Sexo e Obsessão

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CAPÍTULO 17
Ilustração tribal

Libertação e felicidade


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Enquanto a genitora, aureolada de luz, confortava o filho, percebendome a perplexidade, o irmão Anacleto informou-me mentalmente:

– Trata-se da veneranda mãe do infeliz marquês, que na Terra se chamava Marie-Eléonore, que não poucas vezes utilizou-se da influência do nome e da sua posição na Corte, especialmente como dama de companhia da princesa de Conde, para libertar do cárcere e mesmo da pena de morte o filho inditoso e rebelde. Havendo desencarnado com a alma dilacerada pelas atrocidades que o mesmo praticara contra muitas vidas, sofrida ante a herança nefanda que o mesmo atirara sobre o nome da família, vem trabalhando desde então para este encontro, que somente hoje foi possivel realizar. Uma das Entidades felizes que a acompanham é o abade Amblet, que foi o preceptor particular do marquês e procurou ser-lhe amigo fiel por toda a vida, mesmo durante as loucuras que o levaram, por fim, ao manicômio no término da existência malfadada. Como se pode depreender, nunca falta a presença da misericórdia de Deus ao mais terrível infrator, como abençoado sol que aquece o pântano, que dele sequer dá-se conta, a fim de purificá-lo, sem pressa nem punição.


A nobre visitante ergueu o filho infeliz e envolveu-o em um abraço de ternura, ao que ele, tentando desvencilhar-se, acentuou:

– Eu sou todo podridão, enquanto você é o lírio mais puro que medra no jardim irrigado de Sol.

– Filho da alma! – retrucou a Entidade elevada. Somos todos filhos do mesmo Pai, que nos gerou para a felicidade e nunca para a permanente desventura. Escolhemos o difícil caminho por livre opção, e, não poucas vezes, demoramo-nos nos desvios, até o instante em que nos chega o socorro, a segura diretriz que nos liberta de nós próprios. E este é o nosso instante. Em muitas ocasiões tentei visitar-te na tua cidade, mas o momento não era chegado. Tenho ouvido as rogativas de muitas mães, cujos filhos tombaram nas redes do seu desar [28] , alguns dos quais lá permanecem nas furnas e antros de perversidade e insensatez, cansados de sofrer e loucos por novos prazeres que não sabem mais experiênciar. Reconheço que cada um de nós escolhe sempre o caminho com o qual mais se identifica, permanecendo nele enquanto convém. No entanto, aqueles que nos induzem a determinadas atitudes, se não são responsáveis diretos pela ocorrência, são-no indiretamente, por haverem contribuído para a eleição das mesmas. E, no caso, o filho querido tem sido estímulo e modelo, encantamento e motivação para que muitas patologias sexuais encontrem campo de exteriorização e mercado para o seu estranho infeliz comércio.

Ela fez uma breve pausa, a fim de que todos nos impregnássemos dos seus sábios conselhos, permitindo que se ouvissem os choros convulsivos de Rosa Keller, de Madame X, amparadas pelos Mentores do labor espiritual.


Logo após, deu prosseguimento, argumentando:

– Dia próximo se anuncia em que a fraternidade legítima estenderá braços protetores a todos os indivíduos. Os sicários de agora se tornarão protetores das suas antigas vítimas e os maus dar-se-ão conta da necessidade de se tornarem bons, a fim de fruírem de felicidade, no convívio ideal, construindo o mundo melhor anunciado por Jesus. "Todos, no processo da evolução, experimentam erros e acertos, optando por quais recursos mais utilizar-se, a fim de encontrarem a dita que almejam. Alguns, que se equivocam, detendo-se na alucinação que elegem como meio de ventura, agredindo-se e ao determinismo das Leis Divinas, podem demorar-se por largo período no engodo, até o momento em que soa a sua libertação, não mais suportando as amarras nas quais estertoram. Luze sempre a claridade do amor na sombra mais densa e a misericórdia de Deus está sempre próxima de todos, bastando apenas que cada um se permita sintonizar com os valores elevados do Espírito, para ser beneficiado e começar a sua libertação. Por mais se alonguem os dias do terror e da enfermidade espiritual, sempre chega o momento da paz e da cura apontando o roteiro para Deus.


