Jesus e o Evangelho (Série Psicologica Joanna de Ângelis Livro 11)
Versão para cópiaPerfeição - Ev. Cap. XVII - Item 2
Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial.
A incessante luta do Espírito é direcionada para a perfeição relativa que lhe está destinada. Rompendo, a pouco e pouco, as couraças que lhe obstaculizam alcançar a meta, desvestindo-se dos equipamentos grosseiros, que são heranças das experiências iluminativas por cujo trânsito se movimentou, investe os melhores recursos quando alcança o nível de consciência lúcida para fazer brilhar a sua luz.
Essa chispa divina, que deve mergulhar no barro carnal, a fim de desenvolver o deus interno que se encontra adormecido, engrandece-se à medida que vence a sombra profunda que a reveste, experienciando valores cada vez mais nobres que lhe constituem graus de desenvolvimento moral e espiritual. Em cada etapa supera um óbice e cresce, ampliando a capacidade de identificação com a vida, mediante o processo de aprendizagem que lhe cumpre realizar a esforço pessoal, longe de qualquer protecionismo ou excepcionalidade, tendo-se em vista a Superior Justiça que rege todos os destinos.
A fim de que seja alcançado esse mister excelente, o método se encontra ínsito no amor, que é recurso valioso para facultar o entendimento em torno dos acontecimentos e das pessoas, suas oportunidades e suas irmãs espirituais, iluminando-se com o discernimento que a capacita para novos empreendimentos e lutas.
Tratando-se de um processo de longo alcance, não poucas vezes a sombra elege o prazer em vez do dever, gerando conflitos e vinculando-a a viciações de que passa a depender, quando poderia avançar mediante recursos menos penosos. Adaptada aos primeiros fenômenos automatistas da evolução, passa pelos instintos que se lhe fixam demoradamente, necessitando ser transformados em sentimentos, no que terá que investir sacrifício e abnegação para desenovelar-se dos condicionamentos geradores de gozos penosos e exaustivos.
Jesus, o Homem sábio e nobre, compreendeu essa dificuldade inerente ao estágio de desenvolvimento dos Seus contemporâneos e, enquanto dissertava sobre a necessidade do amor em relação aos adversários, propôs enfaticamente a necessidade da perfeição. Impossibilitadas de compreender as sutilezas morais dos Seus ensinos, aquelas mentes imediatistas e ensombradas necessitavam de um modelo que lhes permitisse o entendimento, e assim o Mestre apresentou o Pai como a síntese absoluta que é da perfeição; no entanto, inalcançável, pois que o Espírito criado jamais poderá ser igual ao seu Criador.
Essa busca sugere a transformação moral incessante, a superação do ego severo e vigilante, facultando a libertação do Self, cujo campo de ação ainda se encontra impedido para a sua plena e total manifestação.
O amor ao próximo recomendado pode ser definido como companheirismo, solidariedade no sofrimento e na alegria, amizade nas situações embaraçosas, capacidade de desculpar sempre, produzindo uma vinculação afetiva que suporte os atritos e os conflitos típicos de cada qual. Pelo seu significado profundo, é um amor diferenciado daquele que deve ser oferecido ao inimigo, a quem se fez ofensor, projetando sua imagem controvertida e detestada por si mesmo naquele que se lhe torna vítima. Amar a esse antagonista é não lhe retribuir a ofensa, não o detestar, não o conduzir no pensamento, conseguir libertar-se da sua diatribe e agressividade.
O amor libera aquele que o cultiva. Por essa razão, o mal dos maus não ata a vítima ao algoz, deixando-a em tranquilidade, o que não ocorre quando o ressentimento, o desejo de revide, a amargura se instalam, porque, de alguma forma, a pessoa passa a depender das vibrações maléficas do seu perseguidor.
Esse sentimento desenvolve os significados éticos da individualidade, porque a prepara para futuros embates, nos quais se fazem necessários a paciência, a compaixão, a caridade e o sentimento solidário. As imagens convencionais do inconsciente humano rejeitam formalmente o perdão ao inimigo e, consequentemente, o amor a quem lhe causou dano e perturbação.
Não faltarão aqueles indivíduos que informarão tratar-se de um postulado ingênuo esse amor em um mundo de perversidade, no qual se deve estar armado contra os perigos de cada momento.
Todavia, na Sua visão profunda, Jesus sabia das circunstâncias difíceis por que passam as criaturas, e assim mesmo estabeleceu o amor como arma invencível contra o mal e a favor dos maus.
Isso, porque o amor é penetrante e altera o comportamento, dulcificando quem o exterioriza e aquele que o recebe, já que procede de vibrações saturadoras do Eu superior. Não há, pois, como negá-lo diante das lições constantes dos relacionamentos humanos, nos quais somente esse sentimento consegue transformar moralmente o que a claridade da razão simplesmente não logra.
