Palavras do Infinito
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Uma palavra à Igreja
A igreja antigamente era uma luz dourada Que enchia os corações de paz e de esplendor, Sublime manancial, fonte viva do amor, Jorrando sob o sol de mística alvorada.
A palavra da fé caia como um luar De esperança divina, esplendorosa e doce, Sobre as dores cruéis, mas tudo transformou-se Quando Pantagruel apareceu no altar.
Então, desde esse dia, as dúlcidas lições Do exemplo de Jesus, - o meigo Nazareno, Sumiram-se no horror do lamaçal terreno, No multissecular mercado de orações.
De Deus fêz-se um cifrão imenso, extraordinário, Inventou-se o ritual de em Cristo estranho e nôvo E fêz-se a exploração sacrílega do povo Sôbre a tragédia santa. excelsa do Calvário.
Ó Igreja, esquece ao longe as indústrias da cruz, Só o Amor é farol no humano sorvedouro, Deixa ao mundo infeliz as camisas-fortes de ouro E volta enquanto é tempo aos braços de Jesus!. . .
Abílio Guerra Junqueiro
Poesia recebida em Pedro Leopoldo em 14 de agosto de 1935