Sexo e Obsessão
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Socorros espirituais
Trêmula e perplexa, a diretora do Educandário conduziu a criança, que de nada se apercebera, à sua sala, derreando-se na cadeira, enquanto tentava coordenar as ideias. Era a primeira vez que se deparava com algo tão estarrecedor e debatia-se em rude confusão mental, por não saber qual a atitude correta a tomar. Jamais poderia ocorrer-lhe um pensamento de que o jovem sacerdote fora capaz de algo tão inditoso e cruel. Nesse estado de espírito, vinculada à religião dominante, apesar do choque sofrido, buscou sabiamente o concurso da oração silenciosa, a fim de ser inspirada, enquanto o menino aguardava instruções.
Nesse comenos, utilizando-se da natural concentração da senhora, Dilermando envolveu-a com fluidos refazentes e calmantes, asserenando-a e inspirando-a a comportamento de equilíbrio, já que um escândalo em nada auxiliaria a Escola, à quase vítima, aos demais alunos e aos seus familiares. A Mídia insensata, que se compraz em escabrosidades, logo se envolveria, tornando o fato isolado uma tragédia generalizada, criando situações muito embaraçosas para todos.
Assim, quando as ideias se lhe aclararam, ela solicitou a uma auxiliar conduzir o menino à sua sala, diluindo a gravidade da ocorrência que não deveria tomar dimensões maiores do que as reais. Nada obstante, o conflito permaneceu-lhe na mente, considerando a alta responsabilidade que lhe pesava sobre os ombros.
Durante as horas que se passaram, interrogava-se, interiormente: "Ter-se-ia equivocado ou chegado a uma conclusão por demais apressada? E, se realmente, o gesto de carícia do sacerdote não passasse de uma atitude de enternecimento sem máculas nem intenções mórbidas?" Invariavelmente, as pessoas sempre analisam a conduta das outras, conforme as suas possibilidades e os seus padrões de comportamento, transferindo ou não para as demais suas culpas, suas inquietações, seus valores éticos.
Resolveu, desse modo, após muitas reflexões, aguardar os acontecimentos futuros, o reencontro com Mauro.
Naquela noite, o Benfeitor providenciara atrair o obsessor do sacerdote à atividade mediúnica de socorro, na 1nstituição em que nos alojávamos, utilizando-se do concurso de alguns médiuns bem orientados e capacitados para o labor específico.
À hora regulamentar da Instituição, os membros da equipe socorrista reuniram-se como de hábito para a atividade da noite. Tratava-se de um grupo bastante harmonizado, qual uma orquestra bem treinada sob a batuta de devotado trabalhador da Causa Espírita, o amigo Felipe, que militava nos seus diversos labores há algumas décadas, e que se afeiçoara, especialmente, ao ministério da psicoterapia com desencarnados infelizes.
Após as leituras preparatórias e os comentários breves que antecederam à oração de abertura dos serviços espirituais, a Mentora da Instituição trouxe palavras sucintas de orientação em torno dos trabalhos terapêuticos que teriam lugar naquela noite, e alguns dos médiuns, recolhidos em prece, a pouco e pouco entraram em transe, facultando que as comunicações dos Espíritos sofredores uns, atormentados outros, tivessem lugar.
O médium Ricardo havia-se destacado pela facilidade da ocorrência dos fenômenos da psicofonia e da psicografia. Adestrado pelo estudo e prática da mediunidade com Jesus, era sensível e gentil aos apelos do Mundo Maior, jamais se recusando ao serviço de esclarecimento e de caridade para com os Espíritos infelizes.
Desde quando fora deslocado do organismo de Mauro, o seu adversário ficara emaranhado nas vibrações do irmão Anacleto que o retinham, embora o mesmo não se desse conta. Porque estivesse curioso com a sucessão das ocorrências que envolviam o seu desafeto, acompanhou-nos ou foi conduzido para que participasse da experiência evocativa dos desmandos praticados pelo desastrado sacerdote, comprazendo-se em sentir-lhe os sofrimentos que o desvairavam.
