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Capítulo XVII

Tarefa frustrada


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Fora ele um grande herói

Na abastança de outros dias…

Agora, doente e velho,

Agonizava Matias.


Gemia, desamparado,

Quem tanto estendera o bem…

Febril, tinha sede e frio

Mas não surgia ninguém.


Orara e dizia, humilde:

— “Jesus é o refúgio meu!…”

E quem devia ampará-lo

Naquela hora era eu…


Abnegados mentores

Que lhe escutaram a prece,

Enviaram-me a servi-lo

Em tudo quanto eu pudesse.


Caía a noite. Cheguei

Ao pequeno pardieiro,

No intuito de auxiliar

Ao querido companheiro.


Depois de assustado, ao vê-lo

Exposto na tábua nua,

Dispus-me a buscar-lhe amparo,

Mesmo fosse, rua em rua…


Pedi, em prece, aos amigos

De minha pobre existência

Que me fizessem andar

Em minha antiga aparência;


Passados breves instantes,

Entrei na licença rara:

Achava-me, tal qual eu fora:

— Corpo igual ao que deixara.


Tentando obter apoio

Que reanimasse o velhinho,

Memorizando endereços,

Fui à casa de Antoninho.


Tinha nele um grande amigo,

Falei do velho doente,

Ele gritou, espantado:

— “Você é o Jair Presente?


Embora você me lembre

Um cara amigo já morto,

Não tenho qualquer auxílio

Para os pobres sem conforto…”


Corri procurando o Sérgio,

Ele exprimiu-se, zombando:

— “Se eu pudesse dar esmolas

Não vivia trabalhando…”


Saí, apressadamente,

Para a casa do Dirceu,

Ele, porém, me falou:

— “Auxílio? primeiro eu…”


Modificando o roteiro

Procurei por Dona Clara,

Ela me disse: “Não tenho!…

A vida está muito cara…”


Tudo em vão… Sempre pedindo,

Fui a vinte moradias…

Não encontrei um vintém

Para socorro ao Matias.


Regressei, desiludido,

Ao pardieiro isolado,

Para ver como estaria

Passando o pobre coitado…


Cheguei chamando o doente…

Tudo silêncio e vazio…

Matias, naquele instante,

Morrera aos golpes do frio.


.Jair Presente




.Jair Presente
Francisco Cândido Xavier

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