Jesus e o Evangelho (Série Psicologica Joanna de Ângelis Livro 11)

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O ÓDIO - Ev. Cap. XII - Item 10

O ÓDIO - Ev. Cap. XII - Item 10

Sede, pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus.


Lucas 6:36

Atualizando o pensamento de Jesus com sabedoria, Z_A o Espiritismo alcança idênticas metas estabelecidas pela perspectiva da Psicologia Profunda.

Jesus e Deus são independentes: um é Ser criado, e outro é o Criador. A ultrapassada ortodoxia teológica responsável pela composição do Filho-Pai, tornando-O Incausado, atropela a lógica e a ética mais elementares, que não encontram respaldo nas narrações neotestamentárias.

A grande sombra coletiva que pairava sobre Israel e, por extensão, por sobre toda a Humanidade, decorrente ou responsável pelas ambições desmedidas do personalismo individual e generalizado, ressuscitou a mitologia arquetípica primitiva, atribuindo ao homem a perfeição absoluta de Deus, distanciando-O, dessa forma, do entendimento e da aceitação possíveis, por parte daqueles que O desejavam seguir, tocados pelas lições da Sua palavra e da Sua vivência.

Na excelsitude dessa Sua incausalidade, infinitamente distanciada da condição de humanidade, tornaria todo o apostolado impossível de ser tornado realidade, porque os homens necessitados de renovação encontravam-se mergulhados na escuridão, retidos no seu lado escuro, não tendo como entendê-lo, e, menos ainda, não dispondo de qualquer possibilidade de alcançá-lo.

Como, porém, Ele lutou com austeridade e conviveu com os problemas vigentes, estabelecendo novos critérios fundamentados no amor, delineando mudanças imediatas de costumes e condutas, tornou-se acessível, provocando, incontinente, as reações previsíveis daqueles que viviam das migalhas sociais, econômicas e políticas, repudiando-O e tramando para assassiná-lo, conforme se consumou, passo a passo, na hediondez do primitivismo de consciência em que se encontravam.

Humano, Ele lamentou a selvageria do ódio, de que se utilizaram os adversários, não apenas d'Ele, senão de tudo quanto de renovador e unificável Ele representava e difundia.

Matar Jesus significava, no inconsciente coletivo de então, assassinar os conflitos que as aspirações de beleza e de imortalidade ameaçavam no Self, assim aniquilando oupretendendo fazê-lo em relação ao Selbst, interpretado como a imagem de Deus no homem.

O ódio é remanescente vigoroso das mais sórdidas paixões do primarismo asselvajado, que permanece em luta titânica com a razão e o sentimento de amor inato em todos os seres.

Morbo pestífero, somente desaparece mediante a terapia do amor incondicional, que o dilui, porquanto se enfrentam no mesmo campo de batalha, que é a consciência.

Esse amor não negocia, tampouco negaceia, não se preocupa com qualquer tipo de caráter retributivo, é espontâneo e doador, desinteressado e rico de generosidade, cheio de misericórdia.

O ódio funciona como automatismo violento, labareda voraz que deixa destruição, para que as mãos do amor trabalhem na reconstrução que ressurgirá dos escombros.

O evangelista João afirma esse valor, definindo: Deus é amor.

O amor de Deus a que se refere Jesus é um sentimento também de compaixão que socorre, mas não se detém em exigência de natureza alguma.

Todos os seres sencientes têm necessidade de amor, que constitui alimento irrecusável, e quem não o aceita pode tornarse a simbólica figueira que secou retratada na parábola da inutilidade, da falta de objetivo pelo existir.

Não se preocupa a Divindade com culto externo, com sacrifício para reparação das faltas, com promessas de renovação, com comércio das indulgências a troco de moedas ou títulos outros, por entender a sua não validade, por ser o Absoluto Possuidor não Possuído.

A aceitação desse amor unge de bênçãos, vincula a criatura ao seu Criador, estabelecendo comunhão benfazeja capaz de superar os desafios e alcançar a autorrealização.