Ninguém, desse modo, poderá fugir desse divino tropismo que é a fonte geradora de toda energia e vida. "Aproveita, portanto, meu amado Donatien, para recomeçares a trajetória, que neste momento se encontra nublada de sombras e plena de misérias, para poderes fruir da paz que, desde há muito, perdeste em relação a ti mesmo e a todos nós, que te queremos. " O atormentado Espírito, tomado por copioso pranto, quase em convulsão, protestou:

– Não posso abandonar tudo de uma só vez. Aqui, comigo, estão centenas de companheiros que residem em nossa comunidade e me necessitam. Aguardam-me, em sala contígua, e devem estar ansiosos ou desesperados, sem saberem o que me acontece. Ainda não posso, mamãe, seguir a estrela, ficando no charco, onde apodreço, assim reparando todos os crimes cometidos e aqueloutros que continuo praticando. . . Perdoe-me, por havê-la feito descer de algum astro sem poder erguer-me com a sua vara de condão, com o seu amor de misericórdia. . . Sou mais desgraçado do que pareço.

O ódio da minha loucura, a alucinação que me assalta, o desespero em que resfolego impedem-me de enfrentar o cárcere de correção. Ainda prefiro esta vida maldita à recuperação mediante outros tipos de sofrimento, de consciência culpada e atormentada. . .

– Donatien-Alphonse – redarguiu a genitora sábia – ignoras o procedimento das Leis Divinas e considera-as conforme a tua caótica capacidade de entendimento. A Justiça de Deus não é feita de desforços, nem se utiliza dos mecanismos terrestres de cobrança e de punição. Todas elas têm como fundamento o amor, e este funciona mediante os valores arquivados na consciência de cada qual. Não podes imaginar o que te está reservado, antes que experimentes o doce convívio com a verdade. Afinal, os irmãos e seguidores que te aguardam, encontram-se igualmente amparados neste reduto espiritual de socorro que te recebe e os envolve em ondas de paz. Mesmo que te recuses aos benefícios desta hora e queiras retornar à tua cidade, serás surpreendido pelo número de acólitos que terão preferido ficar aqui, desfrutando da esperança de harmonia e de felicidade, conforme já está acontecendo. Grande número daqueles que te seguem, infelizes e submissos, não estão concordes contigo, mas temerosos de ti, deixando-se consumir pelas labaredas de sensações que já não os movimentam, porque diluídas no seu corpo perispiritual, somente o pensamento as vitaliza, atormentando-os mais do que produzindo-lhes prazer. Ademais, tu não és responsável pelos seus destinos. Foram eles que se fixaram aos teus desmandos, mediante o convívio psíquico com as tuas propostas perversas, e têm o direito de libertar-se logo alterem a paisagem mental e a opção evolutiva. Pensa, portanto, agora, em ti, na felicidade que está ao teu alcance, no teu novo e oportuno projeto de vida.

Silenciou, por um pouco, enquanto o envolvia em dúlcida vibração de paz, segurando-lhe as mãos e vitalizando-o com sua energia superior.


Continuando, disse-lhe com meiga voz:

– Voltaremos ao corpo novamente juntos. Eu irei primeiro, a fim de preparar-me para receber-te. Depois seguirás, após um período de depuração, quando te libertarás da intoxicação demorada destas energias que te oprimem e desgastam. Volveremos a estar juntos. O meu regaço te embalará com ternura e fruirás de venturas, que Deus nos concederá a ambos. De alguma forma, tenho necessidade de estar ao teu lado, a fim de contribuir para o teu renascimento espiritual, por sentir-me também responsável pelos acontecimentos que te assinalaram a existência. A convivência na Terra te iluminará a consciência;

reencontraremos aqueles a quem prejudicamos e poderemos auxiliá-los, ascendendo do vale sombrio no rumo do planalto da vera fraternidade. Não te escuses à iluminação nesta oportunidade, porquanto não podemos prever quando te surgirá outra bênção semelhante. "Reconheço que não será um tentame simples, nem uma viagem de natureza romântica ao país da fantasia ou dos sonhos. Será uma experiência de iluminação e de eternidade. Não são poucos os Espíritos que se transviaram do caminho do Bem e do amor para seguirem a senda tormentosa das paixões primevas e alucinantes. Ódios em sementeira de desespero traçaram incontáveis desvarios, que se multiplicam em sórdidas consequências e que temos de transformar em esperança e alegria. Compreendes que não se convertem espículos em flores sem que se arrebentem interiormente do invólucro em que dormem, a fim de esplenderem na claridade do dia.


