Da Manjedoura A Emaús

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CAPÍTULO 30

Aparições

Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram. (João 20:29)
Cada evangelho é muito próprio ao apresentar os eventos ocorridos depois que o túmulo de Jesus foi encontrado vazio. Eles concordam que Maria de Magdala foi ao túmulo, no terceiro dia após a crucificação, e o encontrou vazio. Quanto ao resto, discordam em quase tudo.
Quantas foram as aparições? Onde e em que circunstâncias se verificaram?
Elas podem ser aglomeradas em três momentos: as aparições próximas da sepultura; aquelas produzidas em Jerusalém e suas cercanias; e as ocorridas na Galileia.
Mateus e Marcos ordenaram com brevidade as aparições.
No texto mateano, um Espírito elevado — pois “seu aspecto era como o do relâmpago e a sua roupa, alva como a neve” (MATEUS 28:3) — provocou um abalo sísmico, quando se materializou e removeu a pedra que cerrava o túmulo de Jesus; aterrorizou os guardas e revelou às mulheres que o crucificado não estava mais ali, havia ressuscitado; e exortou-lhes a levarem a boa-nova aos apóstolos, acrescentando que Jesus esperaria por eles na Galileia.
Jesus, então, procura pessoalmente as mulheres (Maria de Magdala e Maria de Cléofas, a irmã de sua mãe) e reforça o convite para que os apóstolos se dirijam à Galileia.

Os discípulos partem para a montanha indicada pelo ressurrecto. No reencontro, em solo galilaico, alguns se prostram diante dele, outros duvidam, e recebem o mandato de cristianização dos povos.
Marcos acrescenta Salomé — mãe de Tiago e João — ao grupo de mulheres que caminhava para o túmulo, e chama a entidade espiritual de jovem, em vez de anjo, destacando a brancura de sua túnica. Situa esse Espírito à direita do interior do túmulo, atribuindo a ele o anúncio da ressurreição e a mensagem de reencontro na Galileia.
A tradição marcana propõe que Jesus apareceu somente a Maria de Magdala, que não foi acreditada.
Após, Jesus manifestou-se aos dois caminheiros de Emaús.
Por fim, em lugar não mencionado, Ele tornou-se visível aos onze apóstolos reunidos, censurou-lhes a incredulidade perante os testemunhos de sua ressurreição, convocou-os à evangelização das massas, outorgando- lhes, para isso, aptidões como a xenoglossia26 e a imunização a venenos, a cura de obsidiados e outras enfermidades.
Verificados esses acontecimentos, Jesus “foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus”. (MARCOS 16:19.)
Lucas ofereceu um relato nas mesmas linhas, porém, mais minucioso e registrando maior número de aparições.
Maria de Magdala, Joana de Cusa e Maria de Cléofas, diante da sepultura violada, entraram no túmulo, perplexas. Dois homens de vestes fulgurantes surgiram: “Por que procurais aquele que vive entre os mortos? Ele não está aqui, ressuscitou”. (LUCAS 24:5-6.)
A narrativa lucana não diz se as entidades espirituais incumbiram as mulheres de transmitir alguma orientação aos apóstolos. Mas registra que elas contaram aos apóstolos o que viram e ouviram.
O episódio de Emaús é detalhadamente historiado no terceiro evangelho [Lucas].