Planejada a ação do Bem, o servidor de Jesus concentrou-se fortemente no desditado espiritual e trouxe-o, face à imantação psíquica, ao reduto da caridade evangélica, aproximando-o do médium Ricardo, que lhe pressentiu a vibração, deixando-se incorporar embora o visitante não o desejasse.
Ato contínuo, entre estremecimentos e reações compreensíveis, o agressor desnaturado, dando-se conta do que ocorria, rugiu, raivoso, com dificuldade verbal para expressar-se:
– Que trama é esta? Que se passa? Que se deseja de mim?
Concomitantemente, procurava desembaraçar-se dos fluidos que o retinham ligado ao perispírito do médium em transe, que se entregara totalmente ao fenômeno da psicofonia atormentada.
O irmão Felipe, muito sereno, inspirado pelo ativo Mentor, elucidou que não se tratava de uma armadilha, mas de um encontro muito feliz, por ser aquela a Casa de Jesus, onde o amor tinha primazia e os visitantes eram recebidos como verdadeiros irmãos, que realmente o eram.
Blasfemando e espumando de cólera, o indigitado comunicante inquiriu:
– Sabe quem eu sou e o que faço? Por acaso se atrevem a interferir em meus planos que se encontram dentro das Leis da Vida? Sou vítima, que ora se compraz em recuperar o tempo sofrido, impondo a adaga da justiça sobre aquele que me infelicitou, aguardando apenas o momento para aplicar-lhe o golpe final.
Sem perder a serenidade, o doutrinador ripostou:
– Sentimo-nos muito felizes por recebê-lo, sendo informado dos seus objetivos, que lealmente ignorávamos. Discordamos, porém, que o processo de que se utiliza para o desforço se encontre dentro dos Códigos Superiores, porque o amor é o único instrumento para regularizar todas as situações penosas e infelizes da trajetória humana. Desde que o amigo é vítima, desfruta de uma situação privilegiada, porquanto o algoz é sempre o infeliz que desacata o Estatuto Divino e passa, a partir desse momento, a experimentar-lhe os impositivos reparadores, não cabendo . a ninguém o direito de vingança, que é sempre um ato de inferioridade moral.
– Como aguardar que as Leis se cumpram, se elas estão fixadas em nossos sentimentos? Aquele que me infelicitou fez o mesmo a muitas outras vidas que ora estorcegam na agonia, enquanto o miserável mistifica em nome da Religião, na qual esconde a indignidade para dar prosseguimento aos seus infames propósitos. É claro que o inspiro à continuidade, porque isso também me satisfaz, e, nos momentos do seu desprendimento pelo sono, arrebato-o para a cidade onde resido com outros, e onde ele se compraz no deboche e na exaustão dos sentidos. Já nem sei se o odeio ou se me agrada o conúbio com a sua degradação.
– O amigo não está sendo sincero com a verdade. Certamente reconhece que os semelhantes se atraem, enquanto os contrários se repelem, o que constitui uma das leis da Vida. O mesmo ocorre entre as criaturas, que sempre se unem ou se afastam em razão das afinidades que vicejam entre elas.
Se o amigo-irmão tem tal postura ante a sua vítima, é porque a sua não é uma situação diferente da que ele mantém. Quanto a levá-lo para o lugar em que se refugia, o fato ocorre em razão da mente distorcida e vulgar que o outro cultiva, preservando a morbidez e a intemperança, sem o que lhe seria totalmente inviável o êxito do que pretende.
– O certo é que o matarei, senão de imediato, ao primeiro ensejo – disparou feroz.
Desde o primeiro momento, quando do encontro com o perverso inimigo de Mauro, chamou-me a atenção a sua fácies deformada, o conjunto de aberrações expostas e o aspecto de lesma disforme, viscoso e tresandando odores pútridos.
Imantado fortemente ao perispírito do médium sensível, mais se podiam perceber os detalhes da deformação que lhe tomara o ser ante os desmandos e práticas absurdas a que se entregava. O seu psiquismo, concentrado nas funções sexuais servis, havia criado na sua estrutura perispiritual uma forma degenerada que traduzia os seus conflitos e torpezas.
