Adeus Solidão
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João Batista Mamede da Silva
Mineiro de Monte Alegre de Minas, João Batista Mamede da Silva nasceu aos 29 de julho de 1965, deixando o convívio dos genitores com 16 anos de idade, vitimado por acidente rodoviário, no dia 15 de setembro de 1981.
Como fazer sem o Juninho, aquele tesouro que D. Divina e o Sr. João Evangelista receberam de Deus e que tanto lhes alegrava a vida?
O tempo se arrastava até que no dia 31 de outubro de 1981, mês e meio depois, em Uberaba, D. Divina recebe a carta-notícia do filho e, sobre ela, assim se expressa:
DEPOIMENTO
“Foi o fim de uma saudade-angústia e o despertar de uma saudade-trabalho.
As palavras de nosso querido Juninho deram-me forças para fundarmos a “Sopa da Fraternidade” com que transformamos a saudade em abençoado serviço à petizada de Monte Alegre de Minas.
A mensagem foi um “barco de salvação” para todos, particularmente para mim, pois a vida não mais tinha sentido.
Ah! se todos soubessem o quanto dói a partida de um filho e o quanto conforta uma carta espiritual, qual a do Juninho.
Deus abençoe as mãos dedicadas do nosso Chico.”
MENSAGEM
Querida mamãe Divina e querida tia Valdivina.
Venho pedir e agradecer. Pedir-lhes apoio espiritual com que me reconfortam e agradecer todo esse carinho com que me alentam para a vida nova.
Ainda não consegui o chamado repouso a que se recolhe depois do transe em que ficamos para um lado e o corpo físico para o outro.
Venho confirmar que precisava afiançar-lhes as minhas várias tentativas de intercâmbio, de modo a que saibam que o acidente foi o acidente e que eu sou eu.
O tio Chico me apanhou como se controla um menino pequeno para o regresso à casa, mas a mãezinha Divina, transtornada em pranto, me obrigou a pedir ao tio paciência conosco.
Entramos os dois pelo esforço a dentro no sentido de dominar informações. Falei com o Reginaldo, conversei com a tia Valdivina, dialoguei com Marília e fiz quanto pude para dizer à mamãe Divina que é preciso viver.
Somos, realmente, filhos do coração materno, copiando a pérola incrustada na concha, com a diferença de que a pérola é a querida Mamãe e que sou a concha estilhaçada.
De qualquer modo é necessário sabermos suportar a separação e continuar daqui para a frente em nossas condições diferentes.
O papai João Evangelista nos compreende. Ele sempre dizia que onde está a corda vive a caçamba, mas a caçamba não pode e nem deve rebentar a corda que sustenta tanta gente e cumpre valiosamente tantas tarefas, ao mesmo tempo.
Mãezinha Divina, agora que falei o que disse, creio que vou descansar por alguns dias. A nossa protetora Irmã Izoleta, que me conduziu às orações de nossa irmã Eliza, me afirma que, quando despertar, já estarei em meio à nova filharada que a cercará na sopa de fraternidade que o seu coração, com a tia Valdivina, vai refazer muito bem.
Este é o processo de transformar a dor em utilidade.
Mamãe, não pense que vivo assim tão forte. Chorei até agora em que posso aconchegar-me no seu colo e orar com as suas preces, sendo seu filho outra vez.
A saudade é uma nuvem que nunca se desfaz. Por muito que a chuva de pranto a desgaste, a sombra se avoluma em lados diferentes, mas o amor pelas crianças que não são felizes, como eu fui, nos melhorará.
Estarei a seu lado servindo à mesa, rogando a Jesus para que a mesa se amplie sempre. Creia que não lhe faltarão recursos para a realização.
O tio Chico e a irmã Izoleta me dizem que somente depois do meu próximo descanso é que conseguirei avistar-me com o tio Juvenal Luiz.
Por enquanto, estou nas medidas de que precisava para conseguir paz e esperança. Agradeço à tia Valdivina e à nossa Marília o que fazem a nosso favor e abraçando o papai e beijando a sua face, esperando também que o seu carinho me beije para que eu possa dormir, sou, querida mamãe Divina, o seu filho, sempre seu
31.10.1981.
Valdivina Arantes, tia materna, presente à reunião.
Francisco Luiz Mamede, falecido em 1965.
Reginaldo Alves Mamede, primo e padrinho. — Marília Alves Mamede, prima do Juninho.
Izoleta Vilela Alessandri, desencarnada em Monte Alegre de Minas, terra natal do Juninho, em 1969. — Eliza Maria Alessandri Reis, filha de Izoleta, dirigente naquela cidade mineira do Centro Espírita Lar de Jesus.
Em louvor à memória do filho, D. Divina reiniciou as tarefas de distribuição de sopa às crianças de Monte Alegre de Minas.
Juvenal Luiz Mamede faleceu com Juninho no acidente ocorrido próximo de Uberlândia, MG.
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