Jesus e Atualidade (Série Psicológica Joanna de Ângelis Livro 1)
Versão para cópiaJESUS E POSSES
O apego aos bens materiais torna-se uma jaula que aprisiona o possuidor distraído, que passa a pertencer àquilo que supõe possuir.
Causa aflição, pelo medo de perder o que acumula; pela ânsia de aumentar o volume dos recursos; pela circunstância de ter que deixá-los ante a iminência da morte sempre presente na vida.
Desvaria, porque intoxica de orgulho e prepotência a criatura, que se crê merecedora de privilégios e excepcionais deferências, que a não impedem de enfermar-se, neurotizar-se, padecer de solidão e morrer como todas as demais.
Enrijece os sentimentos, que perdem a tônica da solidariedade, da compaixão e da caridade, olvidando-se dos outros para pensar apenas em si.
Faz pressupor que nasceu para ser servido, abandonando o espírito de serviço que dignifica e favorece o progresso.
O possuidor que não se interessa por repartir os valores, oferecendo dignas oportunidades de trabalho, é escravo que mais se envilece, quanto mais se prende às posses.
Rico é todo aquele que doa, assim espalhando os recursos, que se multiplicam em diversas mãos em benefício geral.
O rico verdadeiro é investidor consciente, que não paralisa o crescimento da sociedade, antes amplia sua área de realizações.
Sabe que é mordomo transitório e não dono permanente, devendo prestar contas, oportunamente, dos valores que lhe foram confiados.
Verdadeiramente, o homem nada possui. Nem a si mesmo ou à sua vida, tornando-se usuário de tudo quanto lhe chega e passa. A descoberta de tal realidade harmoniza-o interiormente e com tudo quanto é temporário, em trânsito para o que é de sabor eterno, que é a sua espiritualização.
No século desfruta, mas não retém. Na Vida permanece, mas não abusa.
O encontro de Jesus com o jovem rico, que se dispôs a segui-lO, reveste- se de extraordinário conteúdo contemporâneo.
Apesar de cumpridor das exigências formais da sociedade e da religião, não tinha consciência do significado da integração da sua existência no ideal fecundo da vida eterna.
Queria o "reino", desfrutando os favores do mundo, em forma dos bens que lhe facilitavam a caminhada faustosa.
Anelava por seguir o Amigo e fruir da Sua companhia, sem contribuir com nada.
Ter mais, sem despojar-se de algo, era o seu intento.
O Mestre, que o conhecia em profundidade, estabeleceu como requisito fundamental, que ele vendesse tudo quanto possuía, desse-o aos pobres e o seguisse.
A vida é feita de intercâmbios, de trocas e permutas. "Se dá a quem tem e se tira de quem não tem", daquele que é avaro e nunca reparte o excesso que, para ele, não é nada, no entanto, para os demais, é tudo.
O moço era rico e gozador, mas não era fe-liz, pois que lhe faltava algo: a solidariedade que pacifica as ansiedades do coração.
Talvez ele se pudesse libertar dos bens materiais; todavia, não estava acostumado aos limites da escassez, ao equilíbrio da falta, a uma posição menos vistosa, destituída do brilho enganoso da fatuidade e da bajulação.
Renunciar aos tesouros seria um passo na direção da renúncia de si mesmo, e isto era-lhe demasiado.
Favorecido pela abundância, receou a caréncia.
Renunciou, então, ao permanente, e perdeu-se na vacuidade.
Possuis, como bens atormentantes, ao lado das moedas, propriedades, títulos, semoventes, as paixões e caprichos deles decorrentes.
Almejas paz e afeição, felicidade e auto-realização; entretanto, quando se te apresenta o ensejo, recalcitras e avalias o montante daquilo que deves doar em troca, optando por prosseguir conforme te encontras.
Queres, porém não estás seguro da opção que deves fazer, da contribuição a brindar, do teu esforço pela libertação.
Somente é feliz aquele que é livre.
Só existe felicidade em quem se encontrou com a verdade, absorveu-a e tomou-a como norma de conduta.
No redemoinho das tuas querelas e conveniências, se desejas vida nova e harmônica, ouve Jesus: "Despoja-te de tudo, dá aos outros o que seja útil e segue-me" — propõe Ele.
Desnudado, estarás fecundado pela luz; portanto, livre e feliz.