Jesus e o Evangelho (Série Psicologica Joanna de Ângelis Livro 11)
Versão para cópiaPropriedade - Ev. Cap. XVI - Item 7
(. . .) Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon.
O homem, na perspectiva da Psicologia Profunda, é um ser real, estruturalmente parafísico, revestido de corpo somático, que lhe permite o processo de construção de valores ético-morais e aquisições espirituais que o tornam pleno, quanto mais conquista e ascende na escala evolutiva com abandono das mazelas que lhe constituem embaraço ao progresso.
Criação do Psiquismo Divino é germe de vida fadado ao desabrochar de mil potencialidades que lhe dormem na essência, que é a sua realidade.
Cada etapa do desenvolvimento emocional e moral rompe-lhe envoltórios grosseiros que resguardam os tesou-ros-luz que lhe cumpre desvelar.
Qual diamante valioso e desconhecido, oculto em grosseiro revestimento, a lapidação lhe favorece o surgimento da grandeza de que é investido.
A sua emancipação resulta do esforço que empreende para vencer os obstáculos que lhe dificultam o voo no rumo da plenitude que o aguarda. Etapa a etapa, no entanto, adquireforça que o propele a vencer os empecilhos e autoencontrar-se ao longo da marcha ascensional.
Mergulhando no corpo, e dele saindo sempre com as conquistas adquiridas, que lhe servem de investimento para experiências mais audaciosas, o Self se desenovela dos impositivos do ego até esplender em magnífico sol de autorrealização.
Depositário de incomparáveis títulos de enobrecimento, perdese, temporariamente, no báratro do processus iluminativo, demorando-se por ignorância ou teimosia na ilusão em que mergulha e de que se deve libertar, não poucas vezes a sacrifício e abnegação com vistas aos resultados compensadores que lhe advêm.
Por instinto de conservação da vida, apega-se aos recursos que lhe passam pelo caminho: afetivos, emocionais, materiais e, sem as reservas morais suficientes, submete-se-lhes, escravizandose, para depois vencer, a ingentes lutas, a situação calamitosa a que se atirou.
As experiências não vivenciadas, as circunstâncias ainda não conhecidas constituem-lhe a sombra, que se pode apresentar, também, do nosso ponto de vista, como os insucessos, os abusos, os desgastes a que se entregou, fazendo-a densa, porque necessitada de diluir-se através de outras atitudes compatíveis com as conquistas da inteligência e do sentimento.
A propriedade é conquista antropossocioeconômica que resulta de longas buscas nos relacionamentos humanos, objetivando harmonia e respeito pelos valores indispensáveis às trocas que fomentam o comércio, que nobilitam a existência e que promovem o progresso.
Em grande parte, é resultado da avareza, da ilicitude, da ambição desmedida, de atos ignóbeis, como heranças do primarismo de que ainda não se libertou imenso contingente de seres humanos.
Normalmente, porém, é aquisição digna de cada qual, que envida sacrifício e habilidade, conhecimento e labor a fim de adquiri-la, pensando de forma previdente nos dias difíceis da velhice, da enfermidade, da morte. . .
A sociedade, de alguma forma, estabelece os seus sistemas nos valores e posses dos grupos afins, das entidades congêneres, das nações e seus recursos, de modo a facilitar o intercâmbio bemcomo a competitividade de produtos e bens de consumo entre as pessoas e os povos da Terra.
Tem um fim providencial, que é desenvolver a indústria, a ciência, fomentar as artes, facilitar a comodidade e propiciar valores que contribuem para a sobrevivência dos indivíduos e dos grupos humanos.
Entregar-se à sua conquista é dever de todo indivíduo que pensa e constitui célula do organismo da sociedade. A família depende desses recursos, como a própria criatura, trabalhando em favor da harmonia do grupamento no qual se encontra colocada.
Constitui um laço que retém o indivíduo à vida física, estimulando-o ao crescimento intelectual e cultural, para mais facilmente aumentar os haveres.
O risco da posse ou da aquisição da propriedade não está no fato em si mesmo de os conseguir, mas na maneira como isto se dá, além do que representa emocionalmente.