Adversidades e testemunhos dolorosos uns, enquanto angustiantes outros, nos aguardam na grande viagem de recomeço transformador. Terás o meu carinho a todo instante e as bênçãos de Deus te assinalarão a marcha nos limites que te serão impostos pela própria necessidade de crescer, sem riscos desnecessários de novamente tombares nos desvãos da impiedade. . . " E porque desse sinais de emoção diferente, assimilando a possibilidade futura de paz, o marquês interrogou, compungido:

– Imaginemos que eu possa tentar recomeçar, deixar de lado a falsa posição de dono de alguns destinos humanos; como volverei? Em que forma me apresentarei, vestido de carne?


Sem ocultar a verdade, que se fazia indeclinável, a Entidade nobre elucidou:

– Não ignoramos, nós ambos, que os choques de retorno dos atos constitui fenômeno natural nos planos da Vida. É inevitável a colheita que vem da sementeira conforme foi realizada. Na marcha do processo de equilíbrio, torna-se necessário reconstruir tudo quanto a insânia demoliu, e isso será feito com os instrumentos utilizados no labor infeliz. Assim, receberás a graça da idiotia, ocultando o raciocínio em um cérebro incapaz de reproduzir-te o pensamento corretamente. Em decorrência dos abusos excruciantes que tens vivido na cidade perversa, sofrerás rudes limitações na organização genésica, transitando no mundo como um sonâmbulo, que o meu amor e a caridade de Deus converterão em um ressuscitado ditoso.


Mediante oportuno silêncio, que lhe permitia reflexionar em torno do que o aguardava em relação ao futuro, concluiu, afetuosamente:

– Postergar a hora da verdade é torná-la mais severa, que será enfrentada pela ânsia de ser feliz ou mediante o impositivo da evolução, que a todos alcança com ou sem a sua anuência. Ninguém foge do seu Deus interno que, embora adormecido por longo período, desperta e conclama pela necessidade de vir a flux, de exteriorizar-se. Assim, convém-nos antecipara hora, a fim de avançarmos pelas trilhas do porvir.

– E os meus inimigos, aqueles que sempre me perseguiram – indagou, temeroso – terão oportunidade de alcançar-me?


– É inevitável, filho da alma, porque onde se encontra o devedor, aí estará com ele o cobrador ignorante e mesquinho, enfermo e cruel. Mas o amor, que cobre a multidão de pecados, se encarregará de os transformar em amigos, conquistando-os para sempre. Lembra-te, no entanto, que sempre fulgirá a luz da verdade nos refolhos do ser, impressa pelo desejo veemente de corrigir os erros e de crescer na direção de Deus. Força alguma poderá apagar essa claridade interna que te constituirá um roteiro sempre seguro, mesmo quando a morte me trouxer de retorno, deixando-te ainda em peregrinação pelo mundo. . . "Não podes, neste momento, imaginar sequer os esforços que vimos empenhando, nós e o abade Amblet, para que se reorganizem as possibilidades para o teu retorno e a tua vitória. Como podes constatar, a marcha do Bem aguarda somente o primeiro passo, e essa decisão é tua. Agora ouve o restante da planificação, desde que nos largos cometimentos da vida não existe entre nós o improviso. " Acercando-se do espectro Rosa Keller, desfigurada e semienlouquecida, o Espírito Marie-Eléonore, envolveu-a em carícia afetuosa, explicando-lhe:

