Sexo e Obsessão
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O drama da obsessão na infância
Logo que foi possivel, acorremos à Casa paroquial onde residia Mauro, a fim de acompanharmos o seu despertar no corpo físico.
O jovem teve dificuldade de reassumir as funções mentais coordenadas. Terrível torpor assomara-lhe à consciência, dificultando-lhe o raciocínio lúcido. Dores musculares mortificavam-no, espalhadas por todo o corpo, enquanto expressiva debilidade orgânica se lhe apresentava dominadora.
Exalava fluidos deletérios através da expiração ao tempo em que se encontrava envolvido nos chakras coronário, cerebral e genésico por densa energia que se evolava pastosa a princípio, desvanecendo-se paulatinamente.
Quase cambaleante buscou a ducha com água fria e banhou-se, tentando recuperar-se, o que de certo modo conseguiu parcialmente. Logo após, sentando-se na cama, começou a refletir e coordenar as ideias, que lhe traziam à memória as terríveis lembranças das cenas bestiais da noite, que passou a considerar como registros do inconsciente sobre algo terrível que não conseguia compreender plenamente. O pesadelo assustou-o, quase o levando a um choque nervoso, por identificar a perigosa trilha que percorria, conduzindoo a delírios exorbitantes qual o vivenciado fazia pouco.
Com muita dificuldade começou a orar. A prece era formulada em gritos interiores de desespero entre objurgatórias e pedidos de socorro aos Céus.
Interrogava-se, aturdido:
"Que me estaria acontecendo? Os devaneios e atos reprocháveis estãome conduzindo à loucura? Estarei sendo vítima de uma trama demoníaca?
Quando irei parar no resvaladouro do crime hediondo que vivo praticando?"
Ante a reflexão, recordou-se do ser perverso que o jugulara, arrastando-o para o paul de misérias morais, e sentiu-se mais indisposto. A figura estranha e cruel retornou-lhe à memória, aparvalhante, como se lhe comandasse a mente em desalinho com um poder sobre-humano ao qual não se podia furtar.
O medo assenhoreou-se-lhe dos sentimentos e as lágrimas banharam-
lhe o rosto desfigurado e pálido. Só então pôde orar com mais serenidade, beneficiando-se do refrigério da prece.
Jamais qualquer pedido fica sem resposta ante os Soberanos Códigos da Vida. O ambiente psíquico do quarto, possivelmente em razão das emanações habituais do residente vinculado aos desejos mórbidos, era deplorável. Entidades ociosas e viciadas ali permaneciam, umas em atitude de vigilância, enquanto outras se apresentavam como parasitas que se nutriam dos vibriões mentais e das formas-pensamento exteriorizadas pelo paciente infeliz.
Algo aturdido, em processo de recuperação, dirigiu-se ao refeitório para o desjejum. Permanecendo na habitação empestada pelas ondas sucessivas de baixo teor vibratório, Anacleto convidou-nos a um trabalho de assepsia psíquica, a fim de que a ingestão continuada da psicosfera doentia, que sempre afetava mais o paciente, fosse modificada, diminuindo-lhe o transtorno emocional.
Concentrando-se, silenciosamente, o Mentor exorou o auxílio divino, no que o acompanhei, incontinenti, transformando-se, a pouco e pouco, em um dínamo emissor de ondas vigorosas e luminosas que se exteriorizavam, diluindo as construções fluídicas perniciosas e afastando as Entidades viciosas que ali se homiziavam. A operação prolongou-se por alguns minutos, enquanto podíamos ouvir os gritos e blasfêmias dos infelizes que eram expulsos pelas ondas mentais direcionadas pelo pensamento do nobre Espírito.
Ao terminar, tomando contato com o recinto, tive a impressão de que me encontrava num outro lugar, no qual o Sol entrava gentil, completando a assepsia com os seus raios luminosos benéficos.
– Acompanhemos o nosso amigo – propôs-nos o trabalhador do Bem.
Mauro havia terminado a refeição frugal, sem haver superado totalmente o mal-estar que o acometia. A mente continuava tomada por interrogações perturbadoras, o peito arfava sob peculiar fardo de sentimentos desencontrados, e a consciência de culpa acoimava-o sem piedade.
Cabia-lhe seguir ao Educandário onde lecionava a crianças.
