Jesus e o Evangelho (Série Psicologica Joanna de Ângelis Livro 11)

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Reconciliação - Ev. Cap. X - Item 6

Reconciliação - Ev. Cap. X - Item 6

(. . .) Que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil.


Mateus 5:26

Todo o ministério de Jesus é caracterizado pela austeridade e energia de postulados, demonstrando que ao se tomar da charrua, não se deve olhar para trás. As decisões apresentadas são firmes e honestas, exigindo o esforço que, mesmo em se convertendo em sacrifício, signifique entrega total em regime de consciência lúcida, sem margem a futuros titubeios. Por isso mesmo, é recomendada a reflexão ante os desafios, facultando a doação do postulante ao Reino dos Céus.

Sua linguagem é clara e definitiva, não permitindo interpretações esdrúxulas ou escapistas.

Sendo o móvel da doutrina a instalação revolucionária de uma nova ordem de ideias que deveria alterar o comportamento do indivíduo e da sociedade como um todo, criando novas perspectivas para a existência física como preâmbulo daquela de natureza espiritual, os convites pronunciados pelo Mestre são diretos, insofismáveis, decisivos.

A base estrutural de todo o convite é o amor que dimana de Deus e se encontra ínsito nas criaturas humanas que, por sua vez, deverão conscientizar-se do seu significado e valia, constituindo a regra de vida em todos os momentos, de tal forma impregnando-se da certeza da sobrevivência da alma e da Justiça Divina, que nada se lhe pudesse opor, constituindo-se obstáculo à conquista do objetivo almejado.

Não seja justo, portanto, estranhar-se muitas das assertivas apresentadas, que parecem violentar o caráter moral do indivíduo treinado para o revide, para a autodefesa, para a preservação dos valores da sombra individual e coletiva, em que sempre predominam o egoísmo e as paixões mais primitivas. A claridade que se esparze da Boa-nova é libertadora, facultando ao ser o autoencontro, o autoburilamento, a superação do ego, a plena vitória do Self.

Na Lei Antiga, a figura do perdão é apresentada como conquista mediante retribuição. Quando se ofende a Deus, em face dos comportamentos infelizes dúbios e dos gravames das deficiências morais, encontram-se estatuídos nos seus Códigos os instrumentos para impor reparação, no que eram hábeis os fariseus ao aplicá-los, utilizando sofismas e ardis, que culminavam nos sacrifícios de animais assim como através de outros recursos específicos que lhes eram rendosos.

Jesus aceitou as injunções convencionais dos comportamentos atávicos, porém, acrescentou a essa política legal ancestral, necessária nos primórdios da cultura do povo hebreu, a ética do amor como mecanismo superior a quaisquer outras expressões de ordem material ou de imposição estabelecida pelos legisladores terrestres, nem sempre em condições de elaborar princípios nobres, por lhes faltarem valores de dignidade e exemplo, o que lhes retirava a autoridade para estabelecer condutas que não seguiam.

A Lei de Amor origina-se em Deus, é natural, encontra-se em toda parte como expressão de ordem e de valor, nunca se inclinando em favor de determinada pessoa ou grupo social específico, pairando soberana acima de todas as injunções humanas. Os seus árbitros não são homens susceptíveis de erro e de inclinações personalistas, de interesses inconfessáveis, mas a consciência de cada qual, que lhe haure a inspiração e tem como modelo a de natureza cósmica.

Desse modo, Jesus-Homem submeteu-se aos códigos arbitrários existentes, mas abriu espaço total para a nova ordem que veio estabelecer, apresentando novas perspectivas de vida e de realização que dignificam o ser humano e o exaltam, facultando-lhe harmonia porque acima de todas as imposições transitórias do farisaísmo, sempre preocupado com a forma e distante da realidade do ser essencial. A aparência era-lhes, e ainda permanece sendo fundamental, compactuando com as concessões do século em detrimento das realizações espirituais transcendentes.

À luz da Psicologia Profunda, o perdão é superação do sentimento perturbador do desforço, das figuras de vingança e de ódio através da perfeita integração do ser em si mesmo, semdeixar-se ferir pelas ocorrências afugentes dos relacionamentos interpessoais.

Tem um significado mais que periférico ou de aparência social, representando a permanência da tranquilidade interna ante os impactos desgastantes externos, que sempre aturdem quando o indivíduo não está forrado de segurança nas próprias realizações, nem confiante na correta execução dos programas que exigem desafios através de provas compreensíveis diante dos obstáculos que se encontram pela frente.

Quando alguém se detém na mágoa ou na queixa, ressumando amargura ou desconforto moral por ocorrências desagradáveis que dizem respeito à sua forma de comportar-se espiritualmente, em fidelidade aos princípios abraçados, encontra-se distante da própria mensagem que lhe deveria impregnar de tal forma que não haveria campo para a instalação desses conflitos morbosos.