Em um período de violência e vilania como aquele, no qual Ele viveu - não muito diverso da atualidade, embora as suas incomparáveis conquistas de variada ordem - a condição de ser humano era um risco, porquanto seu valor irrisório era semelhante ao de uma alimária de carga, especialmente se pertencente às classes menos favorecidas, sem dinheiro, sem projeção social, destituído de destaque político. . . Jesus rompeu o convencional e inaugurou um especial compromisso com a Vida: o amor de misericórdia.

A sombra coletiva de Israel não podia entendê-lo, e Ele o sabia, mas se tornava urgente lançar as bases e as balizas do Reino de Deus, preparando os dias do futuro. Assim, pouco importava o tributo que o Homem-Jesus teria que pagar para a fundação da Era Nova entre os demais homens.

Para tanto, utilizou-se do amor misericordioso para atender aos enfermos, que ajudou na recuperação da saúde, mas também aplicou-o a Zaqueu, o publicano, que desceu da árvore - que é um símbolo psicanalítico expressivo - para recebê-lo na sua casa.

Aquele amor que o inundou alterou-lhe a conduta e ele usou de misericórdia para com os seus servos, assalariando-os com abundância e apresentando-se sem dívidas ou cobradores à porta dos seus sentimentos. . .

Aquele homem deixou que a sua sombra cedesse lugar à síntese do conhecimento com o sentimento, inundando-se de conscientização dos deveres em relação a si mesmo, ao seu próximo, à Vida.

Esse amor grandioso acolheu a mulher surpreendida em adultério, vítima do ódio generalizado de outros adúlteros, que nela desejavam esmagar os próprios conflitos para manterem a sombra; ou quando Ele atendeu a vendedora de ilusões, que saíra da obsessão do sexo desvairado, libertada pelo seu dúlcido olhar cheio de misericórdia, convidando-a à reeducação, ao refazimento do caminho.

Esse amor não censurou ninguém, porque é feminino, maternal; no entanto, advertiu, caracterizando ser também masculino, paternal, em perfeita identidade da anima com o animus, em perfeita harmonia no Homem-Jesus.

Terapeuta preventivo, Ele esclareceu a respeito dos anos infelizes e sombrios que poderão resultar quando se permanece em delitos, em pensamentos, palavras e ações perturbadores.

Essa misericórdia não se detém na simples compaixão, propelindo cada beneficiado para que faça a sua parte, aquela que não lhe será tirada, por essencial à conscientização das possibilidades de que todos dispõem e devem acionar, aumentando-lhes a capacidade de realizações.

Todo ser humano tem que realizar o seu trabalho de autoiluminação, e, após fazê-lo, nunca mais será o mesmo. Esse é o amor que levanta do abismo e alça às cumeadas do progresso moral, passo avançado para a libertação espiritual das mazelas e chagas decorrentes dos erros transatos.

Jamais Jesus fará a tarefa de outrem ou por outrem. Todo o Seu amor é disciplinante e engrandecedor, nunca tornando o ser pigmeu ante a Sua grandeza moral, porém, descendo-lhe ao nível para erguê-lo até onde lhe seja possível alcançar.

Assim Ele dignificava perante o Si profundo cada um que se candidatava ao Seu, que é o Reino de Deus.

Por tais razões, sempre recomendou a busca de Deus, qual Ele próprio o fez no deserto, em longa vigília; na montanha, durante a incomparável sinfonia das Bem-aventuranças, ou no meio das multidões esfaimadas, inquietas, agressivas, insaciáveis e, sobretudo, ingratas. . .

Jesus conhecia os homens, em razão também da Sua condição de humanidade entre eles, superando a teorização mediante a experiência vivencial.

Não foram poucas as provocações a que se submeteu, a fim de lecionar o amor e desfazer os petardos do ódio, da animosidade, da inveja, nos diluentes do amor incessante, da compaixão sem termo. O ódio permanece no mundo na condição de loucura que o tempo amorosamente irá desfazendo, fertilizando as plântulas da misericórdia, que é o germinar desse amor no solo dos sentimentos.

Enquanto paire na sociedade a sombra coletiva, é necessário estarem os homens cheios de misericórdia, assim como cheio de misericórdia é Deus.




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Lucas 6:36

Sede pois misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.

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