– Não ignoramos, minha filha, todo o calvário que tens padecido desde aquele já longínquo dia. . . Não desconhecemos, também, os abismos aos quais foste atirada pela leviandade dos nossos coevos e as circunstâncias infelizes que assinalaram a tua dolorosa existência, que terminaram por conduzir-te após a morte do corpo à cidade perversa. Por isso mesmo, não nos atrevemos pedir-te que o perdoes, porque o fel absorvido por muitos anos transformou-se em ácido a queimar-te e requeimar-te a alma. Não obstante, suplicamos-te que o desculpes, compreendendo que somente um enfermo mental, profundamente afetado, sem sensibilidade para o amor nem para a fraternidade, poderia permitir-se o que Donatien te fez e a diversas outras pessoas proporcionou. A sua estada no manicômio, transitando entre os atacados pelos delírios e alucinações que os vítimavam nos transtornos horrendos em que se aturdiam e sob obsessões cruéis que os vergastavam, contribuíram para piorar-lhe a criminalidade. A imaginação enferma, atingindo o clímax da aberração, elaborou, então, nas jaulas do hospital, algumas das obras infelizes de literatura doentia que outros do mesmo nível de perturbação mental imprimiram e têm sido celebrizadas no teatro e noutros veículos da moderna informação. Se o desculpares, dando-lhe ensejo de recuperar-se, também tu serás beneficiada, iniciando o teu recomeço em clima diferente deste que vens vivendo há mais de dois séculos de sofrimentos que parecem nunca terminar.


A veneranda Entidade fez uma pausa, ensejando à enferma espiritual absorver a lição, após o que, prosseguiu:

– Também tu voltarás ao corpo carnal, a fim de recomeçares o exercício do equilíbrio e a reconquista da saúde espiritual. Fustigada pelas reminiscências do largo trânsito pelos sítios de sombra e de dor, ressurgirás escondida em uma forma degenerada, com a mente lúcida mas sem os equipamentos que a possam traduzir. Será um curto período de expiação, que te proporcionará futuras experiências em outro clima de realização, em outras circunstâncias mais favoráveis. No momento, face às dolorosas conjunturas em que vos encontrais, meu filho e tu, não será possivel outro recurso senão este de significado expiatório e libertador. Pensa em termos de amanhã, deixando para trás sombras e ressentimentos, ódios e vinganças, porque o pântano em putrefação vive morto aniquilando tudo que se lhe acerque com os seus vapores morbosos.

– E quem receberá nos braços a desditada Rosa Keller? Quem se compadecerá do meu destino?

A voz fazia-se assinalar por profunda amargura e angústia, resultado dos pesados sofrimentos que havia experimentado até então.


Sem titubear, a Senhora elucidou:

– Aquele Pai Generoso que a todos nos criou, não tem preferência por um em detrimento de outro, amando-nos de igual maneira e ajudando-nos da melhor forma possivel. Ele, que te libertou do cativeiro onde estiveste até há pouco, já providenciou o Espírito que te receberá nos braços, envolvendo-te em carícias e molhando de lágrimas de ternura teu corpo deformado. Eu ofereci-me ao Senhor da Vida para ser utilizada como tua mãe, auxiliando-te ao lado do meu filho, na escalada da iluminação.

A informação produziu um impacto em quase todos que acompanhávamos o diálogo libertador.


Rosa Keller, após recuperar-se da surpresa, inquiriu, assustada:

– Eu voltarei ao corpo na condição de irmã do monstro que me despedaçou a alma? Por intermédio de qual sortilégio isso acontecerá?

– Todos somos irmãos uns dos outros – redarguiu o iluminado Espírit " – queiramos ou não, em razão da Paternidade Divina. O importante não é o seres irmã biológica daquele que te seviciou, mas estares ao seu lado, a fim de que ambos encontreis a paz e o perdão recíproco na situação dolorosa em que ascendereis do abismo no rumo da Estrela Polar, que é o Mestre Jesus. Ele abençoou os seus algozes e desceu às regiões de desespero antes de ascender ao Pai, a fim de arrancar Judas das mãos perversas daqueles Espíritos que o induziram por inspiração ao crime hediondo. E o fez em silêncio absoluto, resgatando-o de imediato, a fim de que pudesse avançar através dos tempos e volver, feliz, à convivência com os amigos que abandonara. . . Assim funcionam as Leis do Amor e ninguém poderá fugir da sua injunção inapelável.


Após uma rápida pausa, concluiu:

– Aqui estamos diversos Espíritos que falimos juntos, experimentando a misericórdia de Deus para o recomeço. O fracasso nos volta a reunir em nome das vitórias do futuro, não nos cabendo apresentar exigências, pois que carecemos de valores para propô-las. Em nossa condição de indigentes, toda moeda de luz é fortuna que nos cumpre aproveitar com sabedoria, numa decisão irrevogável. Desse modo, resta-nos somente aceitar o divino convite ou recusá-lo e mergulhar novamente no abismo, sem outra alternativa para o momento.