Sentindo-se fortemente aprisionado nos tecidos vigorosos do corpo perispiritual do sensitivo, blasonou:
– Aqui me encontro porque quero, podendo retirar-me no momento que me comprazer.
– Não duvido, concordou Felipe. Apesar disso, a sua visita tem um fim, um propósito muito elevado. Trata-se da sua felicidade, que vem postergando ao longo do tempo, cada dia mais desnaturado e sofredor.
– Está equivocado – redarguiu, com sonora gargalhada. – A felicidade em mim é o prazer que desfruto nas atividades sexuais com parceiros humanos, adultos e especialmente crianças que muito me agradam. Para tanto, disponho de um instrumento perfeito, que se oculta no disfarce da Religião e da Educação para dispor de mais variado estoque de comparsas, alongando-me pelas sensações exuberantes que fruo na comunidade onde vivo ditoso. . .
– Todo esse prazer e felicidade são fictícios, porque se trata de uma ilusão a que o amigo se impõe, e que, mediante ideoplastia [15] muito bem elaborada, experimenta como fixações que lhe ficaram do corpo físico, hoje um monte de ossos ou pó que o tempo transformou. O mesmo ocorrerá, se é que não vem sucedendo, com as suas atuais aspirações e gozos. O Espírito não necessita dos envolvimentos materiais para alcançar a felicidade. Quando assim ocorre, ele mesmo se equivoca, mantendo toda uma estrutura de quimeras e absurdos com os quais se auto-hipnotiza, vivenciando aquilo que não mais pode ocorrer. A realidade, que nunca falta, se encarrega de esboroar os castelos da ilusão e despertar para a consciência, dilacerada por muito tempo pela perversidade, pelo egoísmo, pelas enfermidades interiores do Espírito. . . Este é o seu momento de autoconscientização através do contato conosco. Observe o corpo de que se utiliza neste instante. Dê-se conta dos limites que lhe impõe.
Sinta as experiências diferentes que lhe transmite, as sensações de paz e de esperança, emoções já quase esquecidas. . .
– Não me faça rir – interrompeu o obsessor, abruptamente. – Afinal, sou eu quem tem muito a comentar e não você que nada entende da realidade do lado de cá. Neste mundo no qual me movimento, a mente é tudo, e com ela cada qual experimenta o que melhor lhe apraz.
– Não ignoramos isso, os espiritistas, que transitamos de uma para outra faixa vibratória e mantemos contato contínuo com essa esfera das causas.
O fato a que me refiro são as construções mentais doentias, os redutos de ignorância e de crueldade, de licenças morais e vacuidades espirituais, que um sopro do amor da Realidade dilui, tudo reduzindo a expressões que não mais podem atender aos desmandos dos tresvariados como o amigo. . . Observe que o fenômeno que agora ocorre é quase o mesmo que se dá, quando você envolve aquele que o prejudicou. Somente que esta ocorrência é proposta como terapêutica e a sua influência tem limites, em razão dos controles morais do médium de quem se utiliza.
– Reconheço que o posso comandar com limites – esclareceu, desagradado. – Não obstante, as energias que ele exterioriza não conseguem impedir-me a lucidez nem a minha própria vontade. O certo é que este diálogo, que se alonga inútil, não conseguirá alterar o meu comportamento. Volverei ao meu reduto, onde me reabastecerei de forças para dar prosseguimento à guerra.
– A guerra, amigo querido, está dentro das fronteiras do seu mundo íntimo, em razão dos seus conflitos e desordens morais, que o consomem sem o aniquilar, que o desarticulam sem o destruir. Somente o amor possui os valores e recursos que propiciam a paz, estando ao alcance de todos aqueles que o desejemos vivenciar. Não se engane mais, nem continue mentindo a si. Você sabe que a sua hora soa e chega o instante da sua renovação. Ninguém pode prosseguir por tempo indeterminado nos propósitos inferiores sem que haja a intervenção divina.
Totalmente envolvido pelos fluidos do médium e pelas vibrações emanadas do Mentor Anacleto, o inditoso começou a blasfemar e a repetir ameaças que faria estremecer até mesmo estruturas emocionais mais resistentes.