Normalmente, o pedófilo, a fim de ocultar os seus conflitos e tormentos sexuais, procura atividades respeitáveis que o ponham em contato com as suas futuras vítimas, de forma que não provoquem suspeitas em torno do seu comportamento. A própria perturbação torna-os muito hábeis na arte da dissimulação, apresentando-os como pessoas gentis e dedicadas, compreensivas e bondosas, que conquistam os incautos. A camuflagem abrelhes as possibilidades para os intentos infelizes que quase sempre se coroam de êxito temporário. . .
Por outro lado, pais invigilantes permitem que os seus filhos relacionem-se com adultos desconhecidos, demasiadamente generosos, permitindo-lhes convivência não acompanhada, que resulta em descalabro e perturbação. Isso, quando alguns dos genitores, igualmente desequilibrados, não se fazem os exploradores perversos da prole, que submetem aos caprichos degenerados da sua personalidade psicopata.
Há muito ainda para se aprender, debater e vigiar, em torno dos relacionamentos de adultos malvados com crianças inocentes e desprevenidas.
Chegando à Escola, alguns colegas notaram a palidez quase mortal do professor, e comentaram-na, havendo recebido explicação de distúrbio gástrico que justificava o estado de indisposição assinalado.
A alacridade infantil, a movimentação dos alunos na direção das salas de aula, produziram peculiar sensação no sacerdote que se sentiu estimulado, mudando de atitude mental e de disposição orgânica. Parecia alimentar-se da vibração musical e da presença da infância.
Era um dia fascinante de luz e tudo respirava alegria. A natureza em festa e a algazarra das crianças renovavam as forças debilitadas do jovem sacerdote.
Subitamente, porém, se lhe tisnou o júbilo ante a chegada de um menino de oito anos aproximadamente que se lhe acercou, sorridente e inundado de encantamento. A mente de Mauro recuou à própria infância, e foi assaltada pela presença grosseira do genitor, que o acariciava e abusava da sua inocência, há algum tempo. Sem poder fugir às cenas interiores que o afligiam, desencadeadas pelo pequeno que lhe tocou a mão, beijando-a carinhosamente, ele se reviu no flagício que lhe fora imposto pelo pai desnaturado, começando a transpirar e a sentir disritmia cardíaca.
Sem nada perceber, o jovenzinho dizia-lhe palavras de ternura e de alegria por havê-lo reencontrado, o que mais o afligia, pois que os clichês mentais perversos eram liberados ante esses estímulos, levando-o quase a um transtorno emocional.
Tentando manter-se equilibrado, soltou a sua da mão do pequeno, e sorriu canhestramente, pedindo-lhe que o procurasse em outro momento, durante o intervalo para a merenda. A criança disparou na direção de outro grupo infantil enquanto ele buscou abrigo sob generosa copa de árvore, para recobrar a serenidade.
No entanto, a imagem do pai continuou assaltando-o, e um estranho sentimento de ódio dominou-o por completo. Conjeturou interiormente, que fora o inditoso genitor quem o iniciara no tormento sexual que ora se lhe transformara em cravo perfurante nas carnes da alma, revolvendo-as quase sem cessar, levando-o ao não ignorado crime a que se entregava em busca de prazeres da sensualidade pervertida.
Ademais, pensava que era o caminho para a alucinação, porque sempre saía das infelizes experiências sem alegria, dominado pela culpa, exaurido de energias valiosas que tinha dificuldade em recuperar.
Ignorando totalmente a parasitose da obsessão de que também era vítima, não podia raciocinar com clareza e encontrar uma explicação capaz de acalmá-lo, acreditando-se ser um verdadeiro monstro, face ao descalabro a que se entregava.
Nesse comenos, o irmão Anacleto aproximou-se-lhe e aplicou-lhe energias restauradoras do equilíbrio, considerando que, naquele momento, as suas eram disposições de luta, de renovação e de busca do equilíbrio perdido.
Sentindo-se renovar, respirou aliviado, e adentrou-se no Educandário.
Saudado cordialmente pelos colegas de magistério, não mais deixava transparecer o conflito em que se debatia minutos antes.
