Parnaso de além-túmulo

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CAPÍTULO 12

Antônio Torres


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Nasceu em Diamantina (Minas Gerais) em 1885, falecendo, em 1934, na cidade de Hamburgo, como cônsul adjunto do Brasil. Ordenou-se sacerdote, abandonando mais tarde a profissão eclesiástica. Poeta e escritor.


ESQUIFE DO SONHO

Tive um Sonho de Amor e de Inocência,

Cheio de luz das coisas invulgares,

Do qual perdi a luminosa essência

Na cristalização dos meus pesares.


Tarde reconheci minha falência,

Terminados os múltiplos azares,

De minha quase inútil existência,

No silêncio das cinzas tumulares.


E da Morte, no abismo indefinido,

Tombei exausto, amargurado e cego,

— Abismo tenebroso que eu transponho.


Infeliz do meu ser irredimido,

Pois triste e atordoado inda carrego

O negro esquife do meu próprio sonho.



NADA…

Nada!… Filosofia rude e amara,

Na qual acreditei, com pena embora

De abandonar a Crença que esposara,

— A minha aspiração de cada hora.


Crença é o perfume dalma que se enflora

Com a luz divina, resplendente e rara

Da Fé, única Luz da única Aurora,

Que as trevas mais compactas aclara.


Revendo os dias tristes do Passado,

Vi que troquei a Fé pela Ironia,

Nos desvios e excessos da Razão;


Antes, porém, não fosse tão ousado,

Pois nem sempre a Razão profunda e fria

Alivia ou consola o Coração.


Antônio Torres



Antônio Torres

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