A Vida Conta
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Alma querida, escuta: Em tuas horas lentas De inquietação, insegurança e luta, Amargura e cansaço, Ouvimos nós, noutros campos do Espaço, As falas mudas que nos apresentas. Muitas vezes, interrogas na oração De espírito espantado e sofredor: — “Se tudo o que esperei foi sonho vão, Por que amarei assim, sem ter amor? Por que me consagrar a filhos que amo tanto, Se me ofertam por triste recompensa A incompreensão imensa Que me encharca de pranto? Por que me dedicar com tanto empenho Ao lar que me magoa No qual ninguém anota as lágrimas que eu tenho Nem considera a cruz que me agrilhoa? Que motivo me leva a entregar-me de todo A certo coração que me espezinha Que me cobre de lodo “Depois de ironizar a esperança que eu tinha? Que razão me conserva a consciência Presa a determinado compromisso, Se aqueles que mais amo na existência Não querem saber disso?” Dói-nos ouvir, no Além, a angústia com que indagas, Mostrando o coração aberto em chagas… É um esposo distante, é uma esposa esquecida Do trabalho de paz que abraçou para a vida, É um filhinho doente, Gradeado num leito merencório, É um parente infeliz em sanatório, É uma pessoa amiga a gritar-nos em rosto Acusações sem base em vinagre e censura, A fazer-nos enfermos de desgosto Ou cansados de dor, às portas da loucura… Inda que tudo isso te aconteça, Não fujas, alma boa, Tolera a quem te fira, ama, perdoa, Sem que a força do amor se te arrefeça. Não fossem as prisões que nos guardam no mundo, Duros grilhões, sem formas definidas, Voltaríamos nós aos erros de outras vidas Em delírio profundo… A prova que te oprime em ásperas refregas, O peso enorme dos tormentos teus, E a dor da obrigação nas cruzes que carregas São as cercas de Deus. |
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