Ignora-se, hoje, a correta localização de Emaús, a 60 estádios de Jerusalém, cerca de 12 quilômetros.
Séculos depois, o episódio era comemorado na cidade de Emaús Nicópolis, a 160 estádios de Jerusalém. No tempo das cruzadas, descobriram-se duas possíveis candidatas a Emaús: El-Qubeibeh e Abu Ghosh, construídas nas margens das estradas do período romano que levavam ao Mar Mediterrâneo.
Cléofas e outro seguidor de Jesus caminhavam tristes em direção a Emaús. Um estranho os abordou na estrada, indagando-lhes sobre o que conversavam. Os caminheiros, lamentosos, apresentaram singelo resumo daqueles três dias, da crucificação do profeta de Nazaré até o desaparecimento de seu corpo. Eles esperavam em Jesus o redentor político de Israel. Com Ele, os dois caminheiros pareciam ter sepultado suas esperanças. (LUCAS 24:13-24.) O estranho, então, censurou-os:
— “Insensatos e lerdos de coração para crer em tudo o que os profetas anunciaram! Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?” (LUCAS 24:25.)
Em seguida, Ele se pôs a interpretar, desde Moisés, as predições sobre o Messias.
Chegando a Emaús, Cléofas e o amigo rogaram:
— “Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina”. (LUCAS 24:29.)
Apenas quando, à mesa, viram o convidado abençoar o pão e parti-lo é que nele reconheceram Jesus, que se desmaterializou no mesmo instante.
— “Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (LUCAS 24:32.)
Jesus apareceu aos apóstolos no momento em que os dois caminheiros retornavam de Emaús e relatavam a visita do Mestre. Ele se identificou, comeu diante de todos, abriu-lhes as mentes para que entendessem as Escrituras. Em vez de partirem para a Galileia, Jesus lhes determinou a permanência em Jerusalém, até serem “revestidos da força do Alto”. (LUCAS 24:49.)
Em profunda comoção, os discípulos acompanharam Jesus até Betânia, de onde ascendeu aos céus.
Os apóstolos regressaram a Jerusalém com alegria e estiveram no Templo continuamente, em louvor a Deus. O ciclo de aparições de Lucas, como se vê, desenvolve-se apenas em Jerusalém e suas imediações.
A narrativa de João é abrangente. Enfoca, nos primeiros momentos, Maria de Magdala e nenhuma outra mulher. Maria é a verdadeira protagonista daquela manhã. A ex-obsidiada encontrou a sepultura vazia e alertou os apóstolos. Depois que João e Pedro testificaram o desaparecimento do corpo, Maria ficou a sós, e chorava, até que se inclinou para dentro do túmulo e viu dois anjos, um à cabeceira e outro aos pés do lugar onde o corpo estivera.
— “Mulher, por que choras?”
— “Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”. (JOÃO 20:13.)
Foi quando ela, voltando-se para fora do jazigo, viu alguém que lhe repetiu a pergunta, sem nele reconhecer Jesus (novamente transfigurado), como aconteceu aos caminheiros de Emaús. Ela supôs no estranho um empregado de José de Arimateia, responsável pelo jardim que adornava o sepulcro familiar:
— “Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar!”
— “Maria!”
Ante a inconfundível e dulçorosa inflexão de voz, ela o reconhece e exclama:
— “Rabunni!”
Isto é, Mestre. E se atira aos pés do Cristo, abraçando-os.

— “Não me retenhas, pois ainda não subi ao Pai. Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai; a meu Deus e vosso Deus”. (JOÃO 20:15-17.)
Embora João e Pedro também tivessem visitado o sepulcro, Ele a escolheu.
Disse o Espírito Emmanuel (XAVIER, 2013g, cap. 11, p. 31-32):
Para muita gente, Maria de Magdala era mulher sem qualquer valor pela condição de obsidiada em que se mostrava na vida pública; no entanto, Ele via Deus naquele coração feminino ralado de sofrimento e converteu-a em mensageira da celeste ressurreição.
Ao cair da tarde, naquele domingo, dez apóstolos, temendo represálias dos líderes judeus e do povo, guardavam-se a portas fechadas. Ignora-se a quem pertencia e onde se situava essa residência. Como as mulheres e os apóstolos foram do sepulcro a ela em brevíssimo tempo, sua localização certamente era em Jerusalém. Passados alguns minutos, Jesus apareceu entre eles e disse:
— “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. (JOÃO 20:21.)
Paulo propôs uma aparição especial a Pedro (I CORÍNTIOS 15:5). Essa aparição foi confirmada por Lucas: “O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão”. (LUCAS 24:34.)
João prossegue informando que Ele lhes mostrou as marcas dos cravos nas mãos e o golpe no lado. Num gesto simbólico, soprou sobre eles, esclarecendo:
— “Recebei o Espírito Santo”.
Tomé não estava presente e se recusou a crer nos fatos relatados.
— “Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei!”
Com seu espírito crítico, Tomé procurou reduzir a magnitude do fato, porque ele não estava presente.

