Da Manjedoura A Emaús

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CAPÍTULO 21

No Jardim das Oliveiras

Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos. (João 18:1)
Escavações junto à parte velha de Jerusalém revelaram o trecho de uma estrada romana, com degraus de pedra, que descia a encosta oriental do Monte Sião, na direção do Vale do Cedron.
O Cedron é um riacho que passa grande parte do ano seco. Findo o período chuvoso, em março, ele toma a aparência de torrente, ou seja, um curso de água formado por enxurradas.
Adiante do Cedron, eleva-se o monte que no passado era um bosque de oliveiras. No começo de sua encosta, havia uma granja chamada Getsêmani e, nela, um jardim.
Gethsemani ou gethsemanei vem do aramaico significa lagar das olivas ou de azeite, isto é, tanque ou prensa onde se espremem azeitonas; moinho de óleo.
Jesus e os apóstolos desceram a estrada romana em direção ao Getsêmani. Era por volta das 22 horas, mas não havia escuridão, porque era tempo da Páscoa e, portanto, de lua cheia. Lá chegando, Jesus disse aos onze:
— “Sentai-vos aí enquanto vou até ali para orar”. (MATEUS 26:36.) Pedro, João e Tiago foram com Ele.

MATEUS 26:37 descreve o estado emocional de Jesus a partir daí: “começou a entristecer-se e a angustiar-se”. MARCOS 14:33 foi mais longe: “começou a apavorar-se e a angustiar-se”. A tradução de João Ferreira de Almeida e a Tradução Ecumênica da Bíblia preferem “pavor”: “começou a sentir-se tomado de pavor e angústia”.
Haroldo Dutra Dias (NOVO (O), 2013, p.
232) informa o sentido literal da palavra grega empregada por Marcos: “surpreender-se (positiva ou negativamente), pasmar-se, ficar atônito”, razão pela qual adotou: “começou a ficar atônito e a angustiar-se”. (MARCOS 14:33.)
Então, Jesus falou aos três:
— “Minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai comigo”. (MARCOS 14:34.)
Existia ali uma gruta que Jesus e os apóstolos costumavam frequentar. Nela estava instalada uma prensa para olivas. O lugar deveria ser propriedade de algum seguidor de Jesus, pois os primeiros cristãos visitavam-no constantemente e, já nos primeiros séculos, foi erguida sobre ele uma igreja rupestre, a Basílica da Agonia.
Caminhando um pouco à frente dos três, Jesus entrou na gruta, que media naquela época cerca de 13 metros por 8 metros. LUCAS 22:41-42 informa que Ele se afastou dos três à distância de “um tiro de pedra”, quer dizer, o suficiente para ser visto e ouvido.
A sós, Ele se prostrou com o rosto no chão e orou:
— “Meu pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo, que não seja como eu quero, mas como tu queres”.
LUCAS 22:43 acrescenta, neste ponto, que um Espírito angélico lhe apareceu para confortá-lo.
Passagens como essa demonstram que os evangelhos são mais que simples discursos em louvor a Jesus. É lógico perguntar quem descreveu a passagem, se as testemunhas dormiam. Lógico também considerar que os evangelistas não teriam interesse em inventá-la, por seu conteúdo aparentemente embaraçoso, pois muitos intérpretes supõem por ela que Jesus sofreu o tormento do medo, reagindo qual homem comum.
Outros intérpretes, como Mario Galizzi (in GHIBERTI, 1986, p. 645), entreviram no episódio algo diverso do medo:
Ele não é um homem amedrontado. Sente tristeza e angústia, mas tem pleno controle sobre si mesmo e se esforça para não interromper a comunhão que se havia estabelecido entre ele e os discípulos durante a Última Ceia.
Amélia Rodrigues (FRANCO, 1991a, p.
134) salientou, por sua vez:
“A agonia, a dor produzida pela ingratidão dos comensais do Seu amor feriam-n’O fundamente e Ele buscava o abismo do Pai”.
Depois da oração, Jesus retornou ao lugar onde estavam os três apóstolos, mas os surpreendeu dormindo. E disse a Pedro:
— “Como assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora!”
Há pouco, Ele lhes tinha dito no cenáculo:
— “Vós sois os que permanecestes constantemente comigo em minhas tentações”. (LUCAS 22:28.)
Agora dormiam.
— “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. (MATEUS 26:41.)
Ele adverte, constatando o perigo que ronda os apóstolos.
Outra vez Jesus se retirou para orar:
— “Meu Pai, se não é possível que isto passe sem que eu o beba, seja feita a tua vontade!” (MATEUS 26:42.)
Novamente encontrou os três em sono pesado. E eles não sabiam como explicar, sobretudo porque Jesus lhes pedira: “Vigiai e orai”.
Jesus ainda entrou na gruta uma terceira vez e repetiu a mesma prece.

Reaproximando-se dos apóstolos entorpecidos pela estranha fadiga e sonolência, recomendou:
— “Dormi agora e repousai; eis que a hora está chegando, e o Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores”. (MATEUS 26:45.)
E por fim:
— “Levantai-vos! Vamos! Eis que meu traidor está chegando”. (MATEUS 26:46.)
Entende-se a palavra agonia quase sempre como sinônima de aflição e sofrimento. Entretanto, ela significa também “combate”. (DUQUESNE, 2005, p. 231.) Aquele era um momento de grande tensão e combate. O êxito da missão de Jesus estava sob ataque cerrado. Falanges da espiritualidade inferior, sem poderem atingi-lo, diretamente, irromperam vigorosa ação obsessiva sobre as autoridades humanas e os apóstolos. Jesus deveria ser morto, e seus seguidores deveriam esquecê-lo, como se acordassem, após sua morte, de um pesadelo, que o tempo varreria de suas consciências e, portanto, das páginas da história, tornando inócua sua passagem entre os homens.
Sua agonia não retrata a fragilidade de Jesus, como querem uns, mas seu combate espiritual com forças muito além da compreensão humana.
Os germens de grandes lutas da humanidade futura estavam sendo soprados venenosamente, para contaminar os séculos com guerras fraticidas e ódios asselvajados entre indivíduos e povos.
Ele não quedou perante a antevisão do sacrifício da cruz a levantá-lo, mas sofreu e lutou espiritualmente para que se amenizassem as consequências sinistras do maior conflito espiritual que a Terra já viveu.
Por isso, o Profeta do Amor ardentemente intercedeu junto a Deus em favor dos homens, rogando que aquele cálice de presciência fosse afastado de seus lábios.



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Mateus 26:36

Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar.

mt 26:36
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Mateus 26:37

E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.

mt 26:37
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Marcos 14:33

E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, e começou a ter pavor, e a angustiar-se.

mc 14:33
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Marcos 14:34

E disse-lhes: A minha alma está profundamente triste até a morte: ficai aqui e vigiai.

mc 14:34
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Lucas 22:41

E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e pondo-se de joelhos, orava.

lc 22:41
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Lucas 22:43

E apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava.

lc 22:43
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Lucas 22:28

E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações.

lc 22:28
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Mateus 26:41

Vigiai e orai, para que não entreis em tentação: na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.

mt 26:41
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Mateus 26:42

E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai Meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade.

mt 26:42
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Mateus 26:45

Então chegou junto dos seus discípulos, e disse-lhes: Dormi agora, e repousai; eis que é chegada a hora, e o Filho do homem será entregue nas mãos dos pecadores.

mt 26:45
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Mateus 26:46

Levantai-vos, partamos; eis que é chegado o que me trai.

mt 26:46
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