Felipe, sem perder o autocontrole, conduzido espiritualmente aproximou-se do médium em transe e começou a aplicar energias balsamizantes, enquanto elucidava:
– Por hoje o nosso diálogo está encerrado. Não faltarão outras oportunidades para esclarecimento. O nosso desejo de afastá-lo daquele a quem explora psiquicamente, roubando-lhe as energias e o discernimento, aguçandolhe os desejos inferiores, está coroado de êxito. Você será mantido em tratamento especializado em outra área do mundo causal, recuperando-se a pouco e pouco, de forma que desperte completamente lúcido para outra realidade.
O verbo ameno e caridoso, as vibrações saudáveis que eram aplicadas no médium e no Espírito culminaram com o afastamento do sofredor, logo recolhido por cooperadores da Equipe espiritual da Casa, naquele momento sob a direção do irmão Anacleto.
As atividades mediúnicas prosseguiram com outras psicofonias dolorosas, assinaladas pelo sofrimento, pela revolta, pela angústia, pela necessidade de paz, assinaladas pelos comunicantes espirituais. O Espírito é, realmente, o construtor das suas emoções que variam da desdita à plenitude.
De acordo com os comportamentos mentais e emocionais, as condutas no cotidiano, constrói-se, projetando na direção do futuro todo esse arsenal de realizações que lhe constituem o patrimônio existencial.
Enquanto o agressor de Mauro era adormecido em nossa esfera de ação, interroguei o irmão Anacleto:
– Considerando-se que o amigo espiritual atendido não estava interessado na própria renovação, trazê-lo a contragosto a esta reunião de esclarecimento e de libertação, não incidiria em violência contra o seu livrearbítrio?
Com paciência e sabedoria o interrogado esclareceu-me:
– O livre-arbítrio é concessão divina que tem caráter relativo, não podendo ser facultado sem responsabilidade por aquele que o utiliza. No caso em tela, a fim de auxiliarmos Mauro, que necessita de recuperar-se dos males praticados, somos convidados a contribuir em favor de todos aqueles que se encontram enredados nas teias dos problemas desencadeados pela insânia dele. E porque o mal que Jean Michel – este é o nome que teve na reencarnação anterior – persiste em preservar, arrastando o seu inimigo e a si mesmo desvairando, não pode permanecer indefinidamente, o nosso ato é de misericórdia e de compaixão, não constituindo violência, porque o seu discernimento encontra-se obliterado pela paixão alucinada. Qual ocorre com crianças e jovens, ou mesmo com adultos sem amadurecimento psicológico e moral, determinadas decisões não necessitam de passar-lhes pelo crivo da opinião, porque destituídos de discernimento não saberiam o que ou como fazer. Não poucas vezes, determinados tratamentos cirúrgicos e psiquiátricos são decididos pela família do paciente, mesmo que sem o seu consentimento, a fim de salvar-lhe a existência. A responsabilidade é o melhor aval para a utilização do livre-arbítrio, mas que ainda falta a muitos Espíritos durante o seu atual processo de evolução. "Certamente a Vida estabelece os seus Códigos e a transgressão dos mesmos gera as ocorrências que se transformam em infortúnio para os seus desavisados, estejam ou não conscientes da responsabilidade da ação que pratiquem. É óbvio que haverá sempre fatores ponderáveis que são levados em conta, agravando ou diminuindo as consequências, conforme a consciência de cada um. " A movimentação espiritual era muito grande na sala, relativamente exígua no seu espaço físico. As paredes, no entanto, haviam desaparecido e o ambiente alargava-se além dos limites estabelecidos pela construção material.
Genitores aflitos já desencarnados traziam solicitações de socorro aos filhos rebeldes e ingratos que ficaram na Terra, rogando amparo e libertação das Entidades inferiores com as quais se compraziam; esposos saudosos imploravam ajuda e oportunidade para enviarem notícias aos parceiros que ficaram no mundo; amigos ansiosos requeriam o concurso dos Benfeitores em favor dos companheiros da experiência carnal; obsessores de má catadura apareciam intempestivamente, arrebanhados para área própria de contenção, tudo porém supervisionado pela Mentora da Casa, assessorada por um grupo de especialistas em socorro espiritual, que se movimentavam com discrição e ordem, preservando o ambiente psíquico.