O Espírito Emmanuel observou (XAVIER, 2013e, cap. 100):
Tomé descontente, reclamando provas, por não haver testemunhado a primeira visita de Jesus, depois da morte, criou um símbolo para todos os aprendizes despreocupados das suas obrigações.
Ocorreu ao discípulo ausente o que acontece a qualquer trabalhador distante do dever que lhe cabe.
[...]
Tomé não estava com os amigos quando o Mestre veio. Em seguida, formulou reclamações, criando o tipo do aprendiz suspeitoso e exigente.
Nos trabalhos espirituais de aperfeiçoamento, a questão é análoga.
Matricula-se o companheiro, na escola de vida superior, entretanto, em vez de consagrar-se ao serviço das lições de cada dia, revela-se apenas mero candidato a vantagens imediatas.
Em geral, nunca se encontra ao lado dos demais servidores, quando Jesus vem; logo após, reclama e desespera.
Oito dias mais tarde, Jesus se materializou mais uma vez.
Conta Amélia Rodrigues que, enquanto os onze apóstolos meditavam na mesma sala com as portas fechadas, “uma aragem perfumada invadiu o recinto e uma claridade diamantina vestiu as sombras que ali pairavam com delicada luz, dentro da qual, esplendente e nobre, Ele surgiu”. (FRANCO, 2000, p. 158.)
Não houve censura, somente compaixão ao se dirigir ao apóstolo incrédulo.
— “Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!”
“Os pulsos dilacerados derramavam sulferina luz, que também jorrava da cabeça antes de espinhos, do peito ferido e dos pés destroçados. O dídimo acercou-se, transfigurado, e O tocou”. (FRANCO, 2000, p. 158.)

— “Tu creste, Tomé, porque me viste; bem-aventurados os que não viram e creram”. (BÍBLIA, 1965, JOÃO 20:29.)
Era a última bem-aventurança.
JOÃO 20:30 ainda informa que Jesus ofereceu muitos outros sinais, não mencionados em seu livro. E não somente isso.
“Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez e que, se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam.” (JOÃO 21:25.)
Lucas, em Atos 1:3 informou que Ele apareceu ainda várias vezes, “com muitas provas incontestáveis: durante quarenta dias apareceu-lhes e lhes falou do que concerne ao Reino de Deus”.
Paulo, além de ressalvar uma aparição especial a Pedro, acrescentou outras: “apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez [...] apareceu a Tiago e, depois, a todos os apóstolos”. (I CORÍNTIOS 15:6-7.)
Daí, é preciso compreender que cada evangelista focalizou, do universo de aparições, aquelas mais expressivas à sua óptica, a seus propósitos e público destinatário. Os quatro escritores canônicos não fizeram história, ou relatos cronológicos, ao relacioná-las; compuseram textos de divulgação, baseados em fatos reais, em arranjos cuja seleção de materiais e ordem respeitou também o toque da inspiração superior. Unidade na diversidade, produzindo harmonia, como num quarteto de vozes.
A última voz, ou o Evangelho de João, é concluído com o relato da aparição de Jesus às margens do lago de Genesaré.
Sete apóstolos estavam presentes: Pedro, Tomé, Natanael, João e Tiago, seu irmão, e dois não especificados.
Pedro quis pescar, e os demais o acompanharam. Nada pescaram, no entanto. Amanhecia, e da praia alguém lhes sugeriu:
— “Lançai a rede à direita do barco e achareis”. (JOÃO 21:6.)