Continuamos naquele recinto e, como era a primeira vez que tinha oportunidade de encontrar-me em uma Escola para crianças, pude observar que todas eram acompanhadas por Espíritos, algumas felizes, e não poucas por Entidades cruéis que, desde cedo, intentavam perturbá-las, vinculando-se-lhes psiquicamente. Diversas podiam situar-se no diagnóstico de obsidiadas, tão estreito era já o conúbio mental entre os desencarnados e elas, que não pude sopitar o interesse de aprender mais, interrogando ao caro Mentor, que me observava com serenidade:
– Sabemos que a criança é sempre um Espírito velho, que conduz muitas experiências evolutivas, embora a forma em que se apresenta. Não obstante, nesse período de infância sempre recebe maior apoio, a fim de que não haja prejuízos e impedimentos ao processo reencarnacionista que está empreendendo. Como se explicam, então, esses processos obsessivos que ora defrontamos?
Com a sua cordial bondade, o Orientador não se fez rogado, logo esclarecendo:
– Não ignorássemos que a misericórdia de Deus está presente em toda a Criação, e não seria o ser humano quem marcharia sem a necessária proteção para alcançar a meta que busca no seu desenvolvimento intelecto-moral.
Todavia, sabemos, também, que muitos processos de obsessão têm o seu início fora do corpo físico, quando os calcetas [12] e rebeldes, os criminosos e viciados reencontram suas vítimas no Além-Túmulo, que se lhes imantam, nos tentames infelizes e de resultados graves em diversas formas de obsessões. A obsessão na infância muitas vezes é continuidade da ocorrência procedente da Erraticidade. Sem impedir o processo da reencarnação, essa influência perniciosa acompanha o período infantil de desenvolvimento, gerando graves dificuldades no relacionamento entre filhos e pais, alunos e professores, e na vida social saudável entre coleguinhas. Irritação, agressividade, indiferença emocional, perversidade, obtusão de raciocínio, enfermidades físicas e distúrbios psicológicos fazem parte das síndromes perturbadoras da infância, que têm suas nascentes na interferência de Espíritos perversos uns, traiçoeiros outros, vingativos todos eles. . .
Olhando, em derredor, enquanto não se iniciavam as aulas, apontou uma menina loura de olhos claros e cabelos encaracolados com mais ou menos sete anos, que gritava, agredindo outra com palavras e gestos vulgares, quase aplicando-lhe golpes físicos. Parcialmente fora de si, foi retirada da cena chocante pela mestra, que nesse momento chegava e, repreendendo-a, conduziu-a para dentro da sala.
Dando curso à explicação, Anacleto continuou:
– Aí está um exemplo. A pequenina, como podemos observar, é uma obsessa. No lar é tida como recalcitrante e teimosa, não obstante os castigos físicos que lhe aplicam os pais desinformados e confusos, por não entenderem o que ocorre com a filha que esperaram com imenso carinho e os decepciona.
Consultado um psicólogo, o mesmo anotara distúrbios de comportamento, que vem tentando solucionar, sem penetrar na causa dos mesmos, que lhe escapam por falta de conhecimento dessa parasitose espiritual. No curso em que o processo vem recebendo atendimento, dar-se-á que, no futuro, essa criança seja candidata a terapias muito violentas e inócuas em grande parte, em razão das mesmas alcançarem somente os efeitos, não erradicando a causa central. Os fármacos ou neurolépticos conseguem, muitas vezes, auxiliar os neurônios na execução das sinapses, bloqueando as interferências espirituais, porém por pouco tempo.
– E não terá ela – voltei a interrogar – a proteção do seu anjo da guarda, que contribua para impossibilitar a obsessão?
– É certo que sim – respondeu, gentil. – Sucede, porém, que os débitos contraídos são muito graves, e a misericórdia divina já vem amparando-a, sendo a reencarnação o melhor instrumento para a sua reparação. O processo, que se desenvolve sob as bênçãos da lei de causa e efeito, culminará quando, certamente, a maternidade trouxer o adversário aos braços da sua antiga inimiga, selando com amor os propósitos para futuros conúbios de felicidade.
Ninguém caminha a sós e, por isso mesmo, na conjuntura aflitiva em que a menina se debate, o seu Espírito protetor muitas vezes impede que seja arrastada pelo seu algoz para as regiões mais infelizes em que se situa, nos períodos do parcial desdobramento pelo sono físico, dificultando-lhe o domínio quase total que teria sobre as suas faculdades mentais e os seus sentimentos de afetividade e de comportamento.
