Parnaso de além-túmulo
Versão para cópiaUm [poeta] desconhecido
Eu fui daquelas almas que viveram Sem conhecer da Terra os paraísos, Que somente a amargura dos sorrisos Pela noite das dores conheceram Não que eu fosse infeliz e desditoso, Pois fui também humano entre os humanos, E através dos meus dias, dos meus anos, Se eu quisesse gozar, teria o gozo. É que ao sentir no âmago do peito A atitude do homem nessa vida, Coração enganado, alma iludida, Afastado do Puro e do Perfeito, O meu ser que sonhara a Humanidade Qual um ramo de flores perfumosas, Viu as almas tremerem, desditosas, Sob o peso da própria iniquidade. E isolado nos grandes sofrimentos De ser só, na aspereza dos caminhos, Encontrei o prazer pelos espinhos, Ao trilhar os carreiros dos tormentos. Pois no mundo pequeno da minhalma, Quando em dor me envolvia a desventura, Eu vislumbrava a luz brilhante e pura Que me trazia a paz, bonança e calma: — Era a luz que me vinha da visão De ver o Cristo-Amor, entre cansaços, E tinha então prazer de ver meus braços Enlaçados na cruz da provação. |
O NOBRE CASTELÃO
No interior Do esplêndido alcaçar, Agonizava o senhor Dos domínios extensos. O dono do solar Nos espasmos intensos Da agonia, Em torno dirigia Um último olhar, E viu então O seu brasão Invicto e glorioso, Insculpido nas fúlgidas realezas Do castelo formoso, Transbordante de glórias e riquezas! Mais alongando a vista, Viu-lhe o feito da esplêndida conquista Nas grandiosas searas, Que em suas mãos avaras Foram armas cruéis, destruidoras, Martirizando as almas sofredoras. Contemplou seus tesouros passageiros, E em espasmos convulsos, derradeiros, Opresso o coração, Mergulhado no pranto mais profundo, Expirou para o mundo O nobre castelão. A sua alma despida das grandezas, Das terrenas, efêmeras realezas, Bem após o transcurso de alguns anos De triste letargia, Foi um dia Despertada em amargos desenganos: Conturbado por agros dissabores, Contemplou seu solar Ocupado por outros moradores… A exclamar, Estranhou revoltado, Que ninguém acudisse ao seu chamado. E em atitude austera, Tomado de energia, De cólera severa Já que ele era o senhor, Reclamou os seus servos com calor E, entretanto, nenhum lhe obedecia. Imerso em turbação, Somente, às vezes, Escutava nos ditos mais soezes Terrível maldição Das vítimas de antanho! E o sofrimento era tamanho Em ser incompreendido, Que se julgou perdido Irremissivelmente. Assim, constantemente, Durante o transcorrer de muitos dias. Conservou-se naquelas cercanias Como presa feroz Do sofrimento atroz. De contínuos pesares e agonias… Todavia, O pobre sofredor, No auge do amargor, Recordou-se que havia Um Pai Onipotente E cheio de fervor, Humilde penitente, Implorou seu amor Numa súplica em lágrimas de pena. Sua alma sofredora Sentiu-se então mais calma e mais serena, Penetrada de doce claridade, De luz confortadora, Que provinha de alguém Que lhe fazia Meditar na grandeza da Verdade E lhe dizia Da beleza do Amor, da Luz, do Bem: — «O que sofres, amigo, é a consequência Da equívoca existência Que levaste, Já que sem piedade aniquilaste Muitas almas e muitos corações, Que hoje te envolvem os lúridos momentos Em rudes sofrimentos E estranhas maldições. Porque ocultaste as flores formosas Que na Terra colheste, Flores lindas que nunca ofereceste Às almas desditosas? Porque não concedeste um só bocado Do teu pão abundante Ao pobre esfomeado? Ocupando-te em gozo, a todo o instante, Jamais vestiste os nus, nem consolaste Aquele que sofria; Desprezavas o fraco e nunca amaste Quem de ti carecia! A caridade, O sentimento-luz, a flor-tesouro, Não tiveste em teus dias de maldade No grande sorvedouro! Porém, o Deus de Amor É sempre o magnânimo Senhor, E permite que voltes aos humanos, Para que se dissipem teus enganos No amargor; Voltarás, Porém, já não terás Efêmeras venturas, Serás agora escravo e não senhor… Conhecerás As dores e amarguras, As mágoas escabrosas Pelas estradas rudes e espinhosas! Abençoa o Senhor Que te concede a dor, Para assim compreenderes Que os reais e legítimos prazeres Que da vida nos vêm. Não residem no Mal e sim no Bem.» |
NESGA DE CÉU
A alma extasiada Sobe… sobe… Há toda uma amplidão iluminada À sua vista… A estrada É uma etérea alfombra Sem resquícios de sombra! É o domínio da luz que ela conquista! Vibra no ar Dulcíssima harmonia, Como se fora feita De luar, De alegria… De alegria perfeita. Parece um hino de amor Dos Paganinis siderais, A ventura, o fulgor. Transformados em notas musicais. Além, fulguram sóis; Em tudo há um misto Nunca visto De manhãs e arrebóis. Aos clarões dessa aurora. A alma chora Em êxtase profundo. E lembra-se que sofreu, Que amou, que padeceu. Ao longe, muito ao longe, O mundo É um ponto negro que gira… Ainda além, mais além, A Via-Láctea transluz, Como um éden de luz E de amor. Nesgas do céu, imagens de esplendor, Cenários majestosos, Soberbas harmonias Nos mundos luminosos! Seres que passam rápidos, flutuantes, Sorridentes, radiantes, Nos espaços sem termos, onde a vida É a imortalidade Anelada, querida, De pureza, de beleza, De perfeição e de felicidade! Em baixo as vastidões, Em cima, as emoções Do Ilimitado. Atrás a noite e as mágoas de agonia Do passado; E, em frente, Um futuro esplendente Pintalgado de rosas, Da mais pura alegria. Feito de éter, de sonho, O caminho é risonho, Recamado de flores perfumosas. Melodia, luz, aroma!… De repente, Numa nesga de céu resplandecente Assoma Uma rútila esfera, Como um país de doce primavera, Intérmina de gozos!… A alma se extasia Na luz do Eterno Dia. Com os pensamentos puros e radiosos, Ora a Deus: Recorda em prece os sofrimentos seus, Evoca as lágrimas vertidas! Contempla panoramas de outras vidas, Vidas de estranha dor… Mas cada gota amarga dos seus prantos Agora É um raio de aurora, Que um a um Vão formando uma auréola De brilhos santos, Que a engrinalda de luz. Em suavíssima unção, A pobre alma orando, Chorando, Nessa prece Reconhece A alvorada de sua redenção! |
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Mateus 13:14
E neles se cumpre a profecia d?Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis.
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