Eles não reconheceram Jesus, mas atenderam ao estranho, e faltaram forças para puxar a rede, tal a quantidade de peixes apanhada.
Só aí João reconhece Jesus transfigurado. Simão atira-se no lago, em direção à praia, seguido pelos outros apóstolos, no barco. Era o terceiro reencontro coletivo desde sua morte.
Quando chegam à praia, Jesus os aguarda e os convida para comer. Permanecia transfigurado, porque João comenta que ninguém ousava perguntar Quem és tu? — todavia, sabiam tratar-se de Jesus.
A narrativa está repleta de símbolos. Não que Jesus os desejasse; mas é bem provável que tenha sido uma necessidade dos que interferiram no texto, introduzindo e moldando elementos até sua configuração final, no término do século I.
Certos intérpretes presumem, mesmo, que todo o capítulo 21 seja um acréscimo dos discípulos da escola de João; um acréscimo muito próximo ao tempo de João, pois que consta em todos os manuscritos.
Os fatos são apresentados de modo a transmitir as mensagens com que os redatores querem impregnar os acontecimentos, a fim de que aos episódios da aparição se sobrepusessem as ideias teológicas dos narradores.
A vocação e a missão de Pedro, bem como dos apóstolos, são realçadas.
“Simão Pedro lhes disse:
— ‘Vou pescar’.
Eles lhe disseram:
— ‘Vamos nós também contigo’.” (JOÃO 21:3.)
O apostolado é representado na pesca, enquanto a quantidade de peixes salienta a fecundidade do trabalho apostólico. O número de peixes, 153 (JOÃO 21:11), por certo não é fruto da contagem dos peixes, mas exercício de gematria — “sistema criptográfico que consiste em atribuir valores numéricos às letras”. Cento e cinquenta e três: o valor somado das letras das palavras hebraicas dggym gdwlym, utilizadas para a menção aos peixes. A rede que não se rompe propõe a coesão, a unidade a ser buscada a fim de propiciar o êxito da tarefa apostólica junto às comunidades cristãs.
Finda a ceia, Jesus volta-se para Pedro (JOÃO 21:15):
— “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?”
— “Sim, Senhor, tu sabes que te amo.”
— “Apascenta os meus cordeiros.”
Duas outras vezes Pedro foi questionado, para ouvir de Jesus: “apascenta as minhas ovelhas”. (JOÃO 21:16-17.)
Pedro tinha negado Jesus por três vezes, em torno de uma fogueira; novamente, em torno de uma fogueira, ele o reafirma três vezes.
O texto joanino relata que, ante a terceira indagação, Pedro se entristeceu. Natural que Simão visse ali uma alusão às três negações. Ele respondeu:
— “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo”. (JOÃO 21:17.)
Aqui Simão evoca, com o tu sabes tudo, os dons de Jesus. Se Jesus sabe tudo, Pedro sente que nada pode ocultar, e é transparente e sincero: tu sabes que te amo — o amor consciente.
À tríplice negação, dá-se a tríplice profissão de amor, como forma de superação do conflito psicológico do apóstolo.
Por isso, São João da Cruz,27 o grande místico, com profunda sabedoria, afirmou: “ao entardecer sereis examinados no amor”.
Luís Alonso Schökel, com beleza, observou:
“Se Mateus propõe a confissão de fé como fator de sua consistência ‘pétrea’, João propõe o amor a Jesus como condição e garantia de sua ação pastoral. Pedro amadureceu no amor”. (BÍBLIA, 2000, JOÃO 21:15-nota.)
Aquela primavera nunca será esquecida.

