Pensamento e vida

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Capítulo XVII

Profissão


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Pelos contatos da profissão cria o homem vasta escola de trabalho, construindo a dignidade humana; contudo, pela abnegação emite reflexos da beleza divina, descerrando trilhos novos para o Reino Celestial.

A profissão, honestamente exercida, embora em regime de retribuição, inclina os semelhantes para o culto ao dever.

A abnegação, que é sacrifício pela felicidade alheia, sublima o espírito.

É por isso que todos os povos sentem necessidade de erguer, no imo do próprio seio, um altar permanente em que rendam preito aos legítimos heróis.

A abnegação que começa onde termina o dever possibilita a repercussão da Esfera Superior sobre o campo da Humanidade.

O delinquente comum, algemado ao cárcere, inspira piedade e sofrimento. O paladino de uma causa nobre, injustamente recluso no mesmo sítio, provoca respeito e imitação.

O administrador consciente e amigo que reparte os bens do serviço, gastando a parte que lhe compete com escrupulosa probidade, é um padrão de virtudes terrenas. O homem que cede suor e sangue de si mesmo, a benefício de todos, sem cogitar do seu interesse, é um apóstolo das virtudes celestes.

A ama, devidamente paga por seu trabalho, junto à criança que lhe recebe carinho, é credora natural de atenção e reconhecimento, mas o coração materno, em constante renúncia, arrebata, quem o contempla, à glória do amor puro.

É assim que o matemático, laureando-se de considerações públicas, dignamente gratificado pela obra que realiza, é catalogado à conta de cientista, e o cientista, mergulhado no trabalho incessante, em favor da tranquilidade e da segurança da civilização, esquecido de si mesmo, é classificado por benfeitor.

Pela fidelidade ao desempenho das suas obrigações, o homem melhora a si mesmo, e, pela abnegação, o anjo aproxima-se do homem melhorado, aprimorando a vida e o mundo.

Nas atividades que transcendem o quadro de serviços remuneráveis na Terra, fruto das almas que ultrapassaram o impulso de preservação do próprio conforto, descem os reflexos mentais das Inteligências Celestes que operam, por amor, nas linhas da benemerência oculta, linhas em que encontramos os braços eternos do Divino Incognoscível, que é Deus.

Nessa província moral do devotamento sem lindes, em que surpreendemos todos os corações humanos consagrados ao serviço espontâneo do bem, nem sempre respira o gênio, por vezes onerado de angústia pela soma dos reflexos infelizes que carreia consigo desde o passado distante, mas identificamos facilmente os altos sacerdotes de todas as religiões, os admiráveis artistas de todas as pátrias, os nobres inventores de todos os climas, os artífices iluminados de todos os povos e as grandes mães, tanta vez esquecidas e sofredoras, de todas as latitudes. Por todos esses a Espiritualidade Superior desce gradativamente à esfera humana, sem qualquer ligação com o pagamento da popularidade e do ouro, porque é aí, pelo completo desprendimento de si mesma, no auxílio aos outros, que a alma vive o apostolado sublime da renúncia santificante, atraindo o Pensamento Divino para o burilamento e a ascensão da Humanidade.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

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