Religião dos espíritos

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Capítulo LXIII

Na grande transição


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Reunião pública de 11 de Setembro de 1959

de “O Livro dos Espíritos”


Por muitas sejam as tuas dores, repara o mundo em que a Divina Bondade te situa a existência e deixa que a vida te renove a esperança.

Tudo é serviço por toda parte.

Apesar dos profetas do pessimismo, bulcões ameaçadores transformam-se, na hora da tempestade, em lagos volantes, acalentando a gleba sedenta; fontes de longo curso atravessam as garras pontiagudas da rocha, convertendo-se em padrão de pureza; pântanos drenados deitam messes de reconforto e árvores podadas multiplicam a produção.

Todas as energias que sustentam a Terra esquecem todo o mal, buscando todo o bem.

Dir-se-ia que o próprio Senhor criou a noite como exaustor das inquietações do dia, para que o homem, cada manhã, consiga reaprender e recomeçar.

Colocado, assim, no trono da razão, ante os elementos inferiores que te servem, humildes, olvida a sombra para que a luz te favoreça.

Ouve a própria consciência, seja qual for a ideia religiosa a que te filias, e perceberás que nasceste para realizar o melhor.

E quem realiza o melhor desconhece o que exprima ofensa ou descaridade, porque a ofensa é espinho da ignorância e a descaridade é chaga da delinquência, que somente a educação e o remédio conseguirão liquidar.

Tudo aquilo que desfrutas é depósito santo.

Dotes de espírito e afeições preciosas, autoridade e influência, títulos e haveres são talentos emprestados que devolverás na hora prevista.

Desse modo, ainda mesmo que a maioria te escarneça o propósito de bem fazer, perdoa sempre e faze o bem que possas.

O tempo que te traz hoje a oportunidade presente será amanhã o portador do minuto necessário à grande transição que a morte impõe sempre a justos e injustos… E, na grande transição, o bem que houveres feito, muita vez superando sacrifícios e trevas, ser-te-á o orvalho fecundante depois da nuvem, a água pura acrisolada na pedra, o ramo virente a destacar-se do lodo e o fruto opimo a pender do tronco dilacerado.

Segue, pois, ao clarão do bem, para que o crepúsculo das forças físicas te descerre a senda estrelada.

Não digas que tens o lar à feição de penitenciária, que te falta a compreensão alheia, que não dispões de recursos para ajudar ou que sofres inibições invencíveis.

Recorda que, certo dia, um anjo transfigurado em homem subiu agressivo monte, sentenciado à morte sem culpa, mas, em razão de haver aceitado a cruz, por amor de todos, embora desolado e sozinho, clareou para sempre a rota do mundo inteiro.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

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