As aparições deixaram um legado de fé imperecível, e marcaram o fim da história de Jesus; não, porém, o fim de sua presença na história.
— “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (MATEUS 28:20.)
26 N.E.: É o uso de uma língua (escrita ou falada) que se não aprendeu e que se não conhece em condições normais. O médium, influenciado por um Espírito, fala uma língua estrangeira que lhe é por inteiro desconhecida. Dicionário de filosofia espírita, J. Palhano Jr., Editora Léon Denis.
27 N.E.: Religioso e escritor espanhol (1542–1591). Aos 25 anos conheceu Santa Teresa e juntos decidiram reformar as ordens carmelitas.

Fénelon disse inspirado:
Um dia, Deus, em sua inesgotável caridade, permitiu que o homem visse a verdade varar as trevas. Esse dia foi o do advento do Cristo. Depois da luz viva, voltaram as trevas. Após alternativas de verdade e obscuridade, o mundo novamente se perdia.[...] (KARDEC, 2013c, cap. I, it. 10.)
O homem não havia alcançado o apogeu de sua maturidade ao tempo de Jesus. Logo, a revelação também não havia chegado ao apogeu.
Compreendendo isso, Jesus prometeu:
Se me amais, observai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conhecereis, porque habitará convosco, e estará em vós. (BÍBLIA, 1965, JOÃO 14:15-17.)
Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas, e vos recordará tudo o que vos tenho dito. (BÍBLIA, 1965, JOÃO 14:26.)
A revelação seria futuramente completada.
Durante quase trezentos anos, o Cristianismo primitivo educou corações para a vivência de uma religiosidade superior.
Cerca de um milhão de cristãos foram perseguidos, sendo a grande maioria levada ao martírio.

Contudo, no ano 313 se iniciaria uma etapa nova para a mensagem do Cristo.
Naquela data, o Édito de Milão reconhecia o direito e a liberdade de ser cristão, que Cláudio Domício Nero havia retirado desde o ano de 64, num total de 249 anos de perseguições, às vezes intensificadas, às vezes amenizadas.
Abandonadas as catacumbas, os catecúmenos passaram, aos poucos, da condição de perseguidos a perseguidores, à medida que se enfronhavam nos gabinetes da política humana e ajuntavam riquezas.
Consciências lúcidas do Cristianismo constataram o fenômeno, impotentes.
A corrupção do ideal cristão eclipsava a essência do Evangelho, que foi sempre um chamado à transformação pessoal.
Introduziram-se reformas e hábitos que foram distanciando a mensagem de seu autor. No ano de 320, iniciou-se o uso das velas no culto; em 375, iniciou-se a devoção aos santos. Em 394, a missa foi instituída; em 528, surgiu a extrema-unção. (FRANCO, 1995, p. 89.)
Logo depois, Justiniano I — o imperador do Oriente (527–565), que já havia mandado fechar a escola neoplatônica de Atenas em 529 d.C., herdeira das tradições reencarnacionistas de Platão — conseguiu, em 553, que as teses de Orígenes fossem consideradas heréticas, no V Concílio Ecumênico de Constantinopla II. Orígenes, um dos fundadores da teologia da Igreja, ao lado de outros padres primitivos, defendia a preexistência da alma e sua transmigração, isto é, sua existência em corpos sucessivos.
Philotheus Boehner e Etienne Gilson (2007, p.
49) afirmaram, na História da filosofia cristã:
A controvérsia acerca de Orígenes, sinceramente admirado também por muitos varões de grande santidade, levou à ruptura das relações amistosas entre São Jerônimo e Rufino, e, finalmente, à solene condenação de Orígenes no 5o Concílio Ecumênico de Constantinopla, no ano 553.

