Dores multifárias assomam vigorosas e crês ser impossível suportar as tenazes agonias que agora parecem dominar todos os painéis da tua mente, avassalando órgãos e músculos do veículo físico. Relacionas dificuldades e provações com os olhos nublados, enquanto observas os que passam exibindo saúde, guindados ao poder, brilhando entre amigos sorridentes, amparados pela cornucópia da fortuna. Estes, consideras, triunfam cada dia nos empreendimentos comerciais; aqueles conquistam títulos invejáveis; esses são requisitados para empreendimentos de realce social; uns estão disputando primazia no jogo das posições políticas; outros armazenam bens da usura; alguns estão distraídos e felizes, acumulando vitórias sobre vitórias; diversos passeavam ontem contigo amarrados a problemas, agora, no entanto, distantes, conseguiram os alvos que não lobrigaste. Quase todos são homens sem fé, que frequentam as diversas Igrejas, desfilando vaidades e alardeando louros ao invés de procurarem o silêncio para a prece e a solidão para falar com o Senhor. . . Todos felizes, menos tu. Mergulhado nas tristes reflexões deprimentes arrolas a convicção cristã que arde na alma e os testemunhos da vivência evangélica, sem que te cheguem as dádivas dos Céus. . . Reconsidera, porém, as observações de pessimismo e confia em Deus entregando-te totalmente a Ele, enquanto fazes a tua parte, o que deves, empenhado no culto elevado do dever. O pessimismo é lente que deforma a realidade. Desconheces os problemas alheios, por estares empenhado na coleta das próprias aflições. Todos os que se encontram na Terra estão em conserto, em ressarcimento, sendo que alguns, enquanto resgatam, aumentam, impudentes, os débitos trazidos, mediante compromissos novos. Agradece a Deus a fé que luze no teu imo e a oportunidade de fazer o que possas e como possas com os que padecem mais do que tu mesmo. Dentre os que estão sorrindo e triunfando, muitos sabem que se encontram moralmente falidos (e estão tentando fugir); outros protelam o inevitável encontro com a severa consciência; inumeráveis situam-se à borda da loucura e não sabem; estes buscam o nada e, frustrados, se atormentam tentando fingir ante a desilusão; aqueles apresentam-se lutando, desesperados, antes de caírem em terrível infortúnio que já pressentem; esses, esforçando-se por negar a vida, imergem nas alucinações psicopatas, não mais se suportando a si mesmos. Se soubesses o que se passa além das fronteiras do teu “eu", serias mais benigno ao examinar o teu próximo e desculparias mais. Sofredores não são apenas os que já estão chorando. Há infelizes que perderam a faculdade de verter pranto e adicionam essa às outras aflições que os constringem. . . Os “filhos do Calvário", da expressão evangélica, não são somente os desendinheirados, os coxos, os pustulentos do corpo. Não conheces os abismos dos espíritos que sofrem na opulência enganosa da vida física. Corrige a angulação do “ponto-de-vista", dilata o amor e aprende com Jesus os exercícios da caridade discreta da compaixão em relação aos outros e da paciência ante os próprios sofrimentos, servindo e servindo, sem esperar resultados imediatos, transferindo para a Imortalidade o que ora não consegues. . .
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À multidão esfaimada Jesus ofereceu pães e peixes que se multiplicavam em abundância; à samaritana, além da água do poço, ofertou-lhe a “água vita" do Evangelho do Reino; a Maria e a Marta devolveu Lázaro arrancado da sepultura em que se encontrava; a Nicodemos, concedeu o conhecimento das vidas sucessivas; a Simão ensejou a honra de pernoitar no Lar. . . dilatando para todos, indistintamente, a visão espiritual quanto às responsabilidades de cada um ante a consciência universal, ensejando a compreensão do Reino dos Céus e a oportunidade de um dia fruir-lhe as alegrias. E nunca discrepou das atitudes de amor para arrolar queixas ou quaisquer lamentações, vitalizando as força infelizes do pessimismo.
“Então, o Senhor, tocado de compaixão, o mandou embora e lhe perdoou a dívida".
(Mateus 18:27)
“Amar, no sentido profundo do termo, é o homem ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que quer a que estes lhe façam; é procurar em torno de si o sentido íntimo de todas as dor es que acabrunham seus irmãos, para suavizá-las; é considerar como sua a grande família humana, porque essa família todos a encontrareis dentro de certo período, em mundos mais adiantados, e os Espíritos que a compõem são, como vós, filhos de Deus, destinados a se elevar em ao infinito".
(O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Capítulo 11º — Item 10, parágrafo 2)
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