A Vida Conta

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Capítulo XIV

Súplicas maternas


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Foi num átrio de luz, adornado de flores,

Que acompanhei a cena.


Seguida por amigos e instrutores,

Uma assembleia reduzida

De mães que vinham da aflição terrena,

Após vencer no imenso mar da vida

Lutas de amor em bases de humildade,

Receberia certidão

Para elevar-se a mundos de eleição

Em plenitude de imortalidade.


Era um grupo de nobres heroínas

Pela fidelidade às Leis Divinas.

O Emissário do Alto, dirigente

Da bela promoção

Tomou voz e falou, fraternalmente,

Com palavras seguras

Da vida luminosa das Alturas,

Na qual toda a assembleia encontraria

Os tesouros da paz e da alegria

Em sublime ascensão.


Terminada que foi a mensagem ouvida,

Certa mulher ergueu-se enternecida

E rogou, inflamada de esperança:

— Mensageiro de Deus, tenho um filho a lutar

Num presídio do mundo…

Como seguir, além, buscando o Excelso Lar,

Se o tenho na memória a me chamar,

De segundo a segundo?

Se posso receber algum favor da Lei,

Permite-me voltar à casa em que morei;

Quero tornar à Terra… Necessito

Balsamizar-lhe o peito enfermo e aflito…


Outra pediu a desfazer-se em pranto:

— Preclaro Mensageiro do Senhor,

De que modo olvidar a filha que amo tanto,

A implorar-me socorro, em preces de amargor?…

Pobre filha estirada

Em medonha cilada

De treva, luta e lama!…

Como pode haver céu para a dor de quem ama?

Anseio regressar aos meus antigos laços

Porque, acima de tudo,

Quero a filha que Deus me colocou nos braços!…


O Embaixador ouvia triste e mudo,

Quando outra mulher se ergueu a reclamar:

— Anjo do Bem, sou mãe… Tenho um filho a chorar…

Não posso recolher-me a descanso ilusório…

Se tenho o meu rapaz num sanatório,

Não me cabe envergar os louros da subida,

Devo tornar à Terra e amenizar-lhe a vida…


Outra rogou ainda, em tom comovedor:

— Emissário Bendito do Senhor,

Ampara-me o problema,

Tenho um filho a sofrer, sob penúria extrema…

Creio que a Lei de Deus é a própria Lei do Amor.

Como largar meu filho encarcerado e louco,

Suportando remorso e a morrer pouco a pouco?

Sei que faliu e errou… É um pobre delinquente,

Pobre filho doente…

É minha obrigação aliviar-lhe as penas,

Não posso abandoná-lo às provações terrenas.


Ergueram-se outras mães, quais estrelas cativas;

Formulando, em comum, as mesmas rogativas.


Umas assinalavam filhos sob o peso

De trabalho violento,

Outras lembravam filhas em desprezo,

Escravizadas pelo sofrimento.


Concluídas as preces, o Emissário

Explicou-se, tomado de emoção:

— Irmãs, o vosso amor é aquele do Calvário,

Que nasceu do Senhor, nos tormentos da cruz,

Amor que imperará na Terra do porvir,

Que sofre sem dever e se dá sem pedir,

Bênção do coração a converter-se em luz!…

Alma que conquistou esse poder divino

Pode escolher na vida o seu próprio destino…

A vossa promoção é mantida, porém,

Não podeis alterar a Eterna Lei do Bem…

Já não mais sereis mães, sereis anjos da guarda,

Junto aos entes que amais na grande retaguarda…

Deus vos guarde e ilumine a divina missão

De renúncia e de paz, de socorro e perdão.


…………………………………………………………………


Companheiros na fé que nos governa,

Considerai conosco esta nota fraterna:

— Ante os irmãos que o mal espancou em caminho,

Estendei vosso amparo com carinho,

Seja por vossas mãos ou a vosso mando…

Nunca vos esqueçais de que, ao pé da criatura,

Que se atirou na prova em que se apura,

Um anjo maternal está velando…




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier

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