Sobre a mesa mediúnica uma faixa de luz diamantina descia de ignorada região, envolvendo todos aqueles que ali se encontravam no ministério socorrista. Vibrações vigorosas vinculavam uns aos outros trabalhadores, formando um círculo luminoso que os mantinha em equilíbrio.
Na assistência, fora da mesa onde se dava a maioria das comunicações, círculos de luz variavam de tonalidade conforme a emissão de onda de cada pessoa, concentrada ou não, vibrando em uníssono com os Espíritos trabalhadores, ou que, por uma circunstância qualquer se distanciava do local através do pensamento indisciplinado, ali permanecendo fixado às impressões que lhe eram familiares e nas quais se comprazia, porém sem nenhuma luminosidade. Aparentemente encontrava-se deslocada das correntes de energia que a todos uma num todo vibrante e harmonioso, sem que, todavia, se encontrasse à míngua de proteção em relação aos seus inimigos pessoais. . .
Uma reunião mediúnica de qualquer natureza é sempre uma realização nobre em oficina de ação conjugada, na qual os seus membros se harmonizam e se interligam a benefício dos resultados que se persegue, quais sejam, a facilidade para as comunicações espirituais, o socorro aos aflitos de ambos os planos da vida, a educação dos desorientados, as terapias especiais que são aplicadas, e, naquelas de desobsessão, face à maior gravidade do cometimento, transforma-se em Clínica de saúde mental especializada, na qual cirurgias delicadas são desenvolvidas nos perispíritos dos encarnados, assim como dos liberados do corpo, mediante processos mui cuidadosos, que exigem equipe eficiente no que dizerespeito ao conjunto de cooperadores do mundo físico.
Acercando-se o momento do encerramento das atividades da noite, após a aplicação de passes coletivos nos médiuns e demais membros do grupo, dispersão das energias condensadas que haviam ficado como sequelas das comunicações e mesmo da psicosfera produzida pelos mais infelizes, o irmão Anacleto foi convidado a transmitir a mensagem final de encorajamento e de iluminação a todos os presentes por solicitação da Diretora espiritual.
Orando silenciosamente para o cometimento, o Amigo tomou os recursos psicofônicos de Ricardo, que se iluminou, exteriorizando peculiar claridade nos chakras coronário e cerebral, em tonalidade violáceo-prateada que lhe tomava todo o sistema endócrino, partindo da glândula pineal, verdadeiro fulcro de luz, e percorrendo todas as demais, com predominância nas do aparelho genésico que emitia radiações poderosas, sustentando a bomba cardíaca, os pulmões, os rins e todo o organismo.
O médium apresentava-se transfigurado, com a face em delicado sorriso e em serenidade, facultando que o pensamento do comunicante fosse decodificado pelo seu cérebro e transformado em palavras. "Amigos-irmãos – começou o nobre Espírito – prossiga a paz de Jesus em nossos corações. O amor que flui de Nosso Pai jamais cessa. Expressando-se de mil formas alcança todas as manifestações da Sua vontade materializada no universo. Vibrando nas micropartículas e imantando o Cosmo, mantém a ordem e o equilíbrio das moléculas e das Esferas que pulsam além da nossa imaginação. Entre nós, manifesta-se como dever em relação ao nosso próximo, após a própria transformação moral para melhor. Sem essa renovação interior, mui dificilmente alcança outros corações. "Exteriorizando-se como forma de construir a alegria em outras vidas, para tornar o mundo melhor e as criaturas menos sofridas, é o alimento das almas, sem o qual todas pereceriam. Extrapola a dimensão do mundo físico e agiganta-se além da organização material, abrangendo os espaços siderais onde estão edificados os ninhos espirituais e as mansões da felicidade, descendo aos pauls da miséria moral e da vergonha, nos antros de devassidão e de perversidade. . . Luze, soberano, em todo lugar, e vige como força que conduz à meta da felicidade. Nada