Se é um meio para alcançar-se equilíbrio e bem-estar, torna-se instrumento dignificante; todavia, se se converte em único objetivo existencial, transforma-se em gigante cruel da realidade do ser, que se lhe escraviza e atormenta as demais pessoas que lhe padecem a insegurança e ambição.
Há perigos na posse, que resultam do estágio espiritual daquele que a armazena, deixando-se dominar pelos valores transitórios, a que atribui duração permanente, escorregando na loucura do desregramento que proporcionam, ou das paixões de outra ordem a que se entrega, desejando usufruir além das possibilidades de manter o próprio gozo.
A posse que leva à riqueza, à fortuna, também facilita os desmandos, o exacerbar dos sentimentos vis como o orgulho, o egoísmo, a vaidade desmedida, a alucinação argentária em detrimento do enriquecimento interior, que se consegue por meio da abnegação, da renúncia, do devotamento e, sobretudo, da seleção de valores entre aqueles que são eternos e os efêmeros, que transitam de mãos.
O Homem-Jesus sabia-o, e esclareceu com vigor que não se pode servir simultaneamente a dois senhores com a mesma dedicação, que podem ser também interpretados como a realidade do Si e o capricho do ego. O primeiro é permanente; o outro, transitório. Enquanto um necessita de previdência e equilíbrio para o engrandecimento e a conquista de mais altospatamares, o outro permanece mesquinho e diminuto, comprazendo-se no imediatismo inseguro de necessidades que se renovam sem cessar.
O ser humano tem o dever de selecionar os objetivos existenciais, colocando-os em ordem de acordo com a qualidade e o significado de todos eles, para empenhar-se em destacar aqueles que são primaciais, exigindo todo o empenho, e aqueloutros que são secundários, podendo ser conduzidos com naturalidade, sem maior sofreguidão.
A propriedade pode tornar-se, em razão do ego, motivo de males incontáveis, como sob a inspiração do Self transformar-se em fonte de inexauríveis bênçãos para aquele que é o seu momentâneo detentor e os outros que se lhe acercam em carência.
Deus faculta a riqueza, proporcionando recursos ao ser humano para desenvolver a consciência e ampliar os sentimentos superiores.
A aquisição de valores propicia e estimula o trabalho incessante, motivando o homem à renovação das forças e aos empreendimentos que se multiplicam em competição justa pelo adquiri-las. E estimulante para a existência física e fator de identificação social no grupo em que se movimenta.
Jesus compreendia a finalidade superior da propriedade, por isso, valorizou-a, quando conviveu com os homens de bem e aqueles que possuíam recursos, estimulando-os, porém, a buscarem o Reino dos Céus, de que se haviam esquecido.
Quando se reportou aos ricos, aparentemente apresentando palavras duras, não se deteve somente na referência aos detentores de coisas, moedas, minerais preciosos, propriedades, escravos, mas também aos possuidores de exacerbado orgulho, de incomum dureza de sentimentos, de rancor e de ódio, de presunção e de avareza, que também são possuidores de preciosos bens, de que não se dispõem a libertar.
Por outro lado, a inteligência, a saúde, a memória, as aptidões gerais constituem recursos valiosos de que se deve utilizar o Espírito com sabedoria, a fim de dar conta, mais tarde, da aplicação que foi feita.
Não são poucos aqueles que se empenham para conseguir propriedades, que os tornam desditosos, incompletos, mais ambiciosos, enquanto deveriam reflexionar em torno da sua realidade psicológica, dos haveres morais e sentimentais,empenhando-se pela conquista de segurança espiritual, em vez daquela de natureza física, que mil fatores mutilam, alteram ou destroem com facilidade.
Os valores que jamais se perdem, são as conquistas elegidas pela razão e pela emoção, que não se transferem de mãos, não perdem a atualidade, constituindo fonte incessante de enriquecimento interior.
Em um estudo profundo da consciência humana na Sua e em todas as épocas, o Mestre Jesus foi de uma clareza incomparável, estabelecendo que não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon.
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Lucas 16:13
Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de aborrecer um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.
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