A autoconsciência identifica todas essas ocorrências e supera-as, por significarem reações de pessoas e grupos psicologicamente na infância dos seus interesses, ainda vinculados aos jogos da ilusão, disputando-se primazias e projeções sem qualquer sentido profundo.

Nesse aspecto do perdão, projetam-se os resultados dos ressentimentos para outras experiências fora da matéria ou em futuras reencarnações, quando os litigantes continuam imantados uns aos outros, sem que se facultem oportunidade de libertação, enfermando-se reciprocamente ou permanecendo em pesados conflitos intérminos quão sacrificiais e inúteis.

Não raro, na gênese de muitas psicopatologias encontramos a presença de cobradores espirituais que, embora desvestidos da roupagem física, permanecem em lamentável situação de vingança, em terrível transtorno mental, gerando dilacerações psíquicas naqueles que os ofenderam e não tiveram tempo nem oportunidade ou interesse para se reabilitarem.

Esses combates insanos arrastam-se por dezenas de anos a fio, sem lhes ocorrer que, enquanto afligem se infelicitam, prolongando a situação dolorosa sem qualquer benefício pessoal. . .

Tais fenômenos obsessivos são muito mais expressivos e complexos do que parecem na visão das doutrinas psíquicas modernas que teimam por encontrar no cérebro e nos mecanismos orgânicos apenas, a psicogênese dessas enfermidades mentais, comportamentais, psicológicas. . . Felizmente, a moderna Psicologia Profunda, mediante a visão transpessoal, eliminando toda sombra do indivíduo e da coletividade, identifica as causas reais desses distúrbios decorrentes de processos mentais enfermiços que a morte não eliminou.

Sem nenhuma dúvida, em face dos processos que decorrem das ações morais, o ser se faz herdeiro da necessidade de superar os erros e agressões às Leis, insculpindo nos refolhos íntimos os mecanismos reparadores, entre os quais se encontram as alienações mentais, não obstante também inscrevam os delitos contra outras vidas que passam na sua insânia a exigir reparações pelo sofrimento, impondo-lhes perseguições impiedosas, qual ocorre nas paisagens terrestres entre aqueles que se odeiam.

A morte do corpo não libera o Espírito das paixões nobres ou inferiores que lhe tipificam a conduta natural. Antes amplia-lhe o campo de vivência, porque, desvestindo-o dos limites impostos pelo corpo, concede mais espaço para as ações que são compatíveis com o seu nível evolutivo.

Deus o permite como ensinamento para algozes e vítimas, que se devem amar antes que se agredir, desculpar e conceder ensejo à reparação, sem permitir o domínio da sombra que aturde e infelicita.

Jesus-Homem sempre enfrentou situações de tal monta, procurando esclarecer o perseguidor e dignificar o perseguido, impondo a este último a necessidade de conduta correta, a fim de que não lhe acontecesse nada pior.

Na perspectiva da Psicologia Profunda, aquele que permanece em clima de desforço ata-se aos elos dos renascimentos inferiores, não conseguindo libertar-se do ir e vir, por não luzirlhe interiormente o amor, que é o único recurso propiciador de felicidade e de depuração.

O ódio aprisiona aquele que o mantém em relação a quem lhe padece a injunção penosa. Sendo recíproco, torna-se cadeia cruel para ambos. Caso, no entanto, algum dos envolvidos na situação perturbadora consiga superar os sentimentos doentios, evidentemente sairá dessa cela escura planando em outro espaço de claridade e vida. E isso se dá mediante o resgate pelo amor aoseu próximo, àquele mesmo a quem feriu, impensadamente ou não, procurando reabilitar-se.

Deus sempre faculta ao livre-arbítrio do ser a melhor maneira de reparar os erros, impondo-lhe, quando a falência de propósitos e atos se faz amiúde, recursos mais vigorosos que são ao mesmo tempo terapêuticos para o Espírito rebelde.

A Sua justiça estabelece parâmetros que não podem ser violados insensatamente, proporcionando meios valiosos de harmonia e plenitude mediante os quais o amor é sempre o árbitro de todas as ocorrências.

Merece ter-se em mente sempre que toda situação embaraçosa e infeliz defrontada deve ser regularizada antes da ocorrência da morte física, a fim de que não sejam transferidos de plano os fenômenos da reparação e da paz.

Jesus exemplificou sempre e incessantemente tal necessidade, perdoando mesmo aos mais impenitentes adversários que O sitiavam, deixando com as suas consciências o resultado da insídia, que os algemaria na prisão terrestre até que se depurassem das atitudes adotadas.

Desse modo, cumpre a cada consciência a prática do perdão indistinto, porquanto assim não ocorrendo, qual informou o Mestre - daí (do cárcere carnal) não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil — facultando ao seu próximo todos os direitos que lhe são concedidos pelas Soberanas Leis da Vida conforme gostaria que a si mesmo fossem facultados.




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Mateus 5:26

Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.

mt 5:26
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