Religião dos espíritos
Versão para cópiaResponsabilidade e destino
Reunião pública de 15 de Maio de 1959
de “O Livro dos Espíritos”
O Criador, que estabelece o bem de todos como lei para todas as criaturas, não cria Espírito algum para o exercício do mal.
A criatura, porém, na Terra ou fora da Terra, segundo o princípio de responsabilidade, ao transviar-se do bem, gera o mal por fecundação passageira de ignorância que ela mesma, atendendo aos ditames da consciência, extirpará do próprio caminho, em tantas existências de abençoada reparação, quantas se fizerem indispensáveis.
Deus concede ao homem os agentes da nitroglicerina e da areia e inspira-lhe a formação da dinamite, por substância explosiva capaz de auxiliá-lo na construção de estradas e moradias, mas o artífice do progresso, quase sempre, abusa do privilégio para arrasar ou ferir, adquirindo dívidas clamorosas em sementeiras de ódio e destruição; empresta-lhe a morfina por alcalóide beneficente, a fim de acalmar-lhe a dor, entretanto, enfermo amparado, em muitas ocasiões escarnece do socorro divino, transformando-o em corrosivo entorpecente das próprias forças, com que prejudica as funções de seu corpo espiritual em largas faixas de tempo; galardoa-o com o ferro, por elemento químico flexível e tenaz, de modo a ajudá-lo na indústria e na arte, todavia, o servo da experiência, em muitas circunstâncias, converte-o no instrumento da morte, a desajustar-se em compromissos escusos, que lhe reclamam agonia e suor, em séculos numerosos; dá-lhe o ouro por metal nobre, suscetível de enriquecer-lhe o trabalho e desenvolver-lhe a cultura, mas o mordomo da posse nele talha, frequentemente, o grilhão de sovinice e miséria em que se amesquinha a si mesmo; e confere-lhe a onda radiofônica para os serviços da verdadeira fraternidade entre os povos, mas o orientador do intercâmbio, por vezes, nela transmite notas macabras, em que promove o aniquilamento de populações indefesas, agravando-se em débitos aflitivos para o futuro.
É assim que o Supremo Senhor nos cede os dons inefáveis da vida, como sejam as bênçãos do corpo e da alma e os tesouros do amor e da inteligência.
Do uso feliz ou infeliz de semelhantes talentos, resultam para nós vitória ou derrota, felicidade ou infortúnio, saúde ou moléstia, harmonia ou desequilíbrio, avanço ou retardamento nos caminhos da evolução.
Examina, pois, a ti mesmo e encontrarás a extensão e a natureza de tua dívida, pela prova que te procura ou pela tentação que padeces, porque o bem verte, puro, de Deus, enquanto que o mal é obra que nos pertence — transitório fantasma de rebeldia e ilusão que criamos, ante as leis do destino, por conta própria.
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