No ano 660, Bonifácio III se declarou bispo universal, papa (do grego páppas, “pai”), embora Jesus houvesse recomendado: “A ninguém na Terra chameis ‘Pai’, pois um só é o vosso Pai, o celeste”. (MATEUS 23:9.) Em 763, surgiu o impositivo da adoração às imagens e relíquias, contrariando o segundo mandamento do Décalogo; em 993, começou a canonização dos santos; em 1070, foi imposta a infalibilidade da Igreja, que culminou na infalibilidade papal em 1870. (FRANCO, 1995, p. 89.)
Ou seja, o mosaísmo fixou o monoteísmo, mas prosseguiu fomentando o ritualismo, e ofereceu a prece como linha de interação entre o homem e Deus.
Com Jesus, o ritualismo é substituído pelas ações enobrecedoras, no culto ao amor. O amor e a prece são revelados como as mais poderosas expressões de comunhão com Deus.
A chegada do Catolicismo restabeleceu o papel do rito, e a Igreja se transformou, no lugar da prece, na intermediária entre o homem e Deus.
Encarcerada nos claustros monásticos, a árvore do Evangelho foi sacrificada e, sem a liberdade e sem o sol da verdade, definhou.
Em 1184, instituiu-se a “Santa Inquisição” e, logo depois, em 1190, a venda das indulgências. (FRANCO, 1995, p. 89.)
Surgem templos resplandecentes na noite medieval.
No começo do século XVI, era inevitável a Reforma, com Martinho Lutero (1483–1546).
A paciência de Lutero com o clero romano saturou quando o papa Júlio II ofereceu indulgências aos europeus, concedendo perdão aos pecados daqueles que mandassem dinheiro para a reconstrução da Catedral de São Pedro, em Roma. Este e outros abusos levaram Lutero a protestar publicamente, fazendo-o à moda da época, afixando suas ideias em local público para provocar o debate. Em 31 de outubro de 1517, amanheceram pregadas na porta da igreja do castelo de Wittenberg as famosas 95 teses.

Posteriormente, os discípulos e seguidores de Lutero se separaram, criando correntes, apresentando interpretações variadas do Evangelho.
A Renascença, então, abriu novo horizonte cultural na Terra.
A Ciência e a Filosofia foram-se libertando lentamente da mordaça e das imposições das religiões dominantes.
O século XVIII inaugurou a Era da Razão,28 preparando, assim, para um século mais tarde, a chegada da Terceira Revelação, o Consolador prometido por Jesus.
A Reforma luterana29 veio ao mundo com a missão especial de exumar a “letra” dos evangelhos, enterrada nos seminários e conventos. Após essa tarefa, cumpria ao Consolador, pela voz do Espiritismo, esclarecer o “espírito” das lições do Cristo.
José Petitinga esclarece que:
O Espiritismo é a Doutrina de Jesus em espírito e verdade, sem fórmulas nem ritos, sem aparências nem representantes, sem ministros. [...] “É a religião da Filosofia, a Filosofia da Ciência e a Ciência da Religião”, conforme predicou Vianna de Carvalho em nossa Casa, com justas razões.” (FRANCO, 2011, cap. 16, p. 271.)
Num momento histórico de avanço do materialismo, de insurreição da ciência e da filosofia contra a religião, a Doutrina Espírita surge como a ciência que pergunta, investigando e confirmando a imortalidade; a filosofia que equaciona os enigmas do comportamento humano; a religião que expressa a necessidade do amor para a união dos homens.
Religiões deformadas pelos dogmas, escravizadas pelos interesses políticos e econômicos, não conseguiam fazer oposição ao alastramento do materialismo.
O Espiritismo surge como união entre a fé e a razão; uma culminância da revelação e uma convergência das revelações.
Moisés revelou o princípio da justiça. Jesus revelou o principado do amor.