A atualidade, fria e cristalizada em reações psicológicas e morais contra a afabilidade e a ternura, tem, não obstante, a ideia correta da sã identidade de Jesus como Homem superior que venceu todas as oposições que se Lhe antepuseram.
Nessa imagem conceptual do Homem-Jesus, pode-se conceber de alguma forma a grandiosidade de Deus, superando qualquer conceito estabelecido de identidade e de humanidade, no ultrapassado antropomorfismo que a mitologia religiosa do passado Lhe atribuiu.
Dessa maneira, nenhuma possibilidade existe de alguém ser perfeito como perfeito é o vosso Pai celestial. Não obstante, podese inferir que é possível despojar-se do primarismo, como o diamante para brilhar deve libertar-se de toda a ganga, passando pela necessária lapidação, a fim de que suas várias facetas reflitam a luz de fora, possuidor que é de pureza e luz interna. . .
Em razão das lutas ásperas que devem enfrentar o homem e a mulher contemporâneos sofrem de bloqueios profundos no inconsciente a respeito da necessidade de perfeição, encontrando-se mais preocupados com a conquista dos recursos que lhes propiciem comodidade hoje e repouso na velhice,esperança de melhores dias longe da enfermidade e do sofrimento, descuidando-se do essencial, que é o esforço para autoabrir-se aos pressupostos espirituais de Jesus, como terapia e solução para as questões afligentes do cotidiano.
Somente quando o ser humano conseguir a própria integração, tornando-se uno consigo, isto é, realizando a perfeita harmonia entre o ser interno que é e o externo que apresenta, realizando e vencendo a luta intrapsíquica contra o estabelecido como triunfo e felicidade, aceitará os desafios propostos por Jesus.
Krishna propôs ao discípulo Ardjuna lutar contra os kurus, que são os vícios, utilizando-se da sua posição na casta pândava, portadora de virtudes e, não obstante os primeiros fossem mais numerosos, os últimos poderiam vencê-los com empenho. Porém, essa luta desigual exigiria um campo de batalha próprio, e o mestre informou ao aprendiz que seria na consciência que se travaria, portanto, de natureza intrapsíquica, sem aplausos nem proteções especiais.
Tem faltado na educação psicológica do ser humano a contribuição da confiança abrangente, aquela que recomenda a formação de alicerces morais tranquilos e fortes, desde que ministrada em calma e amorosamente. O contrário é o que tem lugar na desconfiança geral diante de todos e de tudo, aguardando-se os sinais definidores de qual rumo emocional se deve tomar, a fim de não se ser colhido pelo desar.
O esforço pela perfeição, portanto, é válido, porque se antepõe à sombra, elimina projeções negativas, estabelece pilotis de harmonia, contribuindo para o bem-estar do indivíduo em qualquer situação que lhe surja.
Asseveram com pessimismo os campeões da sombra coletiva que o mundo é mau e deve ser combatido com astúcia e argúcia, jamais cedendo, nunca recuando, mantendo-se vigilância constante contra as suas armadilhas.
O ser, porém, que busca a plenitude, não se turba diante desse conceito derrotista, porque sente que a realidade é muito diferente desse informe doentio, e pode observá-lo nele mesmo, que aspira à situação mais enriquecedora e a experiências mais felizes. Pela autoanálise começa a avaliar quantos outros indivíduos também se encontram aspirando a esse equilíbrio, a essa perfeição, e empenha-se mais para tornar exequível o esforço direcionado para o bem e para a plenitude.
O básico, o comum, já não lhe bastam, porque aspirando a mais e a melhor, respira uma psicosfera mais sutil e renovadora, desintoxicando-se dos vapores deletérios nos quais estão mergulhados aqueles de consciência de sono, que ainda se comprazem no prazer físico, nos jogos dos sentidos e nas ilusões que lhes povoam a casa mental.
Jesus é, em todo o Seu ministério, um Homem são, transitando por um mundo enfermo e trabalhando-o para que se assemelhe àquele de onde veio, e que oferece a todos quantos desejem seguilo.
Da mesma forma que nenhuma sujidade atirada contra a luz do Sol a atinge, as injúrias e calúnias contra Ele assacadas não O alcançaram, porque estava isento de sintonia com as contingências do Seu tempo terrestre.
A partir da proposta neotestamentária em favor de um mundo sadio e de uma sociedade melhor, graças à imensa contribuição da Boa-nova, pode-se, perfeitamente, aceitar a proposição:
— Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial.
Na tentativa de buscar-se essa perfeição moral, já se pode sentir-lhe os efeitos salutares no íntimo, pela satisfação de encontrar-se empenhado na autolibertação e autos-superação da sombra.
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Mateus 5:48
Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.
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