obstante, o egoísmo humano engendra a rebeldia e a ignorância das Leis, proclamando a vigência do ódio, que é apenas doença da alma, produzindo alucinações e desaires. "Atos irrefletidos, comportamentos desastrosos, ações perversas, que são frutos espúrios da ignorância e do egotismo, enfermam os Espíritos que se alucinam, convidando-os aos revides e às desestruturadas vinganças, aos disparates da revolta que consumam com atitudes de perseguição e de insânia, perdendo o tempo e a oportunidade de serem plenos. "Surgem, então, os espetáculos inditosos das obsessões vigorosas, nas quais o intercâmbio de vibrações deletérias ceifa a alegria e a paz, a saúde e o júbilo, arrastando-se por largos períodos de insânia e desespero, quando poderia ser muito diferente, caso se permitisse que o amor lenisse as mágoas e apagasse os sentimentos de revolta. . . E vemos a multidão aturdida, sobrecarregada pelo peso das alienações espirituais de simples como de complexo conteúdo psicopatológico. "Por outro lado, esses processos de orgulho e de presunção desencadeiam transtornos emocionais e psíquicos que se convertem em enfermidades dilaceradoras cruéis, transformando o planeta em um grande hospital, quando a sua é a função de escola, para educação e para reeducação, reduto de crescimento íntimo e de iluminação interior. Dessa forma, campeiam as obsessões espirituais e físicas, os dislates dos sentimentos e os ódios em guerras sórdidas de uns contra os outros, quando se deveria laborar para que ocorresse a união de uns com os outros, conforme a recomendação do Príncipe da Paz, que é Jesus Cristo. "Apesar disso, O Consolador chegou à Terra, a fim de auxiliar o ser humano na sua recuperação, influenciando-lhe a conduta, oferecendo-lhe a visão da realidade que, outrora, não tinha como entender, por faltarem os recursos valiosos da Ciência e da Tecnologia, do pensamento e da razão.
Levanta-se agora a cortina que impedia a visão do mundo espiritual e constatase a grande realidade da vida em outra dimensão, de onde todos procedemos e para onde todos retornamos. "Com o seu advento, os Espíritos do Bem vêm conclamar-vos à concórdia, à compaixão, à caridade, ao culto dos deveres. Não tergiverseis, nem temais nunca, pois que o Senhor da Vida está convosco, conduzindo-vos com segurança ao Seu aprisco. "Distendei as mãos caridosas a todos, particularmente aos irmãos da Erraticidade inferior, que constituem a multidão dos equivocados e infelizes, que se encontram na psicosfera do planeta e logo mais estarão de retorno, caminhando no corpo físico com as massas no rumo do porvir. Ajudai-os, auxiliando o vosso próximo mais próximo no lar, no trabalho, nas ruas, na comunidade. . . "O bem começa no lar e expande-se em catadupas de luz, rompendo a grande noite que predomina no mundo atormentado dos nossos dias. Vivei conforme os ditames do Evangelho de Jesus, caindo e levantando-vos, errando menos e acertando o passo com o amor, a fim de tornardes as vossas existências um pomar de bênçãos e a vossa estrada assinalada por marcas de segurança, apontando o rumo de plenitude. "Tende paciência ante as injunções dolorosas e confiai no amanhã.
Realizai o melhor agora, e aquilo que não possa ser executado no momento, aguardai o instante propício no futuro que alcançareis. "Agradecendo-vos a cooperação fraternal em favor dos irmãos atormentados, que se encontram na retaguarda do processo da evolução, exoro as bênçãos de Deus para todos nós. "Afetuosamente, vosso amigo e irmão, Anacleto. "
Pairavam no ar dúlcidas vibrações de paz. Muitos de nós, de ambos os planos da Vida, tínhamos lágrimas de justa emoção, que escorriam suavemente pela face, em forma de gratidão ao Pai e ao querido Benfeitor.
Ante o magnificente espetáculo de luzes espirituais que penetravam todos os presentes, a reunião foi encerrada com sentida oração de graças, proferida pelo irmão Felipe.