A Vida Conta

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Capítulo IV

Razões da vida


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Dor

Indagas, muita vez, alma querida e boa:

— “Meu Deus, por que essa dor que me atormenta o ser?”

E segues, trilha afora, em pranto oculto,

De sonho encarcerado, a lutar e a sofrer.


Anhelas outro clima, outro lar e outros rumos,

Entretanto, o dever te algema o coração dorido

Ao campo de trabalho que abraçaste,

Atendendo, na Terra, a divino sentido.


Antes de renascer, os seres responsáveis

Notam as próprias dívidas quais são

E suplicam a Deus lhes conceda no mundo

O caminho que os leve à redenção.


Não recalcitres, pois, contra os próprios encargos

Que te parecem fardos de problemas,

Encontras-te no encalço da conquista

De bênçãos imortais e alegrias supremas.


A lágrima que vertes padecendo

Longas tribulações, entre lutas e crises,

É um remédio da vida, em nossos olhos,

Que nos faculte ver os irmãos infelizes.


O abandono dos seres que mais amas,

Criando-te a aflição em que choras e anseias,

É um curso de lições em que aprendemos

Quanto custam na estrada as angústias alheias.


Familiares que te contrariam

Trazem-nos à lembrança os gestos rudes

Com que outrora ferimos entes caros

No fel de nossas próprias atitudes.


Afeição de outras eras que descubras,

Querendo-lhe debalde a presença e a união,

E instrumento de amor que te inspira a renúncia

Para o trabalho da sublimação.


A experiência humana é breve aprendizado

E essa tribulação que te fere e domina

É recurso dos Céus, em nosso amparo,

Zelo, defesa e luz da Bondade Divina.


Sofre sem reclamar a prova que te coube,

Mesmo que a dor te espanque, atingindo apogeus…

E, um dia exclamarás ante os sóis de outra vida:

— “Bendita seja a Terra!… Obrigado, meu Deus!…”




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier

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