De imediato aproximou-se de Madame X, que se apresentava visivelmente transformada para melhor, sendo, dos três, quem assimilava as instruções com maior lucidez, e tocando-a com inefável bondade, disse-lhe:

– Todos estes planos encontram-se dependendo de tua decisão libertadora. Sendo o único reencarnado, fruindo de excelentes possibilidades no corpo físico, teus braços jovens e fortes deverão erguer um Lar para crianças infelizes, Espíritos profundamente endividados em recomeços difíceis, para que te reabilites em relação àqueles a quem feriste, e em cuja convivência adquirirás resistência para venceres as doentias tendências que te assinalam a atual existência de extravagâncias, que a fé religiosa irá corrigir. Dispões da lucidez necessária para entender que os compromissos negativos que te assinalam a jornada exigem reparação mediante quaisquer sacrifícios, que te constituirão mirífica luz no processo renovador. Certamente, não serão fáceis as horas porvindouras, porque largo tem sido o teu caminho de perversões e iniquidades. O organismo, que vem absorvendo energias deletérias desde há muito, encharcado e dependente, sofrerá compreensível abalo na sua estrutura, que exigirá refazimento através do leito de reflexões. Não te faltarão, porém, os recursos indispensáveis ao êxito do cometimento. Tua mãezinha será a canalizadora da ajuda superior, intercedendo sempre por ti e transmitindo-te as forças indispensáveis para a grande travessia pelo vale de amargura. Confia em Jesus e nunca desanimes. Toda via de redenção exige sacrifício e abnegação.

É imperioso refazer o campo destruído e plantar novas sementeiras de esperança e de paz.


Aquietando-se em reflexão profunda, a Emissária do Mundo Maior concluiu, imprimindo enérgico tom à voz:

– Aqueles com quem te acumpliciaste ou que foram vítimas da tua e da intemperança do marquês, renascerão nos braços do sofrimento, da miséria socioeconômica, experimentando desde cedo carência e infortúnio, que lhes constituirão a futura palma da vitória. Tendo-os próximos de ti experimentarás sentimentos controvertidos, que deverás transformar em compaixão e misericórdia, as mesmas de que tens necessidade no trânsito do processo de autorrecuperação. Contempla-os, pois, agora, e entrega-te a Deus, tu que Lhe suplicaste o auxílio e a complacência.

Quando silenciou, aqueles que haviam ouvido as recomendações especiais e que foram convocados ao recomeço apresentavam diferentes emoções, que se lhes estampavam nos rostos emocionados.

Relutante e enfraquecido, o antigo marquês transformara-se, tornandose, repentinamente fragilizado e temeroso. Todos os conflitos que lhe dormiam no íntimo especaram na face e apresentavam-se em forma de pavor e angústia, evocando, sem dúvida, as atrocidades cometidas em ambas as esferas da Vida, e que deveria agora começar a enfrentar sem disfarces nem cinismo. Sucede que a verdade sempre surpreende aquele que a escamoteia, e apresenta-se na nudez que lhe é peculiar, exigindo a consideração devida e a atenção antes negligenciada.

Nesse momento, o irmão Anacleto, responsável pela atividade, agradeceu ao venerando Espírito Marie-Eléonore e aos seus assessores, que se mantiveram em atitude de elevado respeito durante as providências estabelecidas pela visitante iluminada.

Antes de retirar-se, o elevado Espírito acercou-se novamente do filho e o envolveu em cariciosas vibrações de paz, reafirmando os propósitos de indestrutível união e apelando para que fosse dócil às vozes conselheirescas dos amigos devotados. Prometeu fazer-se presente sempre que fosse necessário, e após agradecer aos abnegados trabalhadores do cometimento, despediu-se, retirando-se com os seus dois assessores.

Respirava-se um clima psíquico saturado de blandiciosas vibrações, que nos penetravam, falando-nos, sem palavras, sobre a misericórdia do amor e a gravidade dos compromissos morais perante a Vida.







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