Procurando esclarecer-me mais, em torno do drama da obsessão na infância, o Benfeitor elucidou:
– Inúmeros casos de autismo, quando detectados na primeira infância, procedem de graves compromissos negativos com a retaguarda espiritual do ser, que renasce com as marcas correspondentes no perispírito, que se encarrega de imprimir as deficiências que lhe são necessárias para o refazimento. Outrossim, aqueles que padeceram nas suas mãos cruéis acompanham-no, dificultando-lhe a recuperação, gerando situações críticas e mui dolorosas, ameaçando-o com impropérios e vibrações deletérias que não sabe decodificar, mas registra nas telas mentais, fugindo da realidade aparente para o seu mundo de sombras, isto quando não se torna agressivo, intempestivo, silencioso e rude. . .
Calou-se, por um pouco, logo dando prosseguimento às informações:
– Por uma natural lei de afinidade, os Espíritos renascem no mesmo grupo consanguíneo com o qual agrediram a ordem e desrespeitaram os deveres. Assim sendo, quando algum deles apresenta na infância a parasitose obsessiva, os seus genitores igualmente aturdidos não dispõem de recursos para os auxiliarem, utilizando-se da docilidade, da paciência, da compaixão, do fervor religioso, que sempre se contrapõem às aflições dessa natureza.
Desesperam-se com facilidade, aplicam castigos físicos e morais injustificáveis no paciente infantil, agravando mais a questão pelos resíduos que ficam nos sentimentos prejudicados, especialmente o ressentimento, o ódio, a antipatia, a consciência da injustiça de que foram objeto. À medida que atingem a maturidade e a idade adulta, adicionam a esses transtornos íntimos, a mágoa contra a sociedade que não lhes soube respeitar as aflições e mais as aguçaram com rejeição, críticas ásperas e desprezo. . . "A obsessão na infância é um capítulo muito expressivo para integrar a relação das psicopatogêneses dos distúrbios de comportamento e mentais, necessitando urgente atendimento especializado, desse modo facultando oportunidades para a recuperação do paciente, para a sua saúde, para o ressarcimento dos seus débitos através do bem que poderá fazer, ao invés do sofrimento que experimenta. " Logo após, reflexionando, adiu em feliz conclusão:
– Quando luzir na Humanidade o conhecimento espírita e as sutilezas da obsessão puderem ser identificadas desde os primeiros sintomas, muitos transtornos infanto-juvenis serão evitados, graças às terapias preventivas, ou minimizados mediante os tratamentos cuidadosos que o Espiritismo coloca à disposição dos interessados. No caso em tela, a terapêutica bioenergética, a sua participação nas aulas de orientação evangélica sob a luz do pensamento espírita, a água magnetizada e a psicoterapia da bondade, do esclarecimento, da paciência dos genitores libertá-la- iam da influência perniciosa, auxiliando-a a ter um desenvolvimento normal. Concomitantemente, porque em ambiente propício, os Benfeitores da Vida Maior poderiam também conduzir o seu desafeto ao tratamento espiritual desobsessivo, alterando completamente o quadro em questão. "É claro que os débitos por ela contraídos em relação às Leis Cósmicas não ficariam sem a devida liquidação, mudando somente os processos liberativos, já que o Pai não deseja a morte do pecador, mas sim a do pecado, como bem esclareceu Jesus, o Psicoterapeuta por excelência. Como o amor libera do pecado, todo o bem que viesse a realizar através da saúde comportamental e psíquica se lhe transformaria em recurso terapêutico, liquidando as dívidas e compromissos infelizes que lhe pesam na economia da evolução. " Quando o Instrutor silenciou, repassei mentalmente alguns casos de crianças neuróticas, autistas, com distúrbios neurológicos, superativas, que houvera conhecido na Terra e algumas que atendera particularmente, suspeitando da presença de Entidades perturbadoras que as afligiam ou pioravam o seu quadro orgânico, agora constatando que a epidemia da obsessão a ninguém poupa em período algum da existência física ou mesmo após a desencarnação.
Desde que haja tomadas receptivas, que são os desacatos às Leis Divinas, sempre existirão plugs [13] para se lhes fixarem produzindo a ligação doentia e desgastante da obsessão.
Permanecemos algum tempo na Escola acompanhando as atividades educacionais que ali se realizavam, quando o vigilante Instrutor convidou-me a segui-lo em direção à sala de Mauro.