akhenaton introduz reformas expressivas na idolatria egípcia, inspirado por excelsos pensamentos. . .

Abraão, ligado psiquicamente ao mundo espiritual, deixa a cidade de Ur e se torna pai de um povo. . .

Moisés, em comunhão com os Espíritos superiores, liberta os hebreus do cativeiro, recebe o Decálogo e traz ao mundo o conhecimento do Deus Único.

Siddhartha Gautama propõe-se à conquista do Paraíso e ilumina-se, clareando a Terra com as incomparáveis lições da renúncia a si mesmo, da paz e da concórdia.

Kung-Fu-Tsé (Confúcio) legisla moral, fidelidade, família e renova os conceitos sobre a vida. . .

Lao-Tsé compõe com a experiência e as renúncias, por meio de meditações profundas, o Livro da Vida e da Virtude. . .

Pitágoras, na sua admirável Academia de Crotona, após iniciação complexa, preconiza moral elevada, austeridade, pregando a doutrina dos renascimentos. . .

Sócrates sintetiza as ideias do Oriente e inicia o período da Filosofia nobre, alicerçada na mais elevada moral e na imortalidade da alma. . .

. . . E outros biótipos desfilam, triunfantes uns e aniquilados muitos, ampliando os horizontes da Terra para a chegada d’Ele. . .

. . . Alcibíades canta as Musas e fomenta a guerra; Marco Aurélio regista os pensamentos que fluem da mente privilegiada sob elevada inspiração de Emissários Sábios, enquanto peleja nos campos juncados de cadáveres. . .

Periandro se eleva à categoria de um dos sete sábios da Grécia e comete uxoricídio ignominioso. . .

Júlio César atrela aos pulsos o carro da destruição e se alça à condição de divindade. . .


Alexandre Magno conquistou o mundo sem conseguir, no entanto, intimidar os gimnossofistas [7]

, que habitavam as margens do Indo. Apaixonado por Homero, dizia encontrar na 1líada inspiração ao amor e à guerra que lhe dava glórias. . . . Logo passou, e aos 33 anos sucumbiu, depois de ter vivido o correspondente a várias vidas. . .

Os direitos dos povos pertenciam aos dominadores, e o homem não passava de animal de carga nas garras da força.

Depois d’Ele, as hostes selvagens, em nome da hegemonia política de vândalos elevados ao poder, irrompem voluptuosas, quais labaredas humanas crepitantes e carbonizadoras, e atrás de suas legiões ficam os destroços, as cinzas, as dores agudíssimas das cidades vencidas e enlutadas. . .

Os triunfadores de um dia erigem monumentos à própria insânia, que a soberba qualifica de glória, mas que ruem quando os construtores se consomem. . .

(. . .) Tudo passa! A grande Esfinge tudo devora. . .

Tronos refulgentes, sólios esplêndidos, cortes brilhantes ao Sol, conquistas grandiosas, civilizações douradas e impiedosas, os tempos vencem. . .

Ele chega silencioso, pulcro, é fica.

Reúne a malta dos aflitos e os agasalha ao próprio peito.

Nada solicita, coisa alguma exige.

Libertador por excelência, canta o hino da verdadeira liberdade, ensinando a destruição dos elos da inferioridade, que imana o homem às mais cruéis cadeias. . .

Embosca-se na carne, mas é Sol de incomparável luz, clareando o fulcro dos milênios.

Ao suave balido da Sua mansa voz, acordam as esperanças e se levantam os ideais esquecidos.

Ao forte clamor do Seu verbo, erguem-se os dias, e as horas do futuro vibram, aprofundando no cerne do mundo os alicerces da Humanidade Feliz do porvir.

Admoesta e ajuda.

Verbera, rigoroso, e socorre.

Aceita a oferenda do amor, mas não enclausura a verdade nas paredes do suborno.

Rei Celeste, comparte das necessidades dos pecadores e vive entre eles.

Permuta o contato dos anjos pela comunhão do populacho da verdejante e calma Cafarnaum, trocando os esplendores da Via-Láctea pelas madrugadas rubras do lago piscoso.

Prefere os entardeceres ardentes de Jerico à epopeia célica dos astros em infinito meio-dia.

Aceita o pó das estradas ermas e calcinadas de Caná, Magdala, Dalmanuta, e as suas fronteiras que se perdem no Sistema Solar, Ele as estreita entre o Mar e o Hebron, entre a Síria e o país de Moab.

Deixa a gleba paradisíaca para tomar de um grão de mostarda e elaborar com ele uma cantata, sofrendo calor asfixiante; esfaimado, pede a uma figueira frutos que, fora de época, ela não os pode dar. . .

Senhor do Mundo, Causa anterior existente, deixa-se confundir na turba, na multidão esfarrapada, que em fúria busca o amor sem saber identificá-lo; na multidão, sim, na qual, sofrendo, encontra a razão do seu glorioso martírio.

Entre os sofredores, canta as mais eloquentes expressões que o homem jamais ouviu.

As Suas Boas-novas são orquestradas pela musicalidade espontânea da Natureza, no cenário das primaveras e dos verões, entre as aldeias e o lago, no coração exuberante da Terra em crescimento. . .

E traído, magoado, encarcerado, vencido numa Cruz, elege uma tranquila e luminosa manhã para ressurgir, buscando uma antiga obsidiada para dizer-lhe que a vida não cessa, e que o Reino de Deus está dentro do coração, reafirmando, insofismável, ficar "conosco todos os dias até o fim do Mundo", retornando, assim, ao Pai, onde nos espera, vencidas as refregas libertadoras da ascese em que hoje nos empenhamos com sofreguidão.







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