A Vida Escreve

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Capítulo XIV

O negócio da doação


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O professor Chaves, pioneiro da Doutrina Espírita, em Uberaba, Minas, foi procurado por prestigioso amigo do campo social, que lhe falou sem rebuços:

— Chaves, agora desejo doar duzentos contos para obras espíritas; entretanto, como você não desconhece, tenho aspirações políticas desde muito tempo.

O distinto educador, sumamente conhecido por sua virtuosa austeridade, guardava silêncio.

E o outro prosseguia:

— Já auxiliei construções espíritas numerosas, mas tudo sem resultado. Tenho apenas recebido ingratidões e mais ingratidões. É uma lástima. Em toda parte, mentiras e mentiras. Queria, desse modo…

Como a reticência se prolongasse, Chaves perguntou:

— Queria o que, meu amigo?

— Desejava a sua palavra empenhada, o apoio de seu prestígio diante dos espíritas, para que me garantissem o voto.

— Nada posso fazer — disse o professor, peremptório.

— Que é isso? — falou o amigo, com ar de censura. — Você prometeu receber-me e atender ao meu problema.

— Pensei que o senhor estivesse tratando de caridade, mas o que francamente procura é a realização de um negócio — disse Chaves, imperturbável.

— Que ideia! — falou o visitante, desencantado. — Entrego duzentos contos, duzentos contos de réis… Que é caridade, então?

Humilde e simples, o professor explicou:

— Caridade é o amor de Deus no coração humano. E esse amor, meu amigo, conforme nos ensina o Espiritismo, não tem preço. Onde é que o senhor já viu alguém pagar a luz do Sol, a bênção do ar, o tesouro do verdadeiro amor ou o espetáculo do céu estrelado?…

— Mas Chaves — disse o outro —, isso é muita filosofia… O que eu desejo é fazer uma dádiva… Para vocês, espíritas, o que vem a ser uma dádiva?

E o educador respondeu, sereno:

— Dádiva é o bem que a gente faz sem esperar recompensa de coisa alguma.

O político, nervoso, despediu-se e procurou distração num bilhar. E inquirido por alguns correligionários quanto aos resultados da entrevista, deu primorosa tacada e falou que o professor João Augusto Chaves não passava de um louco.



(Psicografia de Francisco C. Xavier)



Hilário Silva
Francisco Cândido Xavier


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