O papel do Espiritismo é reviver os ensinamentos do Cristo, convocar as criaturas ao melhoramento pessoal e completar os conhecimentos essenciais ao progresso do Espírito, que alicerçam a ética formulada por Jesus.
“[...] Moisés abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá [...]” (KARDEC, 2013c, cap. I, it. 9, p. 47.), pois o Espiritismo é uma revelação progressiva em si mesma, dada em circuito aberto, e não fechado, como uma revelação permanente.
A revelação de Jesus, entretanto, ocupa o centro das três revelações. O amor é a síntese da lei divina, é a própria lei em sua expressão máxima. A justiça aplaina os caminhos do amor, e a verdade lhe dá amplitude e grandeza, mas o amor é a maior força de comunhão entre Deus e o homem.
Hoje a coletividade humana se encontra outra vez num período crítico de angústias diante do problema da dor, enclausurada ainda no conflito entre a razão e a animalidade.
As ideias espíritas coordenarão lenta transição para o homem, esclarecendo-o com a verdade e firmando Jesus nas bases do comportamento humano, como modelo e guia.
Jesus, o Cristo, foi crido e venerado. Jesus, o guia e o modelo, além disso, deverá ser compreendido e aplicado.
Seu régio vulto expandiu a majestade do amor, dividindo a história.
Sua voz inundou os campos da razão com a libertadora perspectiva do reino de Deus.
Suas mãos, embaixadoras da paz, estenderam-se para o mais consolador convite já endereçado aos corações:
— “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. (MATEUS 11:28-30.)

28 N.E.: Surgiu imediatamente depois do misticismo, da religião e da superstição da Idade Média. A Era da Razão representou uma gênese no modo como o homem via a si próprio, a busca do conhecimento e o universo. Neste período de tempo, os conceitos de conduta e pensamento que o homem anteriormente tinha, agora podiam ser contestados verbalmente e por escrito. Medos como ser proclamado herege ou queimado na fogueira foram descartados. Este foi o início de uma sociedade aberta em que os indivíduos eram livres para buscar a felicidade individual e a liberdade.
29 N.E.: Movimento religioso europeu do séc. XVI inspirado por Martinho Lutero e Jean Calvino, que deu origem às igrejas protestantes que não se sujeitaram às ordens da Igreja Católica de Roma.

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Mateus 28:3

E o seu aspecto era como um relâmpago, e o seu vestido branco como neve.

mt 28:3
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Marcos 16:19

Ora o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus.

mc 16:19
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Lucas 24:5

E, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhe disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos?

lc 24:5
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Lucas 24:13

E eis que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús;

lc 24:13
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Lucas 24:25

E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!

lc 24:25
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Lucas 24:29

E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles.

lc 24:29
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Lucas 24:32

E disseram um para o outro: Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?

lc 24:32
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Lucas 24:49

E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai: ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.

lc 24:49
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João 20:13

E disseram-lhe eles: Mulher, porque choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.

jo 20:13
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 20:15

Disse-lhe Jesus: Mulher, porque choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.

jo 20:15
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 20:21

Disse-lhes pois Jesus outra vez: Paz seja convosco, assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.

jo 20:21
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

I Coríntios 15:5

E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze.

1co 15:5
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Lucas 24:34

Os quais diziam: Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão.

lc 24:34
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 20:29

Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.

jo 20:29
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 20:30

Jesus pois operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro.

jo 20:30
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 21:25

Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém.

jo 21:25
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Oséias 1:3

E foi-se, e tomou a Gomer, filha de Diblaim, e ela concebeu, e lhe deu um filho.

os 1:3
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I Coríntios 15:6

Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também.

1co 15:6
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João 21:6

E ele lhes disse: Lançai a rede para a banda direita do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes.

jo 21:6
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João 21:3

Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Dizem-lhes ele: Também nós vamos contigo. Foram, e subiram logo para o barco, e naquela noite nada apanharam.

jo 21:3
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João 21:11

Simão Pedro subiu e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes, e, sendo tantos, não se rompeu a rede.

jo 21:11
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João 21:15

E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros.

jo 21:15
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João 21:16

Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.

jo 21:16
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João 21:17

Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? e disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.

jo 21:17
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Mateus 28:20

Ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém.

mt 28:20
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João 14:15

Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.

jo 14:15
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João 14:26

Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.

jo 14:26
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Mateus 23:9

E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.

mt 23:9
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Mateus 11:28

Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.

mt 11:28
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