Religião dos espíritos

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Capítulo LXXI

Justiça e amor


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Reunião pública de 9 de Outubro de 1959

de “O Livro dos Espíritos”


Sempre que te reportes à justiça, repara que Deus a fez assistida pelo amor, a fim de que os caídos não sejam aniquilados.

Terás contigo a lógica indicando-te os males e o entendimento inspirando-te o necessário socorro aos que lhes sofrem o assédio.

Onde passes, compadece-te dos vencidos que contemples à margem…

Muitos pranteiam as ilusões que lhes trouxeram arrependimento e remorso e muitos se levantam ainda sobre os próprios enganos, à maneira de trapezistas inconscientes, ensaiando o último salto ao precipício da morte.

Dir-te-ão alguns não precisarem de teu consolo, fugindo-te à presença, com receio da verdade que te brilha na boca, e outros, que descreram do poder renovador do trabalho, preferem rolar no vício, descendo, mais cedo, os degraus do sepulcro.

Além deles, porém, surgem outros… Os que desanimaram em plena luta, recolhendo-se ao frio da retaguarda, os que enlouqueceram de sofrimento, os que perderam a fé por falta de vigilância, os que se transviaram à míngua de reconforto e os que se abeiram do suicídio, tomados pelo superlativo do desespero.

Tentando dar-lhes remédio, ergue o mundo penitenciárias e hospitais, reformatórios e manicômios; no entanto, para ajudá-los, confere-te o Cristo a flama do amor no santuário do coração.

Todos esses padecentes da estrada têm algo para ensinar.

Os que tombam esmagados de aflição induzem-te ao serviço pelo mundo melhor, e os que se arrojam a monstruosos delitos falam, sem palavras, em louvor do equilíbrio de que dispões, auxiliando-te a preservá-lo.

Não permitas que a justiça de tua alma caminhe sem amor, para que se não converta em garra de violência.

Ao pé dos maiores celerados da Terra, Deus colocou mães que amam, embora esses filhos desditosos de sua bênção lhes transformem a vida em fonte de lágrimas.

Diante, pois, dos vencidos de todas as condições e de todas as procedências, não mostres desprezo, nem grites anátema.

Não lhes conheces a história desde o princípio e não percebes, agora, a causa invisível da dor que os degrada.

Ora e auxilia em silêncio, porque não sabes se amanhã raiará teu instante de abatimento e de angústia, e manda a regra divina façamos aos outros aquilo que desejamos nos seja feito.

Justiça sem amor é como terra sem água.

Recorda que o próprio Cristo, reconhecendo que os vencedores do mundo habitualmente se inclinam à vaidade — perigosa armadilha para quedas maiores —, preferiu nascer na palha dos que vagueiam sem rumo, viver na dificuldade dos menos felizes e morrer na cruz reservada às vítimas do crime e